quinta-feira, 2 de julho de 2009

QUAIS SÃO AS EVIDÊNCIAS BÍBLICAS PARA APOIAR O PRINCÍPIO DIA-ANO?

O princípio do dia-ano está claramente fundamentado nas Escrituras, apesar da tentativa de alguns o tentarem desacreditar. A seguir, serão apresentadas as evidências bíblicas que o apóiam:
1) Depois que os espias observaram Canaã por 40 dias, regressaram com um relatório sobre a fertilidade da terra; porém, 10 deles desanimaram o restante do povo, ao apresentar as dificuldade para nela entrar, o que levou os israelitas a revoltarem-se contra Deus e contra Moisés. Como desta atitude incrédula, Deus determinou que eles deveriam peregrinar 40 anos pelo deserto: “Vossos filhos serão pastores neste deserto quarenta anos e levarão sobre si as vossas infidelidades, até que o vosso cadáver se consuma neste deserto. Segundo o número dos dias em que espiastes a terra, quarenta dias, cada dia representando um ano, levareis sobre vós as vossas iniqüidades quarenta anos e tereis experiência do Meu desagrado.” Números 14:33 e 34. Nessa passagem, está nítida a relação entre os 40 dias em que os espias percorreram a terra e os 40 anos em que o povo de Israel deveria jornadear pelo ermo, além de ser apresentado o princípio norteador dessa associação: “cada dia representando um ano”.
2) Em Ezequiel 4:4-7, a relação dia-ano está claramente delineada, embora no sentido inverso ao de Números. Pelos 390 anos de iniquidade do reino de Israel, Ezequiel deveria deitar-se sobre o seu lado esquerdo por 390 dias: “Deita-te também sobre o teu lado esquerdo e põe a iniquidade da casa de Israel sobre ele; conforme o número dos dias que te deitares sobre ele, levarás sobre ti a iniquidade dela. Porque Eu te dei os anos da sua iniquidade, segundo o número dos dias, trezentos e noventa dias; e levarás sobre ti a iniquidade da casa de Israel.” Depois, o profeta recebeu ordem de fazer o mesmo pelo reino de Judá, deitando-se sobre o seu lado direito por 40 dias, em virtude dos 40 anos de iniquidade: “Quando tiveres cumprido estes dias, deitar-te-ás sobre o teu lado direito e levarás sobre ti a iniquidade da casa de Judá. Quarenta dias te dei, cada dia por um ano. Voltarás, pois, o rosto para o cerco de Jerusalém, com o teu braço descoberto, e profetizarás contra ela.”. Ezequiel contém, portanto, o princípio de que um ano representa um dia, ao passo que Números contém o princípio de que um dia representa um ano. Essa relação inversa não anula o princípio, pois a proporçã mantém-se inalterada.
3) Génesis 29:27 também mostra a íntima relação entre dias e anos. Tendo servido 7 anos para desposar Lia (embora por engano, como é de conhecimento geral), Jacó deveria trabalhar por outros 7 para também receber a permissão de se casar com Raquel. Como, geralmente, a festa de casamento durava 7 dias (Juízes 14:12 e 17), Labão informou a Jacó que ele deveria cumprir a semana das bodas de Lia, para também desposar Raquel, com a condição de que o servisse por mais 7 anos: “Decorrida a semana desta, dar-te-emos também a outra, pelo trabalho de mais sete anos que ainda me servirás. Concordou Jacó, e se passou a semana desta; então, Labão lhe deu por mulher Raquel, sua filha.” Génesis 29:27 e 28. Assim, foram 7 anos de trabalho para cada período de 7 dias de festa de casamento, o que torna evidente o paralelismo entre dias e anos.
4) Levítico 25:8 usa a expressão “sete sábados de anos”, de acordo com o hebraico, e traduzida por “sete semanas de anos”, na Versão Almeida Revista e Actualizada, ao falar do ano do jubileu: “Contarás sete semanas de anos, sete vezes sete anos, de maneira que os dias das sete semanas de anos te serão quarenta e nove anos.”. Aí, a terminologia para designar o período de uma semana ou 7 dias é aplicada a um período de 7 anos. É o método de calcular em que um dia representa um ano.
5) É curioso notar que, até mesmo entre os gentios, era conhecida a relação dia-ano. Isso pode ser demonstrado por um episódio da vida do Imperador Tibério, narrado pelo escritor romano Caio Suetónio Traquilo (c. 69 A.D. – c. 141 A.D.): “A Diógenes o Gramático, com quem se habituara a discutir, todos os sábados, recusou-lhe uma audiência particular que lhe fora pedida, e mandou-lhe dizer por um pequeno escravo que voltasse no sétimo dia. Como este sábio se apresentasse à porta do seu palácio, em Roma, para saudá-lo, passado aquele prazo, contentou-se em adverti-lo que tornasse a voltar ao fim de sete anos.” (A Vida dos Doze Césares, p. 113, Editora Tecnoprint S.A.). Está evidente, no trecho citado acima, que Tibério associou o sétimo dia a um prazo de 7 anos, o que só é possível mediante a aplicação do princípio que relaciona um dia simbólico a um ano literal.
Essas informações, exaradas de várias partes das Escrituras (com excepção do item anterior), já são suficientes para a aceitação do princípio profético do dia-ano, restando apenas a questão da legitimidade da sua aplicação aos períodos de Daniel e Apocalipse. Os tópicos a seguir demonstram a necessidade dessa aplicação:
1) As profecias de Daniel e Apocalipse estão repletas de símbolos e não seria coerente encarar estes períodos de tempo como literais. Talvez o maior argumento em favor do uso da relação dia-ano em Daniel e Apocalipse seja o exacto cumprimento das 70 semanas, que não são entendidas como literais por nenhum teólogo competente, embora haja diferenças de interpretação.
2) A não ser em Daniel e Apocalipse, a Bíblia nunca emprega dias para designar um período superior a um ano. Na verdade, o mais longo período que, noutro lugar, é designado pela palavra “dias” é o de Ester 1:4 (180 dias). Além dessa passagem, somente em Génesis 7:24; 8:3; e Neemias 6:15, aparecem períodos superiores a 40 dias. Em parte alguma, um período maior que um ano é expresso em termos de “meses”, com excepção de Apocalipse 11:2 e 13:5. Somente 2 passagens em toda a Escritura usam as palavras “doze meses” (Ester 2:12 e Daniel 4:29). A expressão normal para 42 meses é “três anos e seis meses” (Lucas 4:25 e Tiago 5:17). Jamais a Escritura designa um período superior a 7 semanas por meio dessa palavra (“semana”), a não ser, é claro, em Daniel 9:24 (as 70 semanas). Assim, a singularidade das expressões “duas mil e trezentas tardes e manhãs” e “setenta semanas” denota que elas não podem referir-se a dias literais.
3) Alegam alguns que o princípio do dia-ano não pode ser aplicado nem a Daniel 8:14, nem a Daniel 9:24-27, em virtude de que nessas passagens não consta o termo “dia”. Tal raciocínio é superficial e destituído de razão, pois o conceito de “dias” está implícito em ambos os textos:
3.1) A expressão “tardes e manhãs” remonta a Génesis 1, em que cada dia é designado como possuindo “tarde e manhã”: “Houve tarde e manhã, o primeiro dia” (verso 5), são os dizeres das Escrituras. Isso demonstra que, em Daniel 8:14, a expressão “tardes e manhãs” equivale a “dias”.
3.2) Visto que a palavra hebraica para “semana” (heb.: - shabua) é derivada do número 7, alguns têm sugerido que Daniel 9 esteja areferir-se a “grupos de sete” e não a “semanas”, o que permitiria entender o período ali mencionado como constituído naturalmente de anos, sem lançar mão do princípio profético do dia-ano. Porém, em Daniel 10:2 e 3, a mesma palavra é usada para indicar as 3 semanas em que Daniel ficou a jejuar: “Naqueles dias, eu, Daniel, pranteei durante três semanas. Manjar desejável não comi, nem carne, nem vinho entraram na minha boca, nem me ungi com óleo algum, até que passaram as três semanas inteiras.”. Por volta daquela época, os samaritanos, que eram hostis aos judeus, contrataram alguns conselheiros para confundir os reis da Pérsia contra a obra de reconstrução da cidade de Jerusalém. Ver Esdras 4:5 e 6. O anjo Gabriel foi, então, comissionado para dissipar tais influências do coração de Ciro, rei dos persas. No entanto, um anjo caído opôs ousada resistência, a qual só foi vencida com o auxílio de Miguel, “o grande príncipe”. Ao descrever essa intensa batalha espiritual, Gabriel assim se expressou: “Mas o príncipe do reino da Pérsia me resistiu por vinte e um dias; porém Miguel, um dos primeiros príncipes, veio para ajudar-me, e eu obtive vitória sobre os reis da Pérsia.” Daniel 10:13. Nesse fascinante relato, as “três semanas inteiras”, durante as quais Daniel jejuou em prol de seu povo, são equacionadas aos “vinte e um dias” do conflito entre Gabriel e o “príncipe do reino da Pérsia”, o que demonstra que a palavra “shabua” (plural: - shabuim) realmente estava a indicar um conjunto de 7 dias, sendo correcto, portanto, traduzi-la como “semana”.
O texto de Daniel 10:3 traz literalmente “três semanas de dias”. Alguns têm insinuado que o capítulo 10 usa a expressão “semanas de dias” para contrastar com as “semanas de anos” do capítulo 9. Tal conclusão é enganosa porque em todas as passagens do Antigo Testamento em que a expressão “de dias” é acrescentada a um período de tempo, ela indica que se trata de períodos completos. Assim, o hebraico pode dizer “anos de dias”, mas isso deve ser entendido como “anos inteiros” (ver Génesis 41:1; Levítico 25:29; e 2 Samuel 13:23 e 14:28); ou pode dizer “um mês de dias”, o que deve ser traduzido como “um mês completo” (ver Génesis 29:14; Números 11:20 e 21; Juízes 19:2; e 2 Reis 15:13). Da mesma sorte, as palavras “de dias” em Daniel 10:3 intencionam apenas indicar que o vidente jejuou por “três semanas inteiras”.
3.3) A Septuaginta (ou Versão dos Setenta) dá pleno apoio à tradução de Daniel 9:24 como “setenta semanas”, pois utiliza a palavra grega (hebdomades), a qual tem o significado de “semana”, quando poderia ter usado (hepta), que significa “sete”. É interessante notar também que a Septuaginta usa a expressão “hepta hebdomades” em Deuteronómio 16:9, em conexão com a Festa das Semanas, calculada com base em “sete semanas” contadas a partir do dia em que as primícias eram agitadas perante o Senhor. Isso não deve ser traduzido por “sete grupos de sete”, o que demonstra que, para os sábios judeus que confeccionaram a Septuaginta, o real sentido de “shabuim” é “semanas”.
Bibliografia:
“Perguntas e Respostas Sobre Questões Doutrinárias”, Ministério, março-abril de 1.988, Santo André, S.P.: Casa Publicadora Brasileira.
SHEA, William H., “Year-Day Principle”, Parts 1, 2 and 3, Selected Studies on Prophetic Interpretation, Daniel and Revelation Committee Series, vol. 1, pp. 56-93.
SUETÓNIO, A Vida dos Doze Césares, tradução de Sady-Garibaldi, Rio de Janeiro, R.J.: Editora Tecnoprint, S.A..

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