quarta-feira, 26 de maio de 2010

OS DIFERENTES ANIMAIS DA PROFECIA DE DANIEL

1 No primeiro ano de Belsazar, rei de Babilônia, teve Daniel, na sua cama, um sonho e visões da sua cabeça. Então escreveu o sonho, e relatou a suma das coisas.
2 Falou Daniel, e disse: Eu estava olhando, numa visão noturna, e eis que os quatro ventos do céu agitavam o Mar Grande.
3 E quatro grandes animais, diferentes uns dos outros, subiam do mar.
4 O primeiro era como leão, e tinha asas de águia; enquanto eu olhava, foram-lhe arrancadas as asas, e foi levantado da terra, e posto em dois pés como um homem; e foi-lhe dado um coração de homem.
5 Continuei olhando, e eis aqui o segundo animal, semelhante a um urso, o qual se levantou de um lado, tendo na boca três costelas entre os seus dentes; e foi-lhe dito assim: Levanta-te, devora muita carne.
6 Depois disto, continuei olhando, e eis aqui outro, semelhante a um leopardo, e tinha nas costas quatro asas de ave; tinha também este animal quatro cabeças; e foi-lhe dado domínio.
7 Depois disto, eu continuava olhando, em visões noturnas, e eis aqui o quarto animal, terrível e espantoso, e muito forte, o qual tinha grandes dentes de ferro; ele devorava e fazia em pedaços, e pisava aos pés o que sobejava; era diferente de todos os animais que apareceram antes dele, e tinha dez chifres.
8 Eu considerava os chifres, e eis que entre eles subiu outro chifre, pequeno, diante do qual três dos primeiros chifres foram arrancados; e eis que neste chifre havia olhos, como os de homem, e uma boca que falava grandes coisas." Daniel 7:1-8
O texto continua a fornecer alguns elementos que visam uma maior e melhor compreensão do que se seguirá, referindo que: - “quatro animais grandes, diferentes uns dos outros, subiam do mar” – v. 3. Mas, qual o significado destes “animais”, o que é que eles representam? O profeta revela-nos que “são quatro reis que se levantarão da terra” – v. 17.
Portanto, estes animais são “diferentes uns dos outros”, isto quer dizer que cada um tem um corpo próprio que o distingue dos demais. Na realidade histórica, cada monarquia universal tem o seu próprio território.

1) O leão (605 a. C. a 539 a. C.)
O primeiro animal do texto bíblico é caracterizado da seguinte maneira – “um leão que tinha asas de águia (…) que lhe foram arrancadas (…); foi levantado da terra e posto em pé como um homem e foi-lhe dado um coração de homem” – v. 4
A imagem do leão é símbolo de força, pois é o rei dos animais – Provérbios 30.30. A representação de Babilónia por este animal era familiar ao profeta Jeremias: - 49.19; 50.43,44. Este animal tinha asas de águia, a rainha das aves, a qual ilustra a rapidez das conquistas dos babilónios sob Nabucodonozor – Habacuque 1.6-8.
Depois, as asas foram arrancadas, denunciando que tanto a audácia como o espírito de conquista desapareceriam. Na realidade, a sucessão rápida dos soberanos em Babilónia muito contribuiu para o enfraquecimento e desaparecimento de tal esplendor.
Um outro pormenor é acrescentado “foi levantado da terra e posto em pé como um homem e foi-lhe dado um coração de homem”. Estes elementos trazem à recordação os acontecimentos descritos no capítulo 4.16,34-36. A posição vertical aqui anunciada ilustra a disponibilidade para receber a mensagem vinda de Deus – a dimensão religiosa do monarca. Todos estes elementos identificavam plenamente este primeiro animal como sendo Babilónia.

2) O urso (539 a. C. a 331 a. C.)
“o qual se levantou de um lado, tendo na sua boca três costelas entre os dentes” – v. 5. Este animal simboliza o império Medo-Persa. O crescimento do reino dos Medos foi interrompido pelas tribos Persas. Mais tarde sob a chefia de Ciro, o Persa, a Média é absorvida, fazendo parte do império dos Persas. O facto deste animal ter-se levantado de um lado, revela a preponderância da influência Persa sobre a Média, apesar de estarem ligados entre si. Para reforçar a atitude de poder da Pérsia sobre a Média, contrariando o que até recentemente acontecera, historicamente falando, no livro da rainha Ester encontramos uma alusão a esta mesma subordinação de poder, ou seja, Pérsia e Média e não o contrário – Ester 1.3!
Este animal é forte e brutal, representando a crueldade conhecida dos Persas. A alusão a estas costelas é uma referência às potências esmagadas pelo animal, a saber: Babilónia, Lídia e Egipto.

3) O leopardo (331 a. C. a 146 a. C)
“e tinha quatro asas de ave nas suas costas; tinha também quatro cabeças e foi-lhe dado domínio” – v. 6. A figura deste animal é utilizada para indicar rapidez – cf. Habacuque 1.8. Babilónia, para demonstrar esta mesma rapidez de conquista, o animal que a representava tinha, como vimos, asas (duas) de águia – v. 4. Neste símbolo, quatro asas, querem mostrar ao leitor a excepcional celeridade das conquistas efectuadas pelo símbolo deste animal – a Grécia – na pessoa de Alexandre Magno. Devido a esta particularidade, alguns historiadores apelidam Alexandre, o Grande, de “o raio de guerra”. Este grande conquistador irá morrer prematuramente. Para ilustrar esta curta e episódica existência desta excepcional máquina de guerra, é-nos dito que “a sua curta vida passara-se totalmente em campanhas”.
Como já vimos anteriormente, trata-se do mesmo poder, foi dito que “o terceiro reino terá domínio sobre toda a terra” – Daniel 2.32,39. Na realidade, o domínio é completo, universal, pois não se limitou, como os outros, ao aspecto meramente político-geográfico, mas também cultural; na realidade a Grécia marcou o panorama cultural da sua época, como influenciou as civilizações vindouras como se poderá apreciar nesta declaração: - “(…) as influências – na religião, na filosofia, no teatro e na historiografia – tornaram-se tão fortes que foram protestadas com veemência. A conquista gradual do mundo helenístico inundou Roma. (…) Em muitas áreas é impossível discutir as ideias romanas separadas dos seus modelos ou inspiração gregos”.
A alusão às “quatro cabeças” do animal indica a partilha do império grego entre os quatro generais de Alexandre, visto que, devido à morte prematura deste, não deixou sucessor. Assim ficou repartido o vasto império de Alexandre: 1- Cassandro, ficou com a Macedónia; 2- Ptolomeu, apoderou-se do Egipto; 3- Lisímaco, ficou com a Trácia; 4- Seleuco, com a Síria.

4) O estranho animal (de 146 a. C….)
“(…) terrível, espantoso e muito forte, o qual tinha dentes grandes de ferro; ele devorava e fazia em pedaços e pisava aos pés o que sobejava; era diferente de todos os animais que apareceram antes dele e tinha dez pontas (chifres)” – v. 7. O profeta Daniel mostra um particular interesse em saber: 1- “a verdade a respeito do quarto animal”; 2- acerca “das dez pontas (chifres) que tinha na cabeça”; 3- finalmente, “da outra (ponta, chifre) que subia, de diante da qual caíram três, e que tinha olhos e uma boca que falava grandiosamente (v. 8)” – v. 19,20. Vejamos cada uma destas vertentes que intrigam o profeta:
a) - Paralelamente ao que vimos no cap. 2, o mesmo metal encontra-se neste animal, pois tem dentes de ferro. Aqui, ao contrário da descrição da estátua – cap. 2 - esta mesma entidade – império romano - é apresentada com mais detalhe.
Este animal apresenta um conjunto de características que o tornam, segundo o texto, “diferente de todos os animais que apareceram antes dele”. Pois, quanto a nós, este animal apresenta, efectivamente, duas fases distintas, as quais o tornam diferente dos demais: 1- os diferentes animais que o precederam eram monarquias, enquanto que Roma era uma república. Estas diferenças incidiam na sua Constituição, leis, vida económica e política; 2- E, de tal forma assim é, que não foi possível encontrar em toda a fauna conhecida, um animal que o pudesse simbolicamente representar! Este pormenor sugere, efectivamente, algo de inesperado e incompreensível, mesmo para a mente humana mais brilhante. A não correspondência animal, manifesta, por si só, o quanto é misteriosa, incompreensível e estranha a sua existência. Dito isto por outras palavras: - além de ser um reino político, tem uma outra vertente que o torna diferente – a religiosa.
b) - Este animal, segundo o texto tem “dez pontas (chifres)”. Qual será o seu significado? O relato bíblico revela que estas pontas (chifres) representam: - “reis” – v. 24a. Assim, estes dez chifres (reis) ganham expressão no seio do império romano, ou seja, a ascensão dos povos bárbaros que conquistaram parte do território pertencente ao império romano, desmembrando-o. Estes povos que habitavam fora dos limites do império, destruíram as fronteiras e deram origem, por sua vez, a uma dezena de reinos, a saber: Visigodos, Ostrogodos, Hérulos, Francos, Borguinhões, Suevos, Alamanos, Vândalos, Anglo-Saxões, Lombardos.
c) – Este animal representa Roma sob três aspectos importantes, dos quais já abordámos o 1º e o 2º, a saber: 1- Roma pagã (imperadores); 2- Roma subdividida, visto dela saírem dez chifres; 3- A passagem da Roma pagã à Roma cristã.
Vejamos esta última: - a passagem está claramente identificada no texto bíblico, visto que uma “ponta (chifre) pequena” sairia de entre as dez pontas (chifres) já existentes – cf. v. 8,23,24.

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