quarta-feira, 16 de abril de 2014

A Organização do Apocalipse

Você já leu alguma vez o Apocalipse de ponta a ponta? Porventura já o fez muitas vezes?
Num e noutro caso, é bem provável que você tenha sida profundamente impressionado com os vívidos quadros e com as incandescentes promessas do livro: mas também é provável que finalmente tenha ficado perplexo ao pensar em como juntar todas as peças do quebra-cabeças.

À primeira vista e, para muitos leitores, mesmo à quinquagésima leitura, o Apocalipse parece ser o mais desorganizado dentro todos os livros da Bíblia. Se esta é a impressão que você tem talvez cause muita surpresa a afirmação de que, na verdade, ele é maravilhosamente organizado. De facto é possível que o Apocalipse, dentre todos os livros que têm o seu tamanho, seja, em toda a Bíblia, o mais bem organizado!

Familiarizarmo-nos com a organização básica do Apocalipse é algo que não nos tomará mais que algumas páginas, e o esforço empreendido em lê-las será plenamente compensador. Em menos de quinze minutos, poderemos perceber facilmente a inteligência da estrutura simétrica que estabelece ordem na aparente confusão. Nesse processo de análise, obteremos provavelmente a mais útil de todas as possíveis chaves, capazes de desvendar o significado do livro. Como prémio adicional, começaremos também a encontrar a resposta à questão frequentemente repetida: "Quanto do livro de Apocalipse ainda está por se cumprir?".

Tendo em mente tantas recompensas possíveis, dediquemos alguns momentos da nossa atenção à forma como está organizado o Apocalipse.

Profetas-poetas. Com bastante frequência, os profetas do Antigo Testamento foram também poetas. É claro que escreveram na sua própria forma de fazer poesia, não naquela que hoje conhecemos e usamos. Eles fizeram uso de paralelismos e contrastes, acrósticos, quiasmas e trocadilhos sérios. Por vezes chegaram ao ponto desejado através do uso de um número preciso de palavras. Em Daniel 9:24, por exemplo, é possível observar como três frases de duas palavras são conectadas de modo significativo a três frases de três palavras. Constatamos que uma certa familiaridade com a estrutura literária pode auxiliar-nos definitivamente na compreensão de uma passagem difícil.

Não deveria surpreender-nos o facto de que os profetas fossem poetas. A composição da poesia exige mais esforço que a prosa e, corretamente elaborada, torna-a mais atrativa que esta. Os profetas, impressionados com a importância das mensagens a eles confiadas, trabalham arduamente para as expressar bem. Além disso, Deus - que os inspirou com as mensagens também os ajudou a comunicá-las. Não se esqueça, por outro lado, que por ocasião do Pentecoste Deus concedeu a João o dom de línguas. Veja Atos 1:12-14; 2:1-4. Não admira, pois que, ele conseguisse expressar-se bem!

O Apocalipse não é poesia no sentido em que o são, por exemplo, os "Meus Oito Anos", de Casimiro de Abreu, ou "Navio Negreiro" de Castro Alves. Mas sim, no sentido em que constituem poesia e discurso de Lincoln em Gettysburg, a locução "Eu Tenho um Sonho", de Martin Luther King ou a "Oração aos Moços", de Rui Barbosa. É maestria literária. É a eloquência emoldurada por um formato. É a inspiração expressa com ordem e elegância.

Números como tema. Qualquer pessoa que leia o Apocalipse, mesmo pela primeira vez, perceberá a frequência do números "sete". Existem sete igrejas, sete anjos, sete selos, sete trombetas, sete pragas e muitos outros "sete", incluindo alguns que não estão enumerados, mas ocultos. Você e sua família podem ocupar-se na elaboração de uma lista própria. Sugiro que comecem compilando os exemplos mais óbvios e depois avancem para os que se encontram disfarçados.

Os números três, quatro e doze também desempenham um papel artístico no Apocalipse. Os selos e trombetas encontram-se divididos em grupos de três e quatro. Veja os capítulos 6 a 11. Três multiplicado por quatro resulta nas doze portas da Nova Jerusalém. Veja o capítulo 21. Doze tribos vezes 12.000 compõem os 144.000 no capítulo 7.

À medida que avançarmos, examinaremos a disposição artística interna de passagens e hinos individuais, bem como a adequação dos símbolos dramáticos utilizadas aqui. Entretanto, é possível que a mais persuasiva evidência da qualidade literária do Apocalipse seja a sua organização geral na forma de um quiasma.

Vou deixar algumas imagens ilustrativas da beleza do Apocalipse:
Clicando sobre a imagem amplia.
José Carlos Costa, pastor

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