Referem, a este propósito que “primeiro: a prole ou o filho da mulher não é nem pode ser outro senão o anunciado Reparador ou Redentor, isto é, Jesus Cristo; segundo: que a mulher apresenta-se como a mãe do Redentor, e Mãe do redentor, Jesus Cristo, não há outra propriamente a não ser a Virgem Maria. (…). Partimos do pressuposto, inegável de que a mulher do Proto-evangelho (Gén. 3.15) é a mesma mulher do Apocalipse 12.1”.
Assim, estes dois textos bíblicos estarão na base de duas bulas papais, ainda que separadas no tempo, visando uma maior definição dogmática da pessoa e posição de Maria em relação à Igreja, pois Maria é tida como a segunda Eva e nesta qualidade “As prerrogativas, excelências, graças e privilégios da segunda Eva distribuem-se em três ordens: 1ª- Ocupa o primeiro lugar a maternidade divina, raiz, origem e medida de todos os demais privilégios, à qual há que associar, a perpétua virgindade; 2ª- oferecem-se as disposições morais desta maternidade, isto é, a sua perfeita santificação, que compreende (…) a total imunidade de pecado actual (...)”. A este propósito, o catecismo afirma: - “O aprofundamento da fé na maternidade virginal levou a Igreja a confessar a virgindade real e perpétua de Maria, mesmo no parto do Filho de Deus feito homem”.
Se compararmos esta posição dogmática mariana com o límpido ensino da Palavra de Deus, o que é que nela, a este propósito encontramos? Claro, nada mais que a negação do mesmo dogma se, tivermos a Palavra de Deus como VERDADE, visto o Senhor Jesus ter dito acerca das Escrituras: - “Santifica-os na verdade, a tua palavra é a verdade” – João 17.17. Bastará examinar alguns textos da Palavra de Deus para nos apercebermos do quão diferente é um - “Assim está escrito” - ou de um - “Assim diz o Senhor” – acerca deste dogma. Vejamos:
1- O texto de Mateus 1.18-25 – aqui nos é mostrada a reacção de José à gravidez de Maria, assim como o que ele pensou fazer em face da ocorrência, ou seja – “abandoná-la” – v. 19. Mas, depois de elucidado, é dito que ele “recebeu a sua mulher” – v. 24. O texto não fica por aqui, pois faculta-nos uma preciosíssima informação em função do assunto em causa – acerca da sua relação de casal após parto. Assim, na continuação do encontramos esta preciosidade – “E não a conheceu até que deu à luz o seu filho (…)” – v. 25. (sublinhado nosso). Este versículo aqui está para que o leitor sinta a diferença entre o antes (v. 18) e o depois (v. 25).
No v. 23 está escrito: - ”Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho (…)”. O teor deste texto é a citação de outro do Antigo Testamento, o do profeta Isaías 7.14. A palavra hebraica Almah, foi vertida para a grega Parthenos e, por sua vez traduzida por virgem. Trata-se, portanto, de uma virgem ou de uma mulher jovem? A questão é pertinente, na medida em que, na língua hebraica, para designar uma virgem não é a palavra Almah, mas Bethulah. Neste caso, o de “Mateus, conduzido pelo Espírito, viu nele uma profecia respeitante ao nascimento virginal do Messias. Eis a razão porque ele empregou a palavra parthenos”. Mas, a própria dinâmica no texto, associada ao comportamento de José mostra-nos que, efectivamente, trata-se de uma jovem e virgem.
2- O texto de Gálatas 4.4 - “vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei”. Aqui o apóstolo Paulo, ignora totalmente a questão em causa (uma suposta virgindade); a este propósito, limita-se a dizer que Jesus “nasceu de uma mulher”, não dando nenhuma importância a quem tivesse sido a sua mãe! Será que uma figura como S. Paulo acharia irrelevante o nome de Maria, assim como a importância, o papel desta num hipotético plano de Salvação, visto a ter ignorado completamente? Este comportamento de S. Paulo é, no mínimo, inaceitável! Ou será que estará com este procedimento, simplesmente, a revelar que tal questão (a virgindade) não teve qualquer importância, pela simples razão que a mesma nunca existiu! Pensamos que esta última hipótese é a que é mais consentânea com o espírito e a letra do texto Bíblico em relação ao enquadramento do nascimento de Jesus.
Jose M. Bover, S. I., Teologia de San Pablo, - Biblioteca de Autores Cristianos, Madrid, 4ª ed, ed. Editorial Católica, S.A., vol.16, 1967, pp. 418,419
Idem, p. 388
Catecismo, p. 122, nº 499
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