quarta-feira, 28 de abril de 2010

O 3º DOGMA - IMACULADA CONCEIÇÃO DE MARIA

Este dogma é proclamado em 08 de Dezembro de 1854 pelo papa Pio IX (1846-1878), na bula papal Ineffabilis Deus, em que na qual refere que: - “A bem-aventurada Virgem Maria foi, no primeiro instante da sua Conceição, por uma graça e favor singular de Deus omnipotente, em previsão dos méritos de Jesus Cristo, salvador do género humano, preservada intacta de toda a mancha do pecado original”.
Para que o leitor possa ter uma ideia da forte personalidade e consequente autoridade pessoal deste pontífice, em 1866, assim se expressou: “só eu sou o sucessor dos apóstolos, o Vigário de Jesus Cristo; só eu tenho a missão de conduzir e de dirigir a barca de S. Pedro; eu sou o caminho, a verdade e a vida. Aqueles que estão comigo, estão com a Igreja, aqueles que não estão comigo estão fora da Igreja, estão fora do caminho, da verdade e da vida”. Na verdade, só Jesus disse estas palavras acerca de si mesmo, nunca inerentes ao próprio homem: “Disse-lhe Jesus: «Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida»” – S. João 14:6. Que ilações tirar destas pretensões pontifícias?
Antes de tecermos alguns comentários a esta secção, recordaremos aqui o grande conselho de S. Paulo à Igreja de Corinto, ao aconselhar o seguinte: - “E eu, irmãos, apliquei estas coisas por semelhança, a mim e a Apolo (cf. Actos 18.24), por amor de vós, para que em nós aprendais a não ir além do que está escrito” – I Cor. 4.6. Por nossa parte é o que sempre temos feito. Dito isto, iremos comparar este dogma com o conteúdo das Escrituras para sabermos se esta confissão religiosa está, uma vez mais, a contrariar o sábio conselho de S. Paulo – a “ir além do que está escrito”. Ora vejamos:
1- O texto de Lucas 1.39-47 – aqui dá-nos a conhecer uma visita que Maria faz à sua prima Isabel, a qual tinha no seu ventre aquele que viria a nascer com o nome de João Baptista. A dada altura Maria exclama – “a minha alma engrandece ao Senhor. E o meu espírito se alegra em Deus meu Salvador” – v. 46,47. Como é que alguém isento de pecado poderá fazer tal afirmação, visto que, unicamente, o pecado nos faz reconhecer que precisamos, não só de um Salvador, como também de O conhecermos. Portanto, se Maria reconhece que precisa de um Salvador, a sua declaração demonstra, como facilmente se compreenderá, que ela desconhecia, em absoluto, que tinha sido agraciada com a dádiva que esta confissão religiosa lhe atribui.
2- O texto de Lucas 2.21-24 – aqui fala-nos da circuncisão de Jesus, como qualquer menino judeu. Logo a seguir dá-nos a conhecer o passo seguinte – a ida ao Templo para: 1- apresentarem a criança; 2- procederem conforme o que a lei levítica estipulava naquele caso. Ora, qual era o teor da lei em causa? Vejamo-lo – Lev. 12.3,6,7: - “No oitavo dia se circuncidará ao menino (…). E quando forem cumpridos os dias da sua purificação, por filho ou filha, trará um cordeiro de um ano por holocausto, e um pombinho ou uma rola para expiação do pecado, diante da porta da congregação, ao sacerdote. O qual o oferecerá perante o Senhor e por ela fará propiciação; e será limpa do fluxo do seu sangue. Esta é a lei da que der à luz varão ou fêmea.”. Esta era a lei para pessoas com possibilidades financeiras medianas. Havia um clausulado para quem fosse pobre, o que era o caso deste casal – José e Maria. De novo, o articulado da lei previa o seguinte: - “Mas, se a sua mão não alcançar assaz (sem posses), para um cordeiro, então tomará duas rolas, ou dois pombinhos: um, para o holocausto e o outro, para a expiação do pecado; assim, o sacerdote por ela fará propiciação e será limpa” – v. 8. E foi exactamente isto que aconteceu e assim é narrado no texto de S. Lucas. Uma vez mais, Maria e José ao agirem como quaisquer cidadãos, nestas condições, demonstram através deste acto que desconheciam totalmente que, um deles, estava isento de pecado!
3- Alguns textos de S. Paulo: - a) – Rom. 3.10 - “Não há um justo, nem um sequer” – aqui Paulo está a citar Antigo Testamento (I Reis 8.46; Salmo 14.3); b) – Rom. 3.23 – “Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus”; c) – Rom. 6.23 – “Porque o salário do pecado é a morte (…)”.
4- Alguns textos de João: - a) – I João 1.7 – “Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos e não há verdade em nós”; b) – I João 1.10 – “Se dissermos que não pecámos, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós”.
Todos estes textos desmentem, categoricamente, tal dogma. Quem terá razão? A falível palavra humana ou a infalível de Deus? O mesmo apóstolo Paulo responde: - “(…) sempre seja Deus verdadeiro, e todo o homem mentiroso”. Por outro lado, visto que esta bula papal foi emitida unicamente em 1854, como foi possível que só após dezanove séculos é que esta confissão religiosa ficou a saber que Maria tinha sido concebida sem pecado! Ficamos sem perceber não só qual a necessidade da informação como também o porquê da mesma! Cremos que, à luz do exposto, estamos claramente esclarecidos acerca deste dogma mariano.
Bibliografia:
“O termo é empregue nas Escrituras para designar as relações sexuais.” – Gerhard von Rad, La Genèse, Genève, ed. Labor et Fides, 1968, p. 100
Ver outros contextos da expressão utilizada por Mateus “até que” sob a noção de temporalidade: – Gén. 8.7; I Sam. 15.35; Mat. 5.26; 12.20; 18.30; 22.44
Georges Stéveny, op. cit., pp. 61,62; “(…) Em Isaías a tónica não é tanto na virgindade, mas sim no filho excepcional que deverá dar à luz” – Corrado Augias e Mauro Pesce, A Vida de Jesus Cristo, Lisboa, ed. Editorial Presença, 2008, p. 82
Catecismo da Igreja Católica, p. 120, nº 491
Alfredo Kuen, Je Bâtirai Mon Eglise, Vevey, Ed. Emmaus, 1967, p. 37, nota 33

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