domingo, 27 de abril de 2014

Livro de Daniel - Contexto Histórico

Mapa do Mundo - Babilónia, séc. VII-V AC
O livro de Daniel começa com Nabucodonosor no trono da Babilónia. A dinastia substituíra a assíria como potência dominante na região oriental do Mediterrâneo durante o último quarto do século VII a.C., e quando Nabucodonosor derrotou os egípcios em Carquemis  em 605 a.C., já estava firmemente estabelecida. Em 604 ele sucedeu ao seu pai no trono.

Expandiu mais ainda as conquistar do pai, e conforme o relato do livro de Reis, em 587-586 finalmente subjugou Judá e saqueou Jerusalém, desterrando para a Babilónia uma grande parte da população. O livro de Daniel pressupõe que tenha havido uma invasão anterior de Judá quando alguns cativos foram levados, inclusive Daniel.

Depois da morte de Nabucodonosor em 562, seu filho e netos revelaram-se incapazes e, em 556, uma revolução por fim colocou no trono alguém que não pertencia à família real, chamado Nabonedo. Seu filho era Belsazar que, segundo parece, reinava na Babilónia como preposto pelo pai quando o império caiu sob os persas do rei Ciro, em 539. Depois disso, o Próximo Oriente foi governado durante dois séculos por uma sucessão de soberanos persas. Destes Dario I foi historicamente o mais conhecido. Logo após, em fins do século IV, veio a derrota dramática do Império Persa por Alexandre Magno que estabeleceu a supremacia grega sobre toda a área do império, em 331 a.C. Alguns anos depois da morte de Alexandre, o seu reino no Próximo Oriente foi dividido em dois. A dinastia ptolemaica, cujo nome se deve ao seu primeiro soberano Ptolomeu I Soter, governou a área ao redor do Egito, e a dinastia selêucida, iniciada pelo soberano Seleuco I Nicator, tendia a dominar a Síria e a Palestina. Entre as duas casas reais, às vezes havia casamentos, e outras conspirações e traição. Os ptolomeus egípcios dominaram até que, em 198 a.C., o selêucida Antíoco Magno derrotou Ptolomeu Epifânio e finalmente obteve incontestada ascendência sobre a Palestina. O acontecimento mais importante, no que dizia respeito aos judeus, ocorreu em 175 quando, depois de algumas intrigas, Antíoco IV Epifânio conseguiu o trono dos selêucidas. A pessoa, a carreira e as ambições deste soberano, muita atenção é dada no livro de Daniel.

Durante este período, as circunstâncias do povo de Deus mudaram consideravelmente. Como exilados na Babilónia sob o governo de Nabucodonosor, tiveram de enfrentar os problemas de se estabelecer numa terra estranha, dominada por uma religião pagã, e também de permanecerem fiéis ao Deus de seus pais, embora não tivessem templo nem ritual de sacrifícios. Daniel e os seus três companheiros são exemplos de como os que foram fiéis conseguiram fazer isso de modo triunfante. Depois da ascensão de Ciro, o Persa, ao trono em 539, alguns dos exilados voltaram à Palestina e, por terem aumentado em número edificaram primeiro o templo e depois os muros. Os imperadores persas eram, de modo geral, amistosos, e a comunidade que voltou desfrutava, em boa medida, de liberdade religiosa. Já sob o império grego, porém, tiveram de enfrentar uma ameaça muito mais severa do que tinham tido até então, até mesmo no exílio. Alexandre Magno tinha a ambição não somente de conquistar o mundo, como também "helenizá-lo", isto é, submeter tudo à influência do espírito grego. Colocou o processo de helenização em andamento, e os que vieram depois, conseguiram um notável sucesso.

Os costumes gregos e a maneira grega de encarar o mundo foram amplamente difundidos. Parecia que tudo quanto era grego impregnava as coisas com a sua presença e deste modo se tornou universal. A influência da cultura grega penetrou nas antigas religiões do Oriente e produziu as religiões helenísticas de mistério.

Durante muitas gerações, a nação judaica como um todo conseguiu resistir a este movimento, pois na Palestina, sob o governo ptolemaico, nenhuma pressão externa foi imposta à população para fazê-la adotar os costumes gregos. Mas dentro da próxima comunidade judaica, especialmente nos círculos intelectuais e sacerdotais, e entre aqueles que estavam envolvidos na política do poder daqueles dias, surgiu um forte partido helenizante.

Quando Antíoco Epifânio alcançou o poder na Síria e na Palestina, lançou-se numa campanha resoluta e inescrupulosa para impor o helenismo a toda a população, usando o engodo, subornos e intrigas, além de destruir impiedosamente toda a resistência aberta.

A história das suas manobras, dos seus sucessos, e dos seus fracassos final pode ser lida nos livros dos Macabeus. Até mesmo antes de se iniciar o seu reinado, o cargo de sumo-sacerdote em Jerusalém ficou vago, e recebeu suborno para nomear Jasom, um dos líderes do partido helenizante. Este passo foi seguido pelo estabelecimento de uma escola em Jerusalém para que jovens judeus pudessem ser treinados nos costumes gregos, participando de jogos gregos e adoptando modas gregas. À medida que o programa de helenização avançava, havia intrigas mais profundas, e um impostor sem escrupuloso, Menelau, suplantou Jasom nas boas graças do rei. Sob Menelau como sumo-sacerdote, houve mais contendas e intrigas, levando a massacres nas ruas, ao estabelecimento de uma guarnição síria na cidade, à fuga de refugiados e à publicação de decretos que proibiam as práticas religiosas do povo judeu. O castigo para tais infrações era a morte. Ordens foram dadas para o templo ser dedicado à adoração de Zeus do Olimpo, e no ano 168, um altar foi erigido no templo para honrar a Zeus e realizar sacrifícios a esse deus. Os deuses pagãos deviam ser honrados noutras localidades; comer alimentos imundos era compulsório. Os decretos foram executados com brutalidade. Houve muitos massacres e muitos mártires.

Entretanto dois partidos ofereceram resistência. O partido dos macabeus sob a inspiração e liderança de Matatias, um sacerdote do interior, e seus filhos, despertou a resistência armada, entrou no campo da batalha, e finalmente foi bem-sucedido. O outro partido de resistência foi o dos hasidins(1), ou santos. Tratava-se de um partido separatista cuja política era a resistência passiva e rigorosa fidelidade à lei, especialmente em certos pontos que lhes pareciam questões cruciais, tais como as leis que proibiam comer certos alimentos. Mesmo durante as lutas, os hasidins recusaram lutar no dia de sábado e eram impiedosamente trucidados. Estes dois partidos juntaram-se por algum tempo. A certa altura, por exemplo, os macabeus chegaram a suspender a observância do sábado, para assim encorajar os hasidins a vencer um dos seus escrúpulos. De modo geral, no entanto, estes últimos desejavam permanecer independentes do apoio político, somente confiando em Deus. Havia profundas diferenças entre as ideias e os pontos de vista desses dois grupos.

Este período, de 605 até 165 a.C., compreende o período histórico que é objeto imediato da detalhada exposição feita pelo autor do livro de Daniel.

Nota: 

(1) Hasidim / Chasidim (em hebraico: חסידים) é o plural de hassídico (חסיד), que significa "piedoso". O título honorífico "Hasid" era frequentemente usado como um termo de respeito excepcional no Talmude e períodos medievais. Na literatura rabínica clássica difere de "Tzadik" - "justo", de vez que denota aquele que vai além das exigências legais de observância judaica ritual e ética na vida diária. O significado literal de "Hasid" deriva-Chesed "bondade", a expressão externa do amor a Deus e as outras pessoas. Esta devoção espiritual motiva conduta piedosa além dos limites do quotidiano. A natureza devocional da sua descrição emprestou-se a alguns movimentos judaicos da história a ser conhecidos como "hassidismo". Duas delas derivadas da tradição mística judaica, a tender para a piedade ou legalismo.

Sem comentários:

Enviar um comentário