quarta-feira, 28 de outubro de 2009

O PRINCÍPIO DO DIA PROFÉTICO


A questão é crucial. Se o princípio não for válido, ou, caso não deva ser aplicado a Daniel 7, 8 e 9, a nossa mensagem cai por terra. O princípio do dia profético é legítimo, e, caso o seja, por que aplicá-lo àqueles três capítulos de Daniel?
Primeiramente, o princípio do dia profético não se originou com os mileritas ou Adventistas do Sétimo Dia. Judeus e cristãos têm utilizado esse princípio há séculos, muitas vezes aplicando-o aos mesmos textos que os Adventistas usam hoje. Clemente de Alexandria (segundo a terceiro séculos d.C.), um dos fundadores da igreja cristã, aplicou o princípio do dia profético às setenta semanas de Daniel 9, assim como tem feito a maioria dos teólogos através dos séculos, tanto judeus como gentios. Um dos maiores teólogos hebreu Rashi (1040-1105 d.C.), traduziu Daniel 8:14 da seguinte maneira: "E ele disse-me: Até 2300 anos". Esse princípio tem sido reconhecido e aceito em todo o mundo durante séculos. Não é uma inovação adventista.
Qual, porém, é a evidência bíblica?
Conhecemos o texto de Números 14:34: "Segundo o número dos dias em que espiastes a terra, quarenta dias, cada dia representando um ano." E Ezequiel 4:4 a 7: "Conforme o número dos dias que te dei, cada dia por um ano."
Embora estes textos possam sugerir a validade desse princípio, que outra evidência existe?
O Antigo Testamento desde há muito tem reconhecido uma relação entre dias e anos, e, em alguns casos, embora a palavra ano apareça no texto, a palavra usada no original hebreu foi dia. A comemoração da Páscoa, por exemplo, era celebrada uma vez por ano. Leia Êxodo 13:10. A tradução da versão Almeida diz: "Portanto, guardarás esta ordenança no determinado tempo, de ano em ano." Mas o original em hebraico diz literalmente, "de dias em dias", embora o texto quisesse dizer de ano em ano.
I Samuel 27:7 diz: "E todo o tempo que David permaneceu na terra dos filisteus foi um ano e quatro meses." O original hebraico diz: "dias e quatro meses", em vez de "ano e quatro meses". Em hebraico, há uma palavra comum para ano, shanab, mas nestes versos a palavra "dias" é usada, demonstrando uma ligação entre ano e dias na Bíblia. Outros exemplos desse tipo podem ser encontrados. Leia I Samuel 2:19; I Samuel 1:21; I Reis 1:1.
Todavia, mesmo que estes e outros versos ajudem a provar a ideia de uma relação entre dia e ano, podemos ter a certeza que deveríamos aplicar esse conceito às profecias de tempo de Daniel 7, 8 e 9?
Daniel 9 declara que "desde a saída da ordem para restaurar e para edificar Jerusalém até o Ungido", passaria sessenta e nove semanas. Mesmo que alguém defendesse que a ordem para reconstruir Jerusalém ocorresse numa data com cinquenta anos de diferença para o ano 457a.C., ainda sobrariam cerca de 400 anos entre aquela data e a vinda de Jesus – "[o] Ungido, [o] Príncipe". Se as sessenta e nove semanas fossem literais, então, desde a ordem para restaurar e reconstruir Jerusalém (quinto século a.C.) até o Messias (primeiro século d.C.) haveria sessenta e nove semanas – ou seja, um ano, quatro meses e três dias. Ridículo! O princípio do dia profético precisa ser aplicado a esta profecia, ou a mesma torna-se sem sentido. Talvez a maior prova da validade do dia profético e sua aplicação em Daniel 9, é o fato que dá certo!
Por acaso é coincidência que se aplicarmos esse princípio às sessenta e nove semanas, teremos um período de tempo que encaixa perfeitamente nos dois eventos descritos no verso?
Se não usarmos o princípio, a profecia não faz sentido; se usamos o princípio, a profecia cumpre-se com exactidão. Apenas isto já é uma prova irrefutável da validade do dia profético. Fica óbvio que o princípio do dia profético é válido para a profecia das sessenta e nove semanas, que foram "cortadas" da profecia dos 2.300 dias. Portanto, ambas fazem parte da mesma profecia.
E, se o dia profético funciona para uma parte da profecia, não seria lógico que fosse usado com sucesso na outra parte também? É claro que sim.
Na verdade, não é apenas lógico, mas absolutamente necessário. Aplicando o princípio do dia profético às setenta semanas, temos 490 anos, ou seja, 176.400 dias. Como poderíamos cortar 176.400 dias de 2.300 dias? É impossível. A única maneira de as setenta semanas poderem ser cortadas é aplicarmos o princípio do dia profético aos 2.300 dias também. De outra forma, seria como tentar tirar dois quilómetros de três metros. Portanto, o dia profético precisa ser válido nos 2.300 dias também.

Existem outras evidências a favor do dia profético nos 2.300 dias em Daniel 8:13, que é literalmente a seguinte: "Até quando durará a visão do sacrifício diário e da transgressão assoladora, visão na qual é entregue o santuário e o exército, a fim de serem pisados?"
Alguns detalhes importantes devem ser notados: A tradução literal é "Até quando" estas coisas aconteceriam? - e não "Quanto tempo?" A ênfase está no término dos eventos. "Até quando" estes eventos acontecerão? Lembre-se de que a palavra para visão, hazon, tem a ver com a visão como um todo, isto é, o carneiro, o bode, etc.
E finalmente, embora a versão King James mencione a palavra concernente, (Quanto tempo durará a visão concernente ao sacrifício diário?), no hebraico não consta essa palavra, nem a própria construção do hebraico exige que ela esteja ali. Definitivamente ela não pertence ao texto.
O que quer isto dizer?
A questão diz respeito ao término ("até quando") de tudo que foi descrito: hazon, ou visão (que inclui o carneiro e o bode), o "sacrifício diário" e a transgressão assoladora estão incluídos. A pergunta não se refere apenas a visão concernente ao "sacrifício diário", ou às actividades do chifre pequeno, mas a tudo que há na visão, incluindo a parte da hazon a respeito do carneiro e do bode. "Quanto tempo" durarão estas coisas envolvendo o carneiro, o bode e o chifre pequeno? A resposta é literalmente: "Até 2300 tardes e manhãs."
Portanto, os 2300 dias envolvem todos os eventos listados na pergunta, ou seja, o carneiro, o bode e o chifre pequeno. Logo, o período de tempo inclui a Média-Pérsia, a Grécia, bem como a Roma pagã e papal. Todos esses factores estão contidos no período de tempo da pergunta "Até quando?" e devem cumprir-se em 2300 dias.
Se tomados literalmente, 2300 dias somam seis anos, três meses e vinte dias. Como poderia esta profecia ser literal e incluir todos esses eventos? Impossível. Só a Média-Pérsia durou de 539 a 331 a.C. Apenas essa nação, sem contar a Grécia e Roma, dura demais para encaixar-se em apenas seis anos. Portanto, necessariamente temos que usar o princípio profético, com o qual a profecia cobre mais de dois milénios, tempo suficiente para incluir todos os eventos. Sem o dia profético, a profecia não faz sentido.
Embora a profecia comece com nações que existiam há milhares de anos, foi dito a Daniel que a visão era para o "tempo do fim". Obviamente, qualquer que fosse o período de tempo envolvido na profecia, teria que cobrir muito mais que seis anos a fim de levar a profecia de tantos séculos no passado até o "tempo do fim". Sem o dia profético, a profecia não poderia estender-se tanto. Aqui, novamente, o dia profético soluciona o problema.
Em Daniel 7 temos este terrível poder, o chifre pequeno. Decididamente, esse é o item mais detalhado do capítulo, superando todos os outros animais, incluindo os poderosos impérios babilónicos, medo-persa, grego e romano – nações que duraram centenas de anos cada uma. Apesar do poder desses impérios, a ênfase é colocada no chifre pequeno, que é tão terrível que o próprio Deus destruirá após o julgamento.
Contudo, o poder desse chifre pequeno, pior que qualquer outro animal que durou centenas e centenas de anos, duraria três anos e meio?
Um período de três anos e meio não se encaixa na magnitude dos grandes eventos descritos nas primeiras fases da profecia. Além disso, vimos que o quarto animal foi Roma pagã, império que terminou 1500 anos atrás. O poder que a seguiu, o chifre pequeno, teria que se estender até o tempo do fim, quando Deus Se assenta para julgar e estabelecer Seu reino. Três anos e meio não são suficientes para estender-se dos dias finais de Roma pagã até o tempo do fim. Aqui, outra vez, o tempo literal não se encaixa nos eventos que são descritos na profecia, e, novamente, o dia profético soluciona o problema.
Note, também, as palavras exactas usadas nesta profecia de Daniel 7:25: "Por um tempo, dois tempos e metade de um tempo."
Que estranha maneira de dizer três anos e meio. É como se alguém perguntasse minha idade e eu respondesse: "Tenho vinte anos, dois anos e dez anos." Talvez estivesse tentando dizer outra coisa. Daniel 4:45 diz que Nabucodonosor ficaria doente, vivendo como um animal até "sete tempos por cima de ti". Por que não disse "um tempo, e tempos, e tempos, e um tempo, e metade de um tempo, e metade de um tempo"? O princípio profético não pode ser aplicado a Daniel 4:45. Obviamente, Daniel quis dizer um tempo literal, a respeito da doença do rei, e esta é provavelmente a razão por que usou um número normal.
Talvez Daniel tivesse dito: "Por um tempo, dois tempos e metade dum tempo", no capítulo 7, porque não queria dizer literalmente, três anos e meio. Em vez disso, em vez disso queria passar a ideia de um tempo profético. Daniel 7 está cheio de símbolos: um leão, um urso, um leopardo com asas, chifres que falam – todos simbolizando coisas diferentes. Logo, não seria lógico pensar que a sequência de tempo dada nesta profecia também teria algum simbolismo, especialmente quando se analisa que a mesma foi enunciada de maneira tão estranha? Claro que sim.
Os mesmos factores são encontrados nos 2300 dias. Daniel 8 também é uma visão com imagens simbólicas. Não é uma profecia sobre animais, assim como Daniel 7 não o é. É inteiramente profética. Não seria de se esperar que o tempo nesses capítulos também fosse simbólico, em vez de literal? Além do mais, "tardes e manhãs" não é maneira comum de descrever dias. A palavra típica para dias na Bíblia é yamin, plural yom, que ocorre mais de mil vezes na Bíblia. Não seria mais simples ter dito: "Até seis anos, três meses e vinte dias, e o santuário será purificado", em vez de 2300 dias? Daniel 8:14 não traz a forma típica de indicar o tempo. Em II Samuel 5:5, por exemplo é dito que o rei "reinou sobre Judá sete anos e seis meses", não 2700 dias.
Até mesmo as setenta semanas de Daniel não são uma forma comum de expressar tempo. Por que não foi dada como um ano e quatro meses e meio?
A razão para tudo isto é seguramente que o Senhor não está referir-Se a tempo literal, e usou esses números e unidades de tempo "simbólicos" para mostrar ao leitor que estava a falar de tempo profético, e não literal. Claramente, muitas evidências comprovam a validade do dia profético em Daniel 7, 8 e 9. Os capítulos simplesmente não fazem sentido sem o uso desse princípio.

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