quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

As Chaves deste Sangue – A Igreja Católica Romana e o Poder

A Igreja Católica romana é hoje, mais do que nunca, uma força que será preciso ter em conta, pois move-se como ninguém no seu meio ambiente preferido, onde ela é mestre e exímia devido à sua larga experiência de séculos – o xadrez político. Como material de base reportar-nos-emos a um volumoso livro escrito por um teólogo jesuíta chamado Malachi Martin, que foi professor na Universidade Pontifícia, no Vaticano. Este escreveu o livro que fazemos referência, na década de 1980, acerca desta mesma problemática. O livro, todo ele, é sugestivo, pois desde logo, na capa, tem a figura da personagem mais importante, politicamente falando, do passado recente – o Papa João Paulo II.394
Como se isto não bastasse, o título do livro em causa é, de igual modo, tremendamente sugestivo: - “As Chaves deste Sangue”. Este tem como subtítulo algo ainda mais extraordinário para um livro de aparência religiosa. Eis o subtítulo em causa: - “O Papa João Paulo II versus Rússia e o Oeste para controlo da Nova Ordem Mundial”. Isto dito por outras palavras, teremos: - a luta pelo domínio do mundo entre: João Paulo II, Mikhail Gorbatchev e o Ocidente capitalista (U.S.A). Abramos aqui um breve parêntesis para analisarmos a, desde já, alguns excertos do livro em causa:
1ª- A competição será a nível global, segundo o autor, entre estas três partes beligerantes, politicamente falando. Diz ele que: - “a vida individual dos cidadãos, das famílias, do comércio, dinheiro, sistemas de educação, religiões e culturas e a identidade nacional, tudo será poderosa e radicalmente alterado para sempre. Ninguém pode estar isento dos seus efeitos. Nenhum sector das nossas vidas será intocável”.
2ª- Ele, o autor, dá um passo em frente na explanação dos seus argumentos e refere que, nesta competição – “o pontificado de João Paulo é o vitorioso nesta competição”.
3ª- Assim, princípios como a “separação da Igreja do Estado foi a causa da ruína moral do Ocidente”. Curiosamente, o Espírito de Profecia, a este propósito refere, exactamente, o contrário – “Foi também concedida liberdade de fé religiosa, sendo permitido a todo o homem adorar a Deus, segundo os ditames da sua consciência. Republicanismo e protestantismo tornaram-se os princípios fundamentais da nação. Estes princípios são o segredo do seu poder e prosperidade”. Nesta qualidade é necessário restabelecer o que se perdeu – moral e espiritualmente – falando. Assim: - “Os valores da libertação e liberdade são garantidos por valores elevados”. Continuando o autor a dizer que: - “A santidade é o objectivo não só das pessoas, mas também das instituições humanas. Tudo isto, claro, é rejeitado pelo actual secularismo”.
Claro, perante a falência dos sistemas políticos, qual será a potência que garante a estabilidade de todos estes valores morais e espirituais? A resposta, para a época, estava no pontificado de João Paulo II – na medida em que “João Paulo II é não só a cabeça espiritual de um corpo mundial de crentes, mas também o líder executivo de um Estado soberano que é membro reconhecido da sociedade de Estados do final do século vinte. Com um objectivo e uma estrutura política? Sim, com um objectivo e uma estrutura geopolítica. Pois, em análise final, João Paulo II, reclamando o título de Vigário de Cristo também reclama ser o tribunal de última instância da sociedade de Estados enquanto sociedade”.
4ª- Alguns ao caracterizarem o papa João Paulo II, dizem: - “Neste século, este Papa é, certamente, depois de Pio XII, o mais fervoroso devoto da Virgem no trono de S. Pedro”. Isto tem que ver como Malachi Martin descreve a relação do 3º segredo de Fátima com o papado – João Paulo II.402 Ao contexto próximo estão ligadas algumas vertentes, tais como: 1ª- a consagração da Rússia; 2ª- o atentado que este papa foi alvo, etc. O papa, ele mesmo refere, a propósito: - “uma mão que puxou o gatilho e uma outra mão materna que guiou a trajectória da bala”. < (…). A piedade mariana de Wojtyla (João Paulo II) torna-se cristocêntrica. Torna-se o próprio sofrimento de Cristo na cruz>”.
Este terceiro segredo de Fátima foi analisado por três papas e, segundo Malachi Martin: - “João XXIII achou que os acontecimentos ali relatados não tinham relevância para o seu pontificado (…). Paulo VI
leu o conteúdo e decidiu não fazer nada acerca do assunto. João Paulo I também lê o documento de Lúcia, mas só vive 33 dias. João Paulo II leu o documento e, a exemplo dos seus antecessores, nada viu de relevante ali. Mas estávamos em 1978”. Na verdade, “o atentado contra João Paulo II mudou o cenário”. Efectivamente, tudo mudou. Desde logo, na compreensão de alguns acontecimentos:
a– Efectivamente, tal como é referido - “para João Paulo II, as profecias de Fátima são. Estas aparições e o atentado de 13 de Maio de 1981 inscrevem-se no mesmo pano de fundo, que é a História trágica do século XX, que começou em 1917 e terminou com a queda do Muro de Berlim em Novembro de 1989”.
b- Para um enquadramento dos factos, vejamos como é descrita a actuação do Pontífice neste contexto agora aflorado, visando o cumprimento do que fora predito por Lúcia em relação à Rússia: - “Se o colapso do comunismo aconteceu, a partir de 1989, sem o terrível derramamento de sangue que poderia tê-lo acompanhado, isso foi também em virtude dos actos de João Paulo II, dos seus firmes e emocionados apelos públicos e da diplomacia subterrânea encorajada por ele. Como testemunhou um qualificado representante político - . Reconheceu-o abertamente o próprio presidente russo Makhail Gorbachov quando afirmou: ”.
c- Ou ainda, recorde-se, a visita espectacular no dia 1 de Dezembro de 1989 de Mikhail Gorbachov, pela primeira vez, ao Vaticano para um encontro com João Paulo II. Qual foi, nas suas grandes linhas, o teor e objecto deste encontro? Ora vejamos quão significativa é a descrição do quanto neste se passou: - “(…) só a força de Deus levou os homens a aceitar a mudança, e ”.
d- Tal como já referimos, com a queda do comunismo, a esta está interligada, nomeadamente, a queda do muro de Berlim a 9 de Novembro de 1989. Uma vez mais, o nome do Pontífice a ela está ligado: - “Do mesmo modo, quando lhe agradeciam porque tinha contribuído para a queda do muro de Berlim, replicava: , seguro da profecia da Virgem de Fátima acerca da conversão da Rússia e da subsequente queda do comunismo”.411 Assim, em função de todos estes acontecimentos, finalmente, “Em 1992 Gorbachov fez chegar ao Vaticano duas páginas de testemunhos em russo intituladas Sobre o Papa de Roma, nas quais confirmava a sua própria convicção de que a figura do Pontífice tinha sido decisiva para imprimir esta direcção à História”.
5ª- Perante todos estes acontecimentos, nesta “(…) luta de titãs, o comunismo e a Igreja (…)” só deveria existir entres estes dois poderes – Europa e Leste – um único vencedor, tal como Malachi Martin o refere – o papado. Na perspectiva de João Paulo II haveria uma outra era, longa ou curta, quando um grande projecto de Deus fosse inaugurado – uma unidade geopolítica de todas as nações. E quem estaria à cabeça deste sistema para reedificar o edifício moral que os Estados não conseguiram manter? Alguém tinha que estar à altura desta grande tarefa e, segundo este autor: - “o Grande Projecto de Deus seria executado. Ele, João Paulo II seria o Servo do Grande Projecto”.
6ª- Porquê o título do livro de Malachi Martin? Porque quis, não só realçar e descrever o nome da pessoa ou do sistema por ele representado – João Paulo II -, como também, a razão do direito do papado a vencer nesta litigância. Para realçar ainda mais o seu propósito, ele cita o resultado de uma visão que Catarina de Siena teve acerca da origem da autoridade papal. Na época, após a morte do papa – Gregório XI (1370-1378) – vários perigos ameaçavam a Igreja na disputa da cadeira de Pedro. Acerca da origem da autoridade papal, eis o que ela conta, a este propósito, de uma das suas muitas visões estáticas:
“Deus, o pai:
– De quem é este sangue?
Catarina: - O sangue do Nosso Senhor, Vosso divino Filho.
Deus, o pai: - A quem deu o Meu Filho as Chaves deste sangue?
Catarina: - A Pedro, o Apóstolo
Deus, o pai: - Sim. E a todos os sucessores de Pedro até este momento. E a todos os sucessores de Pedro até ao tempo do fim. Isto é porque a autoridade destas chaves nunca fraquejará, porque a força deste sangue nunca poderá ser diluída”.
Assim, segundo a visão, não só a autoridade papal é definitivamente proclamada e, uma vez mais assente, não no homem, na sociedade, como também esta vem directamente de Deus aos sucessores de S. Pedro. Portanto, uma autoridade incontestável.
7ª- É, portanto, relativamente recente ouvir-se falar da temática – Nova Ordem Mundial – visto que esta ideia pressupõe um governo centralizado, advogando a unidade de todos os poderes. Na verdade, para que o velho sonho de Babel possa ser, finalmente, uma realidade, nada mais resta a não ser encontrar - um chefe galvanizador – alguém que tenha algumas particularidades, carisma, ou seja, alguém que seja aceite por todos, independente de todas as nações, que garanta os valores que o tempo e os sucessivos governos foram a causa primeira da sua degradação. Esta resposta a estas questões passa, inevitavelmente, por um sistema que comporte, em simultâneo, estas duas vertentes, a saber: a religiosa e a política. Na área religiosa, apesar de diferente, consegue, por estranho que possa parecer, galvanizar e harmonizar vontades tão distintas umas das outras. Na área política, que país ou Estado na Europa ou no mundo, tem a experiência que o Vaticano tem na arte diplomática, historicamente falando? A resposta é simples: - nenhum.
Na verdade, a figura carismática do papa João Paulo II parecia reunir todos estes ingredientes. Pois não será, certamente por acaso, à luz do que vimos até aqui, que a Revista Time elegeu João Paulo II como sendo o - "Homem do ano" de 1994. Este orgão de informação justificou assim a escolha: - "em um ano em que tantas pessoas lamentam a deterioração dos valores morais ou buscam pretextos diante de um mau comportamento, o Papa João Paulo II levou adiante, com determinação, sua visão de uma vida reta e convidou o mundo a fazer o mesmo. Por essa retidão, ele é o . (…) A sua angústia pela situação da Bósnia e por outras guerras no mundo, pela decadência dos valores morais e, sobretudo, sua preocupação com a santidade do ser humano para a qual, segundo o texto, ”.
Na verdade, todos estes movimentos a nível global que concorrerão para esta unidade de governos para que haja um único líder, um único sistema centralizador, poderá assustar qualquer um. Mas, a exemplo do passado, o povo de Deus nada tem a temer, pois o Deus do passado é o mesmo de hoje e Ele continua no controlo deste mundo, visto ser Ele o seu Criador. Fechar parêntesis.
Voltemos de novo, à Palavra de Deus – Génesis 11. Como vimos atrás, à voz de Deus, tudo o que era normal, de repente, ficou anormal, confuso. Inesperadamente, a união que parecia forte, até então, agora, desfaz-se.
- V.9- “Por isso se chamou o seu nome Babel, porquanto ali confundiu o Senhor a língua de toda a terra; e dali os espalhou o Senhor sobre a face de toda a terra”.
Aquele lugar passou a chamar-se: - Babel, confusão. Assim sendo, para que a harmonia se restabelecesse, ainda que divididos, aqueles que se compreendiam uniram-se entre si e, cada grupo linguístico, foi para cada lado.

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