quinta-feira, 29 de abril de 2010

A REUNIÃO DE ISRAEL

O moderno Estado de Israel tem as suas raízes históricas e religiosas na bíblica Terra de Israel (Eretz Israel), um conceito central para o judaísmo desde os tempos antigos, e no coração dos antigos reinos de Israel e Judá. Após o nascimento do sionismo político, em 1897, e da Declaração de Balfour, a Liga das Nações concedeu ao Reino Unido o Mandato Britânico da Palestina após a Primeira Guerra Mundial, com a responsabilidade para o estabelecimento de "…tais condições políticas, administrativas e económicas para garantir o estabelecimento do lar nacional judaico, tal como previsto no preâmbulo e no desenvolvimento de instituições autónomas, e também para a salvaguarda dos direitos civis e religiosos de todos os habitantes da Palestina, sem distinção de raça e de religião… ".
Em novembro de 1947, as Nações Unidas recomendaram a partição da Palestina  num Estado judeu.
A Bíblia afirma que em consequência da desobediência à lei do Senhor o povo de Israel andaria errante: “E vos farei andar errantes por todos os reinos da Terra.” Jeremias 34:17 (ver Jeremias 25:8-11).
1. Há na Bíblia alguma profecia que anuncie a volta do cativeiro?
R: “Pois eu bem sei os planos que estou projetando para vós, diz o Senhor; planos de paz, e não de mal, para vos dar um futuro e uma esperança. Então me invocareis, e ireis e orareis a mim, e eu vos ouvirei. Buscar-me-eis, e me achareis, quando me buscardes de todo o vosso coração. E serei achado de vós, diz o Senhor, e farei voltar os vossos cativos, e congregarvos-ei de todas as nações, e de todos os lugares para onde vos lancei, diz o Senhor; e tornarei a trazer-vos ao lugar de onde vos transportei.” Jeremias 29:11-14 (ver também Jer. 23:3).
Nota: A primeira dispersão dos judeus ocorreu em 606-588 A.C., sob o reinado de Nabucodonosor, rei de Babilónia. Em 457 A.C., sob Artaxerxes, o rei persa, grande número de judeus voltou para a Palestina, sua terra natal.
2. O que disse Moisés sob a dispersão do povo israelita em consequência da rejeição de Jesus como o Messias?
O Senhor levantará contra ti de longe, da extremidade da terra,...e te sitiará em todas as tuas portas, até que em toda a tua terra venham a cair os teus altos e fortes muros, em que confiavas; ...E o Senhor vos espalhará entre todos os povos desde uma extremidade da terra até a outra; e ali servireis a outros deuses que não conhecestes, nem vós nem vossos pais, deuses de pau e de pedra.” Deuteronómio 28:49-64.
Nota: Esta calamidade e dispersão ocorreu em 70 A.D., sob Tito, o general romano. Diz a Popular and Critical Bible encyclopaedia, Vol. 2, artigo “Jerusalém,” pag. 932: “Jerusalém parece haver atingido essa grandeza como se fosse para tornar maior a miséria de sua subversão. Logo que os judeus selaram a sua formal rejeição de Cristo, condenando-O à morte, e invocando a responsabilidade de Seu sangue sobre a sua cabeça e de seus filhos (Mateus 27:25), a sorte da cidade estava lançada. Tito, jovem, bravo e competente general romano, com um exército de sessenta mil guerreiros aguerridos e vitoriosos, apareceu diante da cidade em Abril de 70 da nossa era, começando então o mais desastroso cerco relatado na História.”
3. Sob que símbolo preciso foi tudo isto predito?
R: “Assim disse o Senhor: Vai, e compra uma botija de oleiro, e ...quebrarás a botija ...e lhes dirás: Assim diz o Senhor dos exércitos: Deste modo quebrarei eu a este povo, e a esta cidade, como se quebra o vaso do oleiro, de sorte que não pode mais refazer-se.”  Jeremias 19:1-11.
Nota: “Nenhuma cidade sobre a Terra sofreu mais com guerras e cercos, do que Jerusalém...Tempestuosas legiões, aríetes e catapultas arrasaram-na muitas vezes. Mas mesmo assim o plano geral da cidade foi sempre conservado. Sião e o Monte Moriá estão perfeitamente à vista do Olivete, e lá, sobre aquelas colinas, estendendo-se para o oeste, cidade após cidade tem surgido e desaparecido no passar dos séculos.” – Popular and Critical Bible Encyclopaedie, Vol. 2, artigo “Jerusalém”.
4. Por quanto tempo deveria ser pisada pelos gentios?
R: “E cairão ao fio da espada, e para todas as nações serão levados cativos; e Jerusalém será pisada pelos gentios, até que os tempos destes se completem.”
Nota: Quando Jesus, no Monte das Oliveiras, chorou sobre Jerusalém, disse: “ Eis que a vossa casa vai ficar-vos deserta.” No ano 70 ocorreu a destruição de Jerusalém pelos romanos, e a dispersão dos judeus por todo o mundo. O evangelho foi primeiro pregado em Jerusalém e na Judeia, mas no ano 34, ao ser apedrejado Estêvão, os cristãos foram dispersos, indo por toda a parte pregando o evangelho (Atos 8:4; 13:46). Crucificando o Salvador e perseguindo os Seus discípulos, os judeus como nação encheram a taça da sua iniquidade. A morte de Estêvão assinalou o fim do período de sua iniquidade. A morte de Estêvão assinalou o fim do período concedido à nação judaica, e o princípio dos tempos dos gentios.
5. Que encerrará os “tempos” concedidos aos gentios?
R: “E este evangelho do reino será pregado no mundo inteiro, em testemunho a todas as nações, e então virá o fim.” Mateus 24:14.
6. Qual a razão para o evangelho ser pregado aos gentios?
R: “Simão relatou como primeiramente Deus visitou os gentios para tomar dentre eles um povo para o seu Nome.” Atos 15:14.
7. Que promessa fez Deus a Abraão?
R: “Porque não foi pela lei que veio a Abraão, ou à sua descendência, a promessa de que havia de ser herdeiro do mundo, mas pela justiça da fé.” Romanos 4:13.
Nota: Visto como essa promessa não se cumpriu a Abraão, e seus descendentes se acham agora na dispersos entre todas as nações, assim devendo continuar até ao fim do mundo, como devemos compreender a promessa a Abraão?
R. “Ora as promessas foram feitas a Abraão e à sua posteridade. Não diz: E às posteridades, como falando de muitas, mas como de uma só; E à tua Posteridade, que é Cristo.” Gálatas 3:16.
8. Quem se achava unido a Cristo nesta promessa, como sendo semente de Abraão?
Resposta:
- E, se sois de Cristo, então sois descendência de Abraão, e herdeiros conforme a promessa.” Gálatas 3:29.
- “Porque não é judeu o que o é exteriormente, nem é circuncisão a que o é exteriormente na carne.
Mas é judeu aquele que o é interiormente, ...cujo louvor não provém dos homens, mas de Deus.” Romanos 2:28,29.
-  “Não que a palavra de Deus haja falhado. Porque nem todos os que são de Israel são israelitas; nem por serem descendência de Abraão são todos filhos; mas;... mas os filhos da promessa são contados como descendência.” Romanos 9:6-8.
Nota: Aqui, pois está a chave que abre, não apenas uma, porém muitas passagens, de outro modo misteriosas, das Sagradas Escrituras. A reunião dos filhos de Israel em seu próprio país não é uma nova reunião dos literais descendentes de Abraão na Jerusalém antiga, “em incredulidade”,” mas uma reunião na fé, da semente espiritual na Nova Jerusalém, a cidade que Abraão aguardava, “da qual o artífice e construtor é Deus.” (Ver Hebreus 11:8-10).
9. Que é especialmente prometido aos mansos, tanto do Velho como no Novo Testamento?
Resposta:
- “Mas os mansos herdarão a terra, e se deleitarão na abundância de paz.” Salmo 37:11.
- “Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra.” Mateus 5:5.
10. Quando se cumprirá esta promessa feita à semente de Abraão?
R: “Quando, pois vier o Filho do homem na sua glória, ...Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai. Possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo.” Mateus 25:31-34.
Esta é uma linda profecia, muitos a entendem mal, no entanto a Bíblia é bem clara, é ler e deixar o Espírito de Deus guiar à Verdade. Deus o/a abençoe. Amem.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

MARIA A MULHER

Apocalipse 12.1
Quando nos aproximamos do livro do Apocalipse parece que estamos numa espécie de ante câmara do quanto o apóstolo Pedro chamou de “outras Escrituras”, ou seja, o Antigo Testamento – II Pedro 3.16. Na verdade, dos quatrocentos e quatro versículos que compõem este livro, cerca de duzentos e setenta e oito pertencem a estas “outras Escrituras”. Tendo em conta este enraizamento, alguns comentadores precisam que “este livro do Novo Testamento é o que mais se refere ao Antigo Testamento e às instituições judaicas tradicionais. Neste contam-se, não menos de duas mil alusões ao Antigo Testamento, das quais quatrocentas alusões explícitas e noventa citações literais do Pentateuco ou dos profetas”.
Tendo em conta este contexto próximo, para podermos compreender este capítulo que nos ocupa, temos que entender um versículo que encontramos logo no princípio da Bíblia, um versículo de capital importância; diríamos até que, dentro da importância que todos os textos têm, este é um dos mais importantes, pois nele encontramos de uma forma resumida a razão de ser de toda a Escritura. O texto em causa encontramo-lo em Génesis 3.15. Aqui podemos ver um diálogo de Deus com Satanás: - “E porei inimizade entre ti e a mulher; e entre a tua semente e a sua semente; esta (este) te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar”. Aqui encontramos quatro aspectos: 1- inimizade; 2- serpente; 3- mulher; 4- 2 sementes. Irá existir uma inimizade mortal entre a serpente e a mulher; entre a semente da serpente e a da mulher. Mas, como nos podemos aperceber, a verdadeira guerra não é entre a serpente e a mulher e as respectivas sementes. Se repararmos bem para a última parte do versículo, é dito que “(…) este te ferirá a cabeça”, o que significa que esta descendência não se encontra, filologicamente, no feminino, mas no masculino. Na verdade, quem é a verdadeira semente da mulher? Sem sombra de dúvida que é Cristo A quem Satanás odeia em primeiro lugar? À Igreja ou Aquele que está na sua base? A quem esta entidade quis destruir em primeiro lugar? Claro, a Cristo. Porquê? Porque Satanás sabia, desde o Jardim do Éden que esta “semente” era um “ele” – Cristo – e não uma semente, um colectivo. Note-se, a este respeito o reforço desta verdade no interior do texto do Apoc.12.5, pois aqui é dito que “a mulher deu à luz um filho, um varão, (…)”. Do termo impreciso - “filho” -, que poderá ser entendido por ele ou ela, o texto acrescenta, reforçando de uma forma precisa que, este “filho” trata-se de um varão.
I- A análise
Este capítulo começa com uma referência ao passado, ao dizer: – “E viu-se um grande sinal no céu: uma mulher vestida de sol, tendo a lua debaixo dos seus pés, e uma coroa de doze estrelas sobre a sua cabeça” – v. 1. Esta mulher, biblicamente falando é símbolo de uma Igreja – cf. II Cor. 11.2; Ef. 5.23,25-27. Pela descrição que é feita, esta representa uma Igreja pura, que contrasta com a que é apresentada no cap. 17 do Apocalipse - uma mulher prostituída. Porquê a referência a doze estrelas? Afinal, de que fase da história da mulher/Igreja nos está a ser apresentada neste capítulo? Tudo aponta para a alusão ao Antigo Testamento. Qual a razão? Quando se vê a descrição que é feita desta mulher, que “estava grávida, e com dores de parto, e gritava com ânsia de dar à luz” – v. 2 - o que é que o vidente de Patmos nos quer mostrar? Note-se que, quando o apóstolo vê a mulher, a criança ainda não tinha nascido. Assim, esta mulher representa, efectivamente, a Igreja do Antigo Testamento, que desejava, ardentemente, a vinda do Messias há tanto tempo prometido para a libertação plena de Israel – o povo de Deus.
Em relação ao texto em lide, como ao de Génesis 3.15, far-se-ão as mais estranhas interpretações das Escrituras, a saber: 1- Gén. 3.15 – aqui a mulher, representa Maria ou Eva, ou a mulher, em geral; 2- Apoc. 12.1 – aqui está representada Maria, Israel e a Igreja. Referem, a este propósito que “primeiro: a prole ou o filho da mulher não é nem pode ser outro senão o anunciado Reparador ou Redentor, isto é, Jesus Cristo; segundo: que a mulher apresenta-se como a mãe do Redentor, e Mãe do redentor, Jesus Cristo, não há outra propriamente a não ser a Virgem Maria. (…). Partimos do pressuposto, inegável de que a mulher do Proto-evangelho (Gén. 3.15) é a mesma mulher do Apocalipse 12.1”.
Antes de mais, debrucemo-nos sobre algumas considerações tendentes a ver nesta mulher do Apocalipse, não somente a Igreja em geral, mas a figura de Maria, em particular. Iremos analisar os dogmas marianos que estas interpretações deram origem.

O 1º DOGMA - "MARIA, MÃE DE DEUS - A TODA SANTA - (panaghia)


Assim, encontramos no livro dos Actos 19.23-41 o episódio – Diana dos Efésios - passado com o apóstolo Paulo na cidade de Éfeso. Devido à pregação de S. Paulo a venda das imagens desta deusa – Diana - deixaram de dar lucro – v. 24-27. Aqui, em Éfeso existia um grande templo à deusa pois este tinha cerca de 133 metros de comprimento e 69 de largura e apoiado por cerca de 128 colunas de 19 metros cada. No seu interior a estátua da Diana., tendo nas mãos espigas de trigo e, acima da cintura, estão presos 12 seios, símbolo da fecundidade e da maternidade abençoada. Em cima da cabeça um disco, simbolizando o sol (…). Se a fé na miraculosa Artemis (Diana) de Éfeso continua a ser desacreditada, as vagas de peregrinos e de dinheiro que fluem por todos os lados terminarão muito em breve”. Eis o templo, o aspecto da deusa e a verdadeira causa dos tumultos naquela cidade. Nesta cidade os pagãos a veneravam como a deusa da virgindade e da maternidade. Ela também representava os poderes regeneradores da Natureza visto esta apresentar muitos seios. Tendo como pano de fundo todas todos estes elementos, alguns comentadores concluíram que os acontecimentos do passado relatados na Palavra de Deus – Actos 19.23-41 – estão na base da questão levantada por Nestório. Assim sendo “quando o culto a Maria se tornou doutrina oficial da Igreja Católica, no ano 431, foi precisamente no Concílio de Éfeso, na cidade da deusa pagã Diana. É óbvia a influência pagã que induziu o Concílio a tomar esta decisão”. 
- S. Lucas 2.39-51 – Aqui encontramos Jesus com 12 anos de idade e os seus pais que vão, segundo o seu costume, a Jerusalém à festa da pascoa – v. 41,42. No caminho de regresso a casa, perdem-se de Jesus e, ao voltarem a Jerusalém à sua procura, Maria e José, aflitos, vão encontrá-lo no seio dos doutores, no templo – v. 46. Agora, prestemos atenção à dinâmica do texto que se segue. Agora, ao encontrá-lo, a reacção de Maria para com Jesus foi a de uma mãe, como qualquer outra, dizendo: - “Filho, porque fizeste assim para connosco? Eis que teu pai e eu, ansiosos, te procurávamos” – v. 48. Imaginemos, por um instante que estávamos a li a observar a cena, só juntos àquele grupo – Jesus e os doutores da Lei. Este casal ao aparecer e a falar como falou, acharíamos normal, pois tratava-se de um casal à procura deste jovem que ali se encontrava. Até aqui, tudo bem.
Só que, a esta fala de Maria, acompanhada pelo seu marido, este jovem irá responder: - “Porque é que me procuráveis? Não sabeis que me convém tratar dos negócios de meu Pai?” – v. 49. Agora, nós. O que pensaríamos desta resposta, deste jovem, àquele casal que, presumiríamos que eram seus pais? Ficaríamos, certamente, confusos! Ora, se são os seus pais que ali estão, que resposta era aquela? Parece-nos que este jovem está a falar para “estranhos”, pois parece-nos, se bem entendemos as suas palavras que, em relação àquele casal, em termos de paternidade, nada tinha em comum, visto que os está a dar a conhecer da sua presença ali! Eles, dizem: - “Eis que teu pai e eu” – e este jovem, não só os esclarece acerca de quem é o seu Pai, como também ignora, com amor e carinho, qualquer vínculo paternal e maternal com aquele casal.
Afinal, que terá a Palavra de Deus a dizer a propósito desta doutrina meramente humana que nos ocupa? Recordaremos aqui um parecer do apóstolo Paulo acerca de duas comunidades - Tessalónica e Bereia - que ele visitou quando empreendeu a sua segunda viagem missionária. Eis como ele as compara: - “Ora estes (os de Bereia) foram mais nobres do que os que estavam em Tessalónica, porque de bom grado receberam a palavra, examinando cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim” – Actos 17.11. Na verdade, não basta ouvir falar de Deus ou da Sua Palavra, mas examinar se aquilo que se ouviu está escrito, não só na Palavra de Deus, como também se está em conformidade com a mesma Palavra. Por esta mesma razão, o apóstolo ao dirigir-se à Igreja de Corinto assim se expressou acerca do seu ministério – “Porque nós não somos, como muitos, falsificadores da palavra de Deus, antes falamos de Cristo com sinceridade, como de Deus na presença de Deus” – II Cor. 2.17. 

O 2º DOGMA - PERPÉTUA VIRGINDADE DE MARIA

Referem, a este propósito que “primeiro: a prole ou o filho da mulher não é nem pode ser outro senão o anunciado Reparador ou Redentor, isto é, Jesus Cristo; segundo: que a mulher apresenta-se como a mãe do Redentor, e Mãe do redentor, Jesus Cristo, não há outra propriamente a não ser a Virgem Maria. (…). Partimos do pressuposto, inegável de que a mulher do Proto-evangelho (Gén. 3.15) é a mesma mulher do Apocalipse 12.1”.
Assim, estes dois textos bíblicos estarão na base de duas bulas papais, ainda que separadas no tempo, visando uma maior definição dogmática da pessoa e posição de Maria em relação à Igreja, pois Maria é tida como a segunda Eva e nesta qualidade “As prerrogativas, excelências, graças e privilégios da segunda Eva distribuem-se em três ordens: 1ª- Ocupa o primeiro lugar a maternidade divina, raiz, origem e medida de todos os demais privilégios, à qual há que associar, a perpétua virgindade; 2ª- oferecem-se as disposições morais desta maternidade, isto é, a sua perfeita santificação, que compreende (…) a total imunidade de pecado actual (...)”. A este propósito, o catecismo afirma: - “O aprofundamento da fé na maternidade virginal levou a Igreja a confessar a virgindade real e perpétua de Maria, mesmo no parto do Filho de Deus feito homem”.
Se compararmos esta posição dogmática mariana com o límpido ensino da Palavra de Deus, o que é que nela, a este propósito encontramos? Claro, nada mais que a negação do mesmo dogma se, tivermos a Palavra de Deus como VERDADE, visto o Senhor Jesus ter dito acerca das Escrituras: - “Santifica-os na verdade, a tua palavra é a verdade” – João 17.17. Bastará examinar alguns textos da Palavra de Deus para nos apercebermos do quão diferente é um - “Assim está escrito” - ou de um - “Assim diz o Senhor” – acerca deste dogma. Vejamos:
1- O texto de Mateus 1.18-25 – aqui nos é mostrada a reacção de José à gravidez de Maria, assim como o que ele pensou fazer em face da ocorrência, ou seja – “abandoná-la” – v. 19. Mas, depois de elucidado, é dito que ele “recebeu a sua mulher” – v. 24. O texto não fica por aqui, pois faculta-nos uma preciosíssima informação em função do assunto em causa – acerca da sua relação de casal após parto. Assim, na continuação do encontramos esta preciosidade – “E não a conheceu até que deu à luz o seu filho (…)” – v. 25. (sublinhado nosso). Este versículo aqui está para que o leitor sinta a diferença entre o antes (v. 18) e o depois (v. 25).
No v. 23 está escrito: - ”Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho (…)”. O teor deste texto é a citação de outro do Antigo Testamento, o do profeta Isaías 7.14. A palavra hebraica Almah, foi vertida para a grega Parthenos e, por sua vez traduzida por virgem. Trata-se, portanto, de uma virgem ou de uma mulher jovem? A questão é pertinente, na medida em que, na língua hebraica, para designar uma virgem não é a palavra Almah, mas Bethulah. Neste caso, o de “Mateus, conduzido pelo Espírito, viu nele uma profecia respeitante ao nascimento virginal do Messias. Eis a razão porque ele empregou a palavra parthenos”. Mas, a própria dinâmica no texto, associada ao comportamento de José mostra-nos que, efectivamente, trata-se de uma jovem e virgem.
2- O texto de Gálatas 4.4 - “vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei”. Aqui o apóstolo Paulo, ignora totalmente a questão em causa (uma suposta virgindade); a este propósito, limita-se a dizer que Jesus “nasceu de uma mulher”, não dando nenhuma importância a quem tivesse sido a sua mãe! Será que uma figura como S. Paulo acharia irrelevante o nome de Maria, assim como a importância, o papel desta num hipotético plano de Salvação, visto a ter ignorado completamente? Este comportamento de S. Paulo é, no mínimo, inaceitável! Ou será que estará com este procedimento, simplesmente, a revelar que tal questão (a virgindade) não teve qualquer importância, pela simples razão que a mesma nunca existiu! Pensamos que esta última hipótese é a que é mais consentânea com o espírito e a letra do texto Bíblico em relação ao enquadramento do nascimento de Jesus.
 Bibliografia:
Jose M. Bover, S. I., Teologia de San Pablo, - Biblioteca de Autores Cristianos, Madrid, 4ª ed, ed. Editorial Católica, S.A., vol.16, 1967, pp. 418,419
Idem, p. 388
Catecismo, p. 122, nº 499

O 3º DOGMA - IMACULADA CONCEIÇÃO DE MARIA

Este dogma é proclamado em 08 de Dezembro de 1854 pelo papa Pio IX (1846-1878), na bula papal Ineffabilis Deus, em que na qual refere que: - “A bem-aventurada Virgem Maria foi, no primeiro instante da sua Conceição, por uma graça e favor singular de Deus omnipotente, em previsão dos méritos de Jesus Cristo, salvador do género humano, preservada intacta de toda a mancha do pecado original”.
Para que o leitor possa ter uma ideia da forte personalidade e consequente autoridade pessoal deste pontífice, em 1866, assim se expressou: “só eu sou o sucessor dos apóstolos, o Vigário de Jesus Cristo; só eu tenho a missão de conduzir e de dirigir a barca de S. Pedro; eu sou o caminho, a verdade e a vida. Aqueles que estão comigo, estão com a Igreja, aqueles que não estão comigo estão fora da Igreja, estão fora do caminho, da verdade e da vida”. Na verdade, só Jesus disse estas palavras acerca de si mesmo, nunca inerentes ao próprio homem: “Disse-lhe Jesus: «Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida»” – S. João 14:6. Que ilações tirar destas pretensões pontifícias?
Antes de tecermos alguns comentários a esta secção, recordaremos aqui o grande conselho de S. Paulo à Igreja de Corinto, ao aconselhar o seguinte: - “E eu, irmãos, apliquei estas coisas por semelhança, a mim e a Apolo (cf. Actos 18.24), por amor de vós, para que em nós aprendais a não ir além do que está escrito” – I Cor. 4.6. Por nossa parte é o que sempre temos feito. Dito isto, iremos comparar este dogma com o conteúdo das Escrituras para sabermos se esta confissão religiosa está, uma vez mais, a contrariar o sábio conselho de S. Paulo – a “ir além do que está escrito”. Ora vejamos:
1- O texto de Lucas 1.39-47 – aqui dá-nos a conhecer uma visita que Maria faz à sua prima Isabel, a qual tinha no seu ventre aquele que viria a nascer com o nome de João Baptista. A dada altura Maria exclama – “a minha alma engrandece ao Senhor. E o meu espírito se alegra em Deus meu Salvador” – v. 46,47. Como é que alguém isento de pecado poderá fazer tal afirmação, visto que, unicamente, o pecado nos faz reconhecer que precisamos, não só de um Salvador, como também de O conhecermos. Portanto, se Maria reconhece que precisa de um Salvador, a sua declaração demonstra, como facilmente se compreenderá, que ela desconhecia, em absoluto, que tinha sido agraciada com a dádiva que esta confissão religiosa lhe atribui.
2- O texto de Lucas 2.21-24 – aqui fala-nos da circuncisão de Jesus, como qualquer menino judeu. Logo a seguir dá-nos a conhecer o passo seguinte – a ida ao Templo para: 1- apresentarem a criança; 2- procederem conforme o que a lei levítica estipulava naquele caso. Ora, qual era o teor da lei em causa? Vejamo-lo – Lev. 12.3,6,7: - “No oitavo dia se circuncidará ao menino (…). E quando forem cumpridos os dias da sua purificação, por filho ou filha, trará um cordeiro de um ano por holocausto, e um pombinho ou uma rola para expiação do pecado, diante da porta da congregação, ao sacerdote. O qual o oferecerá perante o Senhor e por ela fará propiciação; e será limpa do fluxo do seu sangue. Esta é a lei da que der à luz varão ou fêmea.”. Esta era a lei para pessoas com possibilidades financeiras medianas. Havia um clausulado para quem fosse pobre, o que era o caso deste casal – José e Maria. De novo, o articulado da lei previa o seguinte: - “Mas, se a sua mão não alcançar assaz (sem posses), para um cordeiro, então tomará duas rolas, ou dois pombinhos: um, para o holocausto e o outro, para a expiação do pecado; assim, o sacerdote por ela fará propiciação e será limpa” – v. 8. E foi exactamente isto que aconteceu e assim é narrado no texto de S. Lucas. Uma vez mais, Maria e José ao agirem como quaisquer cidadãos, nestas condições, demonstram através deste acto que desconheciam totalmente que, um deles, estava isento de pecado!
3- Alguns textos de S. Paulo: - a) – Rom. 3.10 - “Não há um justo, nem um sequer” – aqui Paulo está a citar Antigo Testamento (I Reis 8.46; Salmo 14.3); b) – Rom. 3.23 – “Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus”; c) – Rom. 6.23 – “Porque o salário do pecado é a morte (…)”.
4- Alguns textos de João: - a) – I João 1.7 – “Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos e não há verdade em nós”; b) – I João 1.10 – “Se dissermos que não pecámos, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós”.
Todos estes textos desmentem, categoricamente, tal dogma. Quem terá razão? A falível palavra humana ou a infalível de Deus? O mesmo apóstolo Paulo responde: - “(…) sempre seja Deus verdadeiro, e todo o homem mentiroso”. Por outro lado, visto que esta bula papal foi emitida unicamente em 1854, como foi possível que só após dezanove séculos é que esta confissão religiosa ficou a saber que Maria tinha sido concebida sem pecado! Ficamos sem perceber não só qual a necessidade da informação como também o porquê da mesma! Cremos que, à luz do exposto, estamos claramente esclarecidos acerca deste dogma mariano.
Bibliografia:
“O termo é empregue nas Escrituras para designar as relações sexuais.” – Gerhard von Rad, La Genèse, Genève, ed. Labor et Fides, 1968, p. 100
Ver outros contextos da expressão utilizada por Mateus “até que” sob a noção de temporalidade: – Gén. 8.7; I Sam. 15.35; Mat. 5.26; 12.20; 18.30; 22.44
Georges Stéveny, op. cit., pp. 61,62; “(…) Em Isaías a tónica não é tanto na virgindade, mas sim no filho excepcional que deverá dar à luz” – Corrado Augias e Mauro Pesce, A Vida de Jesus Cristo, Lisboa, ed. Editorial Presença, 2008, p. 82
Catecismo da Igreja Católica, p. 120, nº 491
Alfredo Kuen, Je Bâtirai Mon Eglise, Vevey, Ed. Emmaus, 1967, p. 37, nota 33

terça-feira, 27 de abril de 2010

O 4º DOGMA - ASSUMPÇÃO DE MARIA AOS CÉUS E CO-REDENTORA E MEDIADORA

por Dr. Ilidio Carvalho

Este dogma foi proclamado no dia 01 de Novembro de 1950 pelo papa Pio XII (1939-1958), pela bula Munificentissimus Deus, na qual é dito que: - “Pela autoridade de Jesus Cristo, nosso Senhor, dos santos apóstolos Pedro e Paulo, e pela nossa própria, declaramos, promulgamos e definimos que é um dogma divinamente revelado: que a Virgem Imaculada, preservada e imune de toda a mancha da culpa original, terminado o curso da vida terrena, foi elevada ao céu em corpo e alma e exaltada por Deus como rainha, para assim se conformar mais plenamente com seu Filho, Senhor dos senhores e vencedor do pecado e da morte”. (sublinhado nosso). E mais abaixo, dentro deste mesmo contexto é afirmado que: - “(…). De facto, depois de elevada ao Céu, não abandonou esta missão salvadora, mas com a sua multiforme intercessão, continua a alcançar-nos os dons da salvação eterna (…). Por isso, a Virgem é invocada na Igreja com os títulos de advogada, auxiliadora, socorro e medianeira”.
Em função das afirmações dogmáticas feitas acima, iremos tecer alguns comentários deste ou daquele aspecto mais característico das mesmas:
1- “Pela autoridade de Jesus Cristo, nosso Senhor, dos santos apóstolos Pedro e Paulo” – Perguntemos a nós mesmos acerca do que o papa Pio XII quis dizer ao mencionar a autoridade destas figuras de proa do Novo Testamento? Para que quererá este prelado invocar estes nomes e respectiva autoridade, para se pronunciar neste contexto específico – acerca de Maria – se, ambos os apóstolos, tanto quanto julgamos saber, nunca escreveram, fosse o que fosse, nos seus escritos sobre Maria? Temos que admitir que não conseguimos compreender a ou as razões de tal invocação.
2- “terminado o curso da vida terrena” – Gostaríamos de fazer uma pergunta: - à luz do que nos informa a Palavra de Deus através de S. Paulo - Romanos 6.23. Neste texto, o apóstolo ensina-nos, ou melhor, reitera uma solene verdade, ao dizer que – “a morte é o salário do pecado”. Ora se Maria, segundo o papa Pio IX, foi alvo de uma “imaculada Conceição”, logo, sem pecado, como é que, posteriormente, o papa Pio XII dá a conhecer a toda a cristandade que Maria, afinal, morreu! Pois dela disse: - “terminado o curso da vida terrena”. À luz do texto Paulino, só um pecador é que morre, visto este estado ser a resultante do pecado. Como foi a sua morte possível? Recorde-se o caso de Jesus: - para que a Sua morte fosse possível, - visto Jesus não ter pecado – cf. Hebreus 4.15 - o mesmo apóstolo nos revela que teve que acontecer, com Ele, um verdadeiro mistério, ou seja, “aquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós (..)” – II Cor. 5.21. No caso de Jesus, tudo está explicado. Mas, e com Maria? O que é que aconteceu para que ela morresse? Como se explicará esta incoerência textual?
3- “foi elevada ao céu em corpo e alma” - Por outro lado sabe-se, que o último livro da Bíblia – o Apocalipse – foi escrito quase no final do século I. Cremos, se é que não estamos a especular, que Maria já teria morrido e, por isso, caso fosse importante, se a sua Assunção tivesse ocorrido, certamente que a cristandade deveria ter sido contemplada com, pelo menos, um verso bíblico, a contar o facto, ainda que ao de leve se tratasse! Mas, não! O silêncio é total!
Dizemos isto porque, nas Escrituras, encontramos o relato de várias ressurreições e, se estas mereceram ser relatadas, será que a Assunção da mãe do Salvador, a ter existido, como dizem, tal acontecimento de tão grande envergadura, teria permanecido em silêncio? A ter acontecido, teria esta menos mérito que as que se encontram registadas? Continuamos a pensar que não!
4- “exaltada por Deus como rainha” – Este título surpreende todos os que, minimamente estão familiarizados com a Palavra de Deus. Em nenhum lugar no Novo Testamento encontramos qualquer referência a Maria como “rainha do céu”. O que encontramos, isso sim, um episódio no Antigo Testamento, em que o povo de Deus tinha caído na apostasia e adorava uma deusa, na qualidade de – a “rainha dos céus” – Jeremias 7.18-20. Esta rainha dos céus designa a deus Istar, a deusa assiro-babilónica do amor e da guerra, que aqui assim era conhecida e adorada. Esta deusa “tinha os seus adoradores em Jerusalém, famílias inteiras – pais, mulheres, crianças – que lhe preparavam bolos em forma de mulher nua ou de estrela”. Portanto, estamos perante algo de inspiração pagã, não cristã.
Em face do exposto – bula papal - perguntamos: por que é que só um século depois, da anterior bula (a do papa Pio IX) é que esta confissão religiosa soube, pela pessoa do pontífice Pio XII, em 1950, que a mãe do Salvador tinha ido para o céu? Quem o teria revelado? Quanto a nós, confessamos a nossa ignorância sobre a fonte de tão estranha revelação!
5- “advogada, auxiliadora, socorro e medianeira” - Acerca desta vertente, disse Joseph Ratzinger, não na qualidade de cardeal, mas na figura de Bento XVI, refere duas facetas de Maria: 1- Ao referir-se ao lado humano do cristianismo ele disse que: - “Maria é na verdade a porta que conduz a Cristo”; 2- Ao falar da sua fidelidade à Igreja e a uma dedicação total ao serviço da mesma, disse: - “invoco a materna intercessão da Virgem Maria Santíssima, em cujas mãos entrego o presente e o futuro da minha pessoa e da Igreja. Intervenham, com a sua intercessão, também os Santos Apóstolos Pedro e Paulo, e todos os Santos”.
Segundo os príncipes desta confissão religiosa, no fundo, a intercessão a Deus pode, neste caso, passar por qualquer personagem bíblico. Mas, a Bíblia, ensina-nos exactamente o contrário, pois assim como há um só Deus, também só existe um único intercessor entre a criatura e o seu Criador – “Jesus Cristo, homem” – I Timóteo 2.5
6- O cardeal Joseph Ratzinger - Este ao responder a várias perguntas. Numa destas, ele destaca seis motivos para realçar a função de Maria de equilíbrio e totalidade para a fé católica: 1- “Reconhecer a Maria o lugar que a tradição e o dogma lhe atribuem; 2- A mariologia da Igreja supõe o justo relacionamento e a necessária integração entre a Bíblia e Tradição. Os quatro dogmas marianos têm o seu claro fundamento na Escritura; 3- Precisamente em sua pessoa de jovem hebreia feita Mãe do Messias, Maria une de um modo vital e, ao mesmo tempo, inseparável, o antigo e o novo povo de Deus, Israel e o cristianismo, Sinagoga e Igreja. (…). Nela, no entanto, podemos viver a síntese da Escritura inteira; 4- A correcta devoção mariana assegura à fé a convivência da indispensável com as igualmente indispensáveis , como dizia Pascal; 5- , e da Igreja. (…). Em Maria, sua figura e modelo, a Igreja reencontra o seu rosto de Mãe (…). Se em certas teologias e eclesiologias Maria não encontra mais lugar, a razão é simples: elas reduziram a fé a uma abstracção. E abstracção não tem necessidade de Mãe. 

7- Outras citações acerca de Maria: 1- “Ela é realmente uma mediadora de paz entre os pecadores e Deus. Os pecadores recebem perdão (…) somente por meio de Maria. 2- “Muitas coisas (…) são pedidas a Deus, e não são concedidas; mas se pedidas em nome de Maria, são obtidas”, pois “ela chega mesmo a ser Rainha do Inferno e Senhora Soberana dos demónios”. 3- “Maria é chamada (…) a porta do Céu porque ninguém pode entrar naquele reino abençoado sem passar por ELA”. 4- Maria “é também Advogada de toda a família humana (…) pois pode fazer com Deus o que quiser”. 5- “Muitas vezes recebemos mais rapidamente o que pedimos invocando o nome de Maria do que o de Jesus”. “Ela (…) é nossa Salvação, nossa Vida, nossa Esperança, nossa Advogada, nosso Refúgio, nosso Auxílio”. 6- “Toda a Trindade, ó Maria, te dá um nome (…) que está acima de todo o nome, para que a Teu nome se dobre todo o joelho, nos Céus, na Terra e debaixo da Terra”.

Que dirá, uma vez mais a Palavra de Deus acerca de quem é o verdadeiro “advogado” e “intercessor”? A Palavra de Deus dá-nos a conhecer as respostas a estas perguntas: 1ª- “Porque há(…) um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo, homem” – I Timóteo 2.5; Actos 4:12 (sublinhado nosso). 2ª- “…Se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo” - I João 2:1. Isto quer dizer que todo e qualquer que chamar a si tais prerrogativas são, simplesmente, intercessores: - espúrios, falsos e blasfemos. 


 Bibliografia:
Cf. Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, p. 44
Catecismo, p. 219, nº 966
Idem, p. 220, nº 969
É, pensamos, de toda a conveniência definir e precisar os termos. Assim, Ascensão – acto de subir pelos seus próprios meios; Assunção – elevação ao céu, mas não pelos seus próprios meios. Portanto, transportada pelos anjos.
Jean Steinmann, Le Prophète Jérémie – sa vie, son oeuvre et son temps, Paris, ed. Editions du Cerf, 1952, p. 130
[1]Dag Tessore, Bento XVI – Pensamento Ético, Político e Religioso, Lisboa, ed. Temas e Debates, 2005, p. 182
Andrea Tornielli, O Papa Bento XVI – O Guardião da Fé, Queluz, ed. Editorial Presença, 2005, p. 186
Joseph Ratzinger, Diálogos sobre a Fé, pp. 87-89


sábado, 24 de abril de 2010

MARIA E AS BULAS PAPAIS

Há, no entanto, alguns pormenores que gostaríamos de realçar quando comparamos as duas bulas papais, nas quais se estabeleceram os dois dogmas já referidos: 1- O da Imaculada Conceição de Maria, proclamado em 1854; 2- O da Assunção de Maria, em 1950. Vejamos:
1- Se os fiéis não souberam senão em 1854 que Maria, a mãe do Salvador, era “Imaculada”, até então, oraram a que santa - o Terço e a Salvé-Rainha? Em honra de Maria? Não certamente! Porque desconheciam, por completo, que esta sempre fora Imaculada e que estivesse no céu!

2- Quase um século depois do 1º dogma, isto é, em 1950, esta confissão religiosa foi informada que Maria tinha sido, após “ter terminado o curso de vida terreno” elevada ao céu? Quem é que a informou? O Espírito Santo? Se sim, porquê só dezanove séculos depois da sua morte? Parece-nos muito estranha a postura deste Espírito Inspirador!

3- Se só a partir de 1950 a 2ª bula é, oficialmente, proclamada, na qual tendo a cristandade ficado a saber que Maria exerce a função de - “advogada” e “medianeira” -, então Maria intercedeu por quem, visto que, até então, era desconhecida esta sua função de intercessora dos fiéis?
por Dr. Ilídio Carvalho

quinta-feira, 22 de abril de 2010

MARIA E A BÍBLIA

por Dr. Ilídio Carvalho
Perante todas estas doutrinas marianas resultantes da acção de Maria, iremos, de seguida, examinar as Sagradas Escrituras para nos apercebermos se, de facto, é este o pedestal que Maria ocupa no texto sagrado. Vejamos:
1- S. Mateus 1 e 2 - O relato bíblico mostra-nos: 1- O sonho de José, quando este cogitava no seu coração em abandonar Maria, visto que estava grávida, mas não dele! - 1:18-25; 2- O relato da adoração dos Magos e entrega de presentes – 2:1-12; 3- O relato da fuga de José e Maria para o Egipto por causa da matança dos inocentes, por Herodes – 2:13-18; 4- Finalmente, regresso definitivo a Nazaré – 2:19-23.
2- S. Lucas 1:26-38,46-56 - Aqui encontramos: 1- Anúncio do anjo a Maria – 1:26-38; 2- A visita de Maria a Isabel – v. 39-45; 3- O cântico de Maria – v. 46-56.
3- S. Lucas 2:1-52 – Aqui encontramos: 1- O nascimento de Jesus – v. 1-7; 2- Os pastores de Belém – v. 8-15; 3- A circuncisão de Jesus no 8º dia do Seu nascimento – v. 21; 4- Apresentação do bebé no templo – v. 22-24; 5- Jesus no templo com os doutores da lei – v. 39-51.
4- S. João 2:1-5,12 - Aqui encontramos um casamento: 1- Maria, Jesus e discípulos – nas bodas de Caná. 2- Agora, Jesus tem cerca de 30 anos (cf. S. Lucas 3:23). 3- A certa altura falta o vinho – v. 3!
Maria vai ter com Jesus e avisa-O da ocorrência. Maria pensava, naturalmente, ter um certo ascendente sobre o seu filho Jesus, aliás, como qualquer mãe. Este, por Sua vez, lhe diz: - “Mulher, que tenho eu contigo? Ainda não é chegada a minha hora” – v.4. De novo, Jesus repõe as distâncias, realçando a condição humana de Maria. Esta, em função das palavras de Jesus, limita-se a dizer aos servos: - “Fazei tudo quanto ele vos disser” – v. 5.
5- S. João 19:25-27 – Maria aos pés da cruz. - Lá do alto da cruz, Jesus exclama e ordena: - “Mulher, eis aí o teu filho” – v. 26. O que quererão dizer estas palavras no triângulo: - Jesus, Maria e irmãos? Vejamos: 1- Que Jesus não fez mais do que recordar e salvaguardar a precária situação social de uma viúva, em Israel; 2- Que Jesus, segundo - Mateus 1.25 - é o primogénito e único de Maria; 3- Que Maria, em termos filiais, nada tinha que ver com os “filhos” de José – cf. Mateus 13.55; 4- Sendo Jesus o primogénito de Maria, - Mateus 1.25 – isto significa que os outros, a serem filhos de Maria, teriam que ser mais novos do que Ele; 5- Que, à luz de - João 7.3-5 -, é provado o contrário, ou seja, se os irmãos de Jesus Lhe dão conselhos, é porque são mais velhos. 6- Que, segundo o costume, os filhos de uma mulher viúva “deviam sustentá-la”; 7- Como Jesus remeteu Maria aos cuidados do discípulo João, prova que estes filhos não eram de Maria, mas sim de José .
A partir destes textos, acerca de Maria, o silêncio é total! Será este silêncio revelador de qualquer coisa, isto é, de não só nos mostrar qual o lugar e papel ocupado por esta piedosa mulher nas Escrituras Sagradas, como também que ela, a exemplo das demais personagens bíblicas deve merecer todo o nosso carinho e respeito. Quanto ao mais que dissermos, seguramente que estaremos a inventar ou a especular! Sem uma base documental sólida, que valor terão tais afirmações, ainda que extremamente piedosas? Repetimos, o que encontramos acerca de Maria, mãe de Jesus, nas Sagradas Escrituras, é tremendamente escasso para que sejamos autorizados a elaborar qualquer doutrina que lhe seja inerente.
Bibliografia:
“Embora, de acordo com a maneira de se expressar da época, esta não é uma expressão desrespeitosa, reflecte, entretanto, uma posição de Cristo sobre o relacionamento de Seus familiares com Sua missão” – Dr. Mário Veloso, Comentário do Evangelho de João, S.Paulo, ed. Casa Publicadora Brasileira, 1984, pp. 73,74; “(…). Discretamente, mas sem equívocos, Jesus mostra que Maria não compreendeu a sua (dele) verdadeira missão” – Georges Stéveny, Jésus l’envoyé de Dieu – pourquoi est-il venu?, France, ed. Vie et Santé, 2001, p. 132
A Serva do Senhor aponta nesta direcção - Cf. Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, Sacavém ed. Publicadora Atlântico, s. d., cap. IX, p. 74
Cf. Manuel de Tuya, O. P., Biblia Comentada – V Evangelios – Professores de Salamanca, Biblioteca de Autores Cristianos 239ª, 3ª ed., Madrid, ed. La Editorial Catolica, 1977, p. 221; Cf. Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, cap. IX, p. 75
Artº “Viúva” in A. Van van Den Born Dicionário Enciclopédico da Bíblia, S. Paulo, ed. Editora Vozes, 1977, col. 1567
Cf. Jeffrey J. Butz, Tiago, irmão de Jesus e os Ensinamentos Perdidos do Cristianismo, Lisboa, ed. Editorial Presença, 2006, pp. 34,35.

terça-feira, 20 de abril de 2010

MARIA: Nª Sª de FÁTIMA

por Dr. Ilídio Carvalho
Maria e José eram um casal pobre, e isto significa que tiveram uma existência muito difícil! Se tivermos em conta como Maria é retratada nas imagens de escultura existentes, na verdade, qual a relação que existe entre a figura apresentada, nos nossos dias, e a possível realidade física da personagem? Baseando-nos no que alguns autores referem acerca da idade de Maria, somos informados que “quando deu à luz, devia ser uma jovem de catorze anos”. Assim sendo, bastará fazer uma simples conta de somar, juntando os anos de Maria aos de Jesus, quando morreu, ou seja, aos 33 anos. Assim sendo, esta à morte de Jesus teria entre os 47 a 50 anos idade, o que para a época, para uma simples e pobre cidadã, deveria representar um peso considerável, em termos de aparência visual!
Maria, uma mulher do povo e extremamente pobre, que aspecto poderia ter tido? Certamente que nunca teria o aspecto igual ou parecido àquele que é apresentado na estatuária nos nossos dias! Assim, o que os olhos do fiel e peregrino contemplam, não só nada tem a ver com a realidade projectada – juventude e beleza – como também em nada corresponde ao original, mais que não fosse, pela simples razão de não existir qualquer testemunha ocular ou artefacto original retratando Maria! Além do mais, nos nossos dias, como é que a imagem, estátua, de Maria aparece aos devotos, quer quanto ao seu aspecto, quer quanto à suas vestes? É interessante ler o que, a este propósito, nos é dado a conhecer! Comecemos pela descrição da estátua: - “esta mede 1,10 metros e é feita de madeira de cedro do Brasil. Em campanha nacional para a recolha de ofertas para a confecção de uma coroa, angariaram-se 8 kg de ouro e inúmeras pedras preciosas. A virgem de Fátima tem incrustado no seu interior, uma das balas do atentado ao Papa João Paulo II, no Vaticano, em 13 de Maio de 1981. De um valor incalculável, nesta coroa trabalharam, gratuitamente, doze especialistas durante três meses. Exemplar único, pesa 1200 gramas e tem 313 pérolas e 2679 pedras preciosas (…)”.
Recordaremos aqui uma pequena frase integrada no dogma da Assunção de Maria; esta é “A Virgem Imaculada (…) exaltada por Deus como rainha”; Lembramo-nos de um paralelo bíblico, quando o povo se desviou do culto a Deus e se voltou para os ídolos (imagens de escultura, quer humanas, quer de animais). O texto bíblico em causa diz: - “Não aceitaremos o que nos dizes em nome do Senhor. Antes, cumpriremos todas as promessas que fizemos de queimar incenso à rainha do céu e de lhe oferecer libações (…)” – Jeremias 44:16-19. (sublinhado nosso). Qual é a diferença entre a estátua de Maria de hoje, e as imagens de escultura denunciadas quer no Antigo quer no Novo Testamento? Em quê, a imagem de escultura representando Maria está isenta desta proibição? Em boa verdade temos que reconhecer que, em nada, pela simples razão do Deus que inspirou a Bíblia ser o mesmo Deus de hoje! A Virgem é, dizem, “invocada na Igreja com os títulos de advogada, auxiliadora, socorro e medianeira”. Mas, como poderia ser “mediadora” se, como já vimos – os crentes devotos e cristandade em geral, nem sempre tiveram conhecimento de que o era!? Por outro lado, como vimos quando estudámos Daniel 2, não foi, de modo algum, por mero acaso que se procedeu à eliminação do 2º mandamento do decálogo, o qual é bastante claro a este respeito, ao dizer: - “Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra (…); não te encurvarás a elas, nem as servirás (…)” – Êxodo 20:4,5. (Sublinhado nosso).
Queremos, desde já, para que não haja quaisquer equívocos, reiterar aqui e agora o nosso mais profundo respeito pela pessoa de Maria – a mãe do nosso Salvador. Dito isto, tentaremos ilustrar de uma forma simples e compreensível, o que Maria representa para nós: - Deus quis mandar-nos uma carta, cujo conteúdo é a Salvação (Cristo). Deus enviou esta - carta/Cristo, - através de um envelope/Maria. Ao recebermos esta carta/Cristo enviada por Deus e vinda até nós dento do envelope/Maria, cujo conteúdo é de grande valor – o que é que fazemos ao receber o envelope? Cuidadosamente, abrimo-lo e nos apropriamos do seu conteúdo. Estes são os passos normais daquele/a que recebe uma carta de alguém. A seguir, dependendo do leitor/a, tudo muda segundo o temperamento e interesse de cada leitor/a, quer quanto à - carta/Cristo -, quer quanto ao – envelope/Maria. Então, o que farão as diferentes sensibilidades receptoras a este envelope/Maria e ao seu conteúdo/Cristo – que é a Salvação, segundo S. Lucas 19:9? Vejamos: 1- Uns, amarrotam-no e o lançam fora com o seu precioso conteúdo! 2- Outros, como o envelope é muito bonito e agradável à vista, o guardarão religiosamente, sem o abrir, apesar de saberem que o mesmo contém uma grande notícia – a Salvação. 3- Outros ainda, ao receberem este bonito envelope e de grande valor representativo, abrem-no e dele tomam conhecimento, moldando em cada dia, as suas vidas neste precioso conteúdo recebido. Mas, o envelope, após ter cumprido a sua nobre missão, apaga-se para enaltecer o valor do seu conteúdo.
Eis o que queremos dizer com cada uma destas três situações: 1ª- a do incrédulo – Aquele que amarrota o envelope/Maria e o lança fora com toda a preciosa informação no seu interior. 2- a do devoto – Aquele que prefere guardar, religiosamente, o envelope/Maria, pelo seu valor simbólico e representativo, mas que nunca não o abrirá – cf. João 5.39 – permanecendo no desconhecimento total do seu conteúdo. 3- a do cristão – Aquele que, ao contrário do anterior, consulta as Escrituras – cf. Actos 17.11 - que delas se alimenta e age em conformidade com os seus ensinos; nesta qualidade, não guardará o envelope/Maria apesar do respeito e carinho que merece, mas apropriar-se-á do conteúdo/Cristo. Portanto, esta última postura deveria ser a de todo aquele que se diz cristão, quer quanto ao envelope/Maria, quer quanto ao conteúdo/Cristo.

Estamos a ser desrespeitosos ou deselegantes ao ilustrarmos assim a posição dos diversos tipos de pessoas às quais o Evangelho é dirigido? Pensamos que não. Uma coisa é esta confissão religiosa e todos aqueles que a ela aderem merecerem todo o nosso respeito, apreço e carinho; outra bem diferente, é concordarmos com os seus métodos de actuação, negligenciando a verdadeira fonte de toda a verdade. E esta é uma só – o claro ensino das Escrituras espelhado num veemente: - “Assim diz o Senhor”. Nesta matéria, como em todas, Jesus não nos deixa à deriva, pois Ele mesmo admoesta - “Mas em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos dos homens” – Mateus 15.9.
Bibliografia:
Daniel-Rops, A Vida Quotidiana na Palestina no Tempo de Jesus, Lisboa, Ed. Livros do Brasil, s.d., p. 133
Manuel Vilas-Boas et all, Fátima, os Lugares da Profecia, Lisboa, Ed. Círculo de Leitores, 1993, pp. 118,119
Catecismo, p. 219, nº 966
Idem, p. 220, nº 969