domingo, 29 de julho de 2012

A IDENTIDADE DO ANTICRISTO

A interpretação popular da escola preterista identifica a besta do mar como o Império Romano. As "sete cabeças" da besta são aplicadas a sete imperadores sucessivos (dos onze) que houve durante o primeiro século da era cristã. Esta opinião depende fortemente de uma interpretação particular das sete cabeças da besta escarlata de Apocalipse 17. Desta besta determinada disse o anjo interpretador: "Aqui está o sentido, que tem sabedoria: as sete cabeças são sete montes, nos quais a mulher está sentada. São também sete reis, dos quais caíram cinco, um existe, e o outro ainda não chegou..." (Apoc. 17:9, 10).

Kenneth A. Strand examinou recentemente a evidência para esta aplicação preterista de Apocalipse 13 e 17 a Roma pagã.1 O método que Strand usa é o contextual, pelo qual refuta eficazmente a identificação da besta que sobe do mar com Roma imperial.
Primeiro relaciona Apocalipse 13 com seu contexto literário, quer dizer, com a estrutura maior de Apocalipse 12. Esta esfera maior contém uma sequência histórica de três passos: "O dragão primeiro se opõe ao menino-homem (Cristo), depois à mulher, e finalmente ao resto da descendência dela".2 A conexão dos períodos de tempo específicos em Apocalipse 12 (vs. 6, 14) e no capítulo 13 (v. 5) indicam que a besta de Apocalipse 13 persegue os santos durante a segunda fase de Apocalipse 12, quer dizer, durante a era pós-apostólica. Os pais da igreja Irineu, Tertuliano e Jerónimo esperavam o surgimento do anticristo só depois do desmoronamento de Roma pagã. Nem sequer mencionam a Nero como cumprindo alguma profecia no Apocalipse!

Strand também avalia a asseveração que diz que as sete cabeças da besta representam as sete colinas de Roma. Assinala que a tradução apropriada de óros não é "colinas" e sim "montes", assim como em qualquer outro lugar do Apocalipse (ver Apoc. 6:14-16; 14:1; 16:20; 21:10). Como símbolo, "um monte" nunca representa um soberano particular, mas sim a uma nação ou um império (veja-se Dan. 2:34, 35, 44, 45; Jer. 51:25). O segundo termo em Apocalipse 17:9 e 10: "reis", representa igualmente reino ou impérios (ver Dan. 2:38-40). Tanto Daniel como o Apocalipse não fazem uma separação abstrata entre reino e seus reis.
Strand explica que as sete cabeças da besta se diz serem impérios mundiais sucessivos, sendo os executores do plano de Satanás em todas os séculos. As cabeças não são sete colinas neutras e estáticas. Por conseguinte, conclui assim:
"A referência nesse texto [Apoc. 17:9] a "sete montes" alertou imediatamente aos paroquianos asiáticos de João ao fato de que o símbolo representava uma série de impérios mundiais sucessivos".3

Mas as "sete colinas" de cidade de Roma, é óbvio, não são cronologicamente sucessivas. Entretanto, o Império Romano foi claramente uma das sete cabeças da besta. Os dez chifres com diademas da besta indicam que essa cabeça particular representa um poder mundial que sucederia Roma pagã e que reinaria simultaneamente sobre dez reinos.

A aplicação preterista da "ferida mortal" da besta a Nero e seu ressurgimento aplicado a Domiciano (o tradicional mito de "Nero revividus" [Nero revivido]) foi examinado e refutado totalmente por Paul S. Minear e também por K. A. Strand.4 Portanto, concluímos que até as perseguições dos cristãos por Roma pagã não foram as do anticristo em Apocalipse 13. Até mais decisivo é o fato de que Apocalipse 16:13-16 indica que a besta-anticristo desempenhará um papel principal nos acontecimentos finais que preparam o terreno para os juízos das sete últimas pragas e o Armagedom. Por conseguinte, não pode restringir a besta à antiga Roma e a seu culto imperial.

Este conhecimento levou a alguns expositores católicos e futuristas a projetar um Império Romano pagão revivido no futuro.5 George E. Ladd representa aos que combinam as aplicações preterista e futurista e portanto aceita um amplo espaço de muitos séculos de história da igreja.6 Ladd considera Roma pagã como o precursor histórico do anticristo. Mas este futurismo moderado ignora o estilo apocalíptico de um contínuo-histórico nos livros de Daniel e Apocalipse e mantém a era cristã em grande parte fora do foco da profecia.

O Enfoque Historicista
O problema da interpretação do Apocalipse é basicamente o problema da aplicação à história da igreja. Um erudito bíblico batista assinala que "o legado do tempo é a parte mais difícil do livro. A que tempo se referem os símbolos? E é obvio aqui é onde ocorre a batalha. Refere-se o símbolo ao passado? Refere-se ao presente? Refere-se ao futuro, e se for assim, quando?"7
Com respeito à data escolhida, precisamos recordar que o Apocalipse de João está edificado sobre o fundamento já estabelecido no livro de Daniel. Em concreto, Apocalipse 13 é a ampliação de Daniel 7, como o confirmam vários vínculos únicos entre os dois capítulos. Um erudito evangélico demonstrou inclusive o mesmo modelo estrutural em ambos os capítulos e concluiu que "Apocalipse 13 foi modelado fundamentalmente segundo Daniel 7... Apocalipse 13 está inspirado em Daniel 7".8 Os expositores preteristas não reconhecem este ponto essencial.

O Império Romano não esgota o profundo simbolismo e o conflito universal de Apocalipse 13. Por outro lado, os expositores futuristas ou dispensacionalistas ignoram completamente a relevância do Apocalipse para a igreja de todos os tempos, porque aplicam Apocalipse 13 exclusivamente a um futuro governo mundial e à cabeça de uma futura igreja apóstata.
Se Daniel apresentar a perspectiva de uma sequência histórica, então o enfoque mais apropriado é o cumprimento contínuo-histórico, que a escola historicista de interpretação procurou seguir.


Prova para Definir a Verdade e a Heresia
A igreja entendeu a heresia como uma contradição e separação fundamental da fé. Caracterizou-se como uma obra do diabo, que se devia exterminar por todos os meios possíveis. Segundo Tomás de Aquino, sua exterminação era um dever sagrado.9 Os papas a partir de Leão I (440-461) em diante justificaram a pena capital para a heresia e alguns insistiram em promulgar decretos imperiais para anular os direitos civis dos hereges, até que o concílio do Toulouse (1229) introduziu o castigo de queimar vivos aos bogomilos ou albigenses na França.

As leis canónicas da Igreja Católica Romana ressaltam o dever dos governantes seculares para erradicar a heresia e para obedecer as leis da igreja, sob a ameaça de excomunhão. Por conseguinte, os governantes viram como seu dever cumprir os requerimentos da Igreja, especialmente do século XIII até o XVII. Um número incontável de crentes cristãos dissidentes foi massacrado como proscritos pela Inquisição papal em vários países da Europa, tais como os albigenses, os valdenses e os huguenotes. Foi especialmente horrível a matança no dia de São Bartolomeu em 24 de agosto de 1572 em Paris e em outras cidades da França, quando perto de 70.000 protestantes foram assassinados sanguinariamente em um lapso de dois meses, com a aprovação do papa Gregório XIII. Todos eles sacrificaram suas vidas "pela palavra de Deus e pelo testemunho de Jesus Cristo".10
Vozes tanto de fora como de dentro da Igreja Católica começaram a acusar o papado mundano de comportar-se de uma maneira semelhante ao anticristo predito (dos arcebispos Arnoldo de Orleans no ano 991, e Eberhard II do Salzburgo no ano 1241; também Dante, o Petrarca, Savonarola, Wycliffe).11 Entretanto, não senão até os dias do Lutero e Calvino que a convicção de que a hierarquia romana era o anticristo ou Babilónia alcançou proporções maciças e se expressou em várias confissões dos credos das igrejas protestantes.12

Tanto Lutero como Calvino descobriram primeiro a Cristo e seu evangelho de graça imerecida. Só então, depois que se defrontaram com o autoritarismo dos papas que negaram sua liberdade para pregar o evangelho e condenaram a essência de sua mensagem evangélica, é que reconheceram que o Papa era o anticristo.

Calvino explicou isto detalhadamente em seu livro Institución de la religión cristiana. Em 1543 declarou o seguinte:
"Será vigário de Cristo o que, perseguindo com seus furiosos esforços ao evangelho, claramente se dá a conhecer como o anticristo?... Consta que o pontífice romano se apropriou desavergonhadamente do que é próprio e exclusivo de Deus e de Cristo".13

Para ambos os reformadores o anticristo não era um personagem distante do passado ou um indivíduo no futuro remoto, mas sim uma diabólica imitação de Cristo em seus próprios dias. Declararam que a apostasia religiosa e eclesiástica contemporânea era o cumprimento das profecias bíblicas, especialmente da profecia de Daniel 11:36-39 e 2 Tessalonicenses 2:4. Para eles o ponto essencial era que o anticristo era uma realidade presente. Isto criou para os protestantes uma ameaça existencial como se enfrentassem a prova última da fé.

G. C. Berkouwer reconheceu "que a concepção intuitiva dos reformadores de um anticristo real e ativa é uma ênfase do Novo Testamento"!14

João identificou os "muitos anticristos" em seu tempo por sua separação essencial tanto doutrinal como moralmente do evangelho apostólico original (ver 1 João 2:18, 19, 22; 4:2, 3). A norma específica de João foi o ensino apostólico a respeito de Jesus como o Messias e sua morte expiatória, cristologia que formou a pedra angular do evangelho apostólico de salvação (ver também Rom. 1:1-14; At. 17:2, 3). João enfatizou a diferença entre a fé apostólica que era "desde o começo" e os enganos dos inovadores que alegavam ter um conhecimento maior de Deus e de Cristo (1 João 2:22; 4:2, 3; 2 João 7).

A preocupação exclusiva das cartas pastorais de João foi a crise contemporânea da igreja em sua região. Não vacilou em chamar a qualquer que ensinasse um evangelho diferente "falsos profetas" e "anticristos". Apelou aos membros de igreja e lhes disse: "Provem os espíritos se procedem de Deus" (1 João 4:1). Esta chamada é a responsabilidade de cada membro de igreja, o que supõe não só um conhecimento básico do evangelho apostólico mas também a unção do Espírito. João assegurou a seus membros e lhes escreveu: "Mas vós tendes a unção do Santo, e conheceis todas as coisas" (1 João 2:20; ver também o v. 27).

Da aplicação que João fez do anticristo predito, recebemos uma nova apreciação pelos esforços dos reformadores protestantes para identificar o anticristo da profecia em seus dias. Os reformadores aplicaram o mesmo teste que João tinha usado em sua primeira epístola: a mensagem evangélica apostólica e original do Novo Testamento.

Sobre esta base os reformadores tanto pastores como exegetas identificaram o papado medieval como o anticristo da profecia: por sua exaltação própria acima de todos outros na Igreja e no Estado, e por seu dogma de um caminho diferente de salvação (por um novo sacerdócio com sete sacramentos).

A reacção da Igreja Católica ao evangelho da Reforma protestante chegou a solidificar-se no concílio do Trento (1545-1563) e no Catecismo romano de 1566, publicado pelo papa Pio V.15

Os reformadores protestantes cumpriram com sua responsabilidade ao alertar os cristãos dos ensinos do falso evangelho de sua Igreja-Estado contemporâneo. Fizeram-no com a mesma seriedade como a que se evidencia nas epístolas de João. Os seus credos extensos quanto a Cristo, o pecado, a salvação e a igreja apóstata, ainda convence a milhões de seres humanos de que a interpretação protestante é uma restauração do evangelho original.

Surge então a premente pergunta: Está completa a reforma do século XVI, reforma da igreja e da doutrina, ou chegou a estancar-se em credos e tradições?

O teólogo luterano Paulo Althaus propôs que cada geração de cristãos esteja alerta para identificar as atuais corrupções do evangelho e para confessar o senhorio de Cristo em cada polarização religiosa. As confrontações históricas do passado servem como tipos de ameaças reiterativas, assim como o Apocalipse de João viu a antiga Babilónia, Edom e Tiro como protótipos dos inimigos da era da igreja (ver Apoc. 18, que aplica as profecias da Isa. 13, 34 e Ezeq. 27). "A expectativa do anticristo tem uma atualidade imediata... A igreja sempre deve procurar o anticristo como uma realidade em sua situação presente ou considerá-lo como uma possibilidade ameaçadora no futuro imediato".16 Segundo Althaus, a identificação que Lutero fez do papado como o anticristo não foi um "engano" ou algo incorreto, porque o papado representava nesse tempo uma ameaça ao evangelho.
As ordens protestantes de sola Scriptura, sola fide, sola gratia, solo Christo [só Escritura, só fé, só graça, só Cristo] funcionaram como gritos de guerra na luta entre a fé e a incredulidade no evangelho. Althaus não aprova que se dogmatize a identificação do anticristo em um credo, porque o reconhecimento do anticristo deve relacionar-se a um anticristo real no presente, não a um no passado ou no futuro. "O reconhecimento do anticristo sempre é mortalmente sério".17

Tem pouco valor reconhecer ao anticristo no passado ou no futuro, porque isso não requer um compromisso pessoal. Althaus adverte a igreja, a qualquer igreja protestante, que está em um perigo constante de chegar a ser ela o anticristo. Qualquer igreja que suplante a Cristo ou usurpe sua autoridade ou procure o poder mundano, "é toda anticristianismo, quer dizer, competição com Cristo, a vontade de suceder ou substituir a Cristo: oposição a Cristo na forma de similitude com ele, de 'tomar o lugar de Cristo' ".18

O conceito de Althaus de reconhecer a essência de um anticristo como um poder cristão que usurpa a autoridade de Cristo e substitui a Cristo e a seu evangelho sempre é válido. Reconhece que a identificação que Lutero fez do papado medieval como o anticristo esteve em harmonia com o método da primeira epístola de João: reconhecer o anticristo como um falso mestre do evangelho e como uma falsificação da comunidade cristã. Não obstante, o enfoque protestante também necessita uma prova contínua com a realidade histórica. Requer tanto a prova do evangelho como a prova da perspectiva do tempo do fim da Escritura.
Só da perspectiva de um desenvolvimento contínuo-histórico pode localizar-se no curso da história o anticristo de Daniel, 2 Tessalonicenses e Apocalipse. Frequentemente os teólogos e exegetas modernos ignoram este enfoque. Para eles, qualquer sistema totalitário ou ateu pode ser o anticristo. Mas enquanto há muitos poderes anticristãos no mundo, há um só anticristo em Daniel 7 a 12, 2 Tessalonicenses 2 e Apocalipse 13. Fica como uma realidade que o anticristo medieval alterou e até se opõe à lei do pacto de Deus e ao evangelho apostólico de salvação: a Palavra de Deus e o testemunho de Jesus.

Se hoje o anticristo é impedido de perseguir os santos, isto não muda a presença e a natureza do anticristo. A profecia indica repetidamente que o anticristo medieval e as suas perseguições serão reavivadas na última geração em uma escala universal (em Dan. 11:40-45; 12:1; Apoc. 13:15-17). Essa supremacia recuperada será abreviada pela volta de Cristo (Dan. 12:1, 2; Mat. 24:22; 2 Tes. 2:8; Apoc. 17:12-14; 19:11-21). Apocalipse 13 "enfatiza a revivificação e o rejuvenescimento da besta".19 Isto deve pôr a cada igreja em estado de alerta, especialmente no tempo do fim.

Apocalipse 12 a 14, em sua composição como uma unidade estreitamente enlaçada, requer séria atenção. Nesta parte central do Apocalipse nos encontramos face a face com a prova histórica do discipulado: fidelidade a Jesus Cristo e a seu testemunho. Por causa do testemunho de Jesus, Paulo foi decapitado em Roma e João foi banido à ilha de Patmos. Pelo testemunho de Jesus os mártires sacrificaram suas vidas (Apoc. 6:9; 20:4). A prova apontada por Deus se enfoca sobre as palavras de Cristo como se afirma no Novo Testamento, o que é de um significado primitivo à luz das tendências reiterativas de substituir o testemunho de Deus com os credos e fórmulas doutrinais das igrejas.

Hans K. LaRondelle

Referências:
1 Strand, "The Seven Heads: Dou They Represent Roman Emperors?", Simpósio sobre o Apocalipse. t. 2, cap. 5.
2 Ibid., p. 183.
3 Ibid., p. 191.
4 Ver Ibid., pp. 191-200; Minear, "The Wounded Beast".
5 Ver Froom, The Prophetic Faith of Our Fathers, t. 2, pp. 486-505; T. 3, pp. 733-737 (para ver desde Francisco de Ribeira até Manning).
6 Ladd, El Apocalipsis de Juan: Un comentario, pp. 15, 16.
7 Robbins, Revelation: Three Viewpoints, p. 154.
8 Beale, The Use of Daniel in Jewish Apocalyptic Literature and in the Revelation of St. John, p. 247.
9 Tomás de Aquino, Summa Theologica, II-II, pergunta 11, A. 3.
10 Ver Ellen White, GC 271.
11 Ver Froom, The Prophetic Faith of Our Fathers, t. 2, pp. 21-31 e caps. 2 e 6; t. 1, pp. 796-806.
12 Ver T. G. Tappert, ed. Bock of Concord. Confessions of the Evangelical Lutheran Church [Livro da Concórdia. Confissões da Igreja Evangélica Luterana] (Philadelphia: Fortress Press, 19S9); El catecismo de Heidelberg (Barcelona: ACELR, 1973 [da ed. de 1563]), pergunta 80.
13 João Calvino, Institución de la religión cristiana, trad. Eusebio Goicoechea (Grand Rapids: Eerdmans-Nueva Creación, 1988), livro IV, cap. 7, parágrafos 24, 25 (P. 886). Neste livro IV, no cap. 7: "Origem e crescimento do papado até que se elevou à grandeza atual, com o que a liberdade da igreja foi oprimida e toda eqüidade confundida", apresenta-se o relativo ao anticristo papal (ver, especialmente, os pontos 24 e 25).
14 Berkouwer, The Return of Christ, p. 264.
15 Ver Catecismo romano del concilio de Trento (Madrid: BAC, 19S6; trad. por Pedro Martín Hernández).
16 Althaus, Die Letzten Dinge [Os Eventos Finais], p. 283.
17 Ibid., P. 285.
18 Ibid., P. 284.
19 Berkouwer, The Return of Christ, p. 273.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

A MENSAGEM DO PRIMEIRO ANJO - Apocalipse 14:6, 7

É significativo o lugar onde está colocado a última mensagem de admoestação de Apocalipse 14:6-12. Encontra-se entre as ameaças do anticristo no capítulo 13 e a cena do juízo do capítulo 14:14-20. A tríplice mensagem transmite o ultimato de Deus a um mundo unido em rebelião contra ele.

"Vi outro anjo voando pelo meio do céu, tendo um evangelho eterno para pregar aos que se assentam sobre a terra, e a cada nação, e tribo, e língua, e povo, dizendo, em grande voz: Temei a Deus e dai-lhe glória, pois é chegada a hora do seu juízo; e adorai aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas" (Apoc. 14:6, 7).

A expressão "outro anjo" (v. 6) conecta este mensageiro com o anjo anterior que aparece no Apocalipse, o "anjo forte" do capítulo 10. A tríplice mensagem de Apocalipse 14 ao que parece funciona como a expansão da missão do "anjo forte" durante a sexta trombeta (Apoc. 10:5-7). Em ambos os capítulos, o 10 e o 14, a advertência do tempo do fim do céu tem o propósito de alcançar toda a terra. O anjo "voando pelo meio do céu" (o zénite do céu) em Apocalipse 14 simboliza o alcance universal de sua mensagem, assim como o anjo forte tinha posto seu pé tanto sobre o mar como sobre a terra. Esta esfera de ação universal se recalca pela ênfase: "Tendo o evangelho eterno para pregar aos moradores [literalmente, 'se sentam'] da terra, a toda nação, tribo, língua e povo" (v. 6). Esta proclamação do "evangelho eterno" de Deus é a verdadeira mensagem de reavivamento para o fim. Desenvolve a promessa anterior de Cristo:

"E este evangelho do reino será pregado em todo mundo, para testemunho a todas as nações; e então virá o fim" (Mat. 24:14).
O adjetivo "eterno " [em gr., aiónion] aplicado ao "evangelho" em Apocalipse 14:6 leva consigo um significado especial. Afirma que o evangelho do tempo do fim é o evangelho inalterado dos apóstolos de Jesus. O evangelho do tempo do fim não é um evangelho diferente, mas sim o evangelho como foi exposto por Paulo em suas cartas aos romanos e a outras igrejas. A estrutura delicada do evangelho da soberana graça de Deus (ver Ef. 2:4-10), não pode ser alterado nunca, nem sequer por um anjo ou por um apóstolo. Uma inovação tal cairia sob a maldição de Deus (ver Gál. 1:6-9).

O evangelho eterno chega a ser cada vez mais relevante quando é contemplado em seu marco de Apocalipse 13, onde o anticristo demanda a lealdade à sua falsificação ou "evangelho diferente" (cf. 2 Cor. 11:4). Referindo-se aos decretos do concílio do Trento (1545-1563), o bispo Chr. Wordsworth comentou:

"Porém, apesar desse anátema apostólico repetido duas vezes [no Gál. 1:6-9], os que aderem à besta pronunciaram seu anátema sobre todos os que não recebem as novas doutrinas que acrescentaram ao evangelho de Deus".1

Alguns comentadores modernos tomaram a posição de que a frase "evangelho eterno" de Apocalipse 14:6 não quer dizer o evangelho apostólico mas sim as novas de que o juízo final é iminente (v. 7). Outros assinalaram que o juízo foi uma parte essencial do evangelho desde sua iniciação (veja-se Mat. 7:22, 23; 16:27; 25:41; Rom. 2:15, 16). A vinda do justo juízo de Deus sempre significa boas novas de resgate e vindicação para seu povo do pacto (ver Sal. 96) e um dia de ajuste de contas para seus perseguidores (Jer. 50, 51).

Jesus predisse que o evangelho do reino seria pregado como testemunho (legal) a todos os que moram na terra até o próprio fim (Mat. 24:14; Mar. 13:10). Portanto, podemos aceitar Apocalipse 10 e 14:6-12 como a aplicação para o tempo do fim da predição de Jesus em Mateus 24.

Como Jesus fez em Mateus 24, o Apocalipse faz da proclamação mundial do evangelho o sinal preeminente dos tempos. G. C. Berkouwer assinalou um engano popular quanto a isto:

"Com muita frequência, a reflexão sobre os sinais foi separar-se do reino, que é seu ponto de concentração. Os resultados sempre são desconcertantes. Mas o assunto fundamental é a propagação universal do evangelho de Jesus Cristo (Mar. 13:10)... Geralmente os que catalogaram os sinais dos tempos incluíram isto, mas com frequência se viu simplesmente como outro elemento no 'relatório da narração'... Nos últimos dias a pregação do evangelho é o ponto focal de todos os sinais. Nela podem e devem ser entendidos todos os sinais".2

Deve respeitar-se o significado fundamental do evangelho eterno. Não é um exagero deduzir que uma compreensão nova do evangelho apostólico em seu marco do tempo do fim de Apocalipse 10 e 14, cria um novo povo remanescente! Estão comissionados como mensageiros a pregar o evangelho em seu marco apocalíptico de Apocalipse 13 e 14. Devido a este convite final à humanidade antes do juízo, todo mundo estará amadurecido para esse juízo. Isso não quer dizer que se possa calcular a data do fim que se aproxima. O reavivamento do evangelho sem adulteração é básico para o plano determinado de Deus (Mar. 13:10). É uma "parte do atuar de Deus no tempo do fim".3 Proclamar a tríplice mensagem de Apocalipse 14 é a missão final da igreja! O cumprimento desta missão é o maior sinal de todos os que indicam que começou o tempo do fim!

A Escritura não estabelece que a segunda vinda de Cristo está condicionada ao êxito da pregação do evangelho, mas sim está condicionada à realidade da pregação mundial. A tríplice mensagem de Apocalipse 14 intensifica o apelo anterior de Jesus: "Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus" (Mat. 4:17).


O Conteúdo do Evangelho Eterno

Jesus mesmo andou "pregando e anunciando o evangelho do reino de Deus" (Luc. 8:1), o que indicava a chegada do Messias prometido. Incluía seu nascimento (Luc. 2:10, 11, "novas de grande gozo"), sua vida (Mat. 11:5), sua morte expiatória (Mar. 10:45; Ef. 2:14-17; At. 10:36), e sua ressurreição e entronização no céu (At. 2:30-33). "Sua aparição, não simplesmente sua pregação, toda sua obra está indicada por 'pregando as boas novas [euanguelízesthai]' ".4 Portanto o evangelho apostólico se centralizava nas boas novas de que Jesus de Nazaré era o Messias da profecia (At. 5:42; 8:35; 17:3, 18). Por conseguinte, o evangelho também inclui as profecias messiânicas do Antigo Testamento (ver 1 Ped. 1:10, 11; Rom. 1:2; 16:25, 26).

Como rei de Israel, Cristo personifica o reino de Deus. Pregar o evangelho de Cristo significa uma proclamação eficaz no poder e a autoridade do Espírito Santo (ver Heb. 2:4). Tal pregação transmite salvação e cria paz e gozo (At. 8:8, 39). Paulo recebeu o evangelho por meio de uma revelação direta de Jesus Cristo (Gál. 1:12). Explicou o conteúdo do evangelho de uma maneira sistemática em Romanos 1 aos 8. centra-se na verdade de que Jesus é o Cristo (Rom. 1:1-4) e que a salvação é nossa por meio da justificação por graça, só por meio da fé em Cristo (Rom. 3:28; 4:25; 5:1; 8:1, 33, 34).

Paulo resumiu sua compreensão do evangelho em 1 Coríntios 15:3-5, onde menciona a morte expiatória de Cristo, sua sepultura, ressurreição e as aparições do Cristo ressuscitado. Em síntese, a essência do evangelho de Paulo pode compendiar-se na confissão: Jesus é o Cristo (Messias), o Senhor ressuscitado (ver Rom. 10:9, 10). Paulo também reconheceu o dia do juízo como parte do evangelho (ver Rom. 2:16; At. 17:30, 31). Este é seu amplo panorama do evangelho. A proclamação do juízo e das boas novas estão inextricavelmente unidas, como o arrependimento e o novo nascimento (Mar. 1:15; Isa. 57:15). O juízo de Deus é essencialmente boas novas para o crente, porque Cristo é tanto Juiz como Salvador (João 5:22). Gerhard Friedrich reconheceu que o evangelho e o juízo estão conectados indissoluvelmente:

"Desde que o evangelho é a chamada de Deus... aos homens, demanda decisão e impõe obediência (Rom. 10:16; 2 Cor. 9:13). A atitude para com o evangelho será a base da decisão no juízo final (2 Tes. 1:8; cf. 1 Ped. 4:17)".5
A proclamação do evangelho oferece o gozo da salvação presente aos que o aceitam por fé (Ef. 1:13; 1 Cor. 15:2; Rom. 1:16; 8:15-17). Diz Ivan T. Blazen:

"Em termos da informação real da Escritura, é uma ficção acreditar que a justificação não nos relaciona com a soberania de Cristo como Senhor ou que o juízo não nos relaciona com a obra de Cristo como Salvador... Quando chegar o fim, o juízo avalia e atesta da realidade da justificação evidenciada pelas testemunhas fiéis do povo de Deus. Neste fluxo, a justificação e o juízo não estão na relação de tensão ou contradição mas sim na de inauguração e consumação".6

A Mensagem do Primeiro Anjo
"Dizendo, em grande voz: Temei a Deus e dai-lhe glória, pois é chegada a hora do seu juízo; e adorai aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas" (Apoc. 14:7).

Este mensageiro celestial fala com "grande voz", o que indica que todos os moradores da terra devem ouvir sua mensagem. As palavras nas quais está expressa a mensagem estão tomadas do Antigo Testamento, e repetem a demanda do pacto de Deus sobre Israel para adorar somente a ele como Criador do céu e da terra. De fato, pode ouvir-se um eco específico do quarto mandamento da lei do pacto de Israel na motivação para adorar a Deus como Criador:

APOCALIPSE 14:7
"Adorai aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas".
ÊXODO 20:11
"Porque, em seis dias, fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há e, ao sétimo dia, descansou; por isso, o Senhor abençoou o dia de sábado e o santificou".

OS ÚLTIMOS COMPANHEIROS DO CORDEIRO - Apocalipse 14:1-5

Apocalipse 14 cumpre a função de ser a contraparte positiva do capítulo 13. Aqui os santos que resistem o impacto dos poderes do anticristo recebem uma recompensa gloriosa por sua fidelidade. Vemos o Cordeiro de Deus em pé entre seus seguidores (Apoc. 14:1), em um contraste evidente com a besta e seus seguidores que se apresenta em Apocalipse 13.

Enquanto os que adorem a besta levam a marca do anticristo, os companheiros do Cordeiro levam o selo do Deus vivo nas suas frontes (Apoc. 14:1). Apocalipse 13 prediz a maturação da apostasia com o número 666. Apocalipse 14 assegura do juízo de Babilónia e da recompensa do povo de Deus com o número 144.000. Evidentemente, Apocalipse 14 funciona como o complemento do capítulo 13. Um erudito crítico alemão ficou tão impressionado com Apocalipse 14, que lhe chamou "o ponto mais elevado formal e substancial do Apocalipse".1 Enquanto os reformadores protestantes e os movimentos da reforma modernos apelam a Apocalipse 14 para demonstrar a sua chamada divina, Ellen White reconhece que ainda não se alcançou o seu significado completo:

"O capítulo 14 do Apocalipse é do mais profundo interesse. Logo será compreendido em todos seus alcances, e as mensagens dadas a João o revelador serão repetidas com clareza".2

A Visão da Igreja Triunfante
"E olhei, e eis que estava o Cordeiro sobre o monte Sião, e com ele cento e quarenta e quatro mil, que em

segunda-feira, 23 de julho de 2012

APOCALIPSE: OS DOIS CAVALOS BRANCOS

“Olhei, e eis um cavalo branco; e o que estava montado nele tinha um arco; e foi-lhe dada uma coroa, e saiu vencendo, e para vencer.” (Apocalipse 6:2).

“E vi o céu aberto, e eis um cavalo branco; e o que estava montado nele chama-se Fiel e Verdadeiro; e julga a peleja com justiça.” (Apocalipse 19:11).
Desde o começo do Apocalipse somos alertados para a natureza e relatório da história revelada e os SELOS. Também, é chamada a nossa atenção para uma época que será inaugurada por um cavalo branco. Nos selos, o cavalo branco marca o início vitorioso da Igreja na terra (Ap. 6:2), porém, só cobre a primeira parte da história da mesma.
Presentemente, estamos na fase preparatória do retorno vitorioso do Cavaleiro celeste que terminará a última parte da história da terra contagiada pelo pecado, isso acontecerá com a vinda do 2º cavalo branco.

No ciclo dos selos, o cavalo branco era montado por um cavaleiro com intenções pacíficas; as armas são a Palavra de Deus, a proclamação do evangelho eterno, o evangelho na mais completa pureza a “toda a nação, tribo, língua e povo”. Agora, o cavalo branco é montado por um guerreiro que usa uma espada contra as nações e derrama sangue “Estava vestido de um manto salpicado de sangue; e o nome pelo qual se chama é o Verbo de Deus. Seguiam-no os exércitos que estão no céu, em cavalos brancos, e vestidos de linho fino, branco e puro. Da sua boca saía uma espada afiada, para ferir com ela as nações; ele as regerá com vara de ferro; e ele mesmo é o que pisa o lagar do vinho do furor da ira do Deus Todo-Poderoso.” (Ap. 19:13-15). O primeiro cavaleiro a sua coroa era de louros (Ap. 6:2), o 2º cavaleiro tem vários diademas “Os seus olhos eram como chama de fogo; sobre a sua cabeça havia muitos diademas; e tinha um nome escrito, que ninguém sabia senão ele mesmo.” (Ap. 19:12). Os diademas sugerem uma coroa de outro tipo, uma coroa muito mais relevante. A de louro é concedida para distinguir a vitória numa competição desportiva; o diadema exprime a permanência da realeza. O primeiro cavaleiro era proclamado. Era só uma sombra sem nome. Este, podemos distinguir os seus traços. A sua cabeça e os seus olhos (Ap. 19:12), a sua boca (Ap. 19:15), a sua coxa e as suas vestes. Há uma clara identidade, é claramente revelado.

Este cavaleiro recebe quatro nomes com um sentido progressivo, passa alternadamente da proximidade de Deus que se incarna, ao distanciamento da sua plena grandeza:
1- O primeiro nome, “Fiel e Verdadeiro” (Ap. 19:11), afirma a presença segura e constante de Deus perto de nós e a sua vinda é absolutamente fiel (Ap. 22:6; 22:1-5).
2- O segundo nome, “ninguém conhece” (Ap. 19:12), afirma os segredos do Deus invisível e por outro lado; a sua vinda como surpresa.
3- O terceiro nome, “Palavra de Deus” (Ap. 19:13), ou “Verbo de Deus”, afirma a manifestação de Deus que se revela aos homens pela sua palavra e pelos seus actos. É o Deus pessoal que entra na existência e na história.
4- O quarto nome, “Rei dos reis e Senhor dos senhores” (Ap. 19:16), afirma a suprema soberania de Deus, Rei do Universo; é o nome com que é designado especificamente o Cordeiro, Jesus Cristo (Ap. 17:14).

A transcendência e imanência de Deus são assim postas em conjunto. Deus é ao mesmo tempo distante e presente (Jeremias 23:33). A incarnação e a presença próxima de Deus, vão a par com a soberania, justiça e a grandeza de Deus. Jesus enuncia este princípio quando orou “Pai Nosso” (o Deus próximo), “que estás nos céus” (o Deus distante).
Da mesma sorte, o reino de Deus é simultaneamente presente e futuro, existencial e cósmico. Após ter afirmado aos fariseus, “o reino de Deus está dentro de vós” (Luc. 17:21), Jesus apressa-Se a acrescentar, “pois, assim como o relâmpago, fuzilando em uma extremidade do céu, ilumina até a outra extremidade, assim será também o Filho do homem no seu dia.” (Luc. 17:24).
Só uma consciência afinada na certa tensão pela sabedoria de Deus pode ter qualidade de adoração e de culto. Não é por acaso que esta reflexão intervém no momento quando João está de joelho a adorar a Deus (Ap. 19:10), é aqui que a revelação de Deus a João toca o cume, a parousia. A vinda, a vitória, a esperança de todas as esperanças. Louvado seja Deus! Glória a Deus por toda a eternidade.
Entre no louvor e Deus derrame bênçãos mil.
Pr. José Carlos Costa

segunda-feira, 16 de julho de 2012

A MENSAGEM DO SEGUNDO ANJO - Apocalipse 14:8

"E outro anjo seguiu, dizendo: Caiu! Caiu Babilónia, aquela grande cidade que a todas as nações deu a beber do vinho da ira da sua prostituição!" (Apoc. 14:8).

Este anjo "seguiu" o primeiro, não no sentido de substituí-lo, mas sim no sentido de acompanhar ou complementar (como em Apoc. 14:4). A mensagem adicional menciona a "Babilónia" pela primeira vez em Apocalipse, e a descreve como a grande adúltera que seduziu as nações com vinho intoxicante. A mensagem do segundo anjo não pode entender-se adequadamente se se isola Apocalipse 14 do contexto que lhe seguir nos capítulos 16 a 18, nos quais é dada mais informação a respeito de Babilónia.

O outro realce para entender "Babilónia" é recuperar a sua relação com o Antigo Testamento. O nome "Babilónia" está escolhido de maneira intencional para revelar a relação teológica de tipo e antítipo com o arqui-inimigo de Israel durante o velho pacto. A queda histórica do império neo-babilónico, tal como Isaías, Daniel e Jeremias a predisseram, está decretado que seja o protótipo da queda de Babilónia do tempo do fim. Esta correspondência tipológica esclarece a interpretação da Babilónia do tempo do fim e de sua queda. Quando se estabeleceu a continuidade dos fundamentos teológicos de ambas as Babilónias, o Apocalipse proporciona a aplicação para o tempo do fim. Apocalipse 17 chama babilónia de "mistério" (V. 5), o que indica que a Babilónia do tempo do fim é a renovação apocalíptica da antiga cidade que se sentava sobre as "muitas águas" do Eufrates (Jer. 51:13). Uma comparação minuciosa revela a correspondência intencional:
Esta correspondência essencial das duas Babilónias está descrito pelo CBA nesta forma:
"A antiga cidade de Babilónia estava situada junto às águas do rio Eufrates (ver com. Jer. 50:12, 38), morava simbolicamente 'entre muitas águas' ou povos (Jer. 51:12, 13; cf. Isa. 8:7, 8; 14:6; Jer. 50:23), assim também a Babilónia moderna é apresentada sentada ou vivendo sobre os povos da terra, ou oprimindo-os (cf. com. Apoc. 16:12)".1

A frase "Babilónia a Grande" (mencionada 5 vezes: 14:8; 16:19; 17:5; 18:2, 21) é uma alusão direta à egolatria de Nabucodonosor em Daniel 4:30 (ver também Apoc. 18:7). As frases a respeito da queda de Babilónia e de seu vinho intoxicante em Apocalipse 14:8 estão tomadas dos oráculos de condenação do Antigo Testamento contra Babilónia (Isa. 21:9; Jer. 51:7):
Assim como a antiga Babilónia foi a perseguidora de Israel, assim também "Babilónia" no Apocalipse é a perseguidora do Israel de Deus no tempo do fim. Louis F. Were recalcou o caráter teológico de Babilónia: "Menciona-se Babilónia nas profecias do Apocalipse só devido a sua oposição à Jerusalém".2 Também A. Farrar comentou de maneira similar: "Babilônia é a paródia de Jerusalém".3

O contraste entre "Israel" e "Babilónia" que se descreve como duas mulheres, chega a ser ainda mais surpreendente quando se presta atenção à sua descrição detalhada. Enquanto a mulher de Deus no capítulo 12 aparece "no céu" iluminada com o sol e as estrelas, a mulher infiel do capítulo 17, adornada com as invenções do homem, "está sentada sobre muitas águas" e "sobre uma besta escarlate" (Apoc. 17:1-3). Enquanto a mulher do capítulo 12 leva um menino em seu seio a quem vai dar a luz, a mulher do capítulo 17 tem em sua mão um cálice cheio do sangue dos descendentes da outra mulher. A primeira mulher é protegida; a segunda pe destruída.

Não pode identificar-se Babilónia com Roma imperial. A grande "meretriz" que se senta "sobre uma besta escarlate" (Apoc. 17:3) é um símbolo que distingue Babilónia (a mulher) do poder político (a "besta"). Desde o começo, a característica essencial de Babel (literalmente, "porta dos deuses") foi elevar-se aos céus para usurpar o lugar e o poder soberano de Deus (ver Gén. 11:4; Isa. 14:13, 14; Jer. 51:53).

A intenção básica de Babilónia de representar a Deus sobre a terra segundo "sua vontade" (Dan. 11:36) é o mal mais fundamental. Esta aspiração demoníaca enfatiza-se na profecia do "chifre pequeno" do profeta Daniel (caps. 7 e 8) e do "rei do norte" (11:36-45). O objetivo perigoso de substituir tanto Deus como a sua redenção messiânica fica desmascarado na guerra que faz o chifre contra o "Príncipe dos príncipes", o verdadeiro Sumo Sacerdote de Deus, e contra o seu sacrifício todo suficiente (8:11, 25). Doukhan captou esta relação de Babilónia com o livro de Daniel com uma percepção aguda. Diz Doukhan:

"A ambição de Babel é idêntica à do chifre pequeno. Tem uma natureza religiosa e está dirigida à posição do Sumo Sacerdote em relação com a purificação e o juízo. Dessa maneira, luta por conseguir tanto o poder para perdoar pecados como o fim último para decidir a respeito da salvação (ver Lev. 16:19, 32)".4

O segundo anjo anuncia que Deus julgou a Babilónia e suas reivindicações religiosas de representar a Deus na terra. A queda repentina de Babilónia é o veredicto judicial de Deus. Sua proclamação tenta admoestar os seguidores da besta e os adoradores de sua imagem para saírem de Babilónia. Isto se repete na mensagem do anjo de Apocalipse 18:1-5. Babilónia deve definir-se teologicamente por sua oposição a Israel, o verdadeiro povo de Deus, o que dá a entender que a mensagem do primeiro anjo é o que dá origem ao Israel do tempo do fim (14:6, 7). As mensagens proféticas de Apocalipse 14 antecipam um conflito renovado entre "Israel" e "Babilónia" para o tempo do fim, com o entendimento básico de que tanto os adoradores verdadeiros como os falsos são identificados teologicamente por sua relação com o evangelho eterno.

O cativeiro de Israel levada a cabo pela Babilónia da antiguidade, a repentina queda de Babilónia seguida pelo êxodo do Israel de Babilónia e sua volta a Sião para restaurar a verdadeira adoração em um templo novo, tudo isto será repetido em princípio em uma escala universal. No tempo do fim Deus chamará a seu povo que está disperso em Babilónia:
"Sai dela, povo meu, para que não sejas participante dos seus pecados e para que não incorras nas suas pragas. Porque já os seus pecados se acumularam até ao céu, e Deus se lembrou das iniquidades dela." (Apoc. 18:4, 5).

Esta chamada é a iniciativa de Deus para restaurar a sua igreja remanescente, o povo mencionado em Apocalipse 12:17 e 14:12. Os verdadeiros adoradores devem abandonar "Babilónia", a igreja infiel que usa os "reis" ou poderes políticos para perseguir as "testemunhas de Jesus" (ver Apoc. 17:3-6; 18:24). Os santos devem fugir de Babilónia antes que chegue a hora de sua destruição, quer dizer, antes que o juízo de Deus assente um golpe a todos os que tenham a marca da besta (16:1, 2). Esta chamada a "fugir" de Babilónia é paralela com o conselho anterior que Jesus deu aos seus discípulos a "fugir" da cidade condenada de Jerusalém (Mat. 24:15, 16). A Babilónia a iguala explicitamente com a adoração idólatra no fim da era da igreja (ver Apoc. 16:1, 2, 19; 18:4, 8). A destruição de Babilónia descreve-se como um juízo retributivo, por causa do seu crime de perseguir e executar os santos de Deus:

"Exultai sobre ela, ó céus, e vós, santos, apóstolos e profetas, porque Deus contra ela julgou a vossa causa" (Apoc. 18:20).
"Aleluia! A salvação, e a glória, e o poder são do nosso Deus, porquanto verdadeiros e justos são os seus juízos, pois julgou a grande meretriz que corrompia a terra com a sua prostituição e das mãos dela vingou o sangue dos seus servos" (Apoc. 19:1, 2).
O anúncio profético do segundo anjo, "Caiu, Babilónia, a grande cidade" (Apoc. 14:8), está tomado da profecia de Isaías contra a antiga Babilónia:

"Caiu, caiu Babilónia; e todas as imagens de escultura dos seus deuses jazem despedaçadas por terra" (Isa. 21:9).
A queda de Babilónia foi o juízo de Deus pela sua usurpação da soberania divina e a perseguição cruel ao povo do pacto (ver Isa. 14:12-15; 13:11, 19; 14:3). As profecias de condenação de Isaías foram ampliadas pelo profeta Jeremias, que declarou os cargos legais de Deus contra Babilónia (Jer. 50, 51).

Isaías e Jeremias predisseram a queda de Babilónia como uma verdade profética. Entretanto, seu anúncio do veredicto de Deus chegou a ser a verdade presente para Israel no cativeiro. De igual maneira Daniel explicou a escritura na parede do palácio de Babilónia: "TEKEL: Pesado foste na balança e achado em falta" (Dan. 5:27). Este veredicto judicial foi uma realidade presente para Daniel e para Babilónia! O profeta experimentou o que tinha anunciado: o desaparecimento de Babilónia (v. 30; ver 2:38, 39).

O veredicto de Deus no céu foi a causa verdadeira da queda subsequente de Babilónia. Jeremias tinha mencionado que a condenação de Babilónia por parte de Deus estava motivada peça sua fidelidade ao pacto com Israel, ainda que o seu povo também era culpado:
"Porque Israel e Judá não enviuvaram do seu Deus, do Senhor dos Exércitos; mas a terra dos caldeus está cheia de culpas perante o Santo de Israel...

"Assim diz o Senhor dos Exércitos: Os filhos de Israel e os filhos de Judá sofrem opressão juntamente; todos os que os levaram cativos os retêm; recusam deixá-los ir; mas o seu Redentor é forte, Senhor dos Exércitos é o seu nome; certamente, pleiteará a causa deles, para aquietar a terra e inquietar os moradores da Babilónia" (Jer. 51:5; 50:33, 34).

O veredicto de Deus sobre a antiga Babilónia, um ato da sua fidelidade ao pacto, encontra um paralelo na mensagem do tempo do fim de Apocalipse 14:8. João acrescenta à declaração: "Caiu Babilónia", um chamamento profético para escapar à condenação de Babilónia (ver Apoc. 18:4, 5). O período intermediário entre a proclamação e a destruição de Babilónia do tempo do fim é o tempo para que Israel espiritual fuja de Babilónia. Desse modo, a história antiga de Israel proporciona a fonte e o antecedente das mensagens do tempo do fim do Apocalipse.

A mensagem cifrada que anuncia que Babilónia a Grande caiu, só será ativada depois que o evangelho apostólico tenha sido reavivado no tempo do fim (Apoc. 14:6). A interacção entre as mensagens dos dois primeiros anjos de Apocalipse 14, estendem-se de forma gradual a todas as nações. Estes anjos traçam a linha de batalha entre Israel e Babilónia. Esta é identificada pela oposição à mensagem do primeiro anjo, quer dizer, por sua oposição tanto ao evangelho eterno como à lei sagrada do Criador.
A queda de Babilónia pode entender-se a dois níveis. Primeiro, como o veredicto judicial pronunciado no céu, e segundo, como a sua condenação na história. A Babilónia do tempo do fim falha moralmente quando recusa o evangelho eterno. Este ato converte-a em "habitação de demónios" (Apoc. 18:2). Nesse momento, os seus pecados "chegarão até o céu" e alcançará o limite da graça divina (v. 5; Jer. 51:9). Então o tribunal celestial decidirá o castigo de Babilónia (ver Dan. 7:9-12).
Enquanto a mensagem do segundo anjo chama a atenção para o veredicto pronunciado no céu com respeito à culpabilidade de Babilónia, ainda se retarda a terminação do tempo de graça. O "vinho" de Babilónia, por meio do qual se intoxicaram todas as nações da terra, refere-se ao que parece aos ensinos doutrinarios de Babilónia, com os quais corrompeu o evangelho eterno e os mandamentos de Deus (ver Apoc. 14:12).

É útil considerar por meio de que causa imediata caiu a Babilónia da antiguidade. O rei Belsazar tinha ordenado o uso dos copos sagrados de ouro do templo de Israel para beber vinho no banquete imperial (Dan. 5:2, 3, 23). Nesse ato de profanação, os governantes de Babilónia "deram louvores aos deuses de ouro, de prata, de bronze, de ferro, de madeira e de pedra" (v. 4). Este ato idólatra de provocação ao Deus de Israel marcou o fim do tempo de graça para Babilónia e trouxe o veredicto de sua condenação (v. 24). O Apocalipse mostra que a Babilónia do tempo do fim tem um cálice de ouro na mão, "cheio de abominações e da imundície de sua fornicação" (Apoc. 17:4).

E porque finalmente tem levado "a beber a todas as nações do vinho da fúria da sua prostituição", cairá da graça protetora de Deus (Apoc. 14:8). Quando se bebe esse "vinho", a distinção fundamental entre o Criador e a criação, entre o santo e o profano, chega a ficar impreciso na mente das pessoas. Os adoradores da besta honrarão as criaturas mais que o Criador, o que é a essência da idolatria (ver Rom. 1:25; 1 Tes. 1:9). Em sua confusão a respeito da distinção estabelecida pelo Criador, os homens são levados a confiar em tradições humanas e no poder político para assegurar a paz.

O juízo retributivo das sete últimas pragas ainda é um juízo futuro para Babilónia. A advertência da mensagem do segundo anjo (Apoc. 14:8; 18:1-5) tem a sua relevância final para a geração que viva quando descerem as pragas sobre Babilónia (ver Apoc, 18:4, 5). Deste modo, as mensagens dos três anjos estão num marco explícito do tempo do fim.

Hans K. LaRondelle

Referências
1. 7 CBA 863. Ver também a "nota adicional" sobre Babilônia em 7 CBA 879-882.
2 Were, The Fall of Babylon in Type and Antitype, p. 14.
3 Farrar, A Rebirth of Images, p. 213.
4 Doukhan, Daniel: The Vision of the End, p. 66.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

A MENSAGEM DO TERCEIRO ANJO - Apocalipse 14:9-12

"Seguiu-se a estes outro anjo, o terceiro, dizendo, em grande voz: Se alguém adora a besta e a sua imagem e recebe a sua marca na fronte ou sobre a mão, também esse beberá do vinho da cólera de Deus, preparado, sem mistura, do cálice da sua ira, e será atormentado com fogo e enxofre, diante dos santos anjos e na presença do Cordeiro. A fumaça do seu tormento sobe pelos séculos dos séculos, e não têm descanso algum, nem de dia nem de noite, os adoradores da besta e da sua imagem e quem quer que receba a marca do seu nome. Aqui está a perseverança dos santos, os que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus" (Apoc. 14:9-12).

Esta advertência solene é dirigida a cada crente. Convoca a cada um a permanecer firme contra as ameaças de morte do anticristo, e desenvolve a mensagem do segundo anjo de que todas as nações se viram compelidas a "beber o vinho" de Babilónia (Apoc. 14:8): "Se alguém beber o vinho da ira de Babilónia, também terá que beber o vinho da ira de Deus!" O "cálice" simbólico da ira de Deus (Apoc. 14:10; 16:19) era um conceito tradicional nas profecias de juízo de Israel. O "cálice de vinho" na mão de Deus servia como símbolo da sua justiça punitiva.

Até Israel que quebrantou o pacto teve que beber o vinho de sua ira (Jer. 25:15, 16, 17; 49:12; Ezeq. 23:31-34; Isa. 51:17, 22; Sal. 60:3; 75:8). Mas Israel experimentou a taça da ira de Deus só em forma temporária (ver Sal. 60:3; Isa. 51:22). Entretanto, alguns inimigos de Israel tiveram que beber a taça da ira até à sua extinção: "Beberão, e engolirão, e serão como se não tivessem sido" (Ob. 16). "Bebei, embebedai-vos e vomitai; caí e não torneis a levantar-vos..." (Jer. 25:27; também o v. 33).
A aceitação por parte de Jesus da taça da ira divina da mão de Deus no Getsémani pertence à essência do evangelho (Mat. 20:22; 26:39, 42). Declara E. W. Fudge: "Porque ele aceitou aquela taça, o seu povo não tem de bebê-la. A taça que nos deixa [a taça da comunhão] é um recordativo constante de que ele ocupou o nosso lugar (Mat. 26:27-29)".1

Os adoradores da besta têm que beber a ira de Deus "pura" [em gr., akrátu; "sem diluir", NBE; "sem mistura", CI). Este cálice da ira já não está misturado com misericórdia. Derramar-se-á com as 7 últimas pragas (Apoc. 15:1). Isto significa que todas as pragas de Apocalipse 16 constituem uma parte integral da mensagem do terceiro anjo. Uma expressão hebraica nestes versículos tem desafiado os intérpretes:

"Será atormentado com fogo e enxofre, diante dos santos anjos e na presença do Cordeiro. A fumaça do seu tormento sobe pelos séculos dos séculos, e não têm descanso algum, nem de dia nem de noite, os adoradores da besta e da sua imagem e quem quer que receba a marca do seu nome" (Apoc. 14:10, 11).

A frase "fogo e enxofre" é parte da maldição do pacto, maldição que inclui extinção ou aniquilação (Deut. 29:23; Sal. 11:6). O juízo sobre Sodoma e Gomorra resultou em que "subia da terra fumo como fumaça de um forno" (Gén. 19:23, 28, CI). Também foi o juízo de Deus sobre Edom, um dos arqui-inimigos de Israel (Isa. 30:27-33; Ezeq. 38:22):

"Os ribeiros de Edom se transformarão em piche, e o seu pó, em enxofre; a sua terra se tornará em piche
ardente. Nem de noite nem de dia se apagará; subirá para sempre a sua fumaça; de geração em geração será assolada, e para todo o sempre ninguém passará por ela" (Isa. 34:9, 10).

É evidente que a mensagem do terceiro anjo em Apocalipse 14 toma a sua fórmula de maldição especificamente de Isaías 34. A desolação e a extinção histórica de Edom é o modelo ou o tipo da sorte de Babilónia (ver Jud. 6, 7). A natureza deste castigo não reside num tormento eterno como pode ver-se hoje em dia de Edom, a não ser na consequência eterna do fogo: "Subirá para sempre a sua fumaça" (ver Isa. 34:10 e 66:24). O fogo é inextinguível até que tenha completado a sua obra. Nas palavras do E. W. Fudge: "Os ímpios morrem uma morte atormentadora; a fumaça recorda a todos os espectadores que o Deus soberano tem a última palavra. Que a fumaça sobe perpetuamente no ar significa que as mensagens de juízo nunca chegarão a ser antiquadas".2

A maldição que diz que os que adorem a besta não terão "repouso de dia nem de noite" está tirada de uma maldição específica do pacto sobre um Israel rebelde: "Por isso, jurei na minha ira: não entrarão no meu descanso" (Sal. 95:11). Enquanto o significado original se referia ao repouso de Israel na terra prometida, o Novo Testamento aplica o repouso prometido ao repouso da graça de Deus no qual cada crente deve entrar agora (Heb. 4:3). Este repouso divino esteve disponível desde que Deus descansou no sétimo dia da semana da criação! (Gén. 2:2, 3). "Portanto, ainda fica um descanso sabático para o povo de Deus. Porque o que 'entra em seu repouso' descansa ele também das suas obras, como Deus das suas" (Heb. 4:9, 10, JS; CI; BJ).

O castigo final será o rechaço de Deus de dar repouso aos adoradores da besta. Por outro lado, uma voz celestial anuncia que os "mortos que, desde agora, morrem no Senhor.... que descansem das suas fadigas, pois as suas obras os acompanham" (Apoc. 14:13). Esta bem-aventurança refere-se aos que morrem em Cristo durante as perseguições do anticristo do tempo do fim. A sua perseverança será recompensada. A mensagem do terceiro anjo pronuncia a resposta de Deus à ameaça feita pela besta, como mostra a seguinte comparação.

APOCALIPSE 13:16
"A todos, os pequenos e os grandes, os ricos e os pobres, os livres e os escravos, faz que lhes seja dada certa marca sobre a mão direita ou sobre a fronte".
APOCALIPSE 14:9, 11
"Se alguém adora a besta e a sua imagem e recebe a sua marca na fronte ou sobre a mão ... e não têm descanso algum, nem de dia nem de noite, os adoradores da besta e da sua imagem e quem quer que receba a marca do seu nome".

Estas correspondências temáticas e verbais entre Apocalipse 13 e 14 indicam que a tríplice mensagem de Apocalipse 14 depende de uma correta compreensão de Apocalipse 13. Entretanto, toda a informação a respeito da besta está exposta na visão do juízo de Apocalipse 17, o que significa que Apocalipse 17 constitui igualmente uma parte interpretativa essencial da mensagem de advertência de Apocalipse 14.

A Marca da Besta
O nosso tema agora é compreender o significado teológico de "a marca da besta". É a marca identificadora do culto de adoração que se rende à besta. "Não se pode ter a marca sem o ato de adoração".3 A ambição da besta-anticristo de receber adoração divina é a mentalidade de Babilónia. O seu endeusamento próprio entra em conflito com a chamada de Israel a adorar o Criador e Juiz da humanidade (Apoc. 14:7). A mensagem do terceiro anjo é o rogo do céu à humanidade para que se volte para o Criador, ao Deus do pacto de Israel, tal como está revelado nas Escrituras.

O assunto fundamental não é identificar a marca de uma maneira isolada, mas sim vê-la como um ato de adoração à besta e por isso, como uma atitude de idolatria. O terceiro anjo "indica a natureza da usurpação: a besta se apropria das prerrogativas do Deus Criador, e é adorada".4

A usurpação das prerrogativas divinas pela besta é seguida pela sua demanda para que a reconheçam por meio da "marca em sua fronte ou em sua mão" (Apoc. 14:9). O seu significado chega a ser claro quando se considera à luz do dever de Israel de atar os mandamentos e as palavras de Deus: "Ata-as à tua mão como um sinal, como um aviso ante teus olhos" (Deut. 6:8; cf. 11:18, BJ). Para Israel, o significado espiritual era evidente: atuar e pensar em harmonia com a vontade de Deus e recordar diariamente a redenção do êxodo (ver Deut. 6:5; Êxo. 13:8, 9).*


domingo, 8 de julho de 2012

A DUPLA CEIFA DA TERRA - Apocalipse 14:14-20

"Olhei, e eis uma nuvem branca, e sentado sobre a nuvem um semelhante ao filho do homem, tendo na cabeça uma coroa de ouro e na mão uma foice afiada. Outro anjo saiu do santuário, gritando em grande voz para aquele que se achava sentado sobre a nuvem: Toma a tua foice e ceifa, pois chegou a hora de ceifar, visto que a seara da terra já amadureceu! E aquele que estava sentado sobre a nuvem passou a sua foice sobre a terra, e a terra foi ceifada." (Apoc. 14:14-16).

Esta representação simbólica da segunda vinda de Cristo como Rei e Juiz da terra une duas cenas separadas de juízo no Antigo Testamento. As frases, "nuvem branca" sobre a qual está sentado "um semelhante ao Filho do Homem", são frases adoptadas da cena de juízo de Daniel 7.
O chamado para segar a terra com uma "foice aguda" está tomada diretamente da cena de juízo de Joel 3. A ordem que dá um anjo, "toma a tua foice e ceifa, pois chegou a hora de ceifar, visto que a seara da terra já amadureceu!" (Apoc. 14:15), é uma expansão deliberada de Joel 3:13.
A fusão das profecias anteriores de juízo demonstra que João considerava estas predições hebraicas como complementares uma da outra. Com engenho criador em Apocalipse 14, João estrutura o conceito do juízo em torno de Cristo como Juiz de toda a humanidade, que é uma reinterpretação Cristo - centrica do juízo que primeiro foi introduzido por Jesus:
"Então, verão o Filho do Homem vir nas nuvens, com grande poder e glória. E ele enviará os anjos e reunirá os seus escolhidos dos quatro ventos, da extremidade da terra até à extremidade do céu" (Mar. 13:26, 27; cf. Mat. 24:30, 31).
Durante a audiência no tribunal diante do sumo sacerdote Caifás, Jesus declarou sob juramento que ele era na verdade o Messias e por conseguinte o Juiz final: "Desde agora, vereis o Filho do Homem assentado à direita do Todo-Poderoso e vindo sobre as nuvens do céu" (Mat. 26:64). O que Jesus

quinta-feira, 5 de julho de 2012

O SIGNIFICADO DAS SETE ÚLTIMAS PRAGAS - Apocalipse 15 e 16

Nossa primeira tarefa para interpretar as sete últimas pragas é considerá-las dentro do seu contexto imediato e do seu contexto mais amplo. A visão do santuário de Apocalipse 15 explica a sua origem sobrenatural: são enviadas da sala do trono no céu e expressam a fidelidade de Deus. As pragas não são forças cegas ou catástrofes naturais. A sua importância crucial chega a ser evidente quando sabemos que constituem a "ira de Deus" na advertência da mensagem do terceiro anjo.

"Seguiu-se a estes outro anjo, o terceiro, dizendo, em grande voz: Se alguém adora a besta e a sua imagem e recebe a sua marca na fronte ou sobre a mão, também esse beberá do vinho da cólera de Deus, preparado, sem mistura, do cálice da sua ira, e será atormentado com fogo e enxofre, diante dos santos anjos e na presença do Cordeiro" (Apoc. 14:9, 10).
O Enfoque Contextual
A mensagem de admoestação identifica a ira de Deus com a ira do Cordeiro. A sua manifestação aterrorizará os ímpios quando terminar o tempo de graça (Apoc. 6:16, 17). Apocalipse 16 desdobra a ira do Cordeiro como as sete últimas pragas. Estas pragas também são o cumprimento do pisar simbólico da "vinha da terra" no " grande lagar da ira de Deus" de Apocalipse 14:19 e 20. Por conseguinte, ao denominar-se "últimas pragas" (15:1) devem comparar-se com os outros juízos anteriores de Deus nos selos e nas trombetas (caps. 6, 8 e 9). A dramática intensificação sobre os juízos preliminares aparece em sua globalização. Entretanto, a diferença teológica é a natureza e o propósito das últimas pragas.

Enquanto os selos e as trombetas objetivam o despertar ao arrependimento em uma igreja apóstata e no mundo, e dessa maneira cumprem um propósito misericordioso, as últimas pragas caem sobre um mundo impenitente depois do fim do tempo de graça, quando o destino eterno de cada um foi selado no santuário celestial (Apoc. 15:8; 16:1; 22:11).

O propósito das últimas pragas é executar o veredicto de Deus sobre seus inimigos, para resgatar os seguidores de Cristo das mãos de seus opressores. Um comentário alemão declara: "Em certo momento indicado, Deus termina sua demora e intervém rapidamente e com caráter concludente. É o objetivo dos juízos das pragas. Quando terminam se anuncia: 'Feito está' (vs. 16, 17)".1 As últimas pragas servem como a substância da sétima trombeta. Isto requer uma breve recapitulação da origem de todos os juízos messiânicos no Apocalipse.
Origem Celestial dos Juízos messiânicos
Os selos, as trombetas e as últimas pragas todas são enviadas do santuário celestial (Apoc. 5; 8:3-5; 15:5-8). Estes três septenários estão precedidos por uma visão dos santos vitoriosos no reino dos céus (5:9, 10; 7:9-17; 15:2-4). Este arranjo literário mostra que o interesse primário dos juízos de Deus é a salvação de seu povo. Ao mesmo tempo, ele é o Deus de justiça que "não se deixa escarnecer" (Gál. 6:7). Este duplo aspecto do caráter santo de Deus: a sua justiça salvífica e sua justiça punitiva, já tinham sido reveladas a Moisés (ver Êxo. 34:6, 7). As suas ameaças são tão confiáveis e reais como suas promessas (ver Apoc. 22:18, 19). Ambas as manifestações da justiça divina se originam no Senhor ressuscitado (cap. 5).

A composição literária do Apocalipse mostra que as pragas seguem depois do último chamado ao arrependimento (Apoc. 14:6-12) e depois do selamento dos santos (7:1-4). Os juízos culminam na batalha do "Armagedom" quer dizer, na destruição de Babilónia (16:13-19). Os capítulos 17 a 19 constituem a explicação detalhada da queda de Babilónia (ver o cap. XXX desta obra).

Os Tipos do Antigo Testamento Prefiguram a Proteção Divina
Alguns comentadores assumem que os seguidores de Cristo serão arrebatados ao céu antes que comecem a derramarem-se as pragas, de maneira que não serão afetados pela ira de Deus. Mas a hipótese de um arrebatamento não está apoiado por uma exegese bem feita. A analogia das pragas com as pragas que caíram antes sobre o Egito mostra que Israel permaneceu na terra de Gósen de maneira que Faraó pudesse ver a "diferencia entre os egípcios e os israelitas" (Êxo. 11:7; 8:22, 23). Israel inclusive participou desta distinção colocando o sangue do cordeiro pascal como "um sinal" sobre os batentes de suas casas: "Quando eu vir o sangue, passarei por vós, e não haverá entre vós praga destruidora, quando eu ferir a terra do Egito" (Êxo. 12:13).

Também o povo de Deus do tempo do fim é chamado a separar-se de "Babilónia" e unir-se a Cristo, "para que não sejam partícipes de seus pecados, nem recebam parte de suas pragas" (Apoc. 18:4; 14:1). Assim como o Israel da antiguidade foi protegido pelo "sinal" do sangue, assim o Israel do tempo do fim será protegido por um selo especial do Deus vivente, que os anjos de Deus colocarão na fronte de cada um dos escolhidos (Apoc. 7:3; 14:1).
Outro paralelo está na visão do Ezequiel, sobre o selamento do remanescente fiel de Jerusalém. O selo de Deus garantia sua preservação. Assim acontecerá com o antítipo!2
As Pragas Dão Começo ao Dia do Senhor
A teologia popular identifica o "dia do Senhor" com o segundo advento de Cristo. O Apocalipse inclui a guerra do Armagedom em "aquele grande dia do Deus Todo-poderoso" (Apoc. 16:14). A esse "grande dia" ele o chama o dia de sua ira ou o dia da vingança de Deus (Isa. 34:8; Sof. 2:2; Apoc. 6:17). O dia da ira de Deus começa com as sete últimas pragas (ver Apoc. 15:1; 6:17). Quando as sete taças de ouro estejam cheias da ira de Deus, "ninguém podia entrar no templo até que fossem cumpridas as sete pragas dos sete anjos" (15:7, 8).

Como o tempo de graça termina ao iniciar-se as sete últimas pragas, o fim do tempo de graça pode identificar-se com o tempo no qual "se levantará Miguel, o grande príncipe, o defensor dos filhos do teu povo". Depois que se levante, "haverá tempo de angústia, qual nunca houve, desde que houve nação até àquele temp" (Dan. 12:1).

O dia do Senhor terminará quando os céus e a terra sejam purificados por fogo e quando se estabelecer um novo céu e uma nova terra como a morada dos justos (ver 2 Ped. 3:10-13), promessa que se realizará no fim do milénio (ver Apoc. 21:1-5).
A extensão completa do dia do Senhor pode representar-se no seguinte diagrama:3

O Motivo das Pragas do Êxodo
Parece que existe um consenso universal de que o motivo básico do Apocalipse é o motivo do êxodo. A descrição de Cristo como o cordeiro pascal, prepara o cenário para a igreja como o povo do novo êxodo. Quando os anciões cantam, "com o teu sangue compraste para Deus homens" (Apoc. 5:9), unem o motivo do cordeiro pascal com o tema do êxodo. Desde o começo, o Apocalipse chama a igreja de Cristo um "reino de sacerdotes" (1:5, 6). O "novo cântico" dos anciões espera com interesse um êxodo mais espectacular no futuro, o da igreja triunfante, "e reinarão sobre a terra" (5:10). Este panorama futuro se desenvolve na visão da nova terra e da Nova Jerusalém (caps. 21 e 22).

segunda-feira, 2 de julho de 2012

A SÉTIMA PRAGA: A RETRIBUIÇÃO DE BABILÔNIA - Apocalipse 17

Hoje em dia, um número cada vez major de eruditos em literatura apocalíptica reconhecem o plano arquitectónico do último livro da Bíblia. Apreciando esta nova visão, e com respeito às últimas pragas do Apocalipse, C. M. Maxwell faz esta promessa: "Uma vez mais nosso conhecimento da estrutura literária vai ajudar-nos grandemente a compreender a mensagem".1 Maxwell percebe o seguinte arranjo de paralelismo contrastante:2
A. Descrição: as pragas (Apoc. 15, 16).
B. Narração: circunstâncias relacionadas com as pragas (Apoc. 17:1-19:10).
B1. Narração: circunstâncias relacionadas com a Cidade Santa (Apoc. 19:11-21:8).
A1. Descrição: a Cidade Santa (Apoc. 21:9-22:9).
Esta estrutura de paralelismo inverso significa que os capítulos 15:1 a 19:10 tratam com o castigo divino, e que os capítulos 19:11 a 22:9 tratam com a libertação e a recompensa divinas. Surpreendentemente, tanto a seção a respeito de Babilónia (Apoc. 17:1-19:10) como a seção a respeito da Nova Jerusalém (Apoc. 21:9-22:9) são introduzidas pelo mesmo anjo das pragas. Cada divisão principal começa com o convite que o anjo faz: "Vem, mostrar-te-ei...":

 
Depois de cada uma destas visões principais, João se sentiu deprimido e se prostrou aos pés do anjo interpretador para adorá-lo, e recebeu a mesma repreensão:
 
Com este arranjo literário João põe em correlação a destruição de Babilónia e a descida da nova Jerusalém, com os eventos culminantes da sétima praga. O alcance completo de Apocalipse 16 a 22 não permite manter por mais tempo nenhuma opinião que divida Apocalipse 17 do tempo do fim, e de sua conexão indestrutível com as últimas pragas de Apocalipse 16.
As visões de Apocalipse 17 a 19 constituem uma unidade coerente que ampliam adicionalmente a sétima praga (Apoc. 16:17-21). Portanto, a compreensão adequada da sétima praga deve relacionar-se com a interpretação angélica nos capítulos 17 a 19. Este estilo literário foi chamado "entrelaçamento"3 ou "urdidura".4 O que Apocalipse 17 a 19 explicam está todo incluído dentro da ação da sétima praga!
Dessa maneira, João fixou cuidadosamente os capítulos 17 a 19 às últimas pragas. O tema básico da guerra santa de libertação de Cristo continua desenvolvendo-se em Apocalipse 16:13-16, 17:12-14 e 19:11-21. O tema da "guerra santa" não só estrutura a unidade inteira dos capítulos 15 a 19, mas também segue adiante, à posse da "terra prometida" nos capítulos 20 a 22. Este é o objetivo positivo da guerra santa de Cristo. Desta maneira o Apocalipse contém sua própria hermenêutica implícita.
A Relação de Apocalipse 16 e 17-19
A sétima praga (Apoc. 16:17-21) amplia-se nos capítulos seguintes (17-19). A sétima praga contém esta declaração sumária: "E lembrou-se Deus da grande Babilónia para dar-lhe o cálice do vinho do furor da sua ira" (16:19).
O tema de Apocalipse 17 a 19 é o juízo sobre Babilónia e nestas visões se dá uma ampliação detalhada da sétima praga. Dessa maneira, a taça com a praga do sétimo anjo cumpre a função de introdução aos capítulos 17 a 19. Por conseguinte, alguns eruditos chamam o Apocalipse 17 a 19 "apêndice" ou "tomada de primeiro plano" dos juízos desta praga. Charles Giblin se refere à seção de Apocalipse 17:1 a 19:10 como a "interpretação angélica da queda de Babilônia".5
Precisamos reconhecer o indicador na introdução de Apocalipse 17:1: "Veio um dos sete anjos que têm as sete taças e falou comigo, dizendo: Vem, mostrar-te-ei o julgamento da grande meretriz que se acha sentada sobre muitas águas". Portanto, o anjo de Apocalipse 17 está conectado com os juízos das taças das pragas de Apocalipse 16. Jean-Pierre Ruiz descreve isto nas seguintes palavras:
"Não há indicação literária de distância entre [Apoc.] 16:17 e 17:1, uma indicação que indique que o que segue está compreendido, por dizê-lo assim, dentro da ação da sétima taça. A especificação do guia angélico em 17:1 como um dos anjos das pragas reforça este vínculo".6
A correlação da última praga em Apocalipse 16 com a interpretação do anjo em Apocalipse 17 a 19 também é de uma natureza substancial. A retribuição divina sobre a Babilónia do tempo do fim permanece em primeiro plano (ver Apoc. 16:19; 17:1, 5; 18:1-6, 21; 19:1-3). A breve declaração em Apocalipse 16 de que "lembrou-se Deus da grande Babilónia" (v. 19) amplia-se ulteriormente por um anjo que clama que tem cansado a grande Babilónia, "porque os seus pecados se acumularam até ao céu, e Deus se lembrou dos atos iníquos que ela praticou" (18:2, 5).
Apocalipse 17 e 18 explicam como se realizará o juízo de Deus sobre Babilónia. Estes capítulos tão notáveis mostram duas etapas. Na primeira, Deus emprega a besta e seus chifres como instrumentos para dissolver a unidade de Babilónia, o que causa sua ruína. Disse o anjo interpretador:
"Os dez chifres que viste e a besta, esses odiarão a meretriz, e a farão devastada e despojada, e lhe comerão as carnes, e a consumirão no fogo" (Apoc. 17:16).
Deste modo a meretriz, descrita como o último poder apóstata, é a primeira a ser julgada e em receber a lamentação do mundo (Apoc. 18:9-19).
Na segunda etapa da retribuição divina se pinta um quadro do segundo advento de Cristo no símbolo de um cavaleiro vencedor cujo nome é a Palavra de Deus, que vence a besta, o falso profeta e seus exércitos (Apoc. 19:11-21). Essa descrição de Cristo como "Rei dos reis e Senhor dos senhores" (Apoc. 19:16) apresenta a visão ampliada do "Armagedom" tal como foi antecipada na sexta e na sétima pragas de Apocalipse 16:13-16. As pragas de Apocalipse 16 estão ampliadas nos capítulos 17 a 19.

A Meretriz: A Característica Principal de Apocalipse 17
Primeiro devemos prestar atenção à visão e à reação que teve João (Apoc. 17:1-6), e depois considerar a interpretação do anjo (vs. 8-18).
"Veio um dos sete anjos que têm as sete taças e falou comigo, dizendo: Vem, mostrar-te-ei o julgamento da grande meretriz que se acha sentada sobre muitas águas, com quem se prostituíram os reis da terra; e, com o vinho de sua devassidão, foi que se embebedaram os que habitam na terra. Transportou-me o anjo, em espírito, a um deserto e vi uma mulher montada numa besta escarlate, besta repleta de nomes de blasfémia, com sete cabeças e dez chifres. Achava-se a mulher vestida de púrpura e de escarlata, adornada de ouro, de pedras preciosas e de pérolas, tendo na mão um cálice de ouro transbordante de abominações e com as imundícias da sua prostituição. Na sua fronte, achava-se escrito um nome, um mistério: BABILÔNIA, A GRANDE, A MÃE DAS MERETRIZES E DAS ABOMINAÇÕES DA TERRA" (Ap. 17:1-6).
Percebemos três temas principais na visão de João: a prostituta, a besta e Babilónia. Enquanto a besta e Babilónia já se mencionaram em Apocalipse 13 a 16, a meretriz ou prostituta é o tema novo e central de Apocalipse 17. O interrogante é: Que realidade histórica corresponde a esta meretriz sedenta de sangre durante a era da igreja? É a Roma imperial, a hostil Jerusalém, o poder perseguidor Estado-Igreja da Idade Média, ou é alguma realidade temível que está no futuro?
O enfoque contextual pode abrir uma perspectiva nova sobre este capítulo misterioso do Apocalipse. Ao considerar o contexto dos capítulos 12 e 13, notamos que há uma mulher grávida e uma besta de sete cabeças. Isto requer uma avaliação das duas mulheres simbólicas em Apocalipse 12 e 17 que estão em um contraste intencional entre si. Como vimos antes (cap. XXI desta obra), a mulher pura do capítulo 12 representa o povo fiel do antigo e do novo pacto. Esta "mulher" deu à luz o Messias de Israel (Apoc. 12:1-5), depois foi perseguida e fugiu ao deserto para ocultar-se da vida pública e da sociedade por 1.260 dias simbólicos (vs. 6, 14).
Se se contemplar à meretriz do capítulo 17 como a contraparte da mulher pura de Apocalipse 12, devemos concluir que a meretriz representa a igreja infiel que entrou em uma relação ilícita com os governantes políticos do mundo, "os reis da terra" (ver Apoc. 17:2). Isto esclarece o fato de que a prostituta é capaz de perseguir a todos os dissidentes. João a vê "ébria do sangue dos santos, e do sangue dos mártires de Jesus" (v. 6; ver também 16:6; 18:24).
A igreja medieval não executou a nenhum herege, mas sim entregou os condenados pela Inquisição da igreja, que já tinham sido torturados, aos governantes do mundo para que executassem as sentenças de morte dadas pela igreja.
É espantoso chegar à conclusão de que a prostituta simbólica representa a igreja apóstata. Requer confirmação do contexto bíblico. Tal confirmação vem em essência dos profetas do Antigo Testamento, que descreveu a Israel ou a Judá como uma "prostituta", como a esposa infiel de Jeová.
Protótipos do Antigo Testamento da Prostituta Apocalíptica
Oseias começou a acusar às dez tribos do reino do Norte, o reino do Israel, declarando: "Um espírito de prostituição está no meio deles, e não conhecem ao Senhor" (Oseias. 5:4). Meu povo "consulta o seu pedaço de madeira, e a sua vara lhe dá resposta; porque um espírito de prostituição os enganou, eles, prostituindo-se, abandonaram o seu Deus" (4:12).
Jeremias adoptou este mesmo simbolismo para falar de Judá e de Jerusalém: "Tu te prostituíste com muitos amantes" (Jer. 3:1); "Embora te vista de escarlata, embora te adornes com atavios de ouro, embora pintes com antimónio teus olhos, em vão te engalanas; te desprezarão seus amantes, procurarão tua vida" (4:30). Não há dúvida que Jezabel, a mulher pagã do Acabe simbolizava algo assim como um modelo para o quadro do Jeremias de uma Jerusalém apóstata (ver 2 Reis 9:30).
Isaías incluso exclamou com horror a respeito de Jerusalém: " Como se fez prostituta a cidade fiel! Ela, que estava cheia de justiça! Nela, habitava a retidão, mas, agora, homicidas" (Isa. 1:21).
Ezequiel transmitiu a denúncia mais elaborada de Jerusalém, que serve como a chicote principal do simbolismo da prostituta em Apocalipse 17. As descrições que Ezequiel e João fazem da prostituta merecem uma comparação séria.
A Prostituta Apocalíptica: Antítipo do Israel Apóstata
Os principais eruditos em apocalipticismo atuais – tais como A. Vanhoye, J. M. Vogelgesang, J-P. Ruiz e outros – mostraram que maneira convincente que a linguagem figurada da prostituta de Apocalipse 17 tem dependência de Ezequiel 16, 20 e 23. Mais que qualquer outro profeta, Ezequiel descreveu a Israel (incluindo Judá e Jerusalém) como a companheira do pacto de Jeová que era infiel, uma prostituta sedenta de sangue que se exaltava a si mesma. O protótipo bíblico está carregado de significado para compreender a seu antítipo em Apocalipse 17 durante o período da igreja. Uma análise cuidadosa de Ezequiel 16, 20 e 23 é essencial para a interpretação de Apocalipse 17, com seu enfoque no tempo do fim.
Tanto Ezequiel como João usam o símbolo da meretriz para acusar a infiel companheira do pacto com Deus das seguintes acusações: imoralidade sexual ou idolatria, opressão e assassinato de seus próprios filhos. Depois que se apresentam as acusações legais, tanto Ezequiel como João procedem a apresentar o mesmo castigo da impenitente. É útil colocar as passagens pertinentes lado a lado embora não há