quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Apocalipse - A Terceira Trombeta Aplicada à História

A terceira trombeta anuncia que "uma grande estrela" chamada "Absinto" cairia do céu ardendo como uma tocha sobre a terça parte dos rios e sobre as fontes das águas, convertendo-as em absinto, de maneira que "muitos homens morreram" (Apoc. 8:10, 11). O Apocalipse começa com a visão inaugural de Cristo tendo em sua mão direita as "sete estrelas" (1:16). Estas estrelas se interpretaram como símbolos dos "anjos das sete igrejas" (v. 20). Este simbolismo de "estrelas" tem uma raiz em Daniel: "Os que forem sábios, pois, resplandecerão como o fulgor do firmamento; e os que a muitos conduzirem à justiça, como as estrelas, sempre e eternamente" (Dan. 12:3).

Jesus aplicou o simbolismo das estrelas a todos os justos no reino vindouro do Pai (Mat. 13:43). Apocalipse 12 usa "estrelas" como um símbolo dos dirigentes do povo de Deus (Apoc. 12:1). Então, o ato de uma estrela que cai representa a maneira como a liderança da igreja cairia coletivamente da verdade na escuridão do engano e a apostasia. Moisés usou o venenoso e amargo "absinto" como um símbolo de idolatria (Deut. 29:17, 18), e Jeremias o empregou como uma maldição do pacto pela idolatria: "Eis que alimentarei este povo com absinto e lhe darei a beber água venenosa" (Jer. 9:15). O Novo Testamento dá um exemplo prático dos falsos professores como "estrelas errantes", que são pastores que "apascentam-se a si mesmos", e portanto caem sob o juízo de Cristo (Jud. 12, 13).

Então podemos compreender que a terceira trombeta prediz a apostasia na igreja cristã depois da queda de Roma, quando a liderança espiritual apostataria de Cristo como a fonte de luz e de águas vivas (João 4:14; 7:37-39). Como resultado, os ensinos doutrinais e a forma religiosa de vida chegaria a ser um veneno amargo e mortal para as almas dos homens: "E a terça parte das águas se tornou em absinto, e muitos dos homens morreram por causa dessas águas, porque se tornaram amargosas" (Apoc. 8:11 ).

Tanto Jesus como Paulo tinham advertido à igreja apostólica contra a chegada de falsos profetas e seus ensinos enganosos que apartariam os crentes de Cristo "de vós mesmos" (Mat. 24:4, 5, 24; At. 20:26-31). O paralelo mais surpreendente com a 3ª trombeta é o esboço apocalíptico que Paulo apresenta da era da igreja em 2 Tessalonicenses 2! Neste capítulo apresenta a era da igreja em dois períodos sucessivos: primeiro a fase do agente que o detém, que demora a apostasia predita, seguido pelo surgimento desenfreado do anticristo dentro da igreja ou o templo de Deus (2 Tes. 2:7, 8, 4). Esta ordem de acontecimentos se cumpriu na história quando Roma imperial (o agente que o freia) caiu e aconteceu a Roma papal e a união medieval da Igreja e o Estado. Tanto 2 Tessalonicenses 2 como as trombetas predizem que a queda de Roma dispôs o cenário para a grande apostasia. Essa apostasia traria a morte de "muitos homens". Disse Paulo: "perecem, porque não acolheram o amor da verdade para serem salvos. É por este motivo, pois, que Deus lhes manda a operação do erro, para darem crédito à mentira, a fim de serem julgados todos quantos não deram crédito à verdade; antes, pelo contrário, deleitaram-se com a injustiça" (2 Tes. 2:10-12). A perversão do evangelho apostólico traz indevidamente a decadência e a morte espirituais. Entretanto, tanto os líderes como seus seguidores são tidos por responsáveis pelas heresias e idolatrias que prevaleceram no mundo cristão.
Ver Quarta Trombeta

domingo, 16 de setembro de 2012

A Quarta Trombeta Aplicada à História

A quarta trombeta fere os corpos celestiais, com o resultado de que o sol, a lua e as estrelas se "escurecem" uma terça parte do tempo (Apoc. 8:12). Se isso significa um terço da intensidade do brilho ou um terço do tempo do brilho, é problemático. Paulien conclui dizendo que "há uma escuridão total durante uma terça parte do tempo".1 Esta indicação matemática (1/3) aponta de novo ao controlo divino dos juízos limitados da trombeta. Em harmonia com as trombetas anteriores, também devemos ver a quarta como uma representação simbólica de um juízo que afeta a humanidade e adverte contra um grande juízo vindouro. De novo o significado simbólico assinala uma realidade mais séria do que um escurecimento do céu por uma terça parte do dia e da noite. O uso simbólico de "escuridão" no Antigo Testamento mostra a forma para entender adequadamente isto.
Isaías usa a "escuridão" como uma metáfora para "desastre" na guerra santa do Israel de Deus (Isa. 45:7; também Amós 5:20). Também usa a "escuridão" como um símbolo para a ignorância ou a cegueira com respeito à verdade salvífica do Deus de Israel. Israel é chamado a ser "luz para os gentios; para abrires os olhos aos cegos, para tirares da prisão o cativo e do cárcere, os que jazem em trevas" (Isa. 42:6, 7; também Sal. 107:10, 11). É especialmente importante a identificação do profeta de "luz" com a revelação de Deus em "a lei e o testemunho" (Isa. 8:20). Todos os falsos professores que não falam de acordo com esta palavra, "jamais verão a alva" ("é porque não há luz neles", NKJV). Seu destino é ser "sumidos em trevas" (v. 22). Miqueias explica o juízo de Deus sobre Jerusalém em termos de escuridão espiritual:

"Por isso chegará uma noite sem visão, escuridão sem oráculo; ficará o sol para os profetas obscurecendo o dia... porque Deus não responde" (Miq. 3:6, 7, NBE).

Chegará o tempo quando todo mundo estará coberto de "escuridão" (Isa. 60:2), incluindo uma parte da terra de Israel (9:1, 2). O Novo Testamento proclama que Jesus começou a pregar sua mensagem de luz salvadora na Galileia para cumprir o que Isaías tinha prometido: "O povo situado em trevas viu grande luz; e aos assentados em região de sombra de morte, resplandeceu-lhes a Luz" (Mat. 4:16; Isa. 9:1, 2; ver também Luc. 1:79). Isto mostra que no Novo Testamento, a luz e a escuridão estão determinados pelo evangelho de Cristo. Inclusive Paulo espiritualiza o ato de Deus de criar a luz em Génese 1:
"Porque Deus, que mandou que das trevas resplandecesse a luz, é o que resplandeceu em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus na face do Jesus Cristo" (2 Cor. 4:6).

No evangelho, Deus em realidade repete sua obra de criar luz. Isto cria o marco para o aspecto demoníaco de ocultar esta luz das pessoas que se assentam em trevas:

"O deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos, para que não lhes resplandeça a luz de evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus" (2 Cor. 4:4).

A idolatria é uma expressão do "escurecimento" do insensato coração do homem (Rom. 1:21), da perversão do verdadeiro conhecimento de Deus, das "trevas" dos gentios (2:19). Mas pela fé em Cristo, "livrou-nos do império das trevas, e nos transladou ao reino de seu amado Filho, em quem temos redenção por seu sangue, o perdão dos pecados" (Col. 1:13, 14; também 1 Ped. 2:9).

A compreensão apostólica de "luz e trevas" é o motivo fundamental nos escritos de João, que nos informam dos ditos de Jesus:
"Eu sou a luz do mundo; quem me segue, não andará em trevas, mas terá a luz da vida" (João 8:12).

"Eu, a luz, vim ao mundo, para que todo aquele que crê em mim não permaneça em trevas" (João 12:46; também os vs. 35, 36).
O reino das trevas chega a ser visível na perseguição e aprisionamento de Cristo (Luc. 22:53). Isto foi simbolizado por um escurecimento literal cósmico do sol por 3 horas durante a crucificação de Jesus (Mat. 27:45). Em harmonia com este simbolismo apostólico de luz/escuridão, a quarta trombeta prediz que durante a era da igreja viria sobre uma grande parte do mundo um escurecimento temporário de toda luz. A gravidade deste juízo pode entender-se melhor se este "escurecimento" for visto como o decidido encobrimento do evangelho de Cristo. Paulien explica: "A quarta trombeta resulta no cancelamento destas bênçãos evangélicas [da terceira trombeta]. A verdade que proporciona vida espiritual já não é visível... a mesma presença destas fontes doadoras de vida é retirada em parte".2

Que tempo e situação igualam uma escuridão assim da luz do evangelho no mundo? A quarta trombeta traz uma intensificação do juízo da terceira trombeta. A "Idade Média" dos mil anos de supremacia do Estado-Igreja do período medieval terminou com o surgimento dos grandes reformadores no século XVI. Mas a onda de outros movimentos reacionários – tais como o racionalismo, o humanismo e o liberalismo teológico – começaram a escurecer a luz do evangelho na cristandade. Nasceu o homem renascentista, a pessoa obstinada que rechaça cada norma externa de restrição e que põe em tela de juízo toda tradição e autoridade. O tratado da paz da Westfália, em 1648, "terminou com o reino da teologia na mente europeia, e deixou o caminho escurecido, mas aceitável para a tentativa da razão".3

Charles D. Alexander descreveu o surgimento do racionalismo moderno como "a última praga da igreja, a negação sistemática da Bíblia, o desprezo de todas as ideias de uma revelação inspirada por Deus, e a aceitação total da ciência ateia para dar razão da criação", assim como a morte do protestantismo.8 Durante as trombetas seguintes se fariam mais evidentes as consequências espantosas de ignorar e negar a palavra de Deus.

A Introdução de João às 3 Últimas Trombetas

"Na visão, ouvi uma águia que voava por metade do céu clamando: Ai, ai, ai dos habitantes da terra pelos restantes toques de trombeta, pelos três anjos que vão tocar" (Apoc. 8:13, NBE ).

João faz um corte na série das trombetas depois da quarta, semelhante ao que tinha feito na série dos selos. As 3 últimas trombetas são caracterizadas como 4 "ais" que se sucedem um após o outro, só depois de existir notáveis pausas entre cada trombeta (ver Apoc. 8:13; 9:12; 11:14). Com estes ais ou maldições do pacto, Deus permite um incremento da manifestação demoníaca e da escuridão sobre a terra, mas não sem assegurar a seus adoradores que não lhes ocorrerá nenhum dano. Eles estão sob seu selo de aprovação e proteção (9:4). A repetida frase em voz passiva, "lhe deu" (vs. 1, 3, 5), indica que Cristo está no controle dos poderes sobrenaturais do mal que são desatados, de modo que sua obra espantosa permaneça restringida a uma terça parte da humanidade (v. 18). As descrições extensas da quinta e a sexta trombetas são confusas tanto em sua forma gráfica como em sua aplicação histórica. D. Ford percebe seu propósito da seguinte maneira: Representam a tortura e a morte espirituais que ocorrem aos que persistem em resistir o convite divino a arrepender-se. A descrição de João pode entender-se melhor à luz do oráculo de juízo de Oseias sobre um Israel idólatra:

"Põe a trombeta à tua boca. Ele vem como águia contra a casa do Senhor, porque traspassaram o meu concerto e se rebelaram contra a minha lei" (Ose. 8:1).
Hans K. LaRondelle
Referencias:
1 Ibid., P. 414.
2 Ibid., P. 415.
3 Durant, The Age of Reason Begins, P. 572.
4 Alexander, The Mystery of the First Four Trumpets, p. 166
[53] A Quarta Trombeta do Apocalipse - Trailer from SpiritualGroup on Vimeo.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

A Quinta Trombeta Aplicada à História

"O quinto anjo tocou a trombeta, e vi uma estrela caída do céu na terra. E foi-lhe dada a chave do poço do abismo. Ela abriu o poço do abismo, e subiu fumaça do poço como fumaça de grande fornalha, e, com a fumaceira saída do poço, escureceu-se o sol e o ar. Também da fumaça saíram gafanhotos para a terra; e foi-lhes dado poder como o que têm os escorpiões da terra, e foi-lhes dito que não causassem dano à erva da terra, nem a qualquer coisa verde, nem a árvore alguma e tão-somente aos homens que não têm o selo de Deus sobre a fronte" (Apoc. 9:1-4).

A visão de João descreve uma estrela que caiu do céu à terra. Isto conecta a quinta trombeta com a terceira, em que João tinha visto "uma grande estrela" chamada "absinto" que caía do céu e que tinha envenenado uma terceira parte dos rios e das fontes das águas (Apoc. 8:10, 11). A esta estrela agora "foi-lhe dada" a chave do poço do abismo, que representa a região de Satanás e seus anjos (Luc. 8:31; Jud. 6; Apoc. 20:1, 3). Esta estrela caída é como um símbolo de Satanás, "o anjo do abismo", cujo nome representa sua obra e caráter: "Abadón" (em hebreu) ou "Apolión" (em grego), que quer dizer o Destruidor (Apoc. 9:11).
Esta chega a ser agora a sua missão atribuída ("foi-lhe dada") e autoridade ("rei", Apoc. 9:9, 11), da parte de que tem "as chaves da morte e do Hades" (1:18). Dessa maneira Cristo permanece como o governante soberano sobre todos os demónios. Contra o Criador aparece o destruidor ou anti criador, o próprio inimigo de Cristo. A primeira tarefa que o destruidor leva a cabo é abrir o abismo, de modo que o sol e todo o céu escureçam por meio de uma fumaça gigantesca que sai do abismo. Este obscurecimento do céu pela fumaça que sai do reino dos demónios está no coração do ai desta trombeta.
Enquanto as trombetas anteriores anunciavam a perversão e o escurecimento parcial da luz do evangelho, a quinta trombeta mostra um grande eclipse do evangelho por meio da propagação triunfante de enganos e heresias satânicos. Agora se oculta publicamente a luz de Cristo. A mentira triunfa sobre a verdade.

João vê como "da fumaça saíram gafanhotos para a terra; e foi-lhes dado poder como o que têm os escorpiões da terra" (Apoc. 9:3). Descreve-os como "cavalos preparados para a guerra" que serão vitoriosos ("coroas de ouro"), e entretanto as suas caras eram como caras humanas, com cabelo de mulher, dentes de leões, e caudas e aguilhões como de escorpiões (vs. 7-10).
A descrição gráfica que João faz destes gafanhotos extravagantes está tirada da descrição poética que Joel faz de uma praga de gafanhotos (Joel 1, 2), como se reconhece geralmente. Joel usou uma praga literal de gafanhotos, que tinha devastado a terra de Judá ao comer toda a vegetação (1:4), como um símbolo do vindouro exército babilónico e sua cavalaria vitoriosa (2:1-9).
Aquele vindouro dia do juízo seria "dia de trevas e de escuridão, dia de nuvem e de sombra". Devia advertir-se a Jerusalém tocando a trombeta em Sião (Joel 2:1, 2). Portanto, os gafanhotos de Joel "a sua aparência é como a de cavalos; e, como cavaleiros, assim correm. Estrondeando como carros, vêm, saltando ... como um povo poderoso posto em ordem de combate" (vs. 4, 5; cf. Apoc. 9:7, 9). Também têm "dentes de leão" (Joel 1:6; cf. Apoc. 9:8).

Enquanto Joel descreveu o exército inimigo de Babilónia, João representa as forças hostis de Satanás que invadirão o mundo com filosofias que destroem a alma e que fazem com que as pessoas percam toda a esperança e significado da vida. João sobretudo assinala à natureza psicológica da praga de gafanhotos apocalípticos, declarando que "foi-lhes também dado, não que os matassem, e sim que os atormentassem durante cinco meses" (Apoc. 9:5).

A tortura é causada pelo aguilhão venenoso das caudas como de escorpiões dos gafanhotos. J. Ellul sugere que o característico dominante destes gafanhotos é a mistura de diferentes espécies de natureza: "O mal que causam, causam-no por trás, como o escorpião. O que significa que atuam pelo poder da mentira".1 As principais ferramentas de operação de Satanás são na verdade as mentiras, o engano e a perseguição (Mat. 24; 2 Tes. 2).

Jesus usou serpentes e escorpiões como metáforas para os demónios, mas assegurou a seus discípulos: "Eis aí vos dei autoridade para pisardes serpentes e escorpiões e sobre todo o poder do inimigo, e nada, absolutamente, vos causará dano. Não obstante, alegrai-vos, não porque os espíritos se vos submetem, e sim porque o vosso nome está arrolado nos céus" (Luc. 10:19, 20).
De igual maneira, a quinta trombeta assegura ao povo de Cristo que os gafanhotos demoníacos receberam autoridade só para fazer mal aos que não têm o selo protetor de Deus (Apoc. 9:4). Sobre isto, comenta Metzger:

"Assim como os israelitas ficaram isentos das pragas do Egito, assim agora os cristãos que têm o selo de Deus sobre suas frontes não serão absolutamente danificados por estas horríveis criaturas de juízo divino".2

Os que estejam sem Cristo receberão o aguilhão venenoso das mentiras mortíferas, causando-lhes um agonia mental insuportável e uma angústia suicida (Apoc. 9:5, 6). O período de tortura dado de "cinco meses" (vs. 5, 10), talvez o explicou melhor Ch. Wordsworth: "Como os gafanhotos naturais têm seu tempo de cinco meses prescrito e limitado por Deus, assim também estes gafanhotos espirituais não poderão exercer seu poder para machucar os homens mais além do período que Deus lhes determinou".3

De novo a mensagem aqui é que Cristo é o governante soberano que só permite um tempo para esta maldição do destruidor. Nesta severa prova, os impenitentes são declarados culpados de quebrantar o pacto, enquanto os que estão selados são vindicados.
A que tempo e a que filosofias destrutivas assinala esta trombeta? Enquanto qualquer aplicação deve permanecer como tentativa, pode-se fazer uma aplicação pertinente ao tempo quando as filosofias ateias do Renascimento ou do Iluminismo varreram a civilização ocidental e causaram a agonia da vacuidade desta vida e da desesperança para o futuro. A teologia tradicional centrada em Deus foi substituída pela filosofia centrada no homem, na qual o homem é responsável só ante si mesmo.
Nas diversas formas de humanismo contemporâneo, somos testemunhas de uma religião sem Deus, na qual o homem mesmo é a medida de todas as coisas. Seu arrogante slogan é: "Nenhuma deidade nos salvará; devemos nos salvar a nós mesmos".4 Nesta mentira fundamental estão arraigadas todas as agonias mentais e os desejos suicidas. Joel perguntou: "Quem pode suportá-lo?" (2:11), mas também apresenta o caminho de liberação de Deus: "Convertei-vos a mim de todo o vosso coração; e isso com jejuns, com choro e com pranto... convertei-vos ao Senhor, vosso Deus, porque ele é misericordioso, e compassivo, e tardio em irar-se, e grande em benignidade, e se arrepende do mal" (vs. 12, 13).
Referências:
1 Ch. Wordsworth, The New Testament in the Original Greek, t. II, p. 207).
2 Ellul, Apocalypse, The Book of Revelation, p. 75.
3 Metzger, Breaking the Code. Understanding the Book of Revelation, p. 65.
4 "Humanist Manifesto II", Humanist Manifestos I & II [Manifesto humanista II, em Manifestos Humanistas I e II]. P. Kurtz, ed. (Buffalo: Prometheus, 1973, P. 183). ver também N. L. Geisler.

Compilação pr. José Carlos Costa
ver 6ª trombeta

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Aplicação Histórica das Trombetas: A Sexta Trombeta

Pelo fato de não se prever arrependimento, a sexta trombeta segue num segundo ai. Agora é dado a Satanás mais liberdade para revelar o seu verdadeiro caráter e para levar a cabo seu o objetivo diabólico de destruir a terra e todos os seus moradores. Entretanto, Deus permite a acção das forças do a agirem na hora exata que escolheu (ver Apoc. 9:15). Então, o ai desta trombeta dirige à confrontação definitiva final entre Satanás e os seus exércitos por um lado, e Cristo e os Seus exércitos pelo outro:
"O sexto anjo tocou a trombeta, e ouvi uma voz procedente dos quatro ângulos do altar de ouro que se encontra na presença de Deus, dizendo ao sexto anjo, o mesmo que tem a trombeta: Solta os quatro anjos que se encontram atados junto ao grande rio Eufrates. Foram, então, soltos os quatro anjos que se achavam preparados para a hora, o dia, o mês e o ano, para que matassem a terça parte dos homens. O número dos exércitos da cavalaria era de vinte mil vezes dez milhares; eu ouvi o seu número" (Apoc. 9:13-16).

Esta trombeta de guerra recorda primeiro à igreja o propósito misericordioso deste juízo, assinalando a sua origem do "altar de ouro que estava diante de Deus", em forma específica seus "chifres". Estes chifres representam o lugar onde o sacerdócio Levítico orvalhava o sangue da expiação para Israel (Lev. 4:7, 18, 25).
A voz celestial é a resposta divina às orações dos santos oprimidos (Apoc. 6:9). A resposta chega na ordem: "Solta os quatro anjos que estão atados junto ao grande rio Eufrates" (9:14).

Estes 4 anjos são claramente anjos maus, os líderes de uma multidão de demónios. O Eufrates é um símbolo importante, porque no Antigo Testamento representava os arqui-inimigos de Israel que invadiram sua terra como uma inundação transbordante (ver Isa. 8:8, 9; Jer. 46:2, 10). Soltar "os quatro anjos" no Eufrates no tempo do fim significa um conflito mundial contra o povo de Deus. O número "quatro" simboliza todas as direções da bússola (Apoc. 7:2; 20:7).

De novo João descreve os cavalos e os seus cavaleiros como havia descrito as lagostas na trombeta anterior: como poderes demoníacos inumeráveis (Apoc. 9:17-19). Ao mesmo tempo são os instrumentos do juízo divino sobre um mundo unido em rebelião contra Deus. Matam uma terça parte da humanidade (vs. 15, 18) por meio de "fogo, fumaça e enxofre'" que sai das "bocas" dos cavalos" (vs. 18, 19). A qualidade demoníaca destas três pragas está indicada pela frase repetida de que estas pragas infernais "saíam de sua boca" (vs. 18, 19; ver 16:13, 14).

Em essência, o significado deste juízo se desdobra posteriormente na segunda metade do Apocalipse, onde o rio Eufrates está de novo descrito como os seguidores mundiais da meretriz "Babilónia" (Apoc. 17:1, 15). Essas multidões se voltam finalmente contra Babilónia e a queimam com "fogo" (V. 16) para cumprir o propósito divino (V. 17).

O ponto de atividade da sexta trombeta está estritamente sobre a multidão esmagadora (João só "ouviu" seu número) de forças demoníacas que matam uma grande parte da humanidade. Essas pessoas estavam presumivelmente desprotegida contra as doutrinas e poderes demoníacos. Estavam sem o selo protetor de Deus, sendo adoradores de demónios e de ídolos (Apoc. 9:20). D. Ford o explicou assim:

"As multidões que rechaçaram o sangue da expiação, o incenso da justiça de Cristo, o refrigério dos rios e das fontes divinas, e a luz dos corpos celestiais, não tem amparo contra as doutrinas de demónios, e finalmente, não tem amparo contra os próprios demônios".14

É esclarecedora a observação de que a sexta trombeta apresenta uma contraparte surpreendente ao selamento dos 144.000 servos de Deus em Apocalipse 7. Jon Paulien apresenta um sumário de seus paralelos importantes:

"Em ambas as seções [Apoc. 7:1-4 e 9:14-16], atar e desatar estão relacionados com os quatro anjos. Em ambas as seções, está-se contando um povo: em Apocalipse 7 ao povo de Deus; em Apocalipse 9 a seus equivalentes demoníacos. E estes são os dois únicos lugares no Apocalipse que contêm as palavras misteriosas: 'Ouvi o número' [ékusa ton arithmón]'. Se o tempo de graça segue durante a sexta trombeta e termina com o toque da sétima trombeta, a sexta trombeta é o equivalente histórico exato de Apocalipse 7:18. É a última oportunidade para a salvação, exatamente antes do fim".15

Chega a ser evidente que Deus desenhou um plano básico de acordo com o qual a história humana seguirá seu curso e alcançará seu objetivo indicado. Quando Deus tirar o freio de Satanás, este adversário poderá unir todas suas forças terrestres e demoníacas. Por outro lado, Cristo concederá o poder do Espírito Santo em sua plenitude a seus seguidores, o remanescente fiel (Apoc. 18:1). Apesar de tudo, os 200 milhões de cavaleiros ímpios não poderão destruir aos 144.000 servos de Cristo porque possuem o selo da proteção divina. Estes movimentos notavelmente paralelos se desenvolvem em forma adicional em Apocalipse 16:13-16. Ali Cristo anima a seus fiéis a estar alerta e a estar vestidos com a armadura de sua justiça para que suas bênçãos permaneçam sobre eles (v. 15), enquanto os seguidores do dragão, a besta e o falso profeta em todo mundo se encaminham para seu "Armagedom" (vs. 13-16).

Enquanto a sexta trombeta mostra uma destruição e decepção demoníacas em aumento, ainda trata com o tempo anterior ao fim (Apoc. 10:6). Como ensinam de maneira impressionante as visões subsequentes de Apocalipse 10 e 11, a sexta trombeta também inclui o período da oportunidade final para todas as pessoas, com o fim de que respondam ao testemunho do tempo do fim do evangelho eterno de Cristo (ver Apoc. 10:11; 11:7). Metzger assinala:
"Embora as imagens sejam horrendas, a intenção total do toque das sete trombetas não é infligir vingança e sim levar as pessoas ao arrependimento. Embora não se faz nada para minimizar a gravidade do pecado e da rebelião contra Deus, há uma ênfase tremenda na paciência e misericórdia de Deus. Em vez de uma destruição total, só é afetado um terço (9:18) ou alguma outra fração do total. A fração é simbólica da misericórdia de Deus".16

O simbolismo do tempo que se usa em Apocalipse 9:15 indicando que se soltam os 4 anjos de destruição "para aquela hora, dia, mês e ano" (CI; cf. BJ, NBE, JS, RC, BLH) é significativo e merece uma atenção especial. O original tem o artigo definido [ten, o] antes de toda esta frase fazendo de todas as suas partes uma unidade sintática, sem considerar cada parte em forma separada.
A ideia tradicional de que Apocalipse 9:15 indica quatro períodos de tempo separados ou independentes, não pode dar-se por assentado desta frase bíblica. Também pode legitimamente entender-se como um momento no tempo divinamente indicado. Se o virmos dessa forma, a sexta trombeta assinala para frente, o fim do tempo de graça, quando começa a sétima trombeta com as últimas pragas. Esse momento de tempo pavoroso pode identificar-se com a declaração profética de Apocalipse 22:11: "quem é injusto continue sendo injusto... o justo continue fazendo justiça" (CI). Este decreto é pronunciado ao concluir o juízo investigativo (ver 14:7). O ser humano deve viver conforme a sua eleição para que manifestem o seu verdadeiro carácter. Cada pessoa de cada época manifestará na segunda Vinda de Cristo a quem escolheu pertencer. Portanto, a sexta trombeta ensina que Deus domina os tempos de Satanás e lhe determinou um tempo limite absoluto. Em forma parecida, Roy Naden comenta Apocalipse 9:15:
"A sexta trombeta termina na hora assinalada, num dia, num mês, num ano (note a quádrupla descrição indicando o significado 'universal' do momento). Quando soar essa hora, terminará o tempo de graça e não haverá mais oportunidade para que nenhuma pessoa mude a sua lealdade... O Pai baixará o pano de fundo do tempo de graça da história na mesma hora já determinada".17
Antes que chegue esse momento, Deus remove gradualmente sua proteção e seu poder restritivo, mostrando aos homens os frutos amargos de suas próprias idolatrias e seu ódio contra o Criador e contra seus fiéis seguidores. Estes juízos das 6 trombetas não representam a Deus como o executor dos decretos divinos. Antes demonstram o "poder vingador de Satanás sobre os que se rendem ao seu controle".18 Satanás se oporá em forma persistente a Deus e à proclamação do evangelho até a hora final do tempo de graça.

Enfoque Especial sobre os Acontecimentos do Tempo do Fim

As trombetas acentuam seu enfoque crescente no tempo do fim por meio da declaração de uma voz celestial: "Ai! Ai! Ai dos que moram na terra, por causa das restantes vozes da trombeta dos três anjos que ainda têm de tocar!" (Apoc. 8:13). Dessa maneira, as visões das 3 últimas trombetas são juízos intensificados ou "ais", e formam a transição das advertências divinas aos ais demoníacos. Paulien declara com acuidade: "Nestes ais, Deus, para seus próprios propósitos, permite que as forças do mal se incrementem até que alcancem virtualmente o domínio do cenário da terra".19

Como é típico no Apocalipse, o lado escuro está equilibrado por uma visão brilhante para o tempo do fim. Assim como João inseriu uma visão de israelitas vitoriosos em Apocalipse 7 entre o sexto selo e o sétimo, assim agora insere algumas visões animadoras para o povo de Deus do tempo do fim entre a sexta e a sétima trombeta, ou seja: Apocalipse 10 e 11:1-13.
O plano literário particular de um parêntese entre o sexto e o sétimo selo e de novo entre as trombetas correspondentes tem um propósito específico. Estes interlúdios são refletores que se ampliam sobre os acontecimentos do tempo do fim em conexão com o sexto episódio de cada série profética. Dessa forma, Apocalipse 7 apresenta o selamento dos 144.000 israelitas espirituais como o equivalente da cena espantosa de juízo do sexto selo (Apoc. 6:12-17).

Nas visões de Apocalipse 10 e 11, João introduz o equivalente positivo das ameaças e ais demoníacos das últimas trombetas. Isto significa que as visões de Apocalipse 7, 10 e 11 transladam o leitor ao tempo do fim, quer dizer, aos acontecimentos finais da era da igreja. Estas visões que iluminam estão designadas para consolar e animar o povo de Deus do tempo do fim. Os seguidores de Cristo recebem seu cuidado especial e são chamados por um mandato específico a cumprir sua missão apesar da oposição cruel e do sofrimento (Apoc. 7:14; 10:1-11). Receberão um poder extraordinário para dar seu testemunho quando se intensificar a luta entre o anticristo e a igreja remanescente. Deus vindicará no fim a suas testemunhas verdadeiras, que dão a ele toda a honra e a glória (Apoc. 11:1-13).

Hans K. LaRondelle
Referências:
14 D. Ford, Crisis! A Commentary on the Book of Revelation, t. 2, p. 458.
15 Paulien. "Seals and Trumpets: Some Current Discussions" [Os Selos e as Trombetas: Algumas Discussões Atuais], Simpósio sobre o Apocalipse, T. 1, p. 196.
16 Metzger, Breaking the Code. Understanding the Book of Revelation, p. 66.
17 Naden, P. 152.
18 Ellen White, GC 36.
19 Paulien, Decoding Revelation's Trumpets. Literary Allusions and Interpretation of Revelation 8:7-12, p. 417.

Preparação Pr. José Carlos Costa

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

O PROJETOR PROFÉTICO SOBRE O POVO DE DEUS DO TEMPO DO FIM

Apocalipse 10 e 11:1-13 apresentam visões vinculadas à sexta trombeta por meio de um interlúdio. Dirigem a luz da profecia à igreja cristã do tempo do fim antes que soe a sétima trombeta. Este enfoque de Apocalipse 10 está recalcado pelo juramento solene do anjo poderoso que proclama: "Já não haverá demora! [kronos, "tempo"] mas sim nos dias [em que se ouça] a voz do sétimo anjo, quando for dar o toque de trombeta, cumpriu-se o mistério de Deus, como o anunciou a seus servos os profetas" (Apoc. 10:6, 7, Cl; cf. BJ). Esta proclamação trata com o som da sétima trombeta. Declara que agora não haverá mais demora ou, mais exatamente, "não haverá mais tempo!"

Surge então a pergunta: O tempo que o anjo menciona aqui [kronos], refere-se ao tempo em geral ou a um período de tempo específico mencionado no livro apocalíptico de Daniel (Dan. 7:25; 8:14; 12:7)? Não pode ser tempo em geral, porque o tempo se estende com uma nova ordem para pregar em uma medida universal (ver Apoc. 10:11). A descrição do anjo em Apocalipse 10, que levanta sua mão ao céu para jurar (Apoc. 10:5, 6), tem um paralelo surpreendente em Daniel 12:7.

Daniel profetizou que seria permitido ao anticristo perseguir os santos por três tempos e meio (Dan. 7:25; 12:7). O juramento do mensageiro divino em Daniel 12 foi a resposta do céu à pergunta: "Quando será o fim destas maravilhas?" (V. 6). No Apocalipse de João ouvimos o clamor constante dos santos martirizados: "Até quando, ó Soberano Senhor, santo e verdadeiro, não julgas, nem vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra?" (Apoc. 6:10). Enquanto em Daniel 12 a resposta a esta pergunta foi esperar até que os "três tempos e meio" de perseguição tivessem expirado, e em Apocalipse 6 a resposta foi esperar "por pouco tempo" (V. 11), em Apocalipse 10 a resposta é ao fim as boas novas: "Já não haverá demora!" (v. 6).
Portanto, devemos entender o "tempo" deste anjo como referindo-se aos períodos de tempo proféticos de Daniel. Estes expirarão antes que toque a sétima trombeta. Nesse tempo pode dizer-se que não ficaram já mais períodos de tempo proféticos. Agora fica em marcha de maneira irrevogável o tempo do fim. Neste sentido, não haverá mais demora! André Feuillet expressou esta ideia básica:

"Por esta passagem [Apoc. 10:6, 7] do Apocalipse, sentimo-nos constrangidos a concluir que a história da salvação está em sua última etapa, a que precede imediatamente ao toque da [sétima] trombeta".1

O anjo forte é descrito com características messiânicas: "Envolto em nuvem, com o arco-íris por cima de sua cabeça; o rosto era como o sol, e as pernas, como colunas de fogo (Apoc. 10:1). Como declarou uma comentadora: "Pode ver-se como o Príncipe da luz em contraste com o príncipe das trevas [no Apoc. 9:1, 2]".2 Refletindo o caráter de Deus, aparece como o antigo Anjo do Pacto. Portando, alguns o denominam "o anjo do pacto". Desce como Deus desceu ao Sinai: em uma nuvem, com trovões e raios (Êxo. 19:16), indo diante de seu povo em uma coluna de nuvem e de fogo (13:21, 22). O arco-íris sobre a cabeça deste anjo do pacto nos recorda o arco-íris que rodeia o trono de Deus (Apoc. 4:3).

A voz do anjo ressonou como se fossem "sete trovões" (Apoc. 10:3). A voz destes trovões em Apocalipse 10 inclusive não ia ser revelada, e sim selada (v. 4). A ordem para "selar" o conteúdo dos 7 trovões pode indicar que já não haverá juízos de advertência, em vista da presciência de que tais juízos não levarão as pessoas ao arrependimento (ver Apoc. 9:20, 21). Os juízos finais vêm somente depois que tenha terminado o tempo de graça, na forma das 7 últimas pragas.3

O "anjo forte" de Apocalipse 10:1 corresponde ao "anjo forte" de Apocalipse 5:2. Ambos os anjos poderosos assinalam os rolos celestiais que contêm os decretos de Deus para a humanidade: o primeiro para o mundo (Apoc. 5), o último para a igreja (Apoc. 10). Enquanto o anjo do capítulo 5 anuncia dessa forma o começo dos juízos messiânicos, tal como estão revelados nos selos e nas trombetas, o anjo do capítulo 10 revela o plano de Cristo para a missão final de sua igreja (Apoc. 10:6) em preparação para o segundo advento (v. 7). O significado especial de Apocalipse 10 é que vai introduzir as visões do tempo do fim dos capítulos 11 a 22. Anuncia ao mundo que se alcançou uma nova época de tempo, o período que Daniel chamou "o tempo do fim" (Dan. 8:14, 17, 19).

O anjo de Apocalipse 10 abre o selo das profecias de Daniel para o tempo do fim (Dan. 8-12). Estando sobre o mar e sobre a terra, "tinha em sua mão um livrinho aberto" (Apoc. 10:2). Dentro do marco da sexta trombeta, toda esta descrição simboliza a comissão de Cristo à igreja do tempo do fim para receber uma missão final para levar a todas as nações. Sua ordem a João como representante da igreja é: "Toma [o livrinho] e come-o; e te amargará o ventre, mas em tua boca será doce como o mel" (Apoc. 10:9). Esta mesma linguagem figurada foi usada os profetas de Israel para simbolizar sua chamada celestial à missão profética (Jer. 15:16, 17; Ezeq. 3:1-3). Por conseguinte, os seguidores de Cristo devem fazer da mensagem deste livrinho aberto sua própria missão. A nova época de tempo traz consigo uma urgência, motivada por um aumento do conhecimento das profecias do Daniel do tempo do fim.

O que quer dizer pelo "livrinho" [biblarídion], também chamado "livro" [biblíon](!), que tinha aberto em sua mão (Apoc. 10:2, 8)? Este livrinho, é o mesmo livro [biblíon] que antes estava selado em Apocalipse 5? Alguns estudos novos argumentam em forma persuasiva que os livros celestiais em Apocalipse 5 e 10 devem considerar-se idênticos.4 Um "anjo forte" apresenta ambos os livros (Apoc. 5:2; 10:1). Isto sugere um paralelo estreito entre ambas as visões nas que aparece um livro celestial. Além disso, ambas as visões (caps. 5 e 10) estão desenhadas sobre a mesma visão do trono de Ezequiel, que o comissionou para entregar uma mensagem profética ao Israel (Ezeq. 2:9-3:3). Diz Bauckham:

"É muito importante notar que, quando João faz eco fielmente de Ezequiel 3:1-3 em Apocalipse 10:8-10, tem em mente de uma maneira clara a descrição do rolo de Ezequiel 2:10, do que se faz eco em Apocalipse 5:1. Isto sugere enfaticamente que quer referir--se ao mesmo rolo em ambos os lugares: ele o vê na mão de Deus em 5:1, mas não o recebe para assimilá-lo como o conteúdo de sua profecia até 10:8-10... O ponto decisivo aqui é que o modelo de alusão à comissão profética de Ezequiel em Ezequiel 2:8-3:3 mostra que João tem o propósito de que Apocalipse 5 e 10 apresentem um relato único de sua própria recepção de uma revelação profética que está simbolizada pelo rolo".5

Este ponto de vista faz ainda mais importante a identificação do livro celestial. Sem dúvida contém o plano divino de como Deus estabelecerá seu reino sobre a terra. Se o rolo pode ser desdobrado só depois que forem abertos todos os selos, os juízos dos selos e das trombetas (Apoc. 6:1-9:21) devem considerar-se como acontecimentos preliminares que acompanham a abertura gradual do livro mas que não são seu conteúdo. O conteúdo real segue depois de Apocalipse 10.

O livro selado de Apocalipse 5 e 10 também deve conectar-se com o livro selado de Daniel, que revela algo que foi escrito no "livro da verdade" (Dan. 10:21). O livro de Daniel foi o único livro das Escrituras que ficou selado para a compreensão do homem até "o tempo do fim" (Dan. 8:26; 12:4, 9). Também o juramento do anjo forte em Apocalipse 10:5-7 aponta diretamente ao juramento do anjo em Daniel 12:7. O livro "aberto" de Apocalipse 10 comunica à igreja do tempo do fim uma compreensão mais completa do que estava predito em Daniel. Apocalipse 10 revela o que Daniel mesmo não pôde entender (Dan. 12:8). Isto significa que o livro de Apocalipse 5 e 10 se refere à porção do livro do Daniel que ficou selada para o tempo do fim, e pertence ao estabelecimento do reino de Deus na terra. Outra vez explica Bauckham:

"A combinação do Ezequiel e Daniel capacita a João para caracterizar o livro tanto como uma revelação profética do propósito divino que lhe deu para que o comunicasse em profecia, como também, de maneira mais específica, como uma revelação do propósito de Deus para o período final da história mundial, na qual Deus estabelecerá seu reino sobre a terra, uma revelação que complementa e esclarece o que permaneceu escuro nas profecias dos últimos dias que fizeram os profetas anteriores, especialmente Daniel".6

Apocalipse 10 destaca que o livrinho será aberto durante a sexta trombeta e permanecerá aberto (vs. 2, 8) para que seja eficaz para toda a humanidade que já esteja sobre o mar ou sobre a terra (vs. 2, 8-11). É de importância essencial para a igreja entender o conteúdo deste livro aberto. Responde a pergunta decisiva: "Qual é a tarefa da igreja nesses tempos turbulentos?"7 A resposta está desdobrada nas duas visões ampliadas em Apocalipse 10 e 11, "pelas quais se instrui a igreja com respeito a seu papel durante o período final da história do mundo".8

Como tanto Apocalipse 10 e 11:1-13 pertencem ao mesmo interlúdio ou parêntese (vinculados à sexta trombeta), devemos considerar ambas as visões como complementares. Ambas as visões do tempo do fim comissionam a igreja para que "profetize" tendo em conta toda a população mundial (Apoc. 10:11; 11:6) e atestem do testemunho de Cristo com um poder adicional, até que o mundo hostil sossegue seu testemunho por meio da pena capital (11:1-10).

Isto deveria motivar a igreja a procurar sua missão específica do tempo do fim nas visões de Daniel e nas do Apocalipse de João. G. B. Caird chamou corretamente a atenção a esta conexão fundamental ao declarar: "João acreditou que a profecia de Daniel, junto com outras profecias do Antigo Testamento, teriam um cumprimento novo e mais magnífico".9

O Significado do Juramento

O ato central do anjo forte de Apocalipse 10 é seu juramento, enquanto levantava sua mão direita ao céu, presumivelmente sustentando o livro aberto em sua mão esquerda. Pelo visto, o juramento está relacionado com o conteúdo do livro. Este cerimonial de afirmar sob juramento mostra uma ênfase distinta e diferente do ato de jurar em Daniel 12. Enquanto que Daniel declarou: "E o ouvi jurar pelo que vive eternamente..." (v. 7, NBE), a visão de João informa o juramento por Deus como Criador dos céus, a terra e o mar:

"E jurou pelo que vive pelos séculos dos séculos, que criou o céu e as coisas que estão nele, e a terra e as coisas que estão nela, e o mar e as coisas que estão nele..." (Apoc. 10:6).

Esta ênfase elaborada sobre Deus como Criador do céu, da terra, do mar e de todas as coisas que neles há, é uma indicação destacada para as testemunhas da igreja do tempo do fim. Esta ênfase se repete na mensagem do tempo do fim, ampliado em Apocalipse 14, mensagem que chama a todo mundo a adorar a Deus como o Criador: "E adorai aquele que fez o céu e a terra, o mar e as fontes das águas" (Apoc. 14:7).

Dessa maneira se define o problema religioso final na história humana como uma questão de adorar ao Criador em Espírito e em verdade. Tal adoração foi o assunto crítico para o povo do velho pacto em relação com a adoração pagã. Israel se caracterizou por louvar a Jeová como Redentor e Criador dos céus e a terra (Gén. 1, 2; Sal. 8, 19, 136, 146; Nee. 9:6, 7; Isa. 40:28; Jer. 10:10-12). Também Paulo enfatizou a diferença fundamental entre o Criador e toda a realidade criada (Rom. 1:20-25; At. 14:15; 1 Tes. 1:9). O Criador decidiu que toda rebelião, idolatria e violência humana chegará a seu fim nos dias quando o sétimo anjo faça soar seu trombeta.

Ainda é dado tempo para responder com a adoração ao Criador. A adoração a Deus como Criador e Redentor por parte de Israel, ainda é o caminho indicado para dar honra e glória a Deus. J. M. Ford notou claramente que o juramento sagrado em Apocalipse 10:6 contém "um eco dos mandamentos; Êxo. 20:11".10 Uma comparação conscienciosa da fórmula do juramento com o quarto mandamento mostra que ambos mencionam os 3 elementos: o céu, a terra e o mar. Entretanto, o juramento de Apocalipse coloca uma ênfase insólita sobre a natureza de grande alcance da obra criada por Deus, repetindo 3 vezes a frase: "as coisas que estão neles". Isto nos obriga a reconhecer um indicador intencional no juramento do Anjo do pacto em torno do quarto mandamento. Isso indica onde estão as preocupações do céu para a igreja universal de Cristo e para sua adoração de Deus no tempo do fim. Contém a motivação para um verdadeiro reavivamento e uma reforma.

O Mistério de Deus a Ponto de Consumar-se

"Mas nos dias da voz do sétimo anjo, quando ele estiver para tocar a trombeta, cumprir-se-á, então, o mistério de Deus, segundo ele anunciou aos seus servos, os profetas" (Apoc. 10:7).