quarta-feira, 28 de abril de 2010

MARIA A MULHER

Apocalipse 12.1
Quando nos aproximamos do livro do Apocalipse parece que estamos numa espécie de ante câmara do quanto o apóstolo Pedro chamou de “outras Escrituras”, ou seja, o Antigo Testamento – II Pedro 3.16. Na verdade, dos quatrocentos e quatro versículos que compõem este livro, cerca de duzentos e setenta e oito pertencem a estas “outras Escrituras”. Tendo em conta este enraizamento, alguns comentadores precisam que “este livro do Novo Testamento é o que mais se refere ao Antigo Testamento e às instituições judaicas tradicionais. Neste contam-se, não menos de duas mil alusões ao Antigo Testamento, das quais quatrocentas alusões explícitas e noventa citações literais do Pentateuco ou dos profetas”.
Tendo em conta este contexto próximo, para podermos compreender este capítulo que nos ocupa, temos que entender um versículo que encontramos logo no princípio da Bíblia, um versículo de capital importância; diríamos até que, dentro da importância que todos os textos têm, este é um dos mais importantes, pois nele encontramos de uma forma resumida a razão de ser de toda a Escritura. O texto em causa encontramo-lo em Génesis 3.15. Aqui podemos ver um diálogo de Deus com Satanás: - “E porei inimizade entre ti e a mulher; e entre a tua semente e a sua semente; esta (este) te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar”. Aqui encontramos quatro aspectos: 1- inimizade; 2- serpente; 3- mulher; 4- 2 sementes. Irá existir uma inimizade mortal entre a serpente e a mulher; entre a semente da serpente e a da mulher. Mas, como nos podemos aperceber, a verdadeira guerra não é entre a serpente e a mulher e as respectivas sementes. Se repararmos bem para a última parte do versículo, é dito que “(…) este te ferirá a cabeça”, o que significa que esta descendência não se encontra, filologicamente, no feminino, mas no masculino. Na verdade, quem é a verdadeira semente da mulher? Sem sombra de dúvida que é Cristo A quem Satanás odeia em primeiro lugar? À Igreja ou Aquele que está na sua base? A quem esta entidade quis destruir em primeiro lugar? Claro, a Cristo. Porquê? Porque Satanás sabia, desde o Jardim do Éden que esta “semente” era um “ele” – Cristo – e não uma semente, um colectivo. Note-se, a este respeito o reforço desta verdade no interior do texto do Apoc.12.5, pois aqui é dito que “a mulher deu à luz um filho, um varão, (…)”. Do termo impreciso - “filho” -, que poderá ser entendido por ele ou ela, o texto acrescenta, reforçando de uma forma precisa que, este “filho” trata-se de um varão.
I- A análise
Este capítulo começa com uma referência ao passado, ao dizer: – “E viu-se um grande sinal no céu: uma mulher vestida de sol, tendo a lua debaixo dos seus pés, e uma coroa de doze estrelas sobre a sua cabeça” – v. 1. Esta mulher, biblicamente falando é símbolo de uma Igreja – cf. II Cor. 11.2; Ef. 5.23,25-27. Pela descrição que é feita, esta representa uma Igreja pura, que contrasta com a que é apresentada no cap. 17 do Apocalipse - uma mulher prostituída. Porquê a referência a doze estrelas? Afinal, de que fase da história da mulher/Igreja nos está a ser apresentada neste capítulo? Tudo aponta para a alusão ao Antigo Testamento. Qual a razão? Quando se vê a descrição que é feita desta mulher, que “estava grávida, e com dores de parto, e gritava com ânsia de dar à luz” – v. 2 - o que é que o vidente de Patmos nos quer mostrar? Note-se que, quando o apóstolo vê a mulher, a criança ainda não tinha nascido. Assim, esta mulher representa, efectivamente, a Igreja do Antigo Testamento, que desejava, ardentemente, a vinda do Messias há tanto tempo prometido para a libertação plena de Israel – o povo de Deus.
Em relação ao texto em lide, como ao de Génesis 3.15, far-se-ão as mais estranhas interpretações das Escrituras, a saber: 1- Gén. 3.15 – aqui a mulher, representa Maria ou Eva, ou a mulher, em geral; 2- Apoc. 12.1 – aqui está representada Maria, Israel e a Igreja. Referem, a este propósito que “primeiro: a prole ou o filho da mulher não é nem pode ser outro senão o anunciado Reparador ou Redentor, isto é, Jesus Cristo; segundo: que a mulher apresenta-se como a mãe do Redentor, e Mãe do redentor, Jesus Cristo, não há outra propriamente a não ser a Virgem Maria. (…). Partimos do pressuposto, inegável de que a mulher do Proto-evangelho (Gén. 3.15) é a mesma mulher do Apocalipse 12.1”.
Antes de mais, debrucemo-nos sobre algumas considerações tendentes a ver nesta mulher do Apocalipse, não somente a Igreja em geral, mas a figura de Maria, em particular. Iremos analisar os dogmas marianos que estas interpretações deram origem.

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