terça-feira, 27 de abril de 2010

O 4º DOGMA - ASSUMPÇÃO DE MARIA AOS CÉUS E CO-REDENTORA E MEDIADORA

por Dr. Ilidio Carvalho

Este dogma foi proclamado no dia 01 de Novembro de 1950 pelo papa Pio XII (1939-1958), pela bula Munificentissimus Deus, na qual é dito que: - “Pela autoridade de Jesus Cristo, nosso Senhor, dos santos apóstolos Pedro e Paulo, e pela nossa própria, declaramos, promulgamos e definimos que é um dogma divinamente revelado: que a Virgem Imaculada, preservada e imune de toda a mancha da culpa original, terminado o curso da vida terrena, foi elevada ao céu em corpo e alma e exaltada por Deus como rainha, para assim se conformar mais plenamente com seu Filho, Senhor dos senhores e vencedor do pecado e da morte”. (sublinhado nosso). E mais abaixo, dentro deste mesmo contexto é afirmado que: - “(…). De facto, depois de elevada ao Céu, não abandonou esta missão salvadora, mas com a sua multiforme intercessão, continua a alcançar-nos os dons da salvação eterna (…). Por isso, a Virgem é invocada na Igreja com os títulos de advogada, auxiliadora, socorro e medianeira”.
Em função das afirmações dogmáticas feitas acima, iremos tecer alguns comentários deste ou daquele aspecto mais característico das mesmas:
1- “Pela autoridade de Jesus Cristo, nosso Senhor, dos santos apóstolos Pedro e Paulo” – Perguntemos a nós mesmos acerca do que o papa Pio XII quis dizer ao mencionar a autoridade destas figuras de proa do Novo Testamento? Para que quererá este prelado invocar estes nomes e respectiva autoridade, para se pronunciar neste contexto específico – acerca de Maria – se, ambos os apóstolos, tanto quanto julgamos saber, nunca escreveram, fosse o que fosse, nos seus escritos sobre Maria? Temos que admitir que não conseguimos compreender a ou as razões de tal invocação.
2- “terminado o curso da vida terrena” – Gostaríamos de fazer uma pergunta: - à luz do que nos informa a Palavra de Deus através de S. Paulo - Romanos 6.23. Neste texto, o apóstolo ensina-nos, ou melhor, reitera uma solene verdade, ao dizer que – “a morte é o salário do pecado”. Ora se Maria, segundo o papa Pio IX, foi alvo de uma “imaculada Conceição”, logo, sem pecado, como é que, posteriormente, o papa Pio XII dá a conhecer a toda a cristandade que Maria, afinal, morreu! Pois dela disse: - “terminado o curso da vida terrena”. À luz do texto Paulino, só um pecador é que morre, visto este estado ser a resultante do pecado. Como foi a sua morte possível? Recorde-se o caso de Jesus: - para que a Sua morte fosse possível, - visto Jesus não ter pecado – cf. Hebreus 4.15 - o mesmo apóstolo nos revela que teve que acontecer, com Ele, um verdadeiro mistério, ou seja, “aquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós (..)” – II Cor. 5.21. No caso de Jesus, tudo está explicado. Mas, e com Maria? O que é que aconteceu para que ela morresse? Como se explicará esta incoerência textual?
3- “foi elevada ao céu em corpo e alma” - Por outro lado sabe-se, que o último livro da Bíblia – o Apocalipse – foi escrito quase no final do século I. Cremos, se é que não estamos a especular, que Maria já teria morrido e, por isso, caso fosse importante, se a sua Assunção tivesse ocorrido, certamente que a cristandade deveria ter sido contemplada com, pelo menos, um verso bíblico, a contar o facto, ainda que ao de leve se tratasse! Mas, não! O silêncio é total!
Dizemos isto porque, nas Escrituras, encontramos o relato de várias ressurreições e, se estas mereceram ser relatadas, será que a Assunção da mãe do Salvador, a ter existido, como dizem, tal acontecimento de tão grande envergadura, teria permanecido em silêncio? A ter acontecido, teria esta menos mérito que as que se encontram registadas? Continuamos a pensar que não!
4- “exaltada por Deus como rainha” – Este título surpreende todos os que, minimamente estão familiarizados com a Palavra de Deus. Em nenhum lugar no Novo Testamento encontramos qualquer referência a Maria como “rainha do céu”. O que encontramos, isso sim, um episódio no Antigo Testamento, em que o povo de Deus tinha caído na apostasia e adorava uma deusa, na qualidade de – a “rainha dos céus” – Jeremias 7.18-20. Esta rainha dos céus designa a deus Istar, a deusa assiro-babilónica do amor e da guerra, que aqui assim era conhecida e adorada. Esta deusa “tinha os seus adoradores em Jerusalém, famílias inteiras – pais, mulheres, crianças – que lhe preparavam bolos em forma de mulher nua ou de estrela”. Portanto, estamos perante algo de inspiração pagã, não cristã.
Em face do exposto – bula papal - perguntamos: por que é que só um século depois, da anterior bula (a do papa Pio IX) é que esta confissão religiosa soube, pela pessoa do pontífice Pio XII, em 1950, que a mãe do Salvador tinha ido para o céu? Quem o teria revelado? Quanto a nós, confessamos a nossa ignorância sobre a fonte de tão estranha revelação!
5- “advogada, auxiliadora, socorro e medianeira” - Acerca desta vertente, disse Joseph Ratzinger, não na qualidade de cardeal, mas na figura de Bento XVI, refere duas facetas de Maria: 1- Ao referir-se ao lado humano do cristianismo ele disse que: - “Maria é na verdade a porta que conduz a Cristo”; 2- Ao falar da sua fidelidade à Igreja e a uma dedicação total ao serviço da mesma, disse: - “invoco a materna intercessão da Virgem Maria Santíssima, em cujas mãos entrego o presente e o futuro da minha pessoa e da Igreja. Intervenham, com a sua intercessão, também os Santos Apóstolos Pedro e Paulo, e todos os Santos”.
Segundo os príncipes desta confissão religiosa, no fundo, a intercessão a Deus pode, neste caso, passar por qualquer personagem bíblico. Mas, a Bíblia, ensina-nos exactamente o contrário, pois assim como há um só Deus, também só existe um único intercessor entre a criatura e o seu Criador – “Jesus Cristo, homem” – I Timóteo 2.5
6- O cardeal Joseph Ratzinger - Este ao responder a várias perguntas. Numa destas, ele destaca seis motivos para realçar a função de Maria de equilíbrio e totalidade para a fé católica: 1- “Reconhecer a Maria o lugar que a tradição e o dogma lhe atribuem; 2- A mariologia da Igreja supõe o justo relacionamento e a necessária integração entre a Bíblia e Tradição. Os quatro dogmas marianos têm o seu claro fundamento na Escritura; 3- Precisamente em sua pessoa de jovem hebreia feita Mãe do Messias, Maria une de um modo vital e, ao mesmo tempo, inseparável, o antigo e o novo povo de Deus, Israel e o cristianismo, Sinagoga e Igreja. (…). Nela, no entanto, podemos viver a síntese da Escritura inteira; 4- A correcta devoção mariana assegura à fé a convivência da indispensável com as igualmente indispensáveis , como dizia Pascal; 5- , e da Igreja. (…). Em Maria, sua figura e modelo, a Igreja reencontra o seu rosto de Mãe (…). Se em certas teologias e eclesiologias Maria não encontra mais lugar, a razão é simples: elas reduziram a fé a uma abstracção. E abstracção não tem necessidade de Mãe. 

7- Outras citações acerca de Maria: 1- “Ela é realmente uma mediadora de paz entre os pecadores e Deus. Os pecadores recebem perdão (…) somente por meio de Maria. 2- “Muitas coisas (…) são pedidas a Deus, e não são concedidas; mas se pedidas em nome de Maria, são obtidas”, pois “ela chega mesmo a ser Rainha do Inferno e Senhora Soberana dos demónios”. 3- “Maria é chamada (…) a porta do Céu porque ninguém pode entrar naquele reino abençoado sem passar por ELA”. 4- Maria “é também Advogada de toda a família humana (…) pois pode fazer com Deus o que quiser”. 5- “Muitas vezes recebemos mais rapidamente o que pedimos invocando o nome de Maria do que o de Jesus”. “Ela (…) é nossa Salvação, nossa Vida, nossa Esperança, nossa Advogada, nosso Refúgio, nosso Auxílio”. 6- “Toda a Trindade, ó Maria, te dá um nome (…) que está acima de todo o nome, para que a Teu nome se dobre todo o joelho, nos Céus, na Terra e debaixo da Terra”.

Que dirá, uma vez mais a Palavra de Deus acerca de quem é o verdadeiro “advogado” e “intercessor”? A Palavra de Deus dá-nos a conhecer as respostas a estas perguntas: 1ª- “Porque há(…) um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo, homem” – I Timóteo 2.5; Actos 4:12 (sublinhado nosso). 2ª- “…Se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo” - I João 2:1. Isto quer dizer que todo e qualquer que chamar a si tais prerrogativas são, simplesmente, intercessores: - espúrios, falsos e blasfemos. 


 Bibliografia:
Cf. Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 44
Catecismo, p. 219, nº 966
Idem, p. 220, nº 969
É, pensamos, de toda a conveniência definir e precisar os termos. Assim, Ascensão – acto de subir pelos seus próprios meios; Assunção – elevação ao céu, mas não pelos seus próprios meios. Portanto, transportada pelos anjos.
Jean Steinmann, Le Prophète Jérémie – sa vie, son oeuvre et son temps, Paris, ed. Editions du Cerf, 1952, p. 130
[1]Dag Tessore, Bento XVI – Pensamento Ético, Político e Religioso, Lisboa, ed. Temas e Debates, 2005, p. 182
Andrea Tornielli, O Papa Bento XVI – O Guardião da Fé, Queluz, ed. Editorial Presença, 2005, p. 186
Joseph Ratzinger, Diálogos sobre a Fé, pp. 87-89


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