terça-feira, 29 de junho de 2010

A GRANDE ÁRVORE E A LOUCURA DO REI (Daniel 4:1-37)

Este capítulo começa com uma referência à paz – sob a forma de saudação emanada deste poderoso monarca. O seu conteúdo mostra-nos um rei com bom humor, enfim, um monarca muito diferente do quanto se tinha visto até aqui. Assim, nos anteriores capítulos Nabucodonozor é mostrado sob vários quadros: o conquistador, o autocrata e como construtor. Em relação a esta última faceta veremos, neste capítulo, alguns dos seus reflexos. Neste excerto bíblico, o último inerente à sua pessoa, encontramo-lo como alguém que, finalmente, irá mostrar um coração transformado depois de ter passado por diversas provas visando o quebrar a crosta bem dura da sua conduta orgulhosa.
De certa forma, esta sua última aparição, acompanhada de mais uma prova, o rei quer mostrar-nos que, por mais alto que o ser humano tenha subido, nunca passará de uma simples criatura tão frágil como uma simples gota de água. Por isso, e para exemplo das gerações vindouras, este grande monarca assim se expressou acerca de si mesmo e do Supremo Deus: - “Pareceu-me bem, fazer conhecidos os sinais e maravilhas que Deus, o Altíssimo, tem feito comigo. Quão grandes são os seus sinais e quão poderosas as suas maravilhas! O seu reino é um reino sempiterno e o seu domínio, de geração em geração” – v. 2,3.
Na realidade, que palavras tão sublimes! Para quem, como este rei, que sempre se recusara a admitir que, o quanto tinha construído não ia mais além do que o símbolo da cabeça da estátua – tal como o profeta dissera! Agora, pela primeira vez, Nabucodonozor compreende e reconhece que só o Reino de Deus é eterno e que o Deus que Daniel adora é o único que domina sobre todas as coisas – ele próprio incluído. Eis o testemunho de um homem que foi rei de um grande império e, ao mesmo tempo, tão insignificante em face de Deus. Que testemunho para as gerações vindouras; que grandeza de espírito, ao ponto de não esconder as suas fraquezas - ele, o maior monarca do seu tempo.

I – O sonho

O tempo que se seguia era o da consolidação do império onde a paz que se experimentava está bem patente na palavra de Deus, quando nos é dito que “Eu, Nabucononozor, estava sossegado em minha casa, e florescente no meu palácio” – v. 4. Que se poderá deduzir desta informação? Babilónia era uma cidade florescente, pois ela era o centro do mundo de então.
A exemplo do passado, ele irá ter uma revelação do alto – um sonho – para o qual não encontra a menor explicação.
O rei sonhou. A exemplo do passado recente, o rei convocou os sábios da corte – os magos, astrólogos, caldeus e os adivinhadores (v. 7). No passado foram incapazes de “adivinhar” o sonho e, muito menos, de dar a sua interpretação. Agora, apesar do rei o revelar, continuam sem nada poder dizer! Na verdade, já conhecemos as razões para que tal continue a acontecer. Para o rei era como a prova final para testar, uma vez mais, a superioridade do Deus de Daniel em relação aos deuses nacionais de Babilónia - algo que, como dissemos, o rei, neste capítulo, faz questão de o demonstrar.
Devido à incapacidade dos seus sábios de lhe fazerem conhecer a interpretação do sonho, o texto mostra-nos Daniel perante o rei para desempenhar a missão que era impossível para os sábios da corte. O rei irá referir-se ao profeta como “Daniel, cujo nome é Beltessazar, segundo o nome do meu deus, e no qual há o espírito dos deuses santos (…)” – v. 8. Aqui, uma vez mais, o rei emprega termos que indiciam claramente que ainda conserva crenças politeístas ao recordar em o novo nome de Daniel - Beltessazar – tem como base o nome do deus do monarca – Bel – (cf. Jeremias 50.2; 51.4), que não era mais do que o nome popular do deus supremo de Babilónia – Marduk.
O sonho, desta vez, tinha como figura central uma imponente árvore que sobre ela era dito: 1- a descrição da sua grandeza (v. 10-12); 2- o anúncio do seu derrube (v. 13-17).

a– A explicação (v. 20-28)
- a grandeza da árvore – Se o sonho era, segundo se pensava, o canal de comunicação usado pelos deuses para comunicação com os seres humanos, aqui, como anteriormente se viu, Deus irá dar uma última lição a este grande monarca da antiguidade, mostrando-lhe, uma vez mais, que havia um Deus que tudo tinha feito para lhe demonstrar a Sua superioridade, o Seu amor e o Seu ilimitado poder.
Segundo provas arqueológicas, o rei comparou Babilónia a uma grande árvore que fornecia sombra aos povos – o que significava que a imagem que revestia o seu sonho não lhe era totalmente estranha.
Subjacente a esta árvore estava a ideia de ponte entre o humano e o divino e, ao mesmo tempo, servia para realçar, uma vez mais, o orgulho desmedido deste monarca, na medida que, segundo a interpretação dada pelo profeta Daniel, a árvore representava o próprio rei (v. 20,21). A metáfora da “árvore” também a encontramos num outro homem de Deus – o profeta Ezequiel para representar o orgulho, de um outro monarca – o da Assíria – Ezequiel 31.3-14 – na qual encontramos, não só a menção de elementos comuns a ambas (v. 6), como também a advertência de que nenhuma árvore, ou seja, nenhum rei ou reino deveria aspirar a crescer assim tanto; por isso: 1- seria cortada (v. 12); 2- para que “não venha a confiar em si por causa da sua altura (…)” – v. 14.

- o seu derrube – depois de ter sido feita uma avaliação da árvore, eis que o rei ouve uma voz de um ser celeste que disse: - “cortai a árvore, destruí-a, mas ao tronco com as suas raízes deixai na terra; (…) a sua porção seja com os animais (…) e passem sobre ele sete tempos” – v. 15,16. Assim, a presença deste ser celeste e, acima de tudo, a sua sentença, demonstram claramente que a vida do monarca não está como ele pensava, nas suas mãos mas, nas do Deus que, obstinadamente, ele recusava conhecer e obedecer.
A sentença era clara – aquele que a árvore representava (o rei), acontecer-lhe-iam algumas coisas: 1- seria tirado de entre os homens – (v. 25); 2- a sua morada seria com os animais – (v.25); 3- dormiria com eles (molhado do orvalho do céu – v. 15,23,25); 4- comeria erva com eles – v. 15,25; pensaria como eles (seja-lhe dado coração de animal – v. 16); 5- durante sete tempos – v. 16,23,25.
Este grande homem transformar-se-ia num animal e nesta qualidade viveria durante sete tempos. Convém aqui recordar que a palavra traduzida por - coração – na antropologia bíblica, neste caso específico, não é sinónimo do órgão que conhecemos com este nome, mas sim da – razão – “onde estão as funções intelectuais e racionais, as quais atribuímos à cabeça e, em particular, ao cérebro. (…) no coração se elabora: o pensamento, a reflexão, a meditação, a deliberação”. Por outras palavras, o que estava a ser transmitido ao rei era que este, ao longo de todo aquele tempo, não mais poderia pensar ou raciocinar – um estado de total inconsciência reflexiva, apesar de vivo!

- prelúdio – Qual terá sido o propósito de Deus na criação do homem? O profeta Isaías o revela claramente: - “A todos os que são chamados pelo meu nome e os que criei para minha glória; eu os formei, sim, eu os fiz. (…). Esse povo que formei para mim, para que me desse louvor” – Isaías 43.7, 21. Portanto, a glória deveria ser dedicada exclusivamente a Deus, tal como é reiterado pelo mesmo profeta – “Eu sou o Senhor; este é o meu nome; a minha glória, pois, a outrem não darei (…)” – Isaías 42.8.
Este orgulho, esta continuada obstinação do culto do eu, pensamos, não é mais do que o resultado do quanto a Palavra de Deus, a seu tempo, denuncia. Aqui encontramos a seguinte verdade: - “visto como se não executa logo o juízo sobre a má obra, por isso o coração dos filhos dos homens está inteiramente disposto para praticar o mal” - Eclesiastes 8.11. Verdade de Deus veiculado pelo maior sábio humano jamais existente à face da Terra – o rei Salomão.
No passado, a Assíria foi chamada a ser a “vara da ira de Deus” – Isaías 10.5. Mas, a dado momento, no auge do seu poder, esta ousou dizer que “com a força da minha mão e com a minha sabedoria fiz isto, porque sou entendido; eu removi os limites dos povos (…) e como valente abati os que se sentavam sobre tronos” – Isaías 10.13. O que levou a que Deus emitisse um juízo sobre a Assíria, na pessoa do seu rei, nestes termos: - “(…) então visitarei o fruto do arrogante coração do rei da Assíria e a pompa da altivez dos seus olhos” - Isaías 10.12.
Com Nabucodonozor a trajectória será igual – será chamado por Deus – “eis que suscito os Caldeus, nação amarga e apressada (…) para possuir moradas não suas” – Habacuque 1.6. Depois, o monarca será tentado a “atribuir este poder ao seu deus” - Habacuque 1.11. Finalmente dirá, no auge do seu poder: - “não é esta a grande Babilónia que eu edifiquei para a casa real, com a força do meu poder e para glória da minha magnificência” – Daniel 4.30.

- um tempo de graça (v. 29) – a sentença fora dada e estava totalmente nas mãos do rei torná-la outra, diríamos “condicional”! Nas palavras finais do profeta, ao rei, podemos sentir nelas uma certa esperança, talvez em relação ao tempo de prova, que poderia ser evitado pelo rei. O profeta convida o monarca ao arrependimento, visível nas palavras empregues, ao dizer: - “desfaz os teus pecados e iniquidades e pratica a misericórdia” – v. 27a. Qual o objectivo? Ele mesmo dá a resposta: - “para que se prolongue a tua tranquilidade” – v. 27b.
Uma vez mais, encontramos no Antigo Testamento, por estranho que possa parecer, o que muitos não conseguem encontrar - o Deus da graça – e não um “Deus outro, distante”! Ao rei será dado ainda uma porção de tempo – “doze meses” - v. 29 - para que ele pudesse colocar em prática a solene advertência proferida pelo profeta.
O monarca, como tantas vezes o fizera, ao contemplar a cidade que estava aos seus pés e diante dos seus olhos diz: - “não é esta a grande Babilónia que eu edifiquei para a casa real, com a força do meu poder e para glória da minha magnificência” – v. 30. Na verdade, que mal haverá na contemplação do que é verdadeiramente belo? O problema está quando a coisa inanimada criada pelo intermediário - o homem - ocupa o lugar d’Aquele que a ambos criou – Deus!
Na realidade, em termos humanos, este monarca tinha razões para admirar tudo o quanto existia ao seu redor. Na vertente religiosa, em demonstração da sua gratidão para com os seus deuses – cf. Habacuque 1.11 - irá estimular “a construção de 53 altares, 955 pequenos santuários e 384 altares de rua”. Na verdade, através da Arqueologia podemos ter uma ideia do esplendor de Babilónia em vários domínios – “um vasto sistema de fortificações, ruas, canais, palácios”. Ou ainda uma referência a algo que faz parte das ditas “sétima maravilha do mundo” – os jardins suspensos de Babilónia – que não eram mais do que uma obra de alta engenharia, para a época, mandada executar pelo monarca para reforçar a aliança Medo-Babilónica pelo seu casamento com Amyitis, filha do rei Astíages; com este feito e de uma maneira engenhosa, fazia recordar à sua esposa as montanhas e a vegetação Persa onde fora criada e vivera, apesar de estar a viver agora numa região árida. Em síntese, para realçar as construções deste monarca recordaremos o que dele foi dito - “Babilónia e as grandes cidades do sul da Mesopotâmia, saídas das suas ruínas, atestam ao mundo o génio e o poder de um dos mais audaciosos construtores da antiguidade”.
Na própria sentença, curiosamente, encontramos o gérmen da esperança, visto que a árvore, apesar de ser duramente atingida, não morreria, sem que antes, aquele a quem ela representava, “reconhecesse que o céu reina” – v. 26b.

- o cumprimento da sentença (v. 31-33) – Apesar das advertências do profeta – v. 27 -, o rei fez tábua rasa dos conselhos do profeta continuando no seu obstinado orgulho. Um ano se passou - v. 29 - e sem grandes resultados à vista! Na realidade, o deus que está acima de todos os outros é o dele e não o do profeta Daniel.
À parte da explicação do sonho dada pelo profeta (v. 20-27), das palavras do rei (v. 30,34-37) e da ordem do ser celeste (v. 32), encontramos a narrativa de uma terceira pessoa, a qual descreve: “e comia erva como os bois”; “(…) até lhe cresceu pelo, como as penas da águia e as suas unhas como as das aves” – v. 33. Este facto denuncia claramente que se estava a passar algo com o rei e, nesta qualidade, este não podia falar. Atestava-se desta maneira o cumprimento da sentença anteriormente proferida visando castigar a altivez do monarca.
Após ter proferido aquelas palavras de exaltação própria – v. 30 – ouviu-se uma voz dizendo: - “passou de ti o reino e a tua morada será com os animais” – v. 31,32. No cumprimento desta ordem, o rei, de imediato, comporta-se como um animal, comendo, dormindo e pensando como um boi (v. 25). Quem diria! O super-homem da antiguidade torna-se animal!
A doença que afectou o rei, os entendidos chama-lhe: licantropia ou zoantropia. Sob este estado mental o doente imagina ser um animal e age nesta qualidade. A este propósito, o historiador Abideno (200 a. C.) refere que “estando Nabucodonozor no terraço do seu palácio sentiu-se invadido por um espírito de profecia (…); depois, desapareceu de repente da sociedade”. A arqueologia, por seu lado, atesta a existência de tal facto numas tabletes sob o número B. M. 34.113 que se encontram no Museu Britânico.
Esta era a anomalia e, segundo a profecia, esta teria a duração de “sete tempos” – v. 16,23,32. Esta doença não era simbólica mas desenrolava-se no tempo. A palavra traduzida por “tempos” deverá ser entendida por anos. Dizemos, desde já, que a mesma palavra a iremos encontrar mais à frente – Daniel 7.25, comparando com Apocalipse 12.14 – o que ajuda na compreensão da referida expressão. Esta interpretação de “anos literais” era naturalmente aceite, pelo menos algumas fontes o deixam claramente perceber ao referirem que: - “Algum tempo depois, este príncipe teve um outro sonho, no qual pareceu-lhe estar privado do seu reino e que tinha passado sete anos no deserto com os animais. (…). Este príncipe subiu ao trono depois de ter passado sete anos no deserto e acalmou a cólera de Deus através de uma tão grande penitência, sem que ninguém, durante este tempo, ousasse tomar o seu reino”.
No entanto existem alguns movimentos religiosos que crêem e ensinam que estes “sete tempos” não são literais mas, simbólicos, proféticos. Eis o seu raciocínio: - “Em Revelação (Apocalipse), capítulo 12, versículos 6 e 14, verificamos que 1.260 dias são iguais a “um tempo, e tempos (isto é, 2 tempos) e metade de um tempo”. Isto dá um total de 3 tempos e meio. Assim, “um tempo” seria igual a 360 dias/anos. Portanto, “sete tempos” seriam 7 vezes 360, ou 2.520 dias/anos. Agora, se fizermos cada dia valer um ano, segundo a regra bíblica, os “sete tempos” equivalem a 2.520 dias/anos. – Números 14.34; Ezequiel 4.6”.
Qual o critério que define o que deverá ser tomado no sentido literal ou simbólico? Nada mais que o conteúdo do texto em causa! Assim, se observarmos bem, o texto mostra-nos claramente que se trata de um período de tempo literal e não simbólico. Observemos, a este propósito, dois versículos capitais deste mesmo capítulo: 1- “todas estas coisas vieram sobre o rei Nabucodonozor” – v. 28; 2- “mas ao fim daqueles dias eu, Nabucodonozor (…)” – v. 34. Neste caso preciso, nada no texto permite uma interpretação simbólica da palavra “tempos” pois, se assim fosse estes “sete tempos” apontariam para um período alongado, tal como acima é referido - 2.520 anos, e não o que realmente deverá ser – 7 anos literais – nada mais! Porquê? A nosso ver, por três razões simples: 1- O contexto não permite esta interpretação; 2- biologicamente falando, o rei não teve uma longevidade de 2.520 anos, como facilmente se compreenderá! 3- Caso assim fosse, como alguns pretendem, estes dois versículos – v. 28 e 34 - não teriam qualquer sentido. O magno conselho de Deus, através dos Seus mensageiros é que mantenhamos a veracidade e pureza bíblicas e que não as adulteremos com conceitos e doutrinas meramente humanas.
Assim sendo, como claramente a Bíblia o afirma e assim é aceite, o período de demência/doença do rei, estendeu-se ao longo de sete anos literais.

II – A reabilitação (v. 34-37)

A reabilitação deste monarca abre com estas palavras maravilhosas: - “mas ao fim daqueles dias eu, Nabucodonozor levantei os meus olhos ao céu e tornou-me a vir o meu entendimento” – v. 34. Agora, após este lapso de tempo, o discurso já aparece na primeira pessoa – a do rei.
Agora o rei humilha-se. Ele que, no seu orgulho não reconhecia nada nem ninguém acima dele; agora, eleva os seus olhos aos céus e glorifica Deus falando da Sua majestade e soberania. O monarca está de tal maneira mudado que não hesita em dar o seu testemunho perante todos os seus súbditos e a fazer publicamente o relato da sua falta e, ao mesmo tempo, da sua humilhação. Este aceitou e submeteu-se a esta dura prova com submissão e Deus o restabeleceu no seu reino aumentando-lhe a sua glória – v. 36b.
Desta forma ele pôde dizer: - “Agora, eu louvo, eu exalto, eu glorifico o rei do céu (…) que pode humilhar os que andam na soberba” – v. 37. Qual o porquê de tal reviravolta? Por duas razões: 1- “todos os moradores da terra são reputados em nada (…). Não há quem possa estorvar a sua mão e lhe diga: - Que fazes” – v. 35; 2- “Porque todas as suas obras são verdade” – v. 37.
Na verdade aqui está o segredo da conversão e, consequentemente, da reabilitação. Para que o ser humano possa avançar é necessário que possa reconhecer quem é. E, na verdade quão difícil é conhecermos quem somos! À pergunta: - o que é a vida? - na Palavra de Deus, entre outras, encontramos a seguinte resposta: - “É um vapor que aparece por um pouco e, depois, desaparece” – Tiago 4.14. Se esta é a resposta para o conceito de vida, então, qual será então aquele que definirá o ser humano – o homem?
De novo, a Bíblia tem a resposta para esta pergunta: - “Que é o homem «enosch» [mortal] para que te lembres dele?” – Salmo 8.5. Aqui, no original não existe a palavra adicional de [mortal], pois aqui foi colocada pelo tradutor para reforçar a força da palavra que consta no original sob a conotação de “fraco, totalmente dependente”. Na realidade, quando nos apercebermos do quanto somos na realidade, então tudo muda na nossa vida. Sim, tal como o fez o apóstolo Paulo, ao declarar: - “Miserável homem que eu sou! quem me livrará desta morte?” – Romanos 7.24
Quando o ser humano, a exemplo deste monarca, reconhecer quem é, então tudo é possível, sim, tudo pode acontecer – o ser “uma nova criatura em Cristo Jesus” – II Coríntios 5.17 – aqui e agora, no nosso tempo – hoje!

segunda-feira, 28 de junho de 2010

O REINO: CONTADO, PESADO E DIVIDIDO (Dn. 5:1-31)

O capítulo anterior falou-nos, pela última, de Nabucodonozor na 1ª pessoa. Agora um outro capítulo da história de Babilónia se abre e se fecha na pessoa do rei Belsazar. Ao longo destes três últimos capítulos pudemos ver as grandes lições dadas por Deus ao grande rei Caldeu, visando unicamente o seu arrependimento, para que reconhecesse que só o grande Deus reina e que só Ele é o soberano incontestável sobre tudo o que existe. Sim, este foi o testemunho deste homem que aprendeu a deixar o orgulho de lado, reconhecendo que a criatura humana nada é, ao exclamar: - “Todos os moradores da terra são reputados em nada (…); não há quem possa estorvar a sua mão ou que lhe diga: - Que fazes?” – Daniel 4.35
O tema deste capítulo mostra-nos um triste exemplo de quem não quis aprender com as experiências do passado, permanecendo teimosamente no enaltecimento da criatura e dos deuses inertes. Este foi o rei Belsazar, figura principal do relato deste capítulo.

1- O rei
Na realidade, quem era ele? A menção do seu nome engrossa a lista das inúmeras questões, que abordámos na primeira lição, que contribuem para colocar em causa a veracidade do livro do profeta Daniel. Teçamos alguns comentários às dúvidas existentes sobre este nome.
Algumas vozes críticas, a este propósito, dizem: - “Não tenhamos medo de dizer que a Bíblia ”; logo depois, é citado o texto bíblico que diz: - “No primeiro ano de Baltasar (Belsazar), rei de Babilónia (…)” – Daniel 7.1 – para acrescentarem a informação de que “a história não conhece nenhum rei chamado Baltazar (Belsazar)”. 

Vejamos o que nos diz a História e a Arqueologia. O rei Nabucodonozor morre no ano 562 a. C., após um longo reinado de 43 anos. Em escassos cinco anos, três reis lhe irão suceder: 1- Awel-Marduk (562-560 a. C.); 2- Nergal-shar-usur (560-556 a. C.); 3- Labishi-Marduk (556 a. C.). É neste momento histórico que se encontra um dos mais turbados períodos da história de Babilónia, do qual se encontra algum eco no livro do profeta Daniel. É aqui que surge Nabonido (Nabu-na-id), chefe da conspiração que destrona Labishi-Marduk em 556 a. C.. Nabonido era filho do sacerdote Nabû-balât-su-iqbi e de uma sacerdotisa do culto do deus Sin (deus Lua) a Haran.
Devido a diversas posições no domínio religioso, Nabonido torna-se impopular e, em 548 a. C. abandona o poder, colocando interinamente no seu lugar o seu filho primogénito Belsazar (Bel-shar-usur) e vai viver para Teima. Perante o exposto pensamos que a crítica não tem qualquer fundamento.



2- O banquete

O texto bíblico abre com um banquete oferecido por Belsazar à sua corte. Qual a razão? Sabe-se que, o seu pai, Nabonido, no 17º ano do seu reinado, ou seja, no ano 539 a. C., volta a Babilónia, na tentativa de reconquistar a popularidade perdida como também para entronizar, definitivamente, o seu filho no trono de Babilónia.
Por outro lado, existe algo no texto que aguça a nossa curiosidade – a menção do álcool! Qual a razão da sua referência? Não estará normalmente associado à festa o álcool? Se sim, por que recordá-lo? Certamente, pensamos nós, para fazer passar alguma mensagem!
Na verdade, se consultarmos as Escrituras acerca do uso das bebibas alcoólicas, talvez aqui possamos encontrar algumas pistas! Recordemos, a título de exemplo, um texto dos citados, do sábio Salomão. Aqui é dado um conselho a um seu par – um monarca! Eis o conselho: - “Não é próprio dos reis beber vinho (…) para que não bebam e se esqueçam do estatuto e pervertam o juízo (…)” – Provérbios 31.4,5. Na verdade, neste estado de embriaguez, muitas coisas o rei e os seus esqueceram, como se verá mais adiante.
Uma delas é ter esquecido as experiências que Nabucodonozor tivera com o Deus dos deuses. Assim, para mostrar que os seus deuses continuavam a ser superiores ao Deus de Israel, lembrou-se de utilizar estes artefactos, não para o serviço de um qualquer templo de pedra, mas sim ao serviço do templo-carne – a sua pessoa – um simples mortal (cf. I Coríntios 3.16,17; 6.19; II Coríntios 6.16)! No cumprimento da ordem foram servidos “o rei, os seus grandes, as suas mulheres e concubinas” e o que tinha servido para louvar o Deus de Israel, agora era utilizado para dar louvor aos deuses de “ouro, prata, cobre, ferro de madeira e de pedra” – v. 2-4. A julgar pela quantidade dos utensílios profanados poderemos imaginar a envergadura do referido banquete, na medida em que, segundo a informação bíblica os artefactos trazidos de Jerusalém pelo rei, eram em número de “cinco mil e quatrocentos” – Esdras 1.11.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

A MÃO MISTERIOSA ESCREVE SENTEÇA CONTRA A IDOLATRIA

"Beberam vinho, e deram louvores aos deuses de ouro, e de prata, de bronze, de ferro, de madeira, e de pedra." Daniel 5:4

No auge de toda aquela orgia onde imperava mais o psíquico do que o racional, visto que “davam louvores aos deuses de ouro, prata, cobre, ferro, madeira e de prata” – v. 4. Na realidade, o homem, a coroa, a jóia da criação de Deus, só perdendo a razão ou o entendimento, é que poderá praticar tais actos! Mais à frente abordaremos outros aspectos desta mesma temática mas, para já, justificaremos a nossa afirmação citando o que as Escrituras, dizem acerca de quem os pratica. Assim se expressa o profeta: - “e nenhum deles (idólatras) toma isto a peito e já não têm conhecimento nem entendimento para dizer: - metade (da árvore), queimei-a no fogo e cozi pão sobre as suas brasas; assei sobre elas carne e a comi; faria eu do resto (da árvore) uma abominação? Ajoelhar-me-ia eu ao que saiu de uma árvore?” – Isaías 44.19.
Na verdade, só estando fora de si, deixando de estar no pleno uso das suas faculdades mentais é que tal procedimento poderá ser possível, pois tal conduta é, além de contrariarmos o 2º mandamento da Lei de Deus – Êxodo 20.3 – um insulto à inteligência humana! E, neste caso, a ajudar à festa está o seu companheiro inseparável – o álcool!
Assim, no melhor da festa, eis que, de repente, surge em cena “uns dedos de mão de homem e escreviam na estucada da parede do palácio real; e o rei via a parte da mão que estava escrevendo” – v.5
Uma mão que escreve! Na realidade, se imaginarmos, ainda que por momentos esta cena, deverá ter sido algo de indescritível a sua aparição e desempenho! Naquele momento os risos deram lugar a um silêncio sepulcral. Aquela mão que mexia e, além de escrever, irá instalar naquela sala e em todos os convivas nada mais do que o terror. A figura central do texto é o rei – a sua reacção perante o que se desenrolava naquele momento diante dos seus olhos!
O rei, todo ele era horror e medo. Para nos apercebermos dos efeitos desta mão no rei, lemos que: - “o rei mudou de cor (…) as juntas dos seus lombos se relaxaram e os seus joelhos bateram um no outro” – v. 6. Por outras palavras mais simples e menos púdicas, ousamos dizer que tal era o medo que o rei urinou pelas pernas abaixo! Sim, ele que era o maior responsável da revolta contra Deus. E, perante Aquele que ele tinha ousado desafiar, agora, estava paralisado de terror e de medo. E agora, que fazer? Espavorido, aos gritos, manda chamar, como hábito, os profissionais da magia. O prémio, esse, era tremendamente alto e apetecível – o terceiro lugar na administração do reino! – v. 7b. Mas, agora, uma vez mais e a exemplo do passado, estes profissionais da magia (Daniel 2.2,11; 4.7) não conseguem qualquer resultado – v. 8.
Este episódio da “mão que escreve” faz-nos recordar um outro episódio do passado que está relacionado com a ausência de Moisés durante 40 dias, com Deus, no monte Sinai – Êxodo 24.18 – onde outorgou ao Seu servo os 10 mandamentos escritos pelo próprio Deus – Êxodo 31.18. Mas, na base da montanha, na ausência do líder Moisés, o povo entregou-se à mais vil degradação e depravação – a idolatria. Chegaram ao limite da decadência e depravação ao ponto de se esquecerem do Deus que os libertou, para fazerem uma imagem em honra do deus egípcio Ápis (deus boi, FOTO), dizendo: - “Estes são os teus deuses, ó Israel, que te tiraram do Egipto” – Êxodo 32.3,8. Como se poderá ver, curiosamente, o contexto de depravação e rebaixamento de Deus é similar. Na realidade, para grandes males, grandes remédios!

quarta-feira, 23 de junho de 2010

A RAINHA PRUDENTE

Então o rei engrandeceu a Daniel, e lhe deu muitas e grandes dádivas, e o pôs por governador sobre toda a província de Babilônia, como também o fez chefe principal de todos os sábios de Babilónia. Daniel 2:48

Voltemos ao texto: - Na realidade, o rei deveria ter começado pela solução do problema, convocar aquele que melhor do que ninguém estaria à altura da resolução do mesmo, pois este tinha sido nomeado “principal governador de todos os sábios de Babilónia” – Daniel 2.48b – mas, devido à sua arrogância e orgulho próprio, não o fez! Assim, convocará os profissionais da magia e como estes não puderam ler a célebre escritura na parede, eis que intervém alguém que conhecia, perfeitamente bem, onde estava a solução do problema que tanto perturbava toda aquela gente.
Esta começa por recordar ao rei a experiência passado com o seu marido, ao dizer: - “há no teu reino um homem que tem o espírito dos deuses santos; e, nos dias de teu pai, o rei, o constituiu chefe dos magos, dos astrólogos, dos caldeus e dos adivinhos (…) ao qual o rei pôs o nome de Beltessazar” – v. 11,12b. (sublinhado nosso). Numa palavra – a rainha lembra ao monarca o quanto ele deliberadamente esqueceu - o profeta Daniel.

Mas, abramos aqui um breve parêntesis para abordarmos outra crítica ao livro do profeta Daniel. Esta refere que “as referências a diversos reis estão cheias de históricos. O rei Belsazar é filho de Nabónides e não de Nabucodonozor, como diz o texto”. 

Quem terá razão – a crítica ou o profeta Daniel? Na verdade, em termos biológicos, a rainha enganou-se, pois não era filho de Nabucodonozor mas de Nabonido, como vimos mais acima. Mas, teria sido um lapso de memória da rainha? Infelizmente não tem em conta o que a própria Bíblia, em particular, no Antigo Testamento, refere a este propósito!
Assim, reiteradas vezes, no Antigo Testamento, encontramos o hábito dos sucessores de um monarca importante, ao se referirem a ele, (aquele que está na origem desta monarquia), reiteram a sua filiação, sucessória e não biológica, ao apelidarem-no, carinhosamente, de “pai” - de todos os que lhe sucederam. Eis alguns casos bíblicos:

- Abiam é chamado filho de David (I Reis 15.3) – quando na realidade (geneticamente) é filho de Roboão (I Reis 14.31), consequentemente, neto de Salomão (I Reis 14.21), logo, bisneto de David!

- Asa é chamado filho de David (I Reis 15.11) - quando na realidade (geneticamente) é filho de Abiam (I Reis 15.8), consequentemente, neto de Roboão (I Reis 14.31), logo, bisneto de Salomão e trineto de David!

- Jeosafá é chamado filho de David (II Crónicas 17.3) - quando na realidade (geneticamente) é filho de Asa (I Reis 22.41), consequentemente, neto de Abiam (I Reis 15.8), logo, trineto de Salomão.

- Atila é chamada filha de Omri (II Reis 8.26) – quando na realidade (geneticamente) é filha de Acab (II Reis 8.18), consequentemente, neta de Omri (I Reis 16.28)!

Poderá o texto bíblico ser mais claro? Assim, o profeta Daniel não inventa ou erra quando fala sob o espírito de Deus.
Fechando o parêntesis: - Como poderia o rei esquecer, a não ser, deliberadamente, alguém que, não somente tinha um nome igual ao seu, (Daniel/Bel(t)essazar – Daniel 1,7; 4.8; 5.12 ; o rei /Belsazar [unicamente um (t) os separava], como também pelas altas funções que exercia no reino, pois não esqueçamos o título que tinha – “e o pôs por governador de toda a província de babilónia. (…) E Daniel estava às portas do rei” – Daniel 2.48,49.
Daniel, em face do conselho da rainha é obrigado a “recordar” o seu homónimo e chama-o à sua presença do rei. Mas, não deixa de ser interessante a maneira como o rei se dirige a Daniel: - “És tu aquele Daniel dos cativos de Judá?” – v. 13. Este tipo de “esquecimento” não é único nas Escrituras. O mesmo podemos ver, no passado, com o rei Saul em relação ao seu rival David! Saul, atacado pela doença, queria estar rodeado de alguém que fosse músico e este era o caso de David. Assim, a Bíblia refere que “Saul enviou mensageiros a Jessé dizendo: - envia-me David, teu filho” – I Samuel 16.19. E após uma boa experiência, o rei “mandou dizer a Jessé: - deixa estar David perante mim, pois achou graça aos meus olhos” – v. 22. Mas, depois do jovem David ter conseguido aquele êxito militar – matar o gigante Golias, o filisteu (I Samuel 17.1-10, 42-45,50) – e alcançar grande popularidade ao ponto de ofuscar a do rei, este último ao mandar chamá-lo à sua presença diz: - “De quem és filho, mancebo? E disse David: Filho de teu servo Jessé, belemita” – I Samuel 17.58. Compare-se esta pergunta com a do monarca de Babilónia – “És tu aquele Daniel dos cativos de Judá?” – Daniel 5.13; aqui, a exemplo do passado, o opositor é, conscientemente, esquecido por razões óbvias, não é verdade?!
Depois das apresentações feitas, de uma forma cínica diz: - “tenho ouvido dizer de ti que podes dar interpretações e solver dúvidas” – v. 16ª – continua, mas em tom de dúvida, a dizer: - “se puderes ler e fazer-me saber a sua interpretação, serás vestido de púrpura, terás um colar de ouro ao pescoço e no reino serás o terceiro dominador”- v. 16b (sublinhado nosso).
Este pequeno pormenor “terceiro dominador”, só reforça o quanto a este respeito já dissemos, ou seja, que Belsazar ocupava a posição de regente, em lugar do pai. Em conformidade com a posição que ocupava, não poderia, em abono da verdade, oferecer outra posição no reino a não ser a máxima, dentro das disponíveis, a que estava disponível – a 3ª posição! Ora vejamos: 1º- O monarca; 2º- O co-regente (Belsazar); 3º- Daniel.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

DANIEL E BELSAZAR OU A VERDADE E A MENTIRA

"Então respondeu Daniel, e disse na presença do rei: Os teus presentes fiquem contigo, e dá os teus prêmios a outro; todavia vou ler ao rei o escrito, e lhe farei saber a interpretação. O Altíssimo Deus, ó rei, deu a Nabucodonozor, teu pai, o reino e a grandeza, glória e majestade; e por causa da grandeza que lhe deu, todos os povos, nações, e línguas tremiam e temiam diante dele; a quem queria matava, e a quem queria conservava em vida; a quem queria exaltava, e a quem queria abatia. Mas quando o seu coração se elevou, e o seu espírito se endureceu para se haver arrogantemente, foi derrubado do seu trono real, e passou dele a sua glória. E foi expulso do meio dos filhos dos homens, e o seu coração foi feito semelhante aos dos animais, e a sua morada foi com os jumentos monteses; deram-lhe a comer erva como aos bois, e do orvalho do céu foi molhado o seu corpo, até que conheceu que o Altíssimo Deus tem domínio sobre o reino dos homens, e a quem quer constitui sobre ele. E tu, Belsazar, que és seu filho, não humilhaste o teu coração, ainda que soubeste tudo isso; porém te elevaste contra o Senhor do céu; pois foram trazidos a tua presença os vasos da casa dele, e tu, os teus grandes, as tua mulheres e as tuas concubinas, bebestes vinho neles; além disso, deste louvores aos deuses de prata, de ouro, de bronze, de ferro, de madeira e de pedra, que não vêem, não ouvem, nem sabem; mas a Deus, em cuja mão está a tua vida, e de quem são todos os teus caminhos, a ele não glorificaste." Daniel 5:17-23.

Agora acontece o que o rei mais temia – a presença de Daniel/Beltessazar! A verdade perante a mentira e a depravação é como um espinho na carne e convém evitá-la a todo o custo. Agora, o monarca tinha chegado a um verdadeiro beco sem saída. Na verdade o procedimento do rei é tipicamente humano, ou seja, estar de acordo com o adágio popular – “lembramo-nos de Santa Bárbara, unicamente quando troveja”! Quando os juízos de Deus se fazem presentes, mais cedo ou mais tarde, a falsa segurança humana dá lugar, inevitavelmente, ao terror. Só na dificuldade e na impossibilidade de encontrar uma solução para aquele enigma diante de si e dos seus é que se vê obrigado a convocar o profeta.
Mas, antes de cumprir a missão para a qual fora chamado, o profeta toma a liberdade de lhe ministrar um verdadeiro “estudo bíblico”, o qual se encontra do v. 17-24.
Não esqueçamos que estamos no ano 539 a. C., isto é, que o profeta Daniel terá nesta altura cerca de 85 anos de idade. A idade e o respeito granjeado até então lhe tinham dado um grande estatuto na corte ao ponto de poder dirigir-se ao rei desta maneira, ao rejeitar o seu aliciante presente, em termos humanos: - “Os teu dons fiquem contigo e dá os teus presentes a outro” – v. 17. Qual a razão provável desta resposta? A sua idade? O seu estatuto? Claro que não, pela simples razão que a verdade não tem preço; o profeta não fez mais do que seguir o conselho do sábio Salomão: - “compra a verdade e não a vendas” – Provérbio 23.23. Por outro lado, esta verdade também tinha outra realidade – que a vida deste homem iria desaparecer e os seus dons terrenos, não passavam daqui, desta terra, daquilo que é efémero e fugaz!
Assim, antes de ler e interpretar a escritura na parede irá falar ao rei acerca do quanto deveria ter feito e não o fez! Belsazar tivera certamente muitas oportunidades de conhecer e fazer a vontade de Deus. Ele vira o seu avô Nabucodonozor ser banido do convívio das pessoas. Ele testemunhara o intelecto no qual se vangloriava o orgulhoso monarca e como lhe fora retirado por Aquele que o tinha concedido. Ele vira o seu avô ser afastado do reino e tornar-se companheiro dos animais do campo. Ele conhecia onde se encontrava a verdade e quem a poderia ministrar mas, em vez disso, preferiu afastar-se e recusar humilhar-se dedicando-se aos divertimentos e à glorificação do eu, apagando, desta forma, as lições que nunca deveria ter esquecido.
Este monarca desperdiçou as oportunidades que tão graciosamente lhe foram concedidas para se familiarizar com a verdade. Por estas razões, o profeta começa por lhe recordar a história do grande Nabucodonozor e como este fora humilhado ao longo daqueles sete anos, até que reconhecesse que só o Altíssimo reina – v. 20,21. E vai directo ao assunto dizendo ao rei “não humilhaste o teu coração ainda que soubeste tudo isto” – v. 22.
E, para finalizar o profeta acrescenta: - “E te levantas-te contra o Senhor do céu (…). Além disto, deste louvores aos deuses de prata, ouro, cobre, ferro, madeira e de pedra, que não vêem, não ouvem, nem sabem; mas a Deus, em cuja mão está a tua vida e todos os teus caminhos, a ele não glorificaste. Então dele foi enviada aquela parte de mão” – v. 23.
Na realidade, tal como diz a Escritura “Horrenda coisa é cair nas mãos do Deus vivo” – Hebreus 10.31 – ou ainda “Porque o nosso Deus é um fogo consumidor” – Hebreus 12.29. Que palavras amargas.
Já vimos que, todo aquele que adora algo a não ser o Deus Criador, em primeiro lugar, está a desrespeitar o 2º mandamento da Lei de Deus – Êxodo 20. 1-17; em segundo lugar está a atentar, pela segunda vez contra Deus, pois está a pôr em causa a inteligência por Ele dada a todo o ser humano! Se este adorar um objecto inerte que inteligência demonstrará? Nenhuma, não é verdade! Por esta atitude desprovida de senso, está a demonstrar que Deus não existe! A todo aquele que assim procede, as Escrituras só têm um nome para o qualificar, ou seja: tolo, néscio – cf. Salmo 10.4; 14.1; 53.1- isto é, desprovido de inteligência!
A este propósito, abramos aqui um parêntesis para que possamos ver um ou outro pormenor:

* Ídolos
Afinal, que lição queria dar o profeta ao ter dito: - “(…) deste louvores aos deuses de prata, ouro, cobre, ferro, madeira e de pedra, que não vêem, não ouvem, nada sabem (…) “ – v. 23? Será esta chamada de atenção válida para os nossos dias? Que dizem e pensam, hoje, aqueles que continuam a praticar tais actos que o profeta denuncia? Ora vejamos uma opinião deveras curiosa: - “A liturgia politeísta estava cheia de estátuas de deuses e deusas; por isso não admira o alerta constante da Bíblia para tal perigo. Mas é esta a doutrina da Igreja Católica em relação às imagens do culto católico? De modo algum. (…), só adoramos a Deus e mais ninguém. (…). As imagens, sejam elas da Virgem Maria ou dos Santos, têm tão-somente um valor de mediação ou de exemplaridade. Como humanos precisamos de sinais, de significantes e significados. (…). Se eu olho para uma imagem ou pintura da Mãe do Senhor Jesus Cristo, lhe ofereço flores, incenso, cânticos, procissões, etc., não estou contra a Bíblia que proíbe apenas as imagens dos deuses ou de seres terrenos (animais, aves), humanos e celestes (sol, lua, estrelas) que eram adorados, pois continuo a ser monoteísta, a adorar apenas a Deus, embora venere a Mãe do Senhor Jesus, nosso Salvador”.
Acerca desta citação iremos tecer algumas considerações:

* As imagens
- Na realidade, o culto das imagens é um fenómeno humano. Começaremos por comentar a citação acima: - “Como humanos precisamos de sinais, de significantes e significados”. Recordamos que estas palavras nada têm de novo! Esta explicação faz-nos recordar as célebres palavras de Madame Sevigné quando exclamou: - “Adensai-me a religião senão evapora-se toda”.
Na realidade que quererão dizer estas palavras? Nada mais demonstram a não ser pouca fé. Para a consolidar, o ser humano precisa de “sinais, de significantes”! Na realidade, de que tipo é a nossa fé para que só O possamos adorar através de um objecto de mediação? Aliás, desde logo, se estivermos a ver a representação de quem dizemos crer, ainda que esta fosse real, perguntamos: - onde estará a tal dita fé?

- Depois, é dito que: - “Se eu olho para uma imagem ou pintura da Mãe do Senhor Jesus Cristo, lhe ofereço flores, incenso, cânticos, procissões, etc., não estou contra a Bíblia que proíbe apenas as imagens dos deuses ou de seres terrenos (animais, aves), humanos e celestes (sol, lua, estrelas) que eram adorados, pois continuo a ser monoteísta, a adorar apenas a Deus, embora venere a Mãe do Senhor Jesus, nosso Salvador”. O que quererá isto dizer?
Qual será a diferença entre “adorar” e “venerar”? Mas perguntemos a quem sabe. Somos informados que: Adorar é: prestar culto à divindade; Venerar é: reverenciar, tratar com respeito.
Na mente do adorador, onde está a diferença? Na verdade, só se for nas palavras e não em mais lado nenhum! Depois, é dito que à mãe do Senhor Jesus Cristo é oferecido “incenso, cânticos e procissões”. Mas qual é a diferença disto e do quanto è atestado e condenado pelas Escrituras? Ouçamos o profeta Jeremias 44.17, quando denunciava estas mesmas práticas do antigo Israel: - “(…) queimando incenso à rainha dos céus e oferecendo-lhe libações (…)”; ou ainda “o Senhor não podia por mais tempo sofrer a maldade das vossas acções, as abominações que cometestes” – v. 22
Haverá muita dissemelhança entre a personagem deste texto bíblico e a que se refere e o que nos é revelado no Catecismo? Ora vejamos: - “Por isso, a Virgem é invocada na Igreja com os títulos de advogada, auxiliadora, socorro e medianeira”. Não contraria esta afirmação a ordem das Escrituras? Ora vejamos, quem é o único “mediador” entre nós e Deus. O apóstolo Paulo esclarece-nos “Porque há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem” – I Timóteo 2.5. Quem terá razão? O apóstolo ou o Catecismo? Ou ainda “a santíssima Virgem é, desde os tempos mais antigos, honrada com o título de ”. Que diferença haverá entre este título e o de “rainha dos céus”? Em abono da verdade dizemos: - nenhuma!
O autor fala ainda em “procissões”! Ora vejamos o que diz as Escrituras a este respeito: - “nada sabem os que conduzem em procissão as suas imagens de escultura feitas de madeira e rogam a um deus que não pode salvar” – Isaías 45.20; ou “Com prata e ouro o enfeitam ; com pregos e com martelos o firmam para que não se mova. São como a palmeira, obra torneada, mas não podem falar, necessitam quem os leve, porquanto não podem andar” – Jeremias 10.4,5. Que diferença existe entre a idolatria do antigo Israel e a de hoje?
- Acerca da estatuária, mesmo por muito perfeita que seja a imagem que representem, as Escrituras ainda referem que: - “têm boca e não falam (…) nem som algum sai da sua garganta” – Salmo 115.5,7. Apesar de ser uma imagem perfeita e de altíssima qualidade de execução está isenta de vida! Qual a diferença destes e de Deus? É enorme, como facilmente se compreenderá. E porquê? As Escrituras dão-nos a conhecer a grande diferença, nestes termos: - “Pela palavra do Senhor foram feitos os céus e todo o exército deles pelo espírito da sua boca. (…). Porque falou e tudo se fez; mandou e logo tudo apareceu” – Salmo 33.6,9. Para Deus não há qualquer diferença entre o dizer e o criar. Assim “para designar o que não existe, a língua hebraica dirá simplesmente – lô dabar (não palavra) – ou empregar um dos muitos termos que significam: vazio, sem conteúdo, sem força, sem eficácia. O ídolo de madeira é uma mentira porque ele não pode salvar” – cf. Isaías 45.20
Em conclusão, só a Deus, segundo as Escrituras, se pode e deve venerar e adorar. Tudo o resto não passa de uma abominação ao Senhor.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

AS LETRAS MISTERIOSAS EM DANIEL 5

Você conhece o capítulo 5 de Daniel? É uma parte da Bíblia assombrosa! O comentário que se segue foi escrito pelo Dr. Ilidio Carvalho, ficará impressionado com a magnifica exposição.

Agora o profeta Daniel irá, finalmente, justificar a razão da sua presença ali. No final da sua admoestação recordou: - “(…) mas a Deus, em cuja mão está a tua vida e todos os teus caminhos, a ele não glorificaste. Então dele foi enviada aquela parte de mão” – v. 23
Qual a mensagem escrita por esta mão através das palavras: MENE - (contado, numerado) – porque os dias do reinado de Belsazar tinham sido numerados e Deus decidira que tinha chegado o tempo de dizer: - basta! TEKEL – (pesado) – a vida e os actos do monarca estavam a ser colocados num dos pratos da balança, enquanto que no outro estava a lei de Deus. O prato do rei, infelizmente, tinha sido achado em falta; - PERES/FARSIN- (separado) – o reino do monarca ia ser dividido e dado aos Medo-Persas - (v. 25-28). A missão estava cumprida, agora faltava o rei cumprir a sua palavra, proclamando Daniel como sendo o terceiro dominador do reino – v. 29.
O relato bíblico em causa - v. 30 - refere que naquela mesma noite Babilónia cai nas mãos da coligação Medo-Persa. Efectivamente, os dias de Babilónia estavam contados e, esta cai nas mãos do rei Persa Ciro no mês de Setembro/Outubro de 539 a. C.
No entanto, no v. 31, refere que “Dario, o Medo, ocupou o reino”. Quem era este Dario, se a História e a Bíblia (Isaías 45.1) referem o nome de Ciro? Em termos arqueológicos está atestado que quem tomou Babilónia foi um tal Gobrias, governador de Gutium, acompanhado pelos exércitos de Ciro. Visando a resolução deste aparente enigma, os especialistas referem que “o nome de Dário é um título honorífico e que  Gobrias o poderia ter tomado como nome de reinado”.
E a queda de Babilónia teve lugar. Cumpriu-se a queda da Babilónia literal como se cumprirá a queda da simbólica. Curiosamente, ambas têm algo em comum – ambas causam grande alegria e júbilo no universo; a literal - Jeremias 51.48; a simbólica – Apocalipse 18.20
Deus, no passado quis curar esta cidade, mas “ela não sarou” – Jeremias 51.9. Como consequência, Deus irá pronunciar-se contra ela. Assim, ainda quando Babilónia estava no auge do seu poderio, em 594/593 a. C., ou seja “no 4º ano de Zedequias” - Jeremias 51.59 – o profeta encarrega Seraías de ler o rolo onde se encontrava escrita este oráculo, profecia, inerente à queda de Babilónia - o que aconteceria cerca de 55 anos mais tarde, ou seja, em 539 a. C!.
As palavras do Senhor que o profeta mandou ler em Babilónia foram:

- “A palavra que falou o Senhor contra Babilónia” – Jer. 50.1
- “Fugi do meio de babilónia (…) porque eu suscitarei e farei subir contra Babilónia uma congregação de grandes nações da terra do norte” – v. 8,9; 51.6,45
- “Por causa do furor do Senhor não será habitada, antes se tornará assolação (…) porque pecou contra o Senhor” – 50.13,14b
- “Por isso habitarão nela as feras do deserto (…) e nunca mais será povoada, nem será habitada de geração em geração” – v. 39,40

Seraías após ter acabado a leitura do quanto acabámos de referir – Jeremias 51.61 –, deveria, em seguida, atá-lo a uma pedra e o lançar no meio do rio Eufrates, segundo a ordem do profeta - Jeremias 51.63. Como consequência lógica, ambas as peças se afundaram. Depois deste gesto ainda deveria de dizer categoricamente: - “Assim será afundada Babilónia e não se levantará “ – v. 64.
Na verdade, quando nada faria supor pois encontrava-se no auge do seu poder, fora dito a Babilónia que desapareceria. Quem diria que, cerca de 55 anos depois se cumpririam, literalmente, estas palavras!
Na realidade, que grandioso Deus é o nosso Deus. A Ele seja dado todo o louvor.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

A LUTA DE DANIEL PARA MANTER A ADORAÇÃO AO DEUS DO CÉU

Daniel 6
Estamos perante o último capítulo narrativo do livro do profeta Daniel, o qual também apresenta o fim de uma progressão de acontecimentos que visavam a qualificação do profeta para o que Deus lhe reservava.
Na realidade, este capítulo marca o fim das tentativas levadas a cabo por Satanás para que o profeta não estivesse qualificado para o quanto Deus tinha para anunciar à humanidade nos capítulos que se seguem e que compõem a secção profética. Assim, recapitulemos os precedentes capítulos: no 1º, encontramos a prova da comida consagrada aos ídolos, a qual foi rejeitada. No 2º, Daniel é, por arrastamento com todos os magos, os encantadores e os adivinhos da corte babilónica, condenado à morte. No 3º, os amigos de Daniel são postos à prova, em relação à adoração daquela grande estátua que representava o rei, permanecendo firmes na sua fé. No 4º, a soberania de Deus é vindicada. No 5º, o anúncio final de Babilónia literal; No estudo de hoje, veremos a derradeira prova passada pelo profeta para manter intacta a sua adoração unicamente a Deus, ainda que para tal arrisque a sua vida. Na realidade, o tema de hoje é, diremos nós, a matriz do quanto, posteriormente, nos admoestam as Escrituras: - “Sede sóbrios; vigiai; porque o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como um leão, buscando a quem possa tragar” – I Pedro 5.8.

I- O rei
O relato bíblico dá-nos que, Dário, o Medo, o novo ocupante do trono de Babilónia, tem 62 anos – Daniel 5.31. Muito se tem debatido acerca da sua verdadeira identidade, no entanto, segundo o historiador Judeu Flávio Josefo, revela que a este rei “os Gregos dão outro nome” , nome que, segundo alguns, poderá ser Gubaru, o governador de Gutium e também de Babilónia. O detalhe da menção da sua idade, segundo o texto bíblico, dá-nos a conhecer um homem maduro e com bastante sentido de liderança. Este, para uma melhor administração do reino irá nomear 120 sátrapas.

II- Os administrativos
O rei, segundo o texto bíblico, irá nomear para a chefia destes sátrapas, três outros príncipes, dos quais Daniel fazia parte. Em relação a estes últimos, o rei pensou em Daniel para “constituí-lo sobre todo o reino” – Daniel 6.2,3.
Na realidade, onde existir o ser humano, o germe da discórdia poderá acontecer por diversas razões. O texto em lide revela-nos que os colegas de Daniel começaram a nutrir sentimentos menos próprios a seu respeito. Um deles – a inveja. Daniel tinha sido recompensado pela sua fidelidade e a sua posição hierárquica era superior à dos outros. A segunda - a hostilidade. Esta é igual à que os injustos sentem contra os justos. Anteriormente, nas Escrituras, podemos ver um exemplo desta mesma situação – os irmãos de José o detestavam porque ele não era como eles – cf. Génesis 37.2-4
No entanto, o texto em causa mostra-nos perfeitamente a causa do desagrado dos irmãos de José a seu respeito, assim como o de Daniel, em relação as seus correligionários. Ora vejamos:

a) Daniel - a nomeação destes diferentes governadores e respectivos príncipes acima destes, dos quais Daniel era o mais importante, visava unicamente o bem-estar do rei – “para que o rei não sofresse dano” – Daniel 6.2b. Naquela elevada posição, a tentação de se apropriar de poderes e afins, para os quais não tinham sido autorizados, estava sempre presente. E, acima deles estava o incorrupto Daniel!

b) José - No texto inerente à pessoa de José, podemos encontrar, de igual modo, o mesmo ambiente, muito embora em circunstâncias diferentes. Nestes versículos citados, encontramos uma das razões dó ódio que os seus irmãos nutriam por ele. Porquê? Porque contava ao seu pai o que se passava com os seus irmãos – tal como nos é dito: - “José trazia uma má fama deles a seu pai” – Gén. 37.2b. Portanto, quem gosta que acerca de si se digam verdades, quando estas falam contra nós? Ninguém!

Ora, quem não é por nós é contra nós; nesta qualidade, nada há a fazer a não ser eliminar o obstáculo – o bem. Estes, na corte de Babilónia, irão tentar colocar em prática um plano visando a desgraça de Daniel. Mas como fazê-lo? Estes olhavam para ele mas “não podiam achar ocasião ou culpa alguma; porque ele era fiel e não se achava nele nenhum vício nem culpa” – v. 4. Que perfil! Mas quem era Daniel? Um deus ou um ser humano que, um dia, como veremos mais adiante, simplesmente, nascera de novo? Na realidade não passava de um homem, um simples mortal, como os demais. A este propósito, certa vez, uma multidão quis divinizar Paulo, chamando-o pelo nome do deus pagão Mercúrio, e a Barnabé o de Júpiter – Actos 14.12. Sem qualquer hesitação, estes disseram, corrigindo tal intenção: - “Varões, por que fazeis estas coisas? Nós também somos homens como vós, sujeitos às mesmas paixões (…)” – v. 15; Tiago 5.17.
Portanto, a exemplo dos demais, tanto Daniel no passado, como Paulo e Barnabé, não passavam de simples seres humanos, tal como qualquer um de nós, nada mais.

III- A subtil mentira
Como não podia acusá-lo fosse do que fosse e como o seu pérfido propósito era anular Daniel, pensaram em algo que corresponderia ao que tanto desejavam – que o profeta caísse em desgraça perante o rei.
Em termos humanos nada existia que maculasse este homem, a não ser que lhe toquemos em algo que este nunca abdicará – a sua fidelidade para com o seu Deus. Na realidade, foi assim que pensaram ao reconhecerem que “nunca acharemos ocasião alguma contra este Daniel, se não a procurarmos contra ele na lei do seu Deus” – v. 5. Que testemunho da verdade! É desta forma que Deus justifica os Seus servos e obriga o mundo, contra a sua vontade, a dar-lhes testemunho.
Se bem pensaram, melhor irão fazê-lo. Sabiam que todos os homens têm um preço – ou da sua fé, ou da sua bajulação. E, cientes destes dois parâmetros vão aliciar o rei usando o segundo estratagema – a bajulação humana! Estes irão agir hipocritamente lisonjeando a pessoa do rei; e, sob o pretexto de reforçar a sua autoridade e, sem que o rei se apercebesse do que estava em causa, consegue arrancar do monarca um decreto que tem como substrato o tema da – adoração – ligada à sua religião!
O teor do decreto era “qualquer que, por um espaço de trinta dias fizer uma petição a qualquer deus, ou a qualquer homem e não a ti, ó rei, seja lançado na cova dos leões” – v. 7. O decreto fora assinado pelo rei. E o que iria acontecer agora com Daniel? As Sagradas Escrituras revelam-nos que o profeta “quando soube que a escritura estava assinada, entrou em sua casa e, como antes costumava fazer, de joelhos, orava e dava graças, diante do seu Deus, três vezes no dia” – v. 10. Iria fraquejar? Tanto no passado, como no presente, o conselho, a admoestação é a mesma que fora dada a este homem de Deus, ou seja “a perseverança na oração é uma necessidade; que nada se interponha entre vós e este dever”. Na realidade nada tinha mudado na vida deste homem fiel em relação ao seu Deus.
O profeta não se escondeu para continuar a orar ao seu Deus, pois “havia no seu quarto janelas abertas” – v. 10. Daniel sabia o que era a oração: 1- para o profeta, “orar, é abrir a Deus o seu coração como se faria a um amigo mais íntimo”; 2- por outro lado ao reconhecer que nada era sem o auxílio de Deus e buscava-o através deste meio por que “a oração é, na mão da fé, a chave que abre os tesouros do céu onde estão os recursos infinitos do Todo-Poderoso”. A constância deste servo de Deus será denunciada ao rei, visto que tal postura era contrária ao que estava lavrado no decreto, sob estas palavras: - “Daniel, que é um dos transportados de Judá, não tem feito caso de ti, ó rei, nem do édito que assinaste, antes três vezes por dia faz a sua oração” – v. 13. Já, no passado recente, desta vez com os amigos de Daniel – no episódio da fornalha ardente – os que os denunciaram têm, curiosamente, a mesma fraseologia: - “Há uns homens judeus que tu constituíste sobre os negócios da província de Babilónia (…); estes homens, ó rei, não fizeram caso de ti; a teus deuses não servem, nem à estátua de ouro que levantaste, adoram” – Daniel 3.12. Como a história se repetiu no passado, de igual modo se repetirá no futuro, “e foi-lhe concedido que desse espírito à imagem da besta para que também a imagem da besta falasse, e fizesse que fossem mortos todos os que não adorassem a imagem da besta” - Apocalipse 13.15. Repetimos, aqui, tal como no passado, o contexto é o mesmo – a adoração unicamente ao verdadeiro Deus!


IV- O rei
Em função desta denúncia é que o monarca se apercebe do quanto estava, não somente na mente dos seus pérfidos cortesãos como também na base daquele édito real – não a sua real e elevada pessoa, mas o aniquilamento do indesejável e incorrupto transportado de Judá - Daniel!
Este tentará tudo por tudo para revogar a sua própria lei, mas sem sucesso – v. 14! Na realidade, os seus decretos eram infalíveis e irrevogáveis, tal como se encontra noutro texto do Antigo Testamento – “a escritura que se escreve em nome do rei e se sela com o anel do rei, não é para revogar” – Ester 8.8.
Assim é, todas as vezes que o homem se diviniza. A pretensão humana à infalibilidade é, ainda hoje, um dos maiores obstáculos à liberdade cristã e ao desenvolvimento espiritual. A este propósito, que nos seja permitido abrir um pequeno parêntesis acerca da pretensão de um poder – Roma papal - que, nos capítulos a seguir, como veremos, o profeta denunciará:
- A 20 de Junho de 1868, pela bula Aeterni Patris é convocado um Concílio – o Vaticano I – que funcionou de 08 de Dezembro de 1869 a 20 de Outubro de 1870. Este Concílio, o da supremacia da autoridade papal sobre os bispos, irá culminar na afirmação de que, ao papa pertence a última interpretação da Tradição e das Escrituras! Este pode, desta forma, proclamar com toda a legitimidade um dogma na qualidade de – Vicarius Christi (Vigário de Cristo) – nesta Terra! O papa, ciente do seu poder, irá aprovar o polémico decreto que consagra a famosa – infalibilidade – do Sumo Pontífice Romano, ou seja, a sua!
Finalmente, mas sem unanimidade, este último dogma é aprovado como sendo oriundo de Deus! Eis o seu articulado: - “Apresentamos e definimos como dogma divinamente revelado: que quando o Pontífice Romano falar – ex cathedra – isto é, quando, excedendo o seu cargo de Pastor e de Doutor de todos os cristãos, ele defina, em virtude da sua suprema autoridade apostólica, se uma doutrina sobre a fé ou sobre os costumes deve ser seguida pela Igreja Universal, está dotado pela assistência divina prometida na pessoa do bem-aventurado Pedro, desta infalibilidade de que o divino Redentor quis que a Sua Igreja fosse provida, definindo uma doutrina sobre a fé ou sobre os costumes; e, por consequência, que tais definições do Pontífice Romano são irreformáveis por si próprias e não em virtude do consentimento da Igreja”.
O rei nada mais pode fazer a não ser inclinar-se perante a lei que ele próprio promulgara e, com tristeza ordena o cumprimento da lei. Dário mostra respeito e interesse pelo Deus de quem Daniel era servo, ao qual chama de “Deus vivo” – v. 20. Ele sabe por que razão o profeta desobedece à sua ordem, visto que, ao mandar executar a sentença declarou: - “O teu Deus, a quem tu continuamente serves, ele te livrará” – v. 16. De novo Deus é colocado no Seu único lugar – o 1º na nossa vida. O mesmo, mais tarde, ao ser ameaçado pelas autoridades religiosas do Sinédrio, para não evangelizar no nome de Jesus, Pedro responderá: - “(…). Mais importa obedecer a Deus do que aos homens” – Actos 5.28,29.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

DANIEL ENTRE OS LEÕES

"16 Então o rei deu ordem, e trouxeram Daniel, e o lançaram na cova dos leões. Ora, disse o rei a Daniel: O teu Deus, a quem tu continuamente serves, ele te livrará.

17 E uma pedra foi trazida e posta sobre a boca da cova; e o rei a selou com o seu anel e com o anel dos seus grandes, para que no tocante a Daniel nada se mudasse:

18 Depois o rei se dirigiu para o seu palácio, e passou a noite em jejum; e não foram trazidos à sua presença instrumentos de música, e fugiu dele o sono." Daniel 6:16-18

O final de tudo tinha, finalmente, chegado para Daniel. Assim pensaram os seus inimigos; na verdade, que ser humano poderia sair dali vivo?
Daniel foi lançado na fossa dos leões – v. 16. A tampa da fossa fora selada com o sinete real. No entanto este gesto poderá ser visto de duas maneiras: 1- para o rei – a garantia de que, a ser morto, não o seria por outro meio; 2- para os seus inimigos – a certeza absoluta de que não haveria nenhuma tentativa para o salvar. Assim, era só aguardar o fim!
Aquela noite foi longa para o rei pois “fugiu dele o sono” – v. 18b. E logo que a manhã chegou, o seu primeiro pensamento foi directamente para Daniel. Como é que ele estaria? E, sem hesitar, dirige-se para o local e com uma voz triste, segundo o relato bíblico, pergunta: - “dar-se-ia o caso que o teu Deus a quem tu continuamente serves, tenha podido livrar-te dos leões?” – v. 20. Para o profeta, como homem, poderia haver uma certa apreensão devido aquela tensa situação. Mas, Daniel conhecia plenamente o Deus que servia.
Não esqueçamos que, após o profeta ter conhecimento de que o édito real estava assinado – v. 10ª – ele procedeu como sempre o fizera até então –orava ao seu Deus. E foi no cumprimento deste nobre encontro diário com o Deus vivo que os seus inimigos o encontraram e assim tivessem razões para o denunciarem ao rei – como o fizeram sem demora. Mas, qual era o teor da conversa do profeta com o seu Deus? O texto revela-nos que - Daniel orava e suplicava perante o seu Deus. Que sublime relacionamento com a única fonte de todo o poder. Que suplicava este homem de Deus? Daniel conhecia as Escrituras que lhe diziam: - “Porque eu sei que o meu Redentor vive” – Job 19.25; ou ainda a esperança contida nas palavras do salmista: - “Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente na angústia. Pelo que não temeremos ainda que a terra se mude e ainda que os montes se transportem para o meio dos mares. Ainda que as águas rujam e se perturbem; ainda que os montes se abalem pela sua braveza” – Salmo 46.1-3. Na realidade, para aquele momento de crise, Deus também tinha uma palavra de conforto para o Seu servo: - “O anjo do Senhor acampa-se ao redor dos que o temem e os livra” – Salmo 34.7.
Por que temer? Deus proveria a melhor solução, mesmo ainda que esta pudesse ser, aparentemente, desagradável ao homem Daniel – cf. Daniel 3.17,18. O tempo foi passando e, ao raiar do dia, perante a pergunta do rei – v. 20 - Daniel faz ouvir a sua voz, dizendo: - “O meu Deus enviou o seu anjo e fechou a boca dos leões porque foi achada em mim inocência diante dele e também contra ti, ó rei, não tenho cometido delito algum” – v. 21,22.
Eis o calibre, a têmpera deste servo de Deus. Eis o patamar onde se encontram todos aqueles que, na realidade nascem de novo em espírito e em verdade. O que é que sempre esteve, não só neste momento tão delicado mas, na base de toda a sua vida? Ora vejamos: - o texto bíblico o refere: - “porque crera no seu Deus” – 23b. É este o ingrediente genuíno – fé - que deverá sempre existir entre o crente e Deus, caso contrário, o apóstolo Tiago nos revela que: - “não pense tal homem que receberá do Senhor alguma coisa” – Tiago 1.5-7.
Abramos um pequeno parêntesis para abordarmos, um pouco, a fé. Numa primeira abordagem o que é que ela significa? Desde já, como alguém referiu, ela não é “um acto irracional, um consentimento dissociado da razão. Esta é, ao contrário, a aderência da inteligência à própria verdade”. Na realidade, só desta forma se poderá ver e compreender o quanto Tiago nos quis transmitir ao dizer: - “Tu crês que há um só Deus; fazes bem. Também os demónios o crêem e estremecem” – Tiago 2.19. A fé é, desde logo, algo mais do que estar de acordo com alguém, ou do que uma simples adesão sentimental passageira; em relação a Deus, esta significa “uma adesão total ao seu ser, convicção, confiança e comunhão”. Fechando o parêntesis.
E nos nossos dias? Será diferente? Será que a compreensão da palavra fé é diferente? Se tal for o caso, então o que dizemos sentir, nada significa para Deus. E da parte de Deus, será que Ele mudou de planos a respeito do suplicante? Vejamos, a este respeito, o que nos diz S. Paulo na fase final da sua vida: - “porque eu sei em quem tenho crido e estou certo de que é poderoso para guardar o meu depósito até aquele dia” – II Timóteo 1.12; 4.6-8. Aqui temos, depois de tantos séculos, o mesmo Deus, a mesmíssima esperança para todos os crentes de todas as épocas.
Voltando ao texto: - depois de ouvir a voz de Daniel, o rei ordena, de imediato, que sejam trazidos à sua presença aqueles que o incentivaram à feitura daquele pérfida lei e os manda lançar na fossa que eles arquitectaram – v. 24. Cumpriu-se, de certa forma, o que o sábio dissera: - “o que faz uma cova nela caírá” – Provérbios 26.27. Assim que entraram na cova os leões fizeram o seu trabalho – v. 24. Tudo isto não é mais do que o cumprimento de outra advertência das Escrituras: - “eis que pecastes contra o Senhor; porém, sentireis o vosso pecado, quando vos achar” – Números 32.23.