domingo, 5 de dezembro de 2010

SEGUNDO A IGREJA CATÓLICA ROMANA O CRENTE NÃO TEM DIREITO À ESCOLHA.

Até aqui, de uma forma muito sumária temos vindo a ver a veracidade das Escrituras. Ligado com esta característica da Palavra, o cristão é convidado a examinar a Bíblia para se certificar de todas as coisas que possam dizer acerca da divindade. Esta é, quanto a nós, a regra áurea!
Seitas! Quanto se tem falado e escrito sobre tão fascinante tema! Está mais do que na ordem do dia e, muitas vezes, nas primeiras páginas da imprensa nacional e internacional.
Passemos a definir os termos para que saibamos do que estamos a tratar. Assim, se consultarmos um dicionário encontramos uma definição de Seita, a saber: “doutrina ou sistema que se afasta da crença geral; facção; reunião de pessoas que professam uma religião diversa da geralmente seguida”
Uma seita não é mais do que um grupo, maior ou menor, de pessoas que se polarizou à volta de alguma interpretação particular da Bíblia. Esta interpretação ou interpretações caracterizam-se, geralmente, por grandes desvios do cristianismo ortodoxo no que respeita às doutrinas basilares que norteiam a fé cristã. Poderíamos tentar uma outra definição de seita que é: “uma perversão, uma distorção do cristianismo bíblico ou a rejeição dos ensinos históricos da Igreja Cristã”.
Será que ao examinarmos a Bíblia podemos sentir, de igual modo esta problemática? Pensamos que sim e, curiosamente, prezado leitor, o Movimento iniciado em Cristo Jesus foi tido, aos olhos da grande Sinagoga, exactamente como qualquer confissão religiosa, nos dias de hoje o é, só por ser diferente da confissão maioritária - uma SEITA!
Jesus disse ser “O Caminho, a Verdade e a Vida” – S. João 14:6. Ao fazê-lo afirmou o Seu carácter divino e “toda outra verdade é relativa, isto é, que não tem valor a não ser na relação com Cristo, que é a verdade. Uma doutrina que se diz absolutamente verdadeira, independentemente de toda a relação com Cristo, não é senão mentira”.
Dito isto, os seguidores de Jesus, deste obscuro pregador da Galileia, foram conhecidos como sendo seguidores do “Caminho, Via” – Actos 19:9. Mais tarde, Saulo de Tarso, o grande inimigo de todos aqueles que se diziam aderentes ou afectos ao obscuro galileu, também reconhece que perseguiu os do “Caminho, os da Via” - Actos 22:4; em Antioquia, os discípulos começaram a ser chamados, finalmente, de “Cristãos” - Actos 11:26
Jesus foi, por sua vez, levado à presença de Pilatos sob a acusação, entre outras de “sublevar o povo” – S. Lucas 23:2. Em que é que Jesus pervertia, sublevava ou, se quisermos, incentivava o povo à revolta contra a opressora Roma? Seria por que ensinava o que era incorrecto e, por conseguinte, ilegal? Ou seria por que ensinava aquilo que os “grandes” e “instalados” na sociedade religiosa do Seu tempo não gostavam de ouvir? Numa breve análise aos textos, estes declaram-nos o que Jesus dizia acerca destes: “(…) mas odeia-Me a Mim, porque faço ver que as suas obras são más” S. João 7:7; ou ainda “Que faremos, uma vez que este homem realiza tantos milagres? Se O deixarmos assim, todos crerão n’Ele e virão os romanos e destruir-nos-ão o Templo e a Nação. (…) A partir, pois, desse dia, resolveram matá-Lo” – S. João 11:47,48,53
Saulo de Tarso, embuído do espírito de que - quem não é por mim é contra mim - resolve colocar-se ao serviço da grande Sinagoga e perseguir os cristão até à exaustão! De caminho para Damasco, tem uma visão e converte-se. Todo este drama está contado no livro dos Actos 9:1-18. Agora, de perseguidor e opressor, passa a perseguido, oprimido!
Paulo tinha agora que defender a sua nova fé. Como primeira consequência é preso e levado a tribunal; ali ouve o libelo acusatório que lhe foi dirigido nestes termos:” Nós verificámos que este homem é uma peste: Fomenta discórdias entre todos os judeus do mundo inteiro e é cabecilha da seita dos Nazarenos” – Actos 24:5. Até ali, porque estava ao serviço do campo contrário, dos grandes interesses, dos instalados, ele era um homem altamente qualificado e, acima de tudo, promissor! Agora, tal como o texto o revela, não passa de “uma peste (…) e é cabecilha da seita dos Nazarenos”!
S. Paulo vai construir a sua defesa, mas como? Nem mais nem menos, recorrendo ao velho e único processo, o método ensinado pelo Cristo - as Escrituras! Assim, ele diz em sua defesa: “Sirvo o Deus dos nossos pais como ensina a «Via», a que eles chamam partido (seita). Acredito em tudo quanto há na Lei e em tudo o que está escrito nos Profetas” – Actos 24:14. Isto dito por outras palavras: - creio em tudo o que está escrito no Antigo Testamento, (visto não existir ainda o Novo testamento)! Então, onde está o crime? Afinal, cria em tudo, tal como os demais? O crime, era, como facilmente se compreenderá, ser diferente da maioria! Não estava em causa possuir ou não a Verdade, ou um maior ou menor conhecimento desta, mas só porque os homens daquela confissão religiosa – a judaica - acharam que S. Paulo, como os demais aderentes, não tinham o direito à diferença, só isto!
Depois, em prisão domiciliária, S. Paulo recebe a visita de alguns judeus que lhe falam da extraordinária divulgação daquela nova doutrina da qual ele era o principal divulgador. Estes, ao visitá-lo, assim se expressaram: “Desejamos, porém ouvir da tua boca o que pensas, pois quanto à seita a que pertences, sabemos todos que, por toda a parte, encontra oposição” – Actos 28:22 (sublinhado nosso). Quando alguém é castigado, não será porque prevaricou a diversos níveis? Ora, se todos dizem conhecer e seguir o mesmo livro, como é que poderá existir oposição ao mesmo ensino dele emanado? À luz deste mesmo texto – Antigo Testamento da época – qual foi a heresia Paulina para que passasse a ser odiado?
No 1º processo contra S. Paulo, foi-nos dito que ele era uma “peste”. Os cristãos, no século I, eram considerados uma “peste”, pois circulava acerca deles que: “todo o homem incapaz de se integrar na sociedade num sentimento de respeito mútuo e de submissão às leis, é uma peste social e merece ser condenado à morte”.
Ao examinarmos esta vertente, ela dá-nos a conhecer que, na maior parte das vezes o dito “herético” não é tanto aquele que é rotulado como tal, por que se afasta da “doutrina ou crença geral”, mas porque a dita confissão religiosa que deveria ter a tal “lanterna acesa”, como vimos na ilustração mais acima, unicamente se limita a estar estaticamente no seu lugar, nada mais! Assim, obriga o outro, mesmo sem querer, a sair da raiz comum - a sua Igreja – que tanto ama! Vê-se coagido a fazê-lo, porque esta, comparativamente ao ensino exarado e decorrente dos textos, nada tem e não passa de um simulacro da Verdade, nada mais! Está no lugar? Sim! No cumprimento do dever? Sim! Mas, infelizmente, com a lanterna apagada!
Olhemos para os judeus. Qual era o seu conceito de VERDADE? Será o que estava escrito pela vontade de Deus? Se o era, então Cristo deveria estar sempre de acordo com esta Verdade – as Escrituras? O que é que trouxe de novo com a Sua vinda? Sim, o quê? Pois bem “trouxe toda a novidade vindo ele mesmo pessoalmente, ele que tinha sido anunciado” Porque sabiam que tinham sido escolhidos, que eram o “Povo Eleito” e, para eles era o quanto bastava! Eles eram o “Sistema” e a “Maioria” confortavelmente instalada! Representavam estes dois valores; 1- O único; 2- O mais velho! Neles militavam os “grandes” da época! Talvez pense ou diga: Afinal será tanto assim? Ora vejamos se estamos a exagerar:
Certa vez pensaram prendê-Lo; aquela voz incómoda - Jesus! Enviaram para o efeito uma força policial, diremos nós, em linguagem moderna, para o interceptar, prender e trazer à presença das autoridades religiosas do Templo. Eles voltaram, é verdade, mas sozinhos! Em face da realidade nua e crua, cheios de admiração pelo que viam, os líderes lhes disseram: - “Também vos deixastes seduzir? Porventura creu n’Ele algum dos chefes ou dos fariseus?” – S. João 7:47,48 (sublinhado nosso).
Eis aqui, prezado amigo leitor, bem expresso o - Conceito de Verdade - para a confissão religiosa maioritária e oficial da época! Afinal, qual era este conceito? O próprio texto o declara com toda a simplicidade: 1- Os chefes; 2- Os fariseus.
O conceito de – VERDADE – para os da sinagoga: a Maioria, os Grandes deste mundo a diversos níveis! Poderíamos parafrasear as palavras destes altos dirigentes aos seus servos, de uma forma mais simples e reveladora, como por exemplo: - Reparem bem, meus amigos: 1- Quem é ele? 2- Quem é que com ele anda? Vejam bem, sejam razoáveis! Onde estão os magistrados? Os altos dirigentes? Os intelectuais da nação? Vá, sede sensatos, não caiam no ridículo! Todos estes estão connosco, não com eles! Vejam bem, não percam a razão! Se olharem à vossa volta o que é que vêem? Só gente simples e humilde, a escumalha e ralé do povo - nada mais! Que Verdade é que tinha este obscuro e incomodativo Galileu?
Estamos a exagerar, imaginando coisas, dirá! Mas, já reparou qual era a opinião destes chefes religiosos em relação ao povo humilde? Ora veja: “Quanto a esta gente que desconhece a Lei (a Torah, o Antigo Testamento da época) é MALDITA!” – S. João 7:49 (sublinhado nosso).
Ninguém ousou rebater os Seus ensinos e trazê-Lo sob prisão, porquê? Porque não era arruaceiro? Só porque era pacífico? Porque falava coisas bonitas ao ouvido, coisas de embalar? As Escrituras não nos deixam ao acaso, prezado leitor! Vejamos o testemunho destes servos, aos seus líderes, quando regressaram, de mãos vazias: - “Homem algum falou como esse homem” - v. 46. Mas o que é que Jesus falou para que o testemunho fosse este? O que é que cativou e tornou impotentes estes homens duros? Somente uma coisa, prezado leitor - a Sua autoridade! Sim, a autoridade que é corolário do quanto está escrito! Viver e ensinar conforme, e não ser como os fariseus, hipócritas, dizendo uma coisa e fazendo outra! É assim que Jesus retrata os condutores religiosos do Seu tempo: “(…) não emiteis as suas obras, pois eles dizem e não fazem” – S. Mateus 23:2 (sublinhado nosso). Eis aqui toda a diferença, e esta é de peso, não é verdade!
Repetimos, portanto, os critérios para que, à luz dos quais, se considere que uma terceira confissão religiosa seja uma seita ou movimento herético: 1- A exemplo de Jesus, a Sua presença e ensino eram uma pedra de tropeço para os Seus contemporâneos; 2- Porque fazem jus à definição de seita, isto é, que se afasta da “crença geral” ou da “religião geralmente seguida”. Note-se que não se menciona a Verdade, isto é, define-se Seita como um conjunto de pessoas que, pelo seu modo de pensar, se desviam da Verdade. Portanto, o que conta, parece, é uma religião que é norma, não por que tenha ou siga a VERDADE, mas porque a MAIORIA a segue! Que estranho, não acha?!
Numa primeira conclusão diremos que só se poderá apontar, catalogar e identificar uma terceira confissão religiosa ou pessoa com o pomposo epíteto de “herético”, com algo que seja a – NORMA – e que, ela mesma seja a “crença geral” ou a matriz da “religião geralmente seguida”. Se quisermos ser honestos, pois não queremos ser outra coisa, então diremos abertamente que estes – atributos – não repousam sobre nenhum ser humano, sistema religioso ou confissão religiosa, mas unicamente sobre a – Palavra de Deus! Só ela foi, é e será a Norma! Porquê? Pela simples razão de que ela é o Cânone e, tanto quanto saibamos, nunca abdicou desta função, delegando-a no próprio homem ou instituição!
Para uma melhor compreensão do que acabamos de dizer, será bom, que citemos, de novo, o autor em causa. Quando este se propõe abordar a problemática das “seitas”, diz que: “ o que vamos tratar é precisamente da questão bíblica. Interessa-nos saber o que é a Bíblia e como compreendê-la: são os novos Movimentos religiosos (seitas) que têm razão ou é a igreja católica romana e as igrejas ortodoxa e protestantes históricas (de raiz luterana e anglicana) que têm razão?”
Como resolver esta questão? Mais abaixo abordaremos este tema! Mas para já, pensemos somente em quem poderá realmente dizer que esta ou aquela igreja tem razão? Esta dita “razão” a que o autor se refere, e tal como a expressa em muitas vertentes, ela está muito condicionada à pessoa da instituição que representa!
Mas, dizíamos: esta “razão” deverá apoiar-se unicamente nas Escrituras, num veemente: “Assim diz o Senhor” e não como o nosso autor o deseja que esta se apoie na - “antiguidade” ou na “historicidade” - desta ou daquela confissão religiosa, nomeadamente na que ele representa! É aqui, meus amigos, que reside toda a diferença e única dificuldade do problema! Perguntamos: Será a Igreja de Roma, uma confissão religiosa como outra qualquer, só que mais antiga, a verdadeira descendente da Igreja Primitiva? A sê-lo, como pretendem, será que manteve e mantém a pureza e a força que advém de um firme: “Está escrito”? Ou será só como, na ilustração – do guarda da passagem de nível - que, embora inabalável no seu posto, mas, infelizmente, com a candeia da VERDADE que conduz à SALVAÇÃO apagada?! Para que servirá estar no lugar e até ter a lanterna na mão se não dá qualquer luz? As trevas permanecerão e o vigilante torna-se, por esta negligência, totalmente desnecessária, não é verdade? No campo espiritual, será que poderemos ter uma opinião diferente? Cremos firmemente que não!
Como dissemos, mais adiante teremos oportunidade de abordar tais temáticas. Iremos por partes para que o leitor, gradualmente, se aperceba da realidade histórica e bíblica e assim poder julgar com equidade. Sim, você, prezado amigo que ama e deseja conhecer, não a palavra de homens, de um homem ou de um sistema religioso qualquer que ele seja, mas a única, pura e excelsa - a Palavra de Deus!
E não será assim? A este propósito, recordaremos um episódio passado com o rei Herodes. Quis ocupar o lugar que não devia; quis ser uma espécie de “arauto da verdade”, só que… à sua maneira! E quanto ao povo, os potenciais auditores da professa mensagem que este tinha para dizer, qual a sua reacção? Com toda a clareza este exclamou indignado: “É a voz de Deus e não de um homem” – Actos 12:22
Tal como foi na antiguidade, assim continua a ser nos nossos dias! Queremos ouvir a voz de Deus, através da Sua Palavra e não a de homens, unicamente apoiados na palavra humana, a qual não está ancorada num firme: “Está escrito”! Assim, para que servirá um tal ensino? Qual a sua base, autoridade e força? Esta foi sempre o que serviu de base e consolidação da Verdade - a voz de Deus através da Sua Palavra – as Escrituras!
Dito isto, citaremos ainda o autor quando refere: “(…) não se trata de julgar pessoas, mas simplesmente de julgar os processos seguidos para compreender e interpretar a Bíblia, uma vez que a Bíblia está na origem das doutrinas e sistemas destes novos Movimentos religiosos (seitas). Que nos seja permitido lançar algumas questões para a fogueira da discussão: Por que razão é que “estes” serão tidos por seitas? Será só porque são de origem recente na praça religiosa? Será por que são minoria? Será por que as suas doutrinas contêm erros bíblicos? Será que a norma que as regem, no dizer de alguns, são “biblistas fundamentalistas”? Quem julga quem? À luz de que Verdade?
Continuemos. Mas, prezado leitor, que processo utilizar para o efeito? Não será a própria Palavra de Deus? Não é assim que Simão Barjonas – Petros, o 1º papa, dizem, aconselha a toda a cristandade ao dizer: “Mas sabei, antes de tudo, que nenhuma profecia da Escritura é de interpretação particular, porque jamais uma profecia foi proferida pela vontade dos homens. Inspirados pelo Espírito Santo é que os homens santos falaram em nome de Deus” – II Pedro 1:20,21 (sublinhado nosso). Ora se nada foi produzido pela autoria e vontade humana, mas por que foram inspirados por Deus, cremos, sem grandes rasgos de inteligência da nossa parte, reconhecer que esta ESCRITURA só Deus é que tem autoridade para a explicar! Sendo assim, não se explicará a Bíblia, Deus através dela, no essencial: doutrina, normas de conduta para todo aquele que se diz crente?
É exactamente tal como o refere o nosso autor, quando diz a este respeito: “(…) toda a interpretação privada da Escritura é banida”. Nem poderia ser de outra forma! Se é inspirada por Deus, repetimos, logo terá que ser unicamente Deus a explicá-la! É, pensamos, por esta razão, que não existe qualquer doutrina baseada num só versículo, porque a palavra de Deus é um todo coerente; toda ela tem que dizer, acerca do mesmo assunto, exactamente a mesma coisa! Por isso esta é “inspirada e não de particular interpretação”!
É, portanto, na pureza bíblica que encontramos a História e o caminho da Salvação em Cristo Jesus e não noutro lugar qualquer! É por esta razão que nenhuma confissão religiosa pode ou tem o direito de, a contento de razões internas, interpretar as Escrituras para que estas “aparentemente” digam o que esta gosta de ouvir, quando essa doutrina contradiz, frontalmente, o restante ensino das mesmas Escrituras! Para demonstração do que acabamos de dizer, eis a razão de ser do livro que comentamos! Vejamos a este propósito, como o autor procede com a confissão religiosa Testemunhas de Jeová, ao tentar repor a verdade dos textos:
E não é este o meio, e desde já o felicitamos por isso, pelo qual o nosso autor repõe a Verdade? Claro! Já, ao nível do texto, em relação às distorções e agressões ao mesmo, apresentadas por esta confissão religiosa? Claro que sim! Vejamos as duas versões:
Quando as comparamos, vemos que o que está sublinhado e com cor mais viva (na tradução dos Testemunhas de Jeová) é: 1- O que foi acrescentado (o, um); 2- O que está, abusivamente, traduzido com letra minúscula (deus)!
Perante o exposto, perguntamos: Como é que o autor repôs a Verdade? Inventando? Será só por que este ensino é diferente do da sua confissão religiosa? Claro que não! Analisou o texto no original, o que lhe permitiu corrigir o texto e acrescentar: “Uma vez mais o que as Testemunhas querem negar é a divindade de Jesus Cristo servindo-se, para tanto, de manipulação gramatical ao texto original”.
Ora, ao proceder assim, repetimos, o felicitamos! Mas, então, por que é que não usa, exactamente, o mesmo processo para análise das doutrinas da confissão que representa? Haverá dois pesos e duas medidas? Se assim é, não deveria ser!
Mas, infelizmente, esta confissão religiosa, a certa altura da sua história, pensou que a Salvação não está em Cristo, entenda-se, mas na forma como “nós” compreendemos e ensinamos ao crente este mesmo caminho que conduz a Cristo – a Salvação (S. Lucas 19:9)! O resultado? A História humana que a conte! As Escrituras, prezado leitor, não podem ser utilizadas só quando convém desta ou daquela maneira, MAS SEMPRE pelo que elas contêm! Estas não têm cor religiosa e, muito menos, pertencem a esta ou àquela confissão religiosa em particular, graças a Deus por isso! Porque sendo a Palavra de Deus neutra a qualquer sistema religioso, o autor, neste caso específico, não chamou a si a pretensa AUTORIDADE da confissão religiosa que serve, mas sim a das Escrituras! E porquê? Porque estas não são “de particular interpretação”!
O que é a “Igreja” a não ser uma assembleia e reunião de pessoas! A palavra “Ecclesia” significa comunidade, ajuntamento que resulta de um apelo. (…) A comunidade é o ajuntamento daqueles que pertencem a Jesus Cristo pelo Espírito Santo” . A acção é um chamar de fora para dentro! Mas para dentro de quê? De que confissão religiosa, de que Igreja? Esta, a existir, qual é? No mínimo, não será aquela que lê, ensina, vive e pratica o que está escrito no Livro que contém, só ele, a expressa vontade de Deus? Já reparou que Deus não deixou uma Igreja, entenda-se, com nome! Mas um ajuntamento de homens e mulheres de boa vontade que querem seguir a Sua vontade e, à luz da mesma, viver! Esta não tem nome ou rosto! E se tiver qualquer uma destas vertentes, então saibamos que, estes e estas identificar-se-ão unicamente, não com o que esta ou aquela confissão religiosa possa dizer ou ensinar, mas unicamente com o que revela e ensina a Palavra da Vida – As Escrituras!
João Calvino e Martinho Lutero
Que nos seja permitido abrir um parêntesis: - mergulhar, para já, um pouco na Idade Média, no dito tempo “obscuro” da História humana, por extensão, no da confissão religiosa, a saber, Igreja Católica Apostólica Romana. Esta pensava e ainda pensa ser o garante da Verdade! Tudo sabia e sabe acerca de tudo, visto dizer possuir, para este efeito, todos os mecanismos! Portanto, alcançou uma posição invejável – estar acima de tudo e de todos – eis, sem dúvida, a melhor posição para julgar tudo e todos! Atitude que sempre lhe foi particular e peculiar, apesar das aparências e retoques cosméticos!
Como vimos acima, o herético, de certa forma, ao afastar-se da “crença geral”, empreende uma escolha. Devido a esta opção decide cortar, segundo o seu próprio julgamento, com tal ou tais elementos discordantes em causa. Os teólogos ocidentais ao reflectirem, no século XII e XIII, acerca do que era, segundo estes, a fé, em condições e valores consentidos, recorreram lucidamente a este sentido etimológico da palavra heresia, que quer dizer: uma escolha!
O herético, isto é, aquele que escolhe, comete, por força da sua opção, as seguintes faltas:

1- Uma impenitência em relação a Deus, do qual ele pretende ouvir a Palavra;
2- Um afastamento, brevemente uma ruptura, em relação à comunidade.

O crente, portanto, segundo o raciocínio da Igreja não tem direito à heresia, isto é, à tal escolha! As heresias da Idade Média, mesmo na verdade das suas proposições, têm um ponto de partida e de chegada comuns, a saber: a atitude de polémica e de luta que todos tomaram contra a Igreja de Roma e a hierarquia, desejando a criação de uma nova Igreja que, acreditava-se, seria mais fiel aos ensinamentos do evangelho do que a tradicional, carregada de vícios!
As causas são, infelizmente, muitas! Para já, a faustosidade em que a Igreja vivia, assim como os seus mais altos dignitários. Leiamos um testemunho do século VI, quando descreve a residência do bispo Nicetius de Trier, natural da Aquitânia. Vejamos como, em breves pinceladas, esta é descrita: “Uma cerca flanqueada por trinta torres rodeia a montanha; um edifício ergue-se num local coberto, ainda há pouco, por floresta; a muralha estende as suas alas e desce até ao fundo do vale; No topo do alto foi construído um magnífico palácio com uma segunda colina encimando a primeira. As suas paredes rodeiam uma área enorme e a própria casa constitui uma verdadeira fortaleza. Colunas de mármore sustentam a estrutura imponente; a torre, dominando o caminho até ao portão, contém uma capela dedicada aos santos, além das armas para o uso dos guerreiros (…).
E nos nossos dias, será diferente? Para não irmos muito mais alto, na hierarquia, já reparou na residência episcopal? Para quê tanta grandiosidade para um único homem, solteiro e sem família? Dir-me-á que o que está em causa é o seu estatuto eclesiástico e não social, não é verdade? Mas mesmo este, está inspirado em quem e em que postulado? Bíblico não é certamente!

Bibliografia:
J. Almeida Costa e A. Sampaio e Melo, Dicionário da Língua Portuguesa, 5ª ed. Porto, Ed. Porto Editora, s.d., p. 1293
John McDowell e Don Stewart, Entendendo as Seitas, S. Paulo, Ed. Candeia, 1992, p. 9
Daniel von Allmen, l’Évangile de Jésus-Christ, Yaoundé, Ed. Cle, 1972, p. 376
Michael Green, L’Evangélisation dans l’Église Primitive, Suisse, Ed. Emmaus, 1981, p. 44
Joaquim Carreira das Neves, OFM, op. cit, p. 9
K. Barth, Esquisse d’une Dogmatique, Genève, Ed. Delachaux & Niestlé, 1968, p. 228
Georges Duby, Guerreiros e Camponeses – os primórdios do crescimento económico europeu (séc. VII-XII), Lisboa, Ed. Estampa, 1980, p. 71

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