A segunda etapa leva-nos a Esmirna, a uma distância de 50kms de Éfeso. Grande cidade em beleza e pelo seu comércio agitado, portanto, um centro de grande riqueza, tornou-se famosa por ter uma rua pavimentada de ouro. Era uma das raras cidades da Antiguidade a ter sido cuidadosamente planificada e completamente reconstruída. Fundada pelos Gregos no ano 1.000 a.C., ela foi destruída pelos Lídios no ano 600 a.C., e desapareceu completamente do mapa da época. Foi ressuscitada quatro séculos mais tarde por Lísimaco um dos generais de Alexandre o Grande. O prodígio da sua recreação ainda está na memória no tempo em que João escreve a Carta a Esmirna. E não é por acaso que o acento da Carta de Esmirna é sobre a morte e a ressurreição. O autor da Carta define-se como aquele que passou da morte para a vida (Ap. 2:8). Os destinatários da Carta são eles também destinados à morte, mas a promessa que lhes é feita é que receberão a vida (Ap. 2:10,11). O nome de Esmirna, deriva da palavra “mirra”, uma goma que servia para embalsamar os mortos, está carregada de evocações funestas.
Para além da alusão à origem da cidade de Esmirna, a Carta evoca igualmente os tempos conturbados dos mártires cristãos que foram perseguidos e lançados nas prisões, mas que, permanecem fiéis até à morte. E não é só a prisão e a morte que os ameaça. A miséria e a pobreza esmagam-nos de igual modo. O cristianismo ainda não atingiu um estatuto de riqueza que terá num futuro não muito distante, quando enfim, atribuirá às riquezas o favor e as bênçãos divinas. É o tempo onde ser cristão não é sinónimo de bênção e sucesso. É o tempo do fracasso. Os cristãos são originários das classes mais baixas, frequentemente vítimas de assaltos das multidões pagãs, os primeiros cristãos contrastavam com a rica e opulenta cidade de Esmirna. Eles eram atados de todos os lados, do exterior bem como do interior.
É o tempo das perseguições (100 – 313 d.C.), da parte dos pagãos todas as desculpas eram boas, até porque os cristãos eram acusados de canibalismo por causa do rito da Santa Ceia, que eles celebravam em consonância com o que ela representava o corpo e o sangue de Jesus Cristo. Eram suspeitos da prática de orgias nos seus ágapes, estas festas celebradas em ambiente de amor fraternal. Eram ainda acusados do seu ateísmo porque adoravam um Deus invisível. O Estado desconfiava deles e era posta em causa a sua lealdade politica, porque recusavam chamar Senhor a César. Havia quem dissesse que tinha ouvido dizer que eles previam o fim do mundo através do fogo. Eram pois acusados de ser incendiários, e Nero não perdeu a oportunidade de explorar este rumor. Verdadeiros párias, os cristãos tinham tudo para atrair o desprezo e o ódio, tanto mais que eram confundidos com os Judeus. Estes praticavam uma religião impopular e desprezível. Os cristãos eram assim e ao mesmo tempo, vítimas dos pagãos e até os próprios judeus deles desconfiavam.
Os Judeus, viam realmente os cristãos como um grupo desajeitado que proclamavam que o Messias já tinha vindo. Certos Judeus reagiam de forma apaixonada contra esta nova seita. Saul de Tarso, que se tinha aliado aos cristãos e que se tinha tornado Apóstolo Paulo, é disto o exemplo mais completo (ver Actos 7 a 9). A Carta a Ersmirna apenas tem uma reprovação, referindo que eles não são os verdadeiros Judeus: eles “dizem ser judeus” (Ap. 2:9). A afirmação é significativa, porque mostra que os cristãos se consideravam como os Judeus definitivos. Hoje, no meio cristão, acusar-se-ia os irmãos de não serem “verdadeiros cristãos” e falar-se-ia de uma “Igreja de Satanás”. Era o tempo em que os cristãos se sentiam muito mais próximos dos Judeus do que dos pagãos. O anti-semitismo cristão ainda não tinha nascido. Lançados nas prisões e como alimento para os leões pelos pagãos, caluniados pelos irmãos judeus, os cristãos desta época sentiam-se desfeitos e reduzidos a todas as misérias.
A perseguição intensificava-se especialmente sob o reino de Diocleciano, que os historiadores chamam “a era dos Mártires” (P. Auge, “Dioclétien”, dans Larousse universel, 1948, p. 551.). O édito de 303, o Imperador ordena “que as comunidades cristãs sejam completamente dissolvidas, as suas igrejas demolidas e os seus manuscritos bíblicos queimados” (C.Grimberg, Hisoire Universelle, vol. 3: Rome, L´Antiquité en Asie orientale et les grandes invasions – Marabout université -, Verviers, 1963, p. 284). Um enorme número de cristãos pagaram a sua fidelidade com a vida. Muitos foram reduzidos à escravidão. Neste época, conserva-se os nomes de mártires canonizados santos da Igreja Católica Romana. São Sebastião, que foi preso a uma árvore e morto trespassado por uma centena de flechas. Santa Cecília, patrona (ver imagem) da música sacra. Santa Inês (a virgem mártir), que pereceu nas chamas acesas pelo carrasco. A última destas perseguições terminou em 311, e em 313, enfim, o Imperador Constantino promulga um édito que dá aos cristãos o direito de reconstruir as suas igrejas e de praticar o seu culto com toda a liberdade.
É impressionante e deve ser realçado que esta raiva manifestada nas perseguições durou dez anos, tempo previsto pela Carta de Esmirna (Ap. 2:10), aplicando a regra do cômputo profético (um dia = ano).
A linguagem é simbólica e na tradição bíblica e judaica, o número 10 é frequentemente utilizado no sentido espiritual para traduzir a ideia de teste. Lembramo-nos de Daniel obrigado ao teste dos dez dias (Dan. 1:14,15). Este símbolo foi conservado no calendário judaico. Dez dias separam Roch hachanah, a festa das trombetas, do Kipur, o dia do julgamento – o tempo para os Judeus de passar pelo teste e de se preparar na perspectiva da grande festa das expiações. A Michna retoma o mesmo esquema e refere as primeiras dez gerações de Adão a Noé, depois de Noé a Abraão, as dez provas infligidas a Abraão, e as dez pragas no Egipto, consequentemente conclui que o número 10 marca, no tempo, o ritmo da prova (Aboth 5:1-9).
Mas não passa de uma prova. A palavra é em si portadora de esperança. Ela anuncia outra coisa que está no horizonte e supõe uma recompensa. O fracasso e a morte não têm a última palavra. A coroa do vencedor (stephanos) está reservada aos mártires da fé (Ap. 2:10).
Percebe-se um sorriso tranquilo. Vencidos sob a espada dos gladiadores, eles receberão no entanto a coroa do vencedor. Eles são mortos e no entanto eles levam a “coroa da vida” – imagem frequentemente representada em monumentos fúnebres da Antiguidade grego/latina, para representar a vitória da morte. O texto bíblico não permite pensar na promessa da imortalidade da alma tão acariciada pela filosofia grega e que encontrará caminho nas tradições judaico/cristãs. O versículo seguinte explica com cuidado que eles não “sofrerão a segunda morte” (Ap. 2:11). Esta expressão encontra-se na Bíblia para designar que “a segunda morte” é a morte definitiva dos pecadores que não se arrependeram, não reconheceram Jesus como Salvador e Senhor. A morte definitiva, é uma morte sem esperança de ressurreição. Mais adiante, a passagem de Apocalipse 20:6 esclarece este sentido ao falar das duas ressurreições. A primeira ressurreição concerne os justos na Segunda Vinda de Jesus. A segunda ressurreição diz respeito aos pecadores não-justificados. Só a primeira ressurreição abre a porta para a vida eterna. A segunda, em vez, abre-se sobre a morte eterna. Ou seja, todos sofrerão a primeira morte, mas unicamente os não-justificados (só Jesus é justificador e galardoador) conhecerão a segunda morte (veja Daniel 12:2).
Prometer aos mártires de Esmirna que não passarão pela segunda morte, é pois prometer a esperança de uma esperança efectiva, a única que dá acesso à vida eterna. Chamo a atenção que segundo as concepções da época que se baseavam no dualismo (alma boa igual a céu, corpo mau igual a inferno) é completamente barrido nesta promessa ao vencedor. O vencedor é-o em Cristo unicamente!
Para a Bíblia, o além não passa pela imortalidade da alma. Só o milagre da ressurreição que implica a totalidade do indivíduo permitirá o acesso à vida eterna.
Meus Deus, como o tema da Igreja de Esmirna é lindo! Deus seja louvado!!! Seja um vencedor em Jesus e ouvirá a Sua maravilhosa voz chamar: “Vinde benditos de meu Pai, possui por herança a vida que vos está preparada desde a fundação do mundo”, sabe esta é uma decisão que já foi tomada por Deus, agora, precisa ser tomada por si, que fará? Aceite!
Para além da alusão à origem da cidade de Esmirna, a Carta evoca igualmente os tempos conturbados dos mártires cristãos que foram perseguidos e lançados nas prisões, mas que, permanecem fiéis até à morte. E não é só a prisão e a morte que os ameaça. A miséria e a pobreza esmagam-nos de igual modo. O cristianismo ainda não atingiu um estatuto de riqueza que terá num futuro não muito distante, quando enfim, atribuirá às riquezas o favor e as bênçãos divinas. É o tempo onde ser cristão não é sinónimo de bênção e sucesso. É o tempo do fracasso. Os cristãos são originários das classes mais baixas, frequentemente vítimas de assaltos das multidões pagãs, os primeiros cristãos contrastavam com a rica e opulenta cidade de Esmirna. Eles eram atados de todos os lados, do exterior bem como do interior.
É o tempo das perseguições (100 – 313 d.C.), da parte dos pagãos todas as desculpas eram boas, até porque os cristãos eram acusados de canibalismo por causa do rito da Santa Ceia, que eles celebravam em consonância com o que ela representava o corpo e o sangue de Jesus Cristo. Eram suspeitos da prática de orgias nos seus ágapes, estas festas celebradas em ambiente de amor fraternal. Eram ainda acusados do seu ateísmo porque adoravam um Deus invisível. O Estado desconfiava deles e era posta em causa a sua lealdade politica, porque recusavam chamar Senhor a César. Havia quem dissesse que tinha ouvido dizer que eles previam o fim do mundo através do fogo. Eram pois acusados de ser incendiários, e Nero não perdeu a oportunidade de explorar este rumor. Verdadeiros párias, os cristãos tinham tudo para atrair o desprezo e o ódio, tanto mais que eram confundidos com os Judeus. Estes praticavam uma religião impopular e desprezível. Os cristãos eram assim e ao mesmo tempo, vítimas dos pagãos e até os próprios judeus deles desconfiavam.
Os Judeus, viam realmente os cristãos como um grupo desajeitado que proclamavam que o Messias já tinha vindo. Certos Judeus reagiam de forma apaixonada contra esta nova seita. Saul de Tarso, que se tinha aliado aos cristãos e que se tinha tornado Apóstolo Paulo, é disto o exemplo mais completo (ver Actos 7 a 9). A Carta a Ersmirna apenas tem uma reprovação, referindo que eles não são os verdadeiros Judeus: eles “dizem ser judeus” (Ap. 2:9). A afirmação é significativa, porque mostra que os cristãos se consideravam como os Judeus definitivos. Hoje, no meio cristão, acusar-se-ia os irmãos de não serem “verdadeiros cristãos” e falar-se-ia de uma “Igreja de Satanás”. Era o tempo em que os cristãos se sentiam muito mais próximos dos Judeus do que dos pagãos. O anti-semitismo cristão ainda não tinha nascido. Lançados nas prisões e como alimento para os leões pelos pagãos, caluniados pelos irmãos judeus, os cristãos desta época sentiam-se desfeitos e reduzidos a todas as misérias.
A perseguição intensificava-se especialmente sob o reino de Diocleciano, que os historiadores chamam “a era dos Mártires” (P. Auge, “Dioclétien”, dans Larousse universel, 1948, p. 551.). O édito de 303, o Imperador ordena “que as comunidades cristãs sejam completamente dissolvidas, as suas igrejas demolidas e os seus manuscritos bíblicos queimados” (C.Grimberg, Hisoire Universelle, vol. 3: Rome, L´Antiquité en Asie orientale et les grandes invasions – Marabout université -, Verviers, 1963, p. 284). Um enorme número de cristãos pagaram a sua fidelidade com a vida. Muitos foram reduzidos à escravidão. Neste época, conserva-se os nomes de mártires canonizados santos da Igreja Católica Romana. São Sebastião, que foi preso a uma árvore e morto trespassado por uma centena de flechas. Santa Cecília, patrona (ver imagem) da música sacra. Santa Inês (a virgem mártir), que pereceu nas chamas acesas pelo carrasco. A última destas perseguições terminou em 311, e em 313, enfim, o Imperador Constantino promulga um édito que dá aos cristãos o direito de reconstruir as suas igrejas e de praticar o seu culto com toda a liberdade.
É impressionante e deve ser realçado que esta raiva manifestada nas perseguições durou dez anos, tempo previsto pela Carta de Esmirna (Ap. 2:10), aplicando a regra do cômputo profético (um dia = ano).
A linguagem é simbólica e na tradição bíblica e judaica, o número 10 é frequentemente utilizado no sentido espiritual para traduzir a ideia de teste. Lembramo-nos de Daniel obrigado ao teste dos dez dias (Dan. 1:14,15). Este símbolo foi conservado no calendário judaico. Dez dias separam Roch hachanah, a festa das trombetas, do Kipur, o dia do julgamento – o tempo para os Judeus de passar pelo teste e de se preparar na perspectiva da grande festa das expiações. A Michna retoma o mesmo esquema e refere as primeiras dez gerações de Adão a Noé, depois de Noé a Abraão, as dez provas infligidas a Abraão, e as dez pragas no Egipto, consequentemente conclui que o número 10 marca, no tempo, o ritmo da prova (Aboth 5:1-9).
Mas não passa de uma prova. A palavra é em si portadora de esperança. Ela anuncia outra coisa que está no horizonte e supõe uma recompensa. O fracasso e a morte não têm a última palavra. A coroa do vencedor (stephanos) está reservada aos mártires da fé (Ap. 2:10).
Percebe-se um sorriso tranquilo. Vencidos sob a espada dos gladiadores, eles receberão no entanto a coroa do vencedor. Eles são mortos e no entanto eles levam a “coroa da vida” – imagem frequentemente representada em monumentos fúnebres da Antiguidade grego/latina, para representar a vitória da morte. O texto bíblico não permite pensar na promessa da imortalidade da alma tão acariciada pela filosofia grega e que encontrará caminho nas tradições judaico/cristãs. O versículo seguinte explica com cuidado que eles não “sofrerão a segunda morte” (Ap. 2:11). Esta expressão encontra-se na Bíblia para designar que “a segunda morte” é a morte definitiva dos pecadores que não se arrependeram, não reconheceram Jesus como Salvador e Senhor. A morte definitiva, é uma morte sem esperança de ressurreição. Mais adiante, a passagem de Apocalipse 20:6 esclarece este sentido ao falar das duas ressurreições. A primeira ressurreição concerne os justos na Segunda Vinda de Jesus. A segunda ressurreição diz respeito aos pecadores não-justificados. Só a primeira ressurreição abre a porta para a vida eterna. A segunda, em vez, abre-se sobre a morte eterna. Ou seja, todos sofrerão a primeira morte, mas unicamente os não-justificados (só Jesus é justificador e galardoador) conhecerão a segunda morte (veja Daniel 12:2).
Prometer aos mártires de Esmirna que não passarão pela segunda morte, é pois prometer a esperança de uma esperança efectiva, a única que dá acesso à vida eterna. Chamo a atenção que segundo as concepções da época que se baseavam no dualismo (alma boa igual a céu, corpo mau igual a inferno) é completamente barrido nesta promessa ao vencedor. O vencedor é-o em Cristo unicamente!
Para a Bíblia, o além não passa pela imortalidade da alma. Só o milagre da ressurreição que implica a totalidade do indivíduo permitirá o acesso à vida eterna.
Meus Deus, como o tema da Igreja de Esmirna é lindo! Deus seja louvado!!! Seja um vencedor em Jesus e ouvirá a Sua maravilhosa voz chamar: “Vinde benditos de meu Pai, possui por herança a vida que vos está preparada desde a fundação do mundo”, sabe esta é uma decisão que já foi tomada por Deus, agora, precisa ser tomada por si, que fará? Aceite!
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