quinta-feira, 30 de julho de 2009

A 6ª IGREJA DO APOCALIPSE

A 45kms a Este de Sardes, Filadélfia tem ainda a marca dos tremores de terra que a atingiram. A grande planície vulcânica que a rodeia tem também a marca do seu próprio nome: Katakaumena (terra queimada). A cidade foi fundada sob o reino de Attália II (159-138 a.C. http://fr.wikipedia.org/wiki/Attale_II.) e habitada fundamentalmente por colonos de Pérgamo preocupados em fixar a cultura e a língua grega na região. Filadélfia deve também o seu nome ao amor deste rei pelo seu irmão Eumène II. Filadélfia significa “amor fraternal”. Deste modo, portanto, ela recebeu vários nomes. A História conserva registos que ela receberá um outro nome, em reconhecimento a Tibério que ajudou na sua reconstrução devido aos frequentes terramotos, ela recebeu o nome Neocaesarea (a nova cidade de César). Mais tarde, de novo, no tempo de Vespasiano (9-79 d.C.), mudou de nome para Flávia, em gratidão ao Imperador Flávio.
A carta profética a Filadélfia reflecte esta história recheada de alterações. Na visão dada por Deus a João surgem detalhes históricos para construir a mensagem. A Igreja de Filadélfia é constituída por colonos. É o tempo das missões além fronteiras europeias, em África, na Ásia e no Novo Mundo (nos finais do século XVIII e XIX). É ainda o tempo de um cristianismo que rejuvenesce, com algumas nuances de ingenuidade, mas que reencontra o zelo e a esperança de outrora. “...tens pouca força, entretanto guardaste a minha palavra e não negaste o meu nome.” (Ap. 3:8).
Os eleitos de Filadélfia caminham sobre os passos de alguns crentes da Igreja de Sardes: “umas poucas pessoas que não contaminaram as suas vestes e andarão de branco junto comigo,” (Ap. 3:4). Filadélfia vai mesmo mais longe, enquanto a Carta enviada a Sardes encoraja “a guardar” (Ap. 3:2), a Carta a Filadélfia reconhece a persistência dos eleitos que “guardaste a minha palavra” (3: 8,10).
Estamos num estado mais avançado. A obra desejada em Sardes é cumprida em Filadélfia. Em Sardes, a vinda de Jesus Cristo é comparada à de um ladrão. Não é esperada. Em Filadélfia, ao contrário, a vinda de Jesus é esperada com impaciência: “venho sem demora” (Ap. 3:11). É um tempo de renovo e de aliança com Deus. A promessa nesta Carta lembra a linguagem do Salmo 23. Os inimigos são confrontados por que eles sabem “que eu te amei” (Ap. 3:9; cf. Salmo 23:5).
A reciprocidade da aliança e do amor é manifesta nos dois verbos: “tu guardaste”, “eu te guardarei” (Ap. 3:10). Esta é a fórmula da aliança dos profetas: “Eu vos tomarei por meu povo e serei vosso Deus; e vós sabereis que eu sou Jeová vosso Deus,” (Ex. 6:7; Jer. 24:7; 30:22; 32:38; Ez. 36:28, etc.,). É também a declaração de amor no livro Cântico dos Cânticos: “O meu amado é meu, e eu sou dele;” (Cântico 2:16; 6:3; 7:11). E esta relação de amor exclusivo é apresentada no nome da Igreja. Filadélfia que significa “amor”, recebe tal como a antiga cidade grego/romana o nome dos seus mestres (ou reconstrutores), neste caso o nome de Deus e confunde-se com o nome da Nova Jerusalém que desce do Céu (Ap. 3:12).
A Igreja encontra a sua identidade específica na esperança do reino de Deus. É seguramente na história da humanidade o momento mais intenso na expectativa do Reino de Deus. Nos Estados Unidos, na Alemanha, na Escandinávia, em França, na Suíça e na Holanda (para não mencionar que alguns países), as multidões de crentes estão presas na mesma impaciência do retorno de Cristo. Um historiador da época, John McMaster (1852-1932) considerou que “perto de um milhão de pessoas, nos 17 milhões que habitavam os Estados Unidos, aderiram a este movimento entre os quais se contava cerca de mil pastores” R. Lehmann, Les Adventistes du Septiéme Jour, p. 14.
E a espera deve tornar-se tanto mais intensa porque a profecia bíblica alcança o seu cumprimento. Uma data é mesmo retida no cômputo profético: 1844.
O que torna este período relevante, é o facto que esta expectativa atinge tanto judeus, como muçulmanos. Os judeus espalhados por toda a Europa, esperaram o Machiah durante 5603 anos, as profecias parecem apontar para este período (1843-1844), ver: Machiah Maintenant 46, 30 de Janeiro de 1993, p.3.
Os muçulmanos bahais chegam à mesma conclusão. O bab (porta que dá acesso ao íman escondido, encarnação do Messias) apareceria também nesta data (1843-1844) ver C. Cannuyer, Les Bahais, p. 11.
É também neste período que se observa o surgimento de movimentos marxistas fazendo apelo ao progresso e à revolução, cantam a esperança de novos dias.
Sim, é um tempo de grande esperança que sacode o mundo da época. Compreendemo-lo ainda melhor quanto compreendemos a promessa particular que caracteriza a Igreja deste período. “Conheço as tuas obras, eis que tenho posto diante de ti uma porta aberta, que ninguém pode fechar,” (Ap. 3:8). Esta imagem da “porta aberta” é explicada no capítulo seguinte (Ap. 4:1), a porta é vista “no céu” e dá acesso ao trono de Deus.
Esta “porta aberta” tem um duplo sentido. Representa em primeiro lugar a propagação do Evangelho em novos campos. O século XIX foi sem dúvida a época histórica da proclamação missionária da Igreja. Mas pode também aplicar-se ao interesse manifesto no aprofundamento bíblico e profético que ajudou muitos a descobrir a realidade do programa em processo nas Cortes Celestes, a obra de salvação de Deus. Foi nesta época (ano de 1844) que se começou a compreender o papel actual de Jesus Cristo no Céu.
O tempo da Igreja de Filadélfia, assinala a porta aberta sobre a terra e no Céu, é também designado como um tempo de espera e de esperança, um tempo que anuncia a libertação do mundo. Foi neste período que se iniciou a proclamação mundial da Vinda de Jesus, esta é a Esperança de todas as esperança.
Querido/a amigo/a tem esta ESPERANÇA? Ela está ao alcance da sua mão!
Bênçãos de Deus para si.

A 7ª IGREJA DO APOCALIPSE

Apocalipse 3:13 Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas.
14 Ao anjo da igreja em Laodicéia escreve: Isto diz o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação de Deus:
15 Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente; oxalá foras frio ou quente!
16 Assim, porque és morno, e não és quente nem frio, vomitar-te-ei da minha boca.
17 Porquanto dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta; e não sabes que és um coitado, e miserável, e pobre, e cego, e nu;
18 aconselho-te que de mim compres ouro refinado no fogo, para que te enriqueças; e vestes brancas, para que te vistas, e não seja manifesta a vergonha da tua nudez; e colírio, a fim de ungires os teus olhos, para que vejas.
19 Eu repreendo e castigo a todos quantos amo: sê pois zeloso, e arrepende-te.
20 Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo.
EXPLICAÇÃO:
Depois da Igreja de Filadélfia, o profeta transporta-nos (geográficamente) para uma localidade que dista 5 kilómetros para sul, a cidade de Laodiceia, a última etapa da viagem.
Em termos proféticos Laodicéia representa a última Igreja, o nosso tempo, a nossa Igreja, tenha ela o nome que tiver. Nós vivemos esse tempo histórico. Sim trata-se de profecia, profecia dada no Iº século, história do século XXI.
O nome sétimo fala de conclusão e de facto esta é a última carta. A ideia do fim percorre todo o conteúdo desta carta. É uma ideia que tem origem em quem a envia: Deus apresenta-Se como o “Amem” (Apocalipse 3:14). É a última palavra, palavra que cumpre todas as promessas e todas as orações.
O profeta Isaías tinha qualificado Deus nestes termos: “Deus do Amém” (Isaías 65:16 – Ferreira de Almeida traduz por “Deus da Verdade”). Nestes dois textos, o “Amém” dá seguimento à criação.Em Isaías, o Deus do Amém jura “…crio novos céus e nova terra…”. Enquanto que no Apocalipse, a carta a Laodiceia, o Deus do Amém define-se como “o princípio da criação de Deus” (Ap. 3:14). Este texto remete-nos para Génesis 1:1 e João 1:1
O Deus do fim é também o Deus do começo. Deus apresenta-se aqui como Aquele que seguiu o curso dos acontecimentos desde o princípio até ao fim. E porque a história se termina, a vinda de Deus nunca esteve tão próxima. A carta apresenta-O de pé à porta e bate (Apocalipse 3:20), como é cantado no livro Cântico dos Cânticos.
O amado chega e fica acampado à porta (Cânticos 2:9; 5:5). Jesus está à porta e, na linguagem do Novo Testamento, isso significa que o fim está próximo (Mat. 24:33; Marcos 13:29; Tiago 5:9). A evocação da ceia envolve intimidade, uma intimidade com aqueles e aquelas que aceitam Jesus nos finais dos tempos, foram tempos difíceis, a união permitiu ir até ao fim, fim que termina desta maneira: “…entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo.”
O banquete acaba por reunir Deus e o Seu povo e esta é a mensagem de esperança do Apocalipse. Esta esperança sobressai do concreto e do real. O gozo toca todos os sentidos. Não se pode melhor traduzir a natureza deste reino: um banquete. Os odores, o tocar-se, as cores, o paladar, tudo participa e converge para viver a vida que por vida se deu.
Na história desta Igreja é de realçar ainda a afirmação de Deus: “Estou à porta e bato...” (Ap. 3:20). Deus faz-se convidado. A refeição deve ser realizada aqui mesmo, na nossa casa. Esta porta, só se pode abrir por dentro, ou seja, por nós “...se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa” (Ap. 3:20). Este solicitar a entrada da parte de Deus, leva-nos a concluir que houve da parte do Senhor um longo apelo a uma tomada de consciência e a uma mudança de sentimentos.
Deus faz-Se convidar num tempo em que o ser humano recebe muito convites. Convite a um humanismo que exclui Deus. As riquezas materiais e espirituais, acumulam-se a partir de esforços tendo como única base a razão e a cultura secularizada. Num tempo em que os autores da literatura religiosa proliferam, os doutores da teologia são numerosos e tudo explicam. Num tempo em que o apelo ao sobrenatural se tornou suspeito até nos meios religiosos.Um tempo de dificuldade em reconhecer que se é “...infeliz, miserável, pobre, cego e nu.” (Ap. 3:17).
Ao lado da inconsciência reinam a indiferença e a mornidão. É o diagnóstico feito por Deus na carta a Laodicéia (Ap. 3:16). Perto desta antiga cidade, as fontes das águas minerais abundavam. Os habitantes de Laodicéia eram especialistas em águas mornas. Não tinham necessidade de colocar tabuletas à porta a anunciar que as águas de um eram melhores que as águas do outro. No nosso tempo, o povo de Laodicéia espiritual, eles também são especialistas em mornidão, já têm rotina e é difícil sair desse caminho.Não há dúvida que os hábitos dos laodiceanos encontram claro reflexo nos nossos dias.
O outro sentido da carta a Laodicéia é “julgamento do povo”. Então que fazer? Segundo o apelo de Deus a resposta não deve ser procurada aqui com falsas retóricas. Segundo o que Deus inspirou nesta carta uma atitude; levantar-se, correr e abrir a porta ao Amado (Cânticos 5:5). A este que toma esta determinação é dito “Ao vencedor, dar-lhe-ei sentar-se comigo no meu trono.” (Ap. 3:21).
Isto só pode significar que o cristianismo não é uma religião de ordem existencial, uma ética ou uma emoção que atinja o indivíduo por algum tempo. O Reino de Deus é um banquete a ter inicio na nossa existência terrestre. Deus vem até nós e aceita o nosso menu e o nosso gosto. Ele come à nossa mesa. Mas, no contacto com Ele, um outro gosto se forma e se refina. Esta intimidade cria a necessidade de uma outra intimidade, mais verdadeira, mais real. A ceia aqui é um criar apetite para entrar no grande banquete “...e Ele comigo” (Ap. 3:20).
Mais se vive com Deus aqui e agora, mais nos relacionamos e mais se intensifica a necessidade da Sua presença e o nosso gosto se refina no desejo de participar do banquete no Reino do Céu. Quanto mais abrimos a porta do nosso coração, tanto mais suspiramos pela abertura da outra porta no Céu.
Será que já encontrou a 7ª Igreja?
Uma comunidade em que cada um anele pelo banquete?
Venha comigo e convidemos Jesus a entrar pela nossa porta e a transformar-nos para que adquiramos o paladar do céu.
Toda os meus sentimentos estiveram consigo neste estudo. Deus o/a abençoe.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

O SÉTIMO ANO DO REI ARTAXERXES NO CALENDÁRIO CIVIL JUDAICO

O calendário judaico admitia 2 sistemas paralelos para a contagem do ano: o religioso e o civil. Pelo esquema religioso, o ano começava na primavera, à semelhança do calendário babilónico-persa. Pelo esquema civil, o início do ano coincidia com o Outono, em primeiro de Tishri (Setembro/Outubro), embora a numeração dos meses sempre seguisse o sistema a começar na Primavera.
Pelo calendário civil dos judeus, o sétimo ano de Artaxerxes poderia ocorrer tanto em 459/458 A.C. como em 458/457 A.C., dependendo do momento em que Artaxerxes subisse ao poder.
A morte de Xerxes ocorreu em Agosto de 465 A.C.. Se Artaxerxes subiu imediatamente ao poder, o ano de ascensão cobriu apenas o curto período de Agosto a Outubro (o mês de Tishri começou em 18 de Outubro em 465 A.C.) daquele ano. Dessa forma, o seu primeiro ano de reinado estendeu-se do Outono de 465 A.C. ao Outono de 464 A.C., fazendo o sétimo ano cair entre o Outono de 459 A.C. e o Outono de 458 A.C.. A jornada de Esdras teria ocorrido, então, no verão de 458 A.C..
Por outro lado, se, por algum motivo, Artaxerxes só tivesse subido ao trono depois do mês de Tishri, o seu ano de ascensão se estenderia até Outono de 464 A.C., o que colocaria o seu primeiro ano completo de reinado do Outono de 464 A.C. ao Outono de 463 A.C.. Isso faria com que o sétimo ano do rei Artaxerxes caísse entre o Outono de 458 A.C. e o Outono de 457 A.C. e a viagem de Esdras acontecesse no verão de 457 A.C..

quinta-feira, 2 de julho de 2009

QUAL É O REAL SIGNIFICADO DA EXPRESSÃO "TARDES E MANHÃS"?

Muitos expositores das Escrituras têm relacionado de forma errónea, a expressão “tardes e manhãs” ao sacrifício diário, oferecido no Templo de Jerusalém, toda manhã e toda tarde. Por esse raciocínio, a referência em Daniel 8:14 seria a 2.300 sacrifícios da manhã e da tarde. Desta maneira, defendem que o período abrangido por essa quantidade de holocaustos seja de 1.150 dias. Encontram uma suposta sustentação para isso nas passagens que mencionam esse sacrifício. Ver Daniel 8:11-13; 11:31; e 12:11.
As seguintes considerações demonstram a inconsistência dessa conclusão:
1) O hebraico diz literalmente “tarde-manhã, dois mil e trezentos”. As palavras “tarde-manhã” (heb.: - ‘ereb boqer) não são separadas por uma conjunção, constituindo uma unidade de expressão.
Em 1 Reis 11:3, aparece um caso semelhante, em que se diz que Salomão “tinha setecentas mulheres, princesas” (no original, “mulheres-princesas, setecentas”). Isso não deve ser entendido como “trezentas e cinquenta mulheres e trezentas e cinquenta princesas”; e por idêntica razão, as 2.300 tardes e manhãs não podem ser divididas em 1.150 tardes e 1.150 manhãs.
2) Se Daniel realmente quisesse indicar que o verdadeiro sentido da expressão era o de 1.150 tardes e 1.150 manhãs, ele o teria feito segundo o estilo hebraico. Quando um escritor bíblico queria distinguir entre dia e noite, o seu método era o seguinte: “quarenta dias e quarenta noites” (Génesis 7:4 e 12; Êxodo 24:18; 34:28; Deuteronómio 9:9, 11, 18 e 25; 10:10; e 1 Reis 19:8); “sete dias e sete noites” (Job 2:13); ou “três dias e três noites” (1 Samuel 30:12 e Jonas 1:17). Em nenhum caso, no Antigo Testamento, isso é dito sem a repetição do valor a que se faz referência, o que reforça o pensamento de que, em Daniel 8:14, a menção é a 2.300 dias e não a 1.150 holocaustos da manhã e da tarde.
3) Se a alusão fosse aos sacrifícios da manhã e da tarde, a passagem deveria trazer a expressão “manhãs-tardes” e não “tardes-manhãs”, pois sempre que esses termos são aplicados ao contínuo holocausto, a palavra “manhã” precede a palavra “tarde”, sem nenhuma excepção em todo o Velho Testamento (Êxodo 29:39 e 41; Números 28:4 e 8; Reis 16:15; 1 Crónicas 16:40; 2 Crónicas 2:4; 13:11; 31:3; e Esdras 3:3).
4) A base da expressão de Daniel 8:14 encontra-se em Génesis 1, no relato da Criação (Génesis 1:5, 8, 13, 19, 23 e 31), em que a “manhã” se refere ao nascer-do-sol e a “tarde”, ao seu ocaso. Evidência disso se extrai de Marcos 1:32: “À tarde, ao cair do sol, trouxeram a Jesus todos os enfermos e endemoninhados.”. Outro exemplo pode ser encontrado em Levítico 23:32: “Sábado de descanso solene vos será; então, afligireis a vossa alma; aos nove do mês, de uma tarde a outra tarde, celebrareis o vosso sábado.”. Visto que, num período de 24 horas, ocorrem 2 fenómenos relacionados ao Sol, o seu nascimento e o seu ocaso, era natural que a expressão “tardes-manhãs” fosse usada para designar um dia completo.
Com base nestas evidências, não há forma de refutar o entendimento tradicional de que o período referido em Daniel 8:14 seja de 2.300 dias.

Bibliografia:
“Perguntas e Respostas Sobre Questões Doutrinárias”, Ministério, março-abril de 1.988, Santo André, S.P.: Casa Publicadora Brasileira.
SCHWANTES, Siegfried J., “‘Ereb Boqer of Daniel 8:14 Re-Examined”, Simposium on Daniel – Introductory and Exegetical Studies, Editor: Frank B. Holbrook, Daniel and Revelation Committee Series, vol. 2, pp. 462 – 474.

QUAIS SÃO AS EVIDÊNCIAS BÍBLICAS PARA APOIAR O PRINCÍPIO DIA-ANO?

O princípio do dia-ano está claramente fundamentado nas Escrituras, apesar da tentativa de alguns o tentarem desacreditar. A seguir, serão apresentadas as evidências bíblicas que o apóiam:
1) Depois que os espias observaram Canaã por 40 dias, regressaram com um relatório sobre a fertilidade da terra; porém, 10 deles desanimaram o restante do povo, ao apresentar as dificuldade para nela entrar, o que levou os israelitas a revoltarem-se contra Deus e contra Moisés. Como desta atitude incrédula, Deus determinou que eles deveriam peregrinar 40 anos pelo deserto: “Vossos filhos serão pastores neste deserto quarenta anos e levarão sobre si as vossas infidelidades, até que o vosso cadáver se consuma neste deserto. Segundo o número dos dias em que espiastes a terra, quarenta dias, cada dia representando um ano, levareis sobre vós as vossas iniqüidades quarenta anos e tereis experiência do Meu desagrado.” Números 14:33 e 34. Nessa passagem, está nítida a relação entre os 40 dias em que os espias percorreram a terra e os 40 anos em que o povo de Israel deveria jornadear pelo ermo, além de ser apresentado o princípio norteador dessa associação: “cada dia representando um ano”.
2) Em Ezequiel 4:4-7, a relação dia-ano está claramente delineada, embora no sentido inverso ao de Números. Pelos 390 anos de iniquidade do reino de Israel, Ezequiel deveria deitar-se sobre o seu lado esquerdo por 390 dias: “Deita-te também sobre o teu lado esquerdo e põe a iniquidade da casa de Israel sobre ele; conforme o número dos dias que te deitares sobre ele, levarás sobre ti a iniquidade dela. Porque Eu te dei os anos da sua iniquidade, segundo o número dos dias, trezentos e noventa dias; e levarás sobre ti a iniquidade da casa de Israel.” Depois, o profeta recebeu ordem de fazer o mesmo pelo reino de Judá, deitando-se sobre o seu lado direito por 40 dias, em virtude dos 40 anos de iniquidade: “Quando tiveres cumprido estes dias, deitar-te-ás sobre o teu lado direito e levarás sobre ti a iniquidade da casa de Judá. Quarenta dias te dei, cada dia por um ano. Voltarás, pois, o rosto para o cerco de Jerusalém, com o teu braço descoberto, e profetizarás contra ela.”. Ezequiel contém, portanto, o princípio de que um ano representa um dia, ao passo que Números contém o princípio de que um dia representa um ano. Essa relação inversa não anula o princípio, pois a proporçã mantém-se inalterada.
3) Génesis 29:27 também mostra a íntima relação entre dias e anos. Tendo servido 7 anos para desposar Lia (embora por engano, como é de conhecimento geral), Jacó deveria trabalhar por outros 7 para também receber a permissão de se casar com Raquel. Como, geralmente, a festa de casamento durava 7 dias (Juízes 14:12 e 17), Labão informou a Jacó que ele deveria cumprir a semana das bodas de Lia, para também desposar Raquel, com a condição de que o servisse por mais 7 anos: “Decorrida a semana desta, dar-te-emos também a outra, pelo trabalho de mais sete anos que ainda me servirás. Concordou Jacó, e se passou a semana desta; então, Labão lhe deu por mulher Raquel, sua filha.” Génesis 29:27 e 28. Assim, foram 7 anos de trabalho para cada período de 7 dias de festa de casamento, o que torna evidente o paralelismo entre dias e anos.
4) Levítico 25:8 usa a expressão “sete sábados de anos”, de acordo com o hebraico, e traduzida por “sete semanas de anos”, na Versão Almeida Revista e Actualizada, ao falar do ano do jubileu: “Contarás sete semanas de anos, sete vezes sete anos, de maneira que os dias das sete semanas de anos te serão quarenta e nove anos.”. Aí, a terminologia para designar o período de uma semana ou 7 dias é aplicada a um período de 7 anos. É o método de calcular em que um dia representa um ano.
5) É curioso notar que, até mesmo entre os gentios, era conhecida a relação dia-ano. Isso pode ser demonstrado por um episódio da vida do Imperador Tibério, narrado pelo escritor romano Caio Suetónio Traquilo (c. 69 A.D. – c. 141 A.D.): “A Diógenes o Gramático, com quem se habituara a discutir, todos os sábados, recusou-lhe uma audiência particular que lhe fora pedida, e mandou-lhe dizer por um pequeno escravo que voltasse no sétimo dia. Como este sábio se apresentasse à porta do seu palácio, em Roma, para saudá-lo, passado aquele prazo, contentou-se em adverti-lo que tornasse a voltar ao fim de sete anos.” (A Vida dos Doze Césares, p. 113, Editora Tecnoprint S.A.). Está evidente, no trecho citado acima, que Tibério associou o sétimo dia a um prazo de 7 anos, o que só é possível mediante a aplicação do princípio que relaciona um dia simbólico a um ano literal.
Essas informações, exaradas de várias partes das Escrituras (com excepção do item anterior), já são suficientes para a aceitação do princípio profético do dia-ano, restando apenas a questão da legitimidade da sua aplicação aos períodos de Daniel e Apocalipse. Os tópicos a seguir demonstram a necessidade dessa aplicação:
1) As profecias de Daniel e Apocalipse estão repletas de símbolos e não seria coerente encarar estes períodos de tempo como literais. Talvez o maior argumento em favor do uso da relação dia-ano em Daniel e Apocalipse seja o exacto cumprimento das 70 semanas, que não são entendidas como literais por nenhum teólogo competente, embora haja diferenças de interpretação.
2) A não ser em Daniel e Apocalipse, a Bíblia nunca emprega dias para designar um período superior a um ano. Na verdade, o mais longo período que, noutro lugar, é designado pela palavra “dias” é o de Ester 1:4 (180 dias). Além dessa passagem, somente em Génesis 7:24; 8:3; e Neemias 6:15, aparecem períodos superiores a 40 dias. Em parte alguma, um período maior que um ano é expresso em termos de “meses”, com excepção de Apocalipse 11:2 e 13:5. Somente 2 passagens em toda a Escritura usam as palavras “doze meses” (Ester 2:12 e Daniel 4:29). A expressão normal para 42 meses é “três anos e seis meses” (Lucas 4:25 e Tiago 5:17). Jamais a Escritura designa um período superior a 7 semanas por meio dessa palavra (“semana”), a não ser, é claro, em Daniel 9:24 (as 70 semanas). Assim, a singularidade das expressões “duas mil e trezentas tardes e manhãs” e “setenta semanas” denota que elas não podem referir-se a dias literais.
3) Alegam alguns que o princípio do dia-ano não pode ser aplicado nem a Daniel 8:14, nem a Daniel 9:24-27, em virtude de que nessas passagens não consta o termo “dia”. Tal raciocínio é superficial e destituído de razão, pois o conceito de “dias” está implícito em ambos os textos:
3.1) A expressão “tardes e manhãs” remonta a Génesis 1, em que cada dia é designado como possuindo “tarde e manhã”: “Houve tarde e manhã, o primeiro dia” (verso 5), são os dizeres das Escrituras. Isso demonstra que, em Daniel 8:14, a expressão “tardes e manhãs” equivale a “dias”.
3.2) Visto que a palavra hebraica para “semana” (heb.: - shabua) é derivada do número 7, alguns têm sugerido que Daniel 9 esteja areferir-se a “grupos de sete” e não a “semanas”, o que permitiria entender o período ali mencionado como constituído naturalmente de anos, sem lançar mão do princípio profético do dia-ano. Porém, em Daniel 10:2 e 3, a mesma palavra é usada para indicar as 3 semanas em que Daniel ficou a jejuar: “Naqueles dias, eu, Daniel, pranteei durante três semanas. Manjar desejável não comi, nem carne, nem vinho entraram na minha boca, nem me ungi com óleo algum, até que passaram as três semanas inteiras.”. Por volta daquela época, os samaritanos, que eram hostis aos judeus, contrataram alguns conselheiros para confundir os reis da Pérsia contra a obra de reconstrução da cidade de Jerusalém. Ver Esdras 4:5 e 6. O anjo Gabriel foi, então, comissionado para dissipar tais influências do coração de Ciro, rei dos persas. No entanto, um anjo caído opôs ousada resistência, a qual só foi vencida com o auxílio de Miguel, “o grande príncipe”. Ao descrever essa intensa batalha espiritual, Gabriel assim se expressou: “Mas o príncipe do reino da Pérsia me resistiu por vinte e um dias; porém Miguel, um dos primeiros príncipes, veio para ajudar-me, e eu obtive vitória sobre os reis da Pérsia.” Daniel 10:13. Nesse fascinante relato, as “três semanas inteiras”, durante as quais Daniel jejuou em prol de seu povo, são equacionadas aos “vinte e um dias” do conflito entre Gabriel e o “príncipe do reino da Pérsia”, o que demonstra que a palavra “shabua” (plural: - shabuim) realmente estava a indicar um conjunto de 7 dias, sendo correcto, portanto, traduzi-la como “semana”.
O texto de Daniel 10:3 traz literalmente “três semanas de dias”. Alguns têm insinuado que o capítulo 10 usa a expressão “semanas de dias” para contrastar com as “semanas de anos” do capítulo 9. Tal conclusão é enganosa porque em todas as passagens do Antigo Testamento em que a expressão “de dias” é acrescentada a um período de tempo, ela indica que se trata de períodos completos. Assim, o hebraico pode dizer “anos de dias”, mas isso deve ser entendido como “anos inteiros” (ver Génesis 41:1; Levítico 25:29; e 2 Samuel 13:23 e 14:28); ou pode dizer “um mês de dias”, o que deve ser traduzido como “um mês completo” (ver Génesis 29:14; Números 11:20 e 21; Juízes 19:2; e 2 Reis 15:13). Da mesma sorte, as palavras “de dias” em Daniel 10:3 intencionam apenas indicar que o vidente jejuou por “três semanas inteiras”.
3.3) A Septuaginta (ou Versão dos Setenta) dá pleno apoio à tradução de Daniel 9:24 como “setenta semanas”, pois utiliza a palavra grega (hebdomades), a qual tem o significado de “semana”, quando poderia ter usado (hepta), que significa “sete”. É interessante notar também que a Septuaginta usa a expressão “hepta hebdomades” em Deuteronómio 16:9, em conexão com a Festa das Semanas, calculada com base em “sete semanas” contadas a partir do dia em que as primícias eram agitadas perante o Senhor. Isso não deve ser traduzido por “sete grupos de sete”, o que demonstra que, para os sábios judeus que confeccionaram a Septuaginta, o real sentido de “shabuim” é “semanas”.
Bibliografia:
“Perguntas e Respostas Sobre Questões Doutrinárias”, Ministério, março-abril de 1.988, Santo André, S.P.: Casa Publicadora Brasileira.
SHEA, William H., “Year-Day Principle”, Parts 1, 2 and 3, Selected Studies on Prophetic Interpretation, Daniel and Revelation Committee Series, vol. 1, pp. 56-93.
SUETÓNIO, A Vida dos Doze Césares, tradução de Sady-Garibaldi, Rio de Janeiro, R.J.: Editora Tecnoprint, S.A..

QUAL É A RELAÇÃO TEOLÓGICA ENTRE DANIEL 8 E 9?

Muitos comentadores das Escrituras não têm percebido a íntima relação entre os capítulos 8 e 9 de Daniel e, consequentemente, o vínculo entre as 2.300 tardes e manhãs e as 70 semanas; entretanto, o contexto e certos detalhes do relato requerem essa estreita relação como as seguintes evidências o demonstram:
1) Praticamente, todos os elementos contidos na visão de Daniel 8:1-14 estão explicados em Daniel 8:15-27, excepto as 2.300 tardes e manhãs. É verdade que Gabriel fez menção do período, mas não pôde completar a sua exposição.
2) A perspectiva da terrível perseguição a sobrevir ao povo de Deus mostrou-se muito mais do que o idoso profeta poderia suportar, e, em razão disso, ele enfraqueceu e esteve enfermo alguns dias. Consequentemente, Gabriel teve que interromper a sua exposição por algum tempo (Daniel 8:10-14 e 23-27).
3) Como a visão do capítulo 8 fazia referência ao Santuário e ao povo de Deus, ambos sendo atacados pela ponta pequena, a atenção de Daniel foi atraída para uma declaração de Jeremias, enquanto lia o livro desse profeta: “No primeiro ano de Dario, filho de Assuero, da linhagem dos medos, o qual foi constituído rei sobre o reino dos caldeus, no primeiro ano do seu reinado, eu, Daniel, entendi, pelos livros, que o número de anos, de que falara o SENHOR ao profeta Jeremias, que haviam de durar as assolações de Jerusalém, era de setenta anos.” Daniel 9:1 e 2. Segundo o profeta Jeremias, após a queda de Babilónia e a ascensão dos reis medo-persas, os judeus poderiam ter por certa a sua breve libertação. O reinado de Dario, da linhagem dos medos, deveria concretizar as esperanças de Israel; no entanto, sendo já o primeiro ano desse rei (tinha passado o ano de ascensão), nenhuma medida foi tomada para permitir o regresso da nação judaica à sua pátria. Em decorrência disso, Daniel temeu que o período indicado na sua última visão fosse um acréscimo ao número de anos de cativeiro.
4) O receio de que os 2.300 dias representassem um atrazo no cumprimento da promessa de libertação motivou a oração de Daniel em prol do seu povo (Daniel 9:3-19). Sabendo que as promessas de Deus são condicionais (Jeremias 18:7-10) e concluindo que a transgressão de Israel era responsável pelo que ele considerava uma extensão dos 70 anos, Daniel suplicou pela misericórdia de Deus e pelo Seu perdão. Que o idoso profeta realmente estava a ver as coisas sob essa perspectiva, pode-se deduzir do seu apelo final para que o Senhor não retardasse a Sua intervenção (Daniel 9:19).
5) Uma comparação cuidadosa entre o capítulo 9 de Daniel, em que se faz referência às transgressões cometidas pelos judeus, ao mal que sobreveio à cidade de Jerusalém e à assolação do Templo, e os elementos do capítulo 8, em que se retrata um brutal ataque contra o Santuário de Deus, em virtude das transgressões do povo, torna evidente que Daniel tinha o problema diante de si enquanto orava.
6) Após a visão, Gabriel recebera a incumbência: “Dá a entender a este a visão.” Ao iniciar as suas instruções, o anjo dissera a Daniel: “Entende, filho do homem, pois esta visão se refere-se ao tempo do fim.” “Eis que te farei saber o que há de acontecer no último tempo da ira, porque esta visão se refere ao tempo determinado do fim.” Daniel 8:16, 17 e 19. Mas, como, nessa ocasião, nem tudo fora devidamente explicado e visto que Daniel entendera mal a última parte da visão, Gabriel teve que voltar para completar a sua tarefa. Por isso, interrompendo a oração do profeta, disse o mensageiro de Deus: “Daniel, agora, saí para fazer-te entender o sentido. No princípio das tuas súplicas, saiu a ordem, e eu vim, para to declarar, porque és mui amado; considera, pois, a coisa e entende a visão.” Daniel 9:23. O objectivo de Gabriel, nessa nova visita, era o de projectar mais luz sobre o período profético mencionado na visão do capítulo precedente e, dessa forma, dissipar as conclusões equivocadas obtidas pelo profeta. Que Daniel estivesse a pensar na visão recebida anteriormente também pode ser comprovado pela maneira como ele identifica o anjo do Senhor: “Falava eu, digo, falava ainda na oração, quando o homem Gabriel, que eu tinha observado na minha visão ao princípio, veio rapidamente, voando, e me tocou à hora do sacrifício da tarde.” Daniel 9:21.
7) Entretanto, uma das mais fortes evidências sobre a estreita relação entre as 2.300 tardes e manhãs e as 70 semanas está em 2 vocábulos hebraicos empregues em Daniel 8 e 9.
A palavra “visão”, conforme aparece nesses capítulos, é tradução de 2 vocábulos diferentes no original. Em Daniel 8:1, 13, 15, 17 e 26 (última parte); e 9:21 e 24, o termo utilizado é (chazon), enquanto que, em Daniel 8:16, 26 (primeira parte) e 27; e 9:23, o termo utilizado é (mareh).
A palavra “chazon” é utilizada em Daniel 8 e 9 para se referir à visão como um todo, incluindo os elementos do carneiro, do bode e da ponta pequena: “No ano terceiro do reinado do rei Belsazar, eu, Daniel, tive uma visão depois daquela que eu tivera a princípio.” Daniel 8:1. Logo após a declaração concernente às 2.300 tardes e manhãs, a visão se encerrou, pois, no versículo 15, o profeta assim se expressa: “Havendo eu, Daniel, tido a visão (chazon), procurei entendê-la, e eis que se me apresentou diante uma como aparência de homem.” Nesse momento, o anjo Gabriel se aproximou e deu início à sua exposição. Após ter elucidado os principais elementos da visão, Gabriel mencionou o período profético indicado no verso 14: “A visão (mareh) da tarde e da manhã, que foi dita, é verdadeira; tu, porém, preserva a visão (chazon), porque se refere a dias ainda mui distantes. Eu, Daniel, enfraqueci e estive enfermo alguns dias; então, me levantei e tratei dos negócios do rei. Espantava-me com a visão (mareh), e não havia quem a entendesse.” Daniel 8:26 e 27. Esse trecho reveste-se de vital importância porque as 2 palavras para “visão” aparecem com pequena distância entre si, permitindo uma comparação mais detalhada do seu significado. O vocábulo “mareh” é nitidamente associado a algo que foi dito na visão do capítulo 8. É importante notar que os versos 1-12 referem-se a coisas que Daniel viu, ao passo que somente nos versos 13 e 14 se diz que o profeta ouviu algo. Tendo isso em vista, percebe-se que a palavra “mareh” não alude à visão na sua totalidade, mas somente àquilo que foi dito. Isso torna-se ainda mais evidente quando se observa que o texto diz que a “mareh da tarde e da manhã, que foi dita, é verdadeira”. Em outras palavras, o termo “visão”, enquanto tradução de “mareh”, só se refere ao elemento “tempo” envolvido, o período das 2.300 tardes e manhãs, que consiste na única parte em que algo é falado na revelação. Dessa forma, quando o profeta exclamou que se espantava com a visão (mareh), sua intenção não era aludir a todos os elementos da revelação anteriormente recebida, tais como o carneiro e o bode. Isso teria lógica, tendo em vista que Gabriel explicara o significado desses símbolos. A mente de Daniel estava voltada especificamente para o período de tempo mencionado.
Para arrematar, então, a conclusão de que as 70 semanas são um complemento às 2.300 tardes e manhãs, basta uma leitura atenciosa dos termos empregues nos versos 21 e 23 do capítulo 9. Após mencionar o anjo Gabriel, que ele “tinha observado” na sua “visão (chazon) ao princípio”, Daniel regista as palavras que aquele mensageiro do Senhor lhe dirigiu: “No princípio das tuas súplicas, saiu a ordem, e eu vim, para to declarar, porque és mui amado; considera, pois, a coisa e entende a visão (mareh).”. O uso da palavra “mareh”, nessa última passagem, demonstra que o anjo Gabriel tinha vindo, não para explicar todas as partes da visão do capítulo precedente, mas apenas aquela referente ao elemento “tempo envolvido”, isto é, os 2.300 dias.
Com essas observações, não há como contestar a íntima relação entre Daniel 8 e 9 e a real necessidade do estudo relacionado das 70 semanas e das 2.300 tardes e manhãs.
Bibliografia:
Comentário a Daniel 9:21, em The Seventh-day Adventist Bible Commentary, vol. 4. Editor: Francis D. Nichol. Washington, D.C.: The Review and Herald Publishing Association, Revised, 1.976.
SHEA, William H., “The Relationship Between the Prophecies of Daniel 8 and Daniel 9”, The Sanctuary and the Atonement – Biblical, Historical and Theological Studies, preparado pelo Biblical Research Committee of the General Conference of the Seventh-day Adventists. Editores: Arnold V. Wallenkampf e W. Richard Lesher. Washington, D.C.: The Review and Herald Publishing Association.
GOLDSTEIN, Clifford, 1844 – Uma Explicação Simples das Principais Profecias de Daniel, tradução de Regina Motta, primeira edição, Tatuí, SP.: Casa Publicadora Brasileira, 1.998.

QUAL É A RAZÃO DAS 69 SEMANAS TERMINAREM NO ANO 27 E NÃO NO ANO 26 DA ERA CRISTÃ?

A razão das 69 semanas terminam no ano 27 e não no ano 26 da Era Cristã. Deve-se a cálculos e estudos muito rigorosos.À primeira vista, se as 69 semanas proféticas, ou 483 dias-anos, têm início no ano 457 A.C., o baptismo de Jesus deveria ocorrer no ano 26 A.D., pois 483 – 457 = 26. No entanto, visto que o ano zero nunca existiu, esse cálculo deve ser efeptuado de outro modo.Da maneira como são usualmente dispostos, os anos A.C. e A.D. representam uma escala, em que a primeira parte é decrescente (ou regressiva) e a segunda é crescente (ou progressiva). Nessa escala, não existe o ano zero, pois o ano 1 A.C. é seguido pelo ano 1 A.D..A falta de um ano zero impede a realização de cálculos que utilizem simultaneamente anos A.C. e A.D., como se pode verificar pelo seguinte exemplo: Se o número cardinal 10 for subtraído pelo número 3, o resultado será 7. A representação gráfica dessa conta pode ser feita de 2 maneiras:Primeira maneira: 10 – 3 = 7Segunda maneira: conforme o gráfico abaixo:
Isso demonstra que, em qualquer subtração, o número zero é automaticamente utilizado. Visto, porém, que entre os anos A.C. e A.D. não existe um ano zero, sentiu-se a necessidade da criação de uma escala, o mais semelhante possível com a vigente, para a qual fosse possível converter as datas em uso, com a existência de um ano que correspondesse ao zero. Nessa nova escala, tomando-se o ano 1 A.D. como +1, os anos seguintes seguem a progressão indefinidamente. O ano 1 A.C. passa a representar o zero, o ano 2 A.C. torna-se o –1, o ano 3 A.C. torna-se o –2, sendo que tal proporção se repete ininterruptamente. O gráfico abaixo ilustra bem a relação entre essas 2 escalas. Por ser utilizada predominantemente pelos astrónomos, a escala que contém o ano zero é chamada de astronómica (chamaremos "cronológica"). Ela foi idealizada por Jacques Cassini, em meados do século XVIII.Tabela de Conversão para a Escala Cronológica: Com tudo isso, percebe-se claramente porque as 69 semanas (483 anos) findam no ano 27. O ano 457 A.C. equivale a – 456 da escala astronômica, de maneira que o cálculo resulta em + 27, que corresponde ao ano 27 da Era Cristã: 483 – 456 = + 27.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

AS 69 SEMANAS APONTAM REALMENTE PARA O BAPTISMO DE JESUS?

Conforme Daniel 9:25, “desde a saída da ordem para restaurar e para edificar Jerusalém até ao Ungido, ao Príncipe” transcorreriam 69 semanas proféticas. O evento indicado nessa passagem refere-se ao baptismo de Jesus e não ao Seu nascimento, como alguns poderiam imaginar. Foi por ocasião de Seu baptismo que Jesus foi ungido pelo Espírito Santo, pois, segundo os evangelistas, ao sair da água, “o céu se abriu, e o Espírito Santo desceu sobre Ele em forma corpórea como pomba; e ouviu-se uma voz do céu: Tu és o Meu Filho amado, em Ti Me comprazo.” Lucas 3:21 e 22. Ver também Mateus 3:16 e 17; Marcos 1:10 e 11; e João 1:32 e 33. Essas palavras trazem à lembrança uma profecia de Isaías, proferida vários séculos antes, com respeito ao Messias: “Eis aqui o Meu servo, a Quem sustenho; o Meu escolhido, em Quem a Minha alma Se compraz; pus sobre Ele o Meu Espírito, e Ele promulgará o direito para os gentios.” Isaías 42:1.
Marcos informa que após ter sido baptizado e ter enfrentado Satanás no deserto, “foi Jesus para a Galiléia, pregando o evangelho de Deus, dizendo: O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo; arrependei-vos e crede no evangelho.” Marcos 1:14 e 15. Percebe-se aí uma clara alusão ao período delineado na profecia de Daniel.
O próprio João Baptista sabia que a sua missão era manifestar o Messias a Israel. As palavras de João, registadas pelo discípulo amado, revelam a importância do baptismo de Jesus como o momento em que Ele deu início ao Seu ministério público: “Eu mesmo não O conhecia, mas, a fim de que Ele fosse manifestado a Israel, vim, por isso, baptizando com água.” João 1:31.
Pouco tempo depois de Seu baptismo, Jesus usou uma profecia de Isaías, em que se menciona a unção do Enviado do Senhor, para revelar a verdadeira natureza do Seu ministério: “O Espírito do Senhor está sobre Mim, pelo que Me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-Me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, e apregoar o ano aceitável do Senhor.” Lucas 4:18 e 19. Ver também Isaías 61:1 e 2.
A ideia de que Jesus fora ungido pelo poder do Espírito de Deus também aparece numa oração dos discípulos de Jesus, na qual se diz que “os reis da terra, e as autoridades ajuntaram-se à uma contra o Senhor e contra o Seu Ungido; porque verdadeiramente se ajuntaram nesta cidade contra o Teu santo Servo Jesus, ao Qual ungiste.” Actos 4:26 e 27.
Talvez a passagem mais clara sobre o assunto, revelando a íntima relação entre o baptismo de Jesus, unção pelo Espírito Santo e o início do Seu ministério messiânico, seja a de Actos 10:37 e 38: “Vós conheceis a palavra que se divulgou por toda a Judéia, tendo começado desde a Galiléia, depois do batismo que João pregou, como Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com poder, o Qual andou por toda parte, fazendo o bem e curando a todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com Ele.”. Desse texto se conclui, com clareza, que, por ocasião de Seu baptismo, Jesus foi ungido pelo Espírito Santo e começou a Sua obra de pregação do Evangelho.

A QUE "ALIANÇA" DANIEL 9:27 FAZ REFERÊNCIA?

A “aliança” a que se faz referência nesse texto é o Concerto Eterno, um pacto firmado entre Deus e as Suas criaturas pelo qual estas poderiam ser reintegradas no favor divino. A vida e as bênçãos do Céu são patenteadas aos seres criados dotados de raciocínio sob condição de perfeita obediência; assim, quando Adão transgrediu a ordem do Criador, a raça humana ficou desprovida do direito a qualquer desses benefícios. Contudo, já no Éden, Deus renovou o Seu Concerto com Adão, prometendo-lhe que, através de Um dos seus (Gén. 3:15) descendentes, a raça seria restaurada à sua condição original. Esse Concerto, juntamente com sua promessa de salvação, foi renovado a Noé, a Abraão, a Isaque e a Jacó. Segundo a profecia de Daniel, Cristo viria para “fazer firme aliança com muitos”. O real sentido da palavra hebraica (gabar), traduzida por “fazer firme” em Daniel 9:27, é o de “confirmar” ou “fortalecer”. Portanto, Cristo viria para “confirmar a aliança” anteriormente firmada com os patriarcas; e isso, consoante Daniel 9:27, seria realizado por uma semana profética (ou 7 anos), a qual se estendeu do ano 27 ao ano 34 da Era Cristã. Na primeira metade desse período, Cristo realizaria essa obra pessoalmente, enquanto que, na segunda metade do mesmo, Ele a faria por intermédio dos Seus discípulos. Durante o Seu ministério terrestre, Cristo apresentou as cláusulas do Concerto Eterno, pelas quais qualquer pessoa poderia reconciliar-se com Deus, e no final da Sua obra, depois de ter tomado sobre Si os pecados de toda a raça humana, morreu sobre a Cruz do Gólgota, para livrá-la da condenação imposta pela Lei. Em suma, a obra predita pela profecia de Daniel era a de “tornar vitorioso o plano da salvação”.

NA PROFECIA DE DANIEL 9:27, QUEM SÃO OS "MUITOS" COM QUEM O MESSIAS CONFIRMARIA A ALIANÇA?

Os “muitos” referidos em Daniel 9:27 são todos aqueles que aceitam o plano de salvação oferecido por Deus e com ele se comprometem. As passagens a seguir dão sustentação a esse entendimento:
“Digo-vos que muitos virão do Oriente e do Ocidente e tomarão lugares à mesa com Abraão, Isaque e Jacó no reino dos céus.” Mateus 8:11. Ver também Lucas 13:29.
“Tal como o Filho do Homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a Sua vida em resgate por muitos.” Mateus 20:28. Ver também Marcos 10:45.
“Porque isto é o Meu sangue, o sangue da [nova] aliança, derramado em favor de muitos, para remissão de pecados.” Mateus 26:28. Ver também Marcos 14:24.
“Todavia, não é assim o dom gratuito como a ofensa; porque, se, pela ofensa de um só, morreram muitos, muito mais a graça de Deus e o dom pela graça de um só homem, Jesus Cristo, foram abundantes sobre muitos.” Romanos 5:15.
“Porque, como, pela desobediência de um só homem, muitos se tornaram pecadores, assim também, por meio da obediência de um só, muitos se tornarão justos.” Romanos 5:19.
“Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de Seu Filho, a fim de que Ele seja o primogênito entre muitos irmãos.” Romanos 8:29.
“Porque convinha que Aquele, por cuja causa e por Quem todas as coisas existem, conduzindo muitos filhos à glória, aperfeiçoasse, por meio de sofrimentos, o Autor da salvação deles.” Hebreus 2:10.
“Assim também Cristo, tendo-Se oferecido uma vez para sempre para tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que O aguardam para a salvação.” Hebreus 9:28.
Em Apocalipse 7:9, esses “muitos” são mencionados como uma grande multidão, que ninguém podia contar, proveniente de todos os povos da terra, que são os resgatados do pecado e de sua terrível conseqüência, a morte eterna.

EM QUE SENTIDO SÃO AS 70 SEMANAS UM PERÍODO DE GRAÇA CONCEDIDO AO POVO JUDEU?

Em certa ocasião, sendo interrogado por Pedro sobre até quantas vezes se deveria perdoar a um irmão, Jesus declarou: “Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete.” Mateus 18:21 e 22. É possível que as palavras de Cristo estivessem fizessem referência a Daniel 9:24, pois neste texto se estabelece um período de 70 semanas (70 x 7 = 490) “sobre o teu povo (Israel) e sobre a tua santa cidade (Jerusalém)”. Dessa forma, as 70 semanas são na verdade um período de graça destinado à raça eleita para que ela pudesse atender à voz de Deus. Segundo as Escrituras, após o término desse período (no ano 34 A.D.), o povo judeu foi rejeitado como o agente pelo qual Deus desejava comunicar o Evangelho da Sua graça ao mundo. As evidências escriturísticas para isso estão enumeradas abaixo:
1) Na semana de Sua crucifixão, Jesus narrou uma parábola, segundo a qual um homem plantou uma vinha, arrendou-a a uns lavradores e ausentou-se do país. Depois, esse senhor enviou os seus servos para receber a sua parte, mas os lavradores maltrataram alguns desses servos, e a outros mataram e não entregaram a porção devida ao dono da vinha. Então o senhor enviou mais outros servos, os quais foram tratados da mesma forma. Por fim, o senhor enviou o seu próprio filho na esperança de que fosse respeitado, mas, em vez disso, também esse foi morto. Após contar essa parábola, Jesus perguntou aos líderes judeus que com Ele debatiam: “Quando, pois, vier o senhor da vinha, que fará àqueles lavradores?” Mateus 21:40. A resposta irrefletida dos Seus interlocutores foi: “Fará perecer horrivelmente a estes malvados e arrendará a vinha a outros lavradores que lhe remetam os frutos nos seus devidos tempos.” Mateus 21:41. Jesus, então, confirmando a acertada resposta dos sacerdotes e fariseus, sentenciou: “Portanto, vos digo que o reino de Deus vos será tirado e será entregue a um povo que produza os respectivos frutos.” Mateus 21:43.
O sentido dessa parábola é por demais evidente para ser olvidado. A vinha representa Israel (Salmos 80:8 e Isaías 5:7); o seu dono é Deus; os lavradores representam os judeus; os servos, os profetas; e o filho é Jesus. A lição é clara: visto que os judeus rejeitaram a mensagem dos profetas e de Cristo, o reino de Deus lhes seria tirado e entregue a um outro povo, que produzisse frutos de obediência, uma alusão à Igreja Cristã.
O mesmo relato é encontrado em Marcos 12:1-12 e Lucas 20:9-18.
2) O apóstolo Paulo, escrevendo aos cristãos tessalonicenses, disse-lhes que se tinham tornado “imitadores das igrejas de Deus existentes na Judéia em Cristo Jesus”, pois estavam suportando pacientemente da sua gente “as mesmas coisas que eles, por sua vez, sofreram dos judeus, os quais não somente mataram o Senhor Jesus e os profetas, como também nos perseguiram, e não agradam a Deus, e são adversários de todos os homens, a ponto de nos impedirem de falar aos gentios para que estes sejam salvos, a fim de irem enchendo sempre a medida dos seus pecados. A ira, porém, sobreveio contra eles, definitivamente.” 1 Tessalonicenses 2:14-16. Esta idéia é confirmada por Paulo em Romanos 11:15, em que se diz que os judeus foram rejeitados como o agente de Deus para a divulgação das boas novas. Além disso, nesse mesmo capítulo (Romanos 11), a rejeição de Israel é ilustrada pela figura de uma oliveira, cujos ramos naturais são cortados(versos 17, 19, 20 e 21) e novos ramos são enxertados (os gentios).
3) Certa vez, quando Jesus enviou os Seus 12 discípulos a pregar o Evangelho, deu-lhes a seguinte recomendação: “Não tomeis rumo aos gentios, nem entreis em cidade de samaritanos; mas, de preferência, procurai as ovelhas perdidas da casa de Israel.” Mateus 10:5 e 6. Essa preferência pela raça eleita também foi ilustrada através das parábolas das bodas (Mateus 22:1-14) e da grande ceia (Lucas 14:15-24). Em certa ocasião, quando uma mulher cananéia rogou ao Mestre que expulsasse o demónio da sua filha, Ele lhe respondeu: “Não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel” e “Não é bom tomar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos”. Mateus 15:21-28 e Marcos 7:24-30. Porém, após a morte de Cristo (em 31 A.D.), o apedrejamento de Estevão (em 34 A.D.), e a subsequente perseguição à Igreja (no mesmo ano), Paulo, percebendo a dureza de coração de seus concidadãos, anunciou: “Cumpria que a vós outros, em primeiro lugar, fosse pregada a palavra de Deus; mas, posto que a rejeitais e a vós mesmos vos julgais indignos da vida eterna, eis aí que nos volvemos para os gentios.” Actos 13:46. Essa sentença, motivada pelo Espírito Santo de Deus, demonstra que a nação eleita, em razão dos seus pecados e da sua completa rejeição ao Santo Evangelho, perdeu o privilégio de ser o arauto da mensagem de Cristo às nações dos 4 cantos da terra.

O SACRIFÍCIO E A OFERTA DE MANJARES

O “sacrifício e a oferta de manjares” seriam tirados durante a metade da última semana ou no meio dela?
A palavra hebraica traduzida por “metade” (heb.: - chetsi) pela Versão Almeida Revista e Atualizada também poderia ter sido vertida para o Português como “meio”. Os tradutores que vêem em Daniel 9:27 uma referência a Antíoco Epifânio ou a um futuro Anticristo preferem a tradução “metade de uma semana”. Por outro lado, os que defendem que a referência é ao Messias optam pela tradução “meio da semana”. Uma discussão mais detalhada sobre a verdadeira identidade do “Ele” em Daniel 9:27 pode ser encontrada na resposta à pergunta 10.
Embora um grande número de versões modernas adopte a tradução “metade de uma semana”, essa escolha não é a mais acertada, pois quando “chetsi” está em “status constructus” com um período de tempo, significa sempre “meio” e nunca “metade”. É o que ocorre em todas as seguintes passagens: Êxodo 12:29; Josué 10:13; Juízes 16:13; Rute 3:8; e Jeremias 17:11. A percepção desse detalhe assegura que o acto de “fazer cessar o sacrifício e a oferta de manjares” deveria ocorrer no meio da septuagésima semana da profecia de Daniel, o que se cumpriu perfeitamente por ocasião da morte de Jesus.

Bibliografia:
DOUKHAN, Jacques, “The Seventy Weeks of Daniel 9: An Exegetical Study”, The Sanctuary and the Atonement – Biblical, Historical and Theological Studies, preparado pelo Biblical Research Committee of the General Conference of the Seventh-day Adventists. Editores: Arnold V. Wallenkampf e W. Richard Lesher. Washington, D.C.: The Review and Herald Publishing Association.

QUAIS SÃO AS EVIDÊNCIAS QUE NO MEIO DA ÚLTIMA DAS SETENTA SEMANAS JESUS SERIA MORTO?

É de suma importância, para o devido entendimento da profecia de Daniel 9, a identificação do evento a ocorrer no meio da septuagésima semana. A informação fornecida pelo verso 27 é referente à cessação do “sacrifício” e da “oferta de manjares”. Assevera-se que isso está associado à morte de Jesus. Qual é o fundamento bíblico para tal posicionamento? Em primeiro lugar, deve-se atentar para o facto de que o verso 26 apresenta uma inequívoca referência à morte do Messias, o que já demonstra que tal evento é abordado pela profecia. Mas, é nas cartas aos Efésios e aos Hebreus que são encontradas as declarações bíblicas que vinculam a morte de Jesus ao meio da última semana:
“E andai em amor, como também Cristo nos amou e Se entregou a Si mesmo por nós, como oferta e sacrifício a Deus, em aroma suave.” Efésios 5:2.
“Por isso, ao entrar no mundo, diz: Sacrifício e oferta não quiseste; antes, um corpo Me formaste; não Te deleitaste com holocaustos e ofertas pelo pecado. Então, Eu disse: Eis aqui estou (no rolo do livro está escrito a Meu respeito), para fazer, ó Deus, a Tua vontade. Depois de dizer, como acima: Sacrifícios e ofertas não quiseste, nem holocaustos e oblações pelo pecado, nem com isto Te deleitaste (coisas que se oferecem segundo a lei), então, acrescentou: Eis aqui estou para fazer, ó Deus, a Tua vontade. Remove o primeiro para estabelecer o segundo. Nessa vontade é que temos sido santificados, mediante a oferta do corpo de Jesus Cristo, uma vez por todas.” Hebreus 10:5-10.
Estes textos ecoam os dizeres de Daniel 9:27, pois neles se diz que Cristo Se entregou “como oferta e sacrifício a Deus em aroma suave” (Efésios 5:2); que ao entrar no mundo, Jesus Se dirige ao Pai, dizendo: “sacrifícios e ofertas não quiseste; antes, um corpo Me formaste” (Hebreus 10:5); que Ele vem para fazer a vontade de Deus (Hebreus 10:7), a qual é identificada com Sua morte (Hebreus 10:10); e que Seu sacrifício resulta na remoção do antigo sistema e no estabelecimento do novo (Hebreus 10:9).
A razão da substituição do sistema de sacrifícios do Antigo Testamento pelo sacrifício de Cristo no Novo Testamento está no facto de que o objectivo daquele era apontar para este último. Por isso é que Isaías diz que o Servo Sofredor “como cordeiro foi levado ao matadouro” para dar “a Sua alma como oferta pelo pecado” Isaías 53:7 e 10. Todos os sacrifícios do Velho Concerto tipificavam a morte de Jesus e os que deles se serviram só seriam de facto beneficiados se o Salvador vertesse o Seu “precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula” sobre o madeiro (1 Pedro 1:19), pois “é impossível que o sangue de touros e de bodes remova pecados” (Hebreus 10:4). João Baptista estava a par desse simbolismo quando contemplou a Jesus, que vinha ao seu encontro, no Jordão, o que o motivou a exclamar: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!” João 1:29 e 36. Como a razão de ser do sistema cerimonial era apenas o de prefigurar o vindouro sacrifício de Jesus, quando este se efectuou, aquele chegou ao fim. Isso explica porque o “o véu do santuário se rasgou em duas partes de alto a baixo” (Mateus 27:51; Marcos 15:38; e Lucas 23:45). Diante dessas considerações, não restam dúvidas de que o evento predito para o meio da septuagésima semana era a morte de Jesus.

O APEDREJAMENTO DE ESTEVÃO E O FIM DAS 70 SEMANAS

Embora a profecia não faça menção à morte de Estevão como um marco do encerramento do período especialmente concedido ao povo de Israel, algumas informações encontradas no livro dos Actos dos Apóstolos conferem plausibilidade a essa conclusão.
Antes do apedrejamento de Estevão, relatado no capítulo 7 de Actos, não se faz menção à conversão de samaritanos ou de gentios. Em Actos 2, que trata dos maravilhosos acontecimentos do Dia de Pentecostes, só se faz referência a prosélitos, que não obstante serem gentios de nascimento, já eram membros reconhecidos da comunidade judaica.
No mesmo dia em que Estevão foi martirizado, “levantou-se grande perseguição contra a igreja em Jerusalém; e todos, excepto os apóstolos, foram dispersos pelas regiões da Judéia e Samaria.” Actos 8:1. Em decorrência dessa terrível perseguição, os seguidores de Cristo foram espalhados para outras regiões, nas quais puderam pregar o Evangelho aos não-judeus (Actos 8:4). “Filipe, descendo à cidade de Samaria, anunciava-lhes a Cristo.” Atos 8:5. Filipe pregou ainda a um etíope que voltava de Jerusalém para sua terra (Actos 8:26-40). Depois disso, Saulo, perseguidor da Igreja, passou pela gloriosa experiência do caminho de Damasco, em que foi chamado para ser “um instrumento escolhido” para pregar o Evangelho “perante os gentios e reis, bem como perante os filhos de Israel” Actos 9:17. Por fim, Pedro foi conduzido pelo Espírito Santo até ao centurião romano, de nome Cornélio, a quem anunciou as boas novas da salvação. Ver Actos 10.
Em Actos 11, uma importante sequência de informações também destaca a morte de Estevão como o ponto a partir do qual a mensagem de Cristo se estendeu aos gentios. Sendo indagado sobre sua recente visita à residência de um gentio, Pedro fez um relato do progresso da obra do Evangelho entre os estes. Então, “ouvindo eles estas coisas”, alegraram-se muito “e glorificaram a Deus, dizendo: Logo, também aos gentios foi por Deus concedido o arrependimento para vida.” Actos 11:18. Dando prosseguimento ao relato, o autor de Actos explica que “os que foram dispersos por causa da tribulação que sobreveio a Estêvão se espalharam até à Fenícia, Chipre e Antioquia, não anunciando a ninguém a palavra, senão somente aos judeus.” Actos 11:19. Como muitos deles não estavam certos ainda da importância de se pregar a mensagem de Cristo aos gentios, restringiram-se a falar somente aos judeus residentes nesses lugares, mas “alguns deles, porém, que eram de Chipre e de Cirene e que foram até Antioquia, falavam também aos gregos, anunciando-lhes o evangelho do Senhor Jesus.” Actos 11:20. Dessa forma, torna-se evidente que os Actos dos Apóstolos vinculam o término do período separado especialmente para os judeus com o lapidação de Estevão e com a primeira perseguição aos cristãos.

O SERVIÇO REALIZADO NO DIA DA EXPIAÇÃO E O SEU SIGNIFICADO

O Antigo Santuário Israelita era uma estrutura bipartida, sendo o primeiro compartimento denominado de Lugar Santo e o compartimento mais interior de Lugar Santo dos Santos (ou Santíssimo). Do lado de fora do Santuário, havia uma área separada para os serviços sagrados denominada de Átrio (ou Pátio). Nela, diariamente entravam as pessoas que vinham trazer suas ofertas ao Santuário. No Lugar Santo, o acesso também era diário, mas destinado somente aos sacerdotes (classe de pessoas designadas para oficiar como mediadores do povo). No Lugar Santo dos Santos, o acesso era bem mais restrito: somente o sumo sacerdote (o líder dos sacerdotes) podia nele ingressar e apenas uma vez ao ano, no Dia da Expiação (o décimo dia do sétimo mês judaico). Ver Hebreus 9:1-7.
A entrada do sumo sacerdote no Lugar mais sagrado do Santuário tinha um objetivo especial: purificá-lo de todos os pecados dos filhos de Israel. Durante todo um ano, os israelitas, com o fim de terem seus pecados perdoados, traziam suas ofertas ao Santuário. Era a chamada “oferta pelo pecado”, na qual o pecador arrependido colocava suas mãos sobre a cabeça da vítima, transferindo para ela suas iniqüidades, e a sacrificava. Depois, o sacerdote comia a carne ou levava um pouco do sangue do sacrifício para dentro do Santuário. De um jeito ou de outro, o pecador era perdoado, mas seus pecados não estavam ainda extintos; eram transferidos para o sacerdote, e por meio dele ao Santuário, ou, eram transferidos diretamente, através do sangue, para aquele lugar sagrado. Assim, o Santuário ficava poluído com os pecados da nação israelita. No Dia da Expiação, a função do sumo sacerdote era limpar o Santuário de sua contaminação. Por isso, depois de efetuar a escolha de 2 bodes, um para o Senhor e outro para Azazel, sacrificava o primeiro e entrava com seu sangue até o interior do Lugar Santíssimo, onde depositava um pouco do sangue sobre a arca da aliança. Com isso, tomava sobre si os pecados, saía do Santuário e os colocava sobre a cabeça do bode por Azazel; esse bode não era sacrificado, mas era solto no deserto, no qual vivia até perecer. Por meio desse ritual, o Santuário era purificado de todos os pecados que para ele haviam sido transferidos. Maiores detalhes acerca dessas cerimônias podem ser encontradas em Levítico 4 e 16.
O ministério dos sacerdotes no primeiro compartimento representava o ofício intercessório que Jesus, Sumo Sacerdote do Céu, deveria cumprir no Lugar Santo do Santuário Celestial. E assim como, no Dia da Expiação, o sumo sacerdote judeu entrava no Lugar Santo dos Santos, ao final dos 2.300 dias-anos de Daniel 8:14, isto é, em 1.844 A.D., Jesus entrou no recinto mais interior do Santuário do Céu, com o fim de purificá-lo. Dessa forma, do ano 31 A.D., quando ascendeu à alturas, até 1.844 A.D., Jesus Cristo esteve intercedendo pela raça pecadora no primeiro compartimento do Santuário; mas, depois disso, houve uma mudança em Seu ministério e, hoje, Ele está no Santo dos Santos do Céu, empenhado na última parte de Sua obra em prol dos seres humanos. Findando esse trabalho, Ele voltará para resgatar Seus escolhidos e levá-los para as mansões celestiais.

ABORDAGEM À PROFECIA DE DANIEL 9


As Escrituras revelam que os antigos profetas não somente se preocuparam em anunciar eventos futuros, como também em indicar o tempo de seu cumprimento. Os 120 anos de graça destinados ao mundo antediluviano (Génesis 6:3), os 7 dias que precederiam o início da chuva, a qual deveria cair por 40 dias ininterruptos (Génesis 7:4), os 400 anos de peregrinação da descendência de Abraão (Génesis 15:13 e Atos 7:6), os 3 dias para o copeiro e para o padeiro de Faraó (Génesis 40:12, 13, 18 e 19), os 7 anos de fartura e os outros 7 de fome sobre a terra do Egito (Génesis 41:26, 27, 29 e 30), os 40 anos de jornada no deserto (Números 14:33 e 34), os 3 anos e meio de seca no reinado de Acabe (1 Reis 17:1 e Lucas 4:25), o cativeiro de 70 anos (Jeremias 25:11 e 12; 29:10 e Daniel 9:2) e os 7 tempos de loucura de Nabucodonosor (Daniel 4:16, 23, 25 e 32) foram períodos que delimitaram a realização dos acontecimentos preditos.
Não poderiam os profetas ter antecipado também a época do advento do Redentor? A lógica sugere que sim, o que é confirmado pelo apóstolo Pedro, segundo o qual “os profetas que profetizaram da graça que vos foi dada” “inquiriram e trataram diligentemente” da salvação, “indagando que tempo ou que ocasião de tempo o Espírito de Cristo, que estava neles, indicava, anteriormente testificando os sofrimentos que a Cristo haviam de vir e a glória que se lhes havia de seguir.” 1 Pedro 1:10 e 11.
Os dados cronológicos concernentes à primeira vinda de Cristo podem ser encontrados em Daniel 9, em que já estavam preditos, com inigualável precisão, os anos exatos do início e do fim do ministério do Salvador. Contudo, visto que Daniel 9 constitui um complemento ao capítulo 8, imperioso se torna o estudo concatenado de ambos.

ABORDADEM À PROFECIA DE DANIEL 8:14


O capítulo 8 descreve uma fascinante visão recebida pelo profeta Daniel, na qual ele contemplou um carneiro, um bode e uma ponta pequena. Esse último elemento lhe atraiu particular interesse, em virtude de seu ataque ao exército do Céu, ao Príncipe dos príncipes e ao Santuário Celestial. Enquanto observava a blasfema atuação da ponta pequena, Daniel ouviu um santo anjo a indagar: “Até quando durará esta visão?”. A solene resposta é encontrada em Daniel 8:14: “Ele me disse: Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o santuário será purificado.”.
Daniel 8:14 faz referência a um longo período profético, findo o qual o Santuário seria purificado. Esse período possui especial importância por estar intimamente associado às 70 semanas de Daniel 9, cujo principal objetivo é localizar o tempo do ministério de Jesus. Daí, a necessidade de uma investigação mais detalhada das 2.300 tardes e manhãs.

JESUS, OS APÓSTOLOS E AS PROFECIAS

As profecias bíblicas exercem um papel proeminente na mensagem cristã. Os primeiros discípulos delas se serviram para proclamar ao mundo que Jesus era “o Cristo, o Filho do Deus vivo” Mateus 16:16. O apóstolo Pedro, por exemplo, afirmou que, pela ignorância das autoridades judaicas, ao conduzirem Jesus à morte, “Deus assim cumpriu o que dantes anunciara por boca de todos os profetas que o Seu Cristo havia de padecer.” “E todos os profetas, a começar com Samuel, assim como todos quantos depois falaram, também anunciaram estes dias.”Actos 3:18 e 24. Paulo, o “apóstolo dos gentios”, pregando numa sinagoga de Antioquia, também fez menção das profecias messiânicas para anunciar Jesus, declarando que “os que habitavam em Jerusalém e as suas autoridades, não conhecendo Jesus nem os ensinos dos profetas que se lêem todos os sábados, quando O condenaram, cumpriram as profecias... Depois de cumprirem tudo o que a respeito dEle estava escrito... puseram-nO em um túmulo. Mas Deus O ressuscitou dentre os mortos.”Actos 13:26-31. Outro exemplo do uso das profecias como prova convincente da messianidade de Jesus se observa em “Apolo, homem eloqüente e poderoso nas Escrituras... porque, com grande poder, convencia publicamente os judeus, provando, por meio das Escrituras, que o Cristo é Jesus.” Actos 18:24 e 28. Assim, torna-se evidente que as profecias referentes ao Salvador ocupavam uma posição de grande destaque nas primitivas pregações cristãs. Ver também Actos 10:43; 17:2, 3 e 11; 26:22 e 23; e 28:23.
O próprio Jesus lançou mão das profecias para revelar mais claramente a natureza de Seu ministério. Falando aos desalentados discípulos no caminho de Emaús, disse o Mestre galileu: “Ó néscios e tardos de coração para crer tudo o que os profetas disseram! Porventura, não convinha que o Cristo padecesse e entrasse na Sua glória? E, começando por Moisés, discorrendo por todos os Profetas, expunha-lhes o que a Seu respeito constava em todas as Escrituras.” Lucas 24:25-27. Mais tarde, estando com aqueles que durante 3 anos e meio não conseguiram discernir a verdadeira essência de Sua missão, disse Jesus: “São estas as palavras que Eu vos falei, estando ainda convosco: importava se cumprisse tudo o que de Mim está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos.” Diz o relato inspirado que “então, lhes abriu o entendimento para compreenderem as Escrituras; e lhes disse: Assim está escrito que o Cristo havia de padecer e ressuscitar dentre os mortos no terceiro dia e que em Seu nome se pregasse arrependimento para remissão de pecados a todas as nações, começando de Jerusalém.” Lucas 24:44-47.

A IMPORTÂNCIA DA CRONOLOGIA PROFÉTICA

A Importância da Cronologia Profética.
As páginas do Antigo Testamento estão repletas de referências proféticas ao Redentor do mundo, descrevendo Sua derrota aparente e Seu triunfo final. No entanto, sem uma indicação clara quanto ao tempo de Sua manifestação, a identificação do Messias estaria profundamente comprometida. Um leitor de Isaías 53, por exemplo, ficaria a se indagar “a quem se refere o profeta. Fala de si mesmo ou de algum outro?” Actos 8:34. Tal dúvida seria pertinente, visto que o próprio Isaías fora martirizado; e, além dele, muitos outros já haviam sofrido injustamente. Para não dar margem a tais incertezas, Deus revelou certos períodos de tempo que atingissem a própria época do Messias, delimitando o início de Sua obra terrestre bem como o seu encerramento. Tais períodos são claramente delineados em Daniel 9, na célebre profecia das 70 semanas.
Agostinho, bispo de Hipona e um dos maiores expoentes da fé católica de todos os tempos, fez alusão a essa impressionante profecia, declarando que “Daniel determinou até o número de anos que passariam antes do advento e paixão de Cristo. O cômputo seria longo reproduzi-lo aqui, além de que outros já o fizeram antes de mim” (SANTO AGOSTINHO, A Cidade de Deus, tomo 2, capítulo XXXIV, n.º 1). Realmente, antes dele, muitos eminentes escritores cristãos já haviam tratado do tema, dentre os quais podem ser citados Tertuliano (terceiro século), Clemente de Alexandria (terceiro século), Hipólito (terceiro século), Júlio Africano (terceiro século) e Eusébio de Cesaréia (quarto século), que, embora apresentem inúmeros equívocos exegéticos em suas obras, ao menos demonstraram interesse pelos cômputos proféticos.
É óbvio que o Senhor Jesus também tinha ciência dessa profecia, sendo, em realidade, Seu legítimo Autor. Em Mateus 24:15, fazendo referência ao texto das 70 semanas e conectando-o ao evento da destruição de Jerusalém a se verificar no ano 70 da Era Cristã, advertiu Jesus: “Quando, pois, virdes o abominável da desolação de que falou o profeta Daniel, no lugar santo (quem lê entenda).” Ver Daniel 9:27. Depreende-se desse texto que Jesus não somente reconhecia a importância da profecia de Daniel, aplicando-a ao Seu tempo, mas ainda recomendava o seu estudo e correta compreensão.

O SANTUÁRIO E AS PROFECIAS DE DANIEL

INTRODUÇÃO

Não é o objetivo deste trabalho estudar em detalhes as profecias do livro de Daniel, porém não é possível realizar um estudo satisfatório do santuário sem se referir à obra de Cristo tal como ela é descrita nos livros de Daniel e Apocalipse. Neste apêndice serão abordadas algumas idéias que mostram esta conexão santuário-profecias e ao mesmo tempo mostram a Cristo como o centro destas duas revelações bíblicas.
Comumente, as profecias de Daniel são estudadas na ordem sequencial dos capítulos (isto é, se estudam os capítulos 2,7,8 e 9, nesta ordem). Mas para os nossos objetivos, será conveviente começar analisando o capítulo 9.
Daniel 9: o Santuário e o Sacrifício
O capítulo começa com uma fervorosa oração. Daniel estava preocupado com a restauração de Israel e principalmente com o estado no qual se encontrava o Templo em Jerusalém (ver, por exemplo, o verso 17). Daniel tinha percebido que os 70 anos de cativeirio previstos por Jeremias estavam a chegar ao seu fim e perguntava-se se acaso as profecias de tempo dos capítulos anteriores significavam um adiamento da restauração de Israel. Isto preocupava o profeta, pois o exílio do povo, o estado de destruição de Jerusalém e principalmente o facto do Templo estar em ruinas, significava desonra para Deus. Portanto, repetimos mais uma vez, Daniel estava preocupado com a restauração do Santuário em Jerusalém.
Mas o anjo Gabriel foi enviado para dar explicações a Daniel. O anjo explicou-lhe que não era o Templo de Jerusalém que devia ser o centro da suas preocupações(de facto o Santuário Terrestre acabaria por ser definitivamente destruido, Dan.9:26) e o anjo elevou-lhe o olhar para o Santuário Celestial do qual nos fala o livro de Hebreus (ver Heb. 8:1-2). É com o Santuário Celestial que a verdadeira obra de restauração está relacionada. Como veremos, as profecias de Daniel 9,8 e 7 (e grande parte das profecias de Apocalipse) são na verdade revelações acerca do Santuário Celestial.
Como já fora explicado, o versículo 24 faz referência à inauguração do Santuário Celestial ("...e para ungir o Santíssimo'', diz o verso). Isto significa que a profecia das setenta semanas indica o tempo em que entraria em funções o Santuário Celestial. Mas o aspecto mais importante deste capítulo é mostrar o Messias como o verdadeiro sacrifício em nosso favor, que acabaria com todos cerimoniais do Santuário Terrestre (versos 25 a 27).
Do estudo feito neste trabalho, podemos ver que as festas bíblicas agrupam-se em dois polos. Primeiro temos as festas associadas à Páscoa: Pães Ázimos, Primicias e Pentecostes (pois a data de realização da festa de Pentecostes depende da realização da Páscoa. Em segundo lugar temos as festas associadas ao Dia da Expiação: Festa das Trombetas e Festa dos Tabernáculos. Como vemos, o capítulo 9 de Daniel se relaciona com a inauguração do Santuário e com as festas associadas à Pascoa.
Mas, poderiamos pensar, haverá alguma profecia, no livro de Daniel, referente às festas associadas ao Dia da Expiação ? A resposta é Sim. Estas profecias estão nos capítulos 7 e 8 de Daniel.
Daniel 7 e 8: Juizo Pré-Advento
A referência mais evidente ao Santuário se encontra em Daniel 8:14: ''E ele me disse: Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o santuário será purificado''. De acordo com o dito nos parágrafos anteriores, a referência deve ser ao Santuário Celestial. É necessário, porém, que entendamos que significa a purificação do santuário.
No contexto de Daniel 8 a purificação do Santuário aparece como a reação divina frente aos ataques do poder opressor representado pelo chifre pequeno (ver Daniel 8:9-14). No capítulo 7, vemos novamente a ação de um poder perseguidor do povo de Deus e a resposta divina, mas desta vez a reação de Deus contra os Seus inimigos é representada por um juizo que culmina com a destruição dos inimigos de Deus e, por contraste, a final vindicação do povo de Deus ao receberem o Reino (ver Daniel 7:7-10 e 21-26). Devemos notar também que o Dia da Expiação apontava justamente a ação divina que culminaria com a destruição final do pecado e os ímpios. Fundamentados no princípio de paralelismo das profecias de Daniel e respaldados pelo contexto discutido nas linhas anteriores, podemos concluir que a purificação do Santuário, o juizo mencionado em Daniel 7 e o Dia da Expiação descrevem o mesmo acontecimento e portanto são equivalentes. Este obra de juizo tem sido tradicionalmente chamada de Juizo Investigativo ou melhor, Juizo Pre-Advento, pois ele acontece antes da Volta de Jesus.
Sumário e Comentários Finais
Temos visto que Daniel 9 está intimamente relacionado com as festas associadas à Pascoa e que Daniel 7 e 8 relacionan-se às festas associadas ao Dia da Expiação. Podemos dizer que estes três capítulos não são mais do que um profecia acerca do Santuário Celestial ou, equivalentemente, sobre a obra de Cristo primeiro como o sacrifício substitutivo e logo como Sumo Sacerdote. É, em última instância, esta profunda relação entre estes capítulos que nos permitem afirmar que os períodos proféticos de Daniel 8 e 9 devem ter início na mesma data, a saber, 457 A.C. com a promulgação do decreto de Artaxerxes (ver Esdras 7:1-26).
Para finalizar, notemos que os capítulos 4 e 5 de Apocalipse não são mais do que uma versão mais detalhada da visão de Daniel 7:9-14. Assim, a relação entre Apocalipse e o Santuário se torna ainda mais intensa e viva o que nos dá maior e mais forte motivação para o estudo dos assuntos realcionados aos serviços nos Santuário, tanto o terrestre como o celestial.

JESUS E O SANTUÁRIO EM HEBREUS 9 e 10

O livro de Hebreus em geral, e os capítulos 8, 9 e 10 em particular, é de grande importância para estabelecer o entendimento tradicional adventista acerca do santuário. Em pasagens que tradicionalmente mostravam Jesus entrando no Santuário, edições modernas (por exemplo a Edição Contemporânea da versão de Almeida) substituim a palavra "santuário" por "santo dos santos", dando a entender que Jesus teria entrado no Lugar Santíssimo no ano 31 AD. Neste apêndice analizaremos brevemente tal questão.
No texto grego, a palavra que designa o Lugar Santo em Heb. 9:2 é "Hagia" ( Agia) que literalmente quer dizer ``Santo" ( apalavra ``Lugar" não aparece no original). A expresão que designa o Lugar Santíssimo no verso 3 é "Hagia Hagíon" ( Agia Agiwn) que significa literalmente "Santo dos Santos" (de novo a palavra "Lugar" não aparece).
Nos versos em questão, por exemplo Heb. 9:12, aparece a expresão "ta hagia" (ta agia) que dignifica "os santos". O verso, então, diz que Jesus entrou "nos santos (lugares)", isto é, no Santuário. Aliás, a mesma expresão ( só que no caso genitivo em vez do acusativo) aparece em Heb 8:2, sendo traduzida universalmente como "santuário". Os profesores F. Rienecker e C. Rogers na Chave Linguística do Novo Testamento Grego comentam que a expresão significa o Lugar Santo e o Lugar Santíssimo em conjunto, isto é, santuário.
Portanto concluimos que atradução certa é "santuário" em concordância com a interpretação Adventista.