domingo, 12 de dezembro de 2010

O NOVO TESTAMENTO - A PALAVRA

Jesus, o expoente máximo, a emanação do próprio Deus ao homem, de igual modo se identificou com o carácter absoluto e normativo desta mesma Palavra.
A certa altura, quando ensinava disse: “Se permanecerdes na Minha palavra, sereis verdadeiramente Meus discípulos. Conhecereis a verdade e a verdade libertar-vos-á” – S. João 8:31,32. A que verdade se referirá Jesus? A um qualquer novo ensino por Si inovado? Jesus orou ao Pai pela unidade dos que O seguiam; a determinado passo disse: “Santifica-os na verdade. A Tua palavra é a verdade” – S. João 17:17
Como tudo é claro! Que dúvidas poderá ter o leitor acerca desta mesma Verdade? Certa vez, no Seu julgamento, perante Pilatos, este fez-Lhe uma solene pergunta: “(…) Que é a verdade? Dito isto tornou a ir ter com os judeus (…)” – S. João 18:38. Perguntou, mas não esperou pela resposta! Jesus nos revela não somente a Verdade como também a sua verdadeira função; 1- A Palavra de Deus; 2- Libertação; 3- Santificação.
Quando falamos em libertar, falamos de quê? Será de alguma prisão ou de alguma situação incómoda? Se permanecermos somente no plano espiritual, então de que é que o crente sincero será liberto? Será, por oposição, da – não Verdade – por conseguinte, do erro!
Certa vez, Jesus foi interrogado! Não que o seu interlocutor quisesse ser esclarecido, mas só para O tentar apanhar e confundir! Os Saduceus apresentaram-lhe um problema relacionado com a ressurreição, visto que estes não acreditavam nela! (cf. S. Mateus 22:23). Lembraram-se de uma lei israelita – a Lei do Levirato. Esta ordenava que, caso a cunhada não tivesse tido descendência, o irmão do falecido deveria casar com ela para que tivesse filhos. Aproveitando o que esta lei comportava, disseram-lhe ainda que esta mulher, ao abrigo desta mesma lei tinha desposado sete irmãos; por fim, a mulher morreu!
Como responder a tal pergunta, caso haja ressurreição? Que homem normal poderia responder a tão subtil estratagema? A pergunta não se fez esperar: “Na ressurreição, de qual dos sete será esta mulher visto ter sido de todos?” – S. Mateus 23:28. Qual foi a resposta de Jesus? Para nosso espanto e dos Saduceus também, esta foi demasiadamente simples e, por isso, desconcertante! Não esqueçamos que eles estavam ali, não para aprender de Jesus, mas para o encurralar no Seu raciocínio, testando-O!
A resposta de Jesus, tal como a encontramos nas Escrituras é simples, directa e objectiva, ei-la: “(…) Estais enganados, porque desconheceis as Escrituras e o poder de Deus” – v. 29. Como tudo é simples quando não é o homem a responder, mas sim a Palavra de Deus! Quantas contradições e conflitos e guerras de religião se teriam evitado ao longo da triste história humana!
“Estais enganados, porque desconheceis as Escrituras (…)”! E como poderia ser de outra maneira? Como poderemos responder a qualquer pergunta do foro espiritual a não ser através das Escrituras? E nós, que conhecimento temos destas para responder a quem nos perguntar qualquer coisa dentro das realidades espirituais, se, infelizmente não as lemos nem, se calhar, nunca as tivemos - as Escrituras! Se esta continua a ser a nossa triste realidade, infelizmente, então quando é que estaremos à altura para corresponder ao que Simão Barjonas nos propõe, a saber: “(…) estai sempre prontos a responder, para vossa defesa, com doçura e respeito, a todo aquele que vos perguntar a razão da vossa esperança” – I Pedro 3:15!

A este propósito recordo uma experiência que vivi, certa vez, na Madeira, na cidade do Funchal. Celebrava-se, naquele ano, uma semana ecuménica entre as diferentes confissões religiosas ali representadas. Cada dia dessa semana, a liturgia era celebrada em cada igreja ali representada. A semana foi decorrendo, até que na Sexta-feira à noite, a cerimónia foi feita na Igreja anfitriã - Igreja do Largo do Colégio.
Junto do altar estavam dispostas as cadeiras para os representantes das diferentes confissões religiosas. Momentos antes de ocuparmos os lugares, o senhor bispo do Funchal - D. Teodoro Faria - chamou-nos à sacristia para dar os últimos retoques no protocolo. A certa altura disse-nos:
- Os prezados amigos têm cinco minutos para falar à congregação aqui presente.
Que desafio, que responsabilidade! Em silêncio, elevei os meus pensamentos e fiz uma curta prece ao Senhor, pedindo a assistência do Seu Espírito; que me inspirasse naqueles cinco minutos tão importantes e cruciais!
Ali à frente, ladeado pelos restantes representantes e pelo senhor bispo anfitrião, aguardei a minha vez. Quando esta chegou, levantei-me, abri as Escrituras e comecei a ler o grande conselho do Senhor Jesus, cujo conteúdo é: ”Esquadrinhais as Escrituras, julgando ter nelas a vida eterna; são elas que dão testemunho de Mim” – S. João 5:39
Teci uns breves comentários ao texto em lide e, tal como se fosse hoje, ainda me lembro do quanto ali disse, nestes termos:
- Meus irmãos em Cristo. Estamos no final de uma Semana Ecuménica que tem por objectivo o fortalecer a unidade entre todos os irmãos, cada um de vós. Mas, como poderá haver unidade se não conhecemos o Senhor, que todos, aqui nesta igreja, dizemos amar?
Jesus disse que devemos pesquisar, ler as Escrituras para alcançar duas grandes metas: 1- Ter nelas a vida eterna; 2- São elas que d’Ele dão testemunho. Ora, meus irmãos, como é que isto se poderá cumprir na vida de todos nós, se a grande maioria nunca viu uma Bíblia! Outros nunca a folhearam! Outros ainda, nunca a leram ou examinaram!
Que tipo de cristãos somos nós? Como queremos sê-lo se nunca lemos uma Bíblia, o único Livro credenciado para nos falar d’Ele e para conhecermos a Sua vontade?! Fechei a Bíblia, fiz uma curta pausa e sentei-me. Depois, despedimo-nos com uma saudação ecuménica.
Perguntará o leitor: E qual o resultado? Qual o impacto naqueles que me ouviram? Quanto a este último, só Deus o sabe! Mas no que respeita à atitude da confissão religiosa anfitriã, dessa eu conheço o resultado muito bem! Não será difícil adivinhar, não é verdade? Pois bem, ainda ali estive por mais dois anos e o resultado foi o de nunca mais ter sido convidado, individual ou colectivamente! Prezado leitor, o que é que fizemos de errado? Que incorrecção praticámos? Proselitismo ou unicamente nos limitámos a chamar a atenção para as Escrituras?

Vejamos como o apóstolo S. Paulo enfatiza o conhecimento das Escrituras: Certa vez, no decurso da sua 2ª viagem missionária passou por duas cidades: Bereia e Tessalónica. Duas metrópoles, duas mentalidades diferentes! Leiamos o que o relato bíblico diz acerca dos habitantes destas cidades, quanto ao interesse e adesão à Palavra de Deus: ”Estes (de Bereia) tinham sentimentos mais nobres do que os de Tessalónica, e acolheram a palavra com maior interesse. Examinavam diariamente as Escrituras para verificarem se tudo era, de facto, assim” – Actos 17:11
Que maravilhosas palavras! Os crentes de Bereia não se limitavam somente a ouvir a exposição da Palavra, tal como os de Tessalónica, mas “examinavam diariamente” se, o que tinham ouvido, estava, não só escrito, como em conformidade com as Escrituras! Naquele tempo, como nos nossos dias, não era nem ainda é suficiente somente ouvir a Palavra! Como saber se a pregação da Palavra está correcta e em conformidade com a vontade de Deus? Só havia um caminho, tal como hoje – examinar as Escrituras - e este foi seguido fielmente! Por isso chegou até nós este extraordinário elogio.
Naquela época era assim, tal como vimos; será que nos nossos dias bastará confiarmos no sacerdote, por muito respeito que este nos mereça? Ela é que é a regra, não ele, por muito eloquente que possa ser!
Outra vez, escrevendo aos crentes de Corinto, o apóstolo S. Paulo proclamou uma solene advertência a qual se aplica aos que ensinam a Palavra de Deus: “(…) para que em nós aprendais a não ir além do que está escrito (…)” – I Coríntios 4:6. Pois quando se acrescenta ou retira algo desta Palavra, estamos a “(…) adulterar a palavra de Deus (…)” – II Coríntios 4:2
É, de igual modo, precioso o conselho dado pelo veterano apóstolo na carta pastoral enviada a Timóteo, seu filho espiritual em Cristo Jesus. Nos diversos conselhos encontrados, lemos um que, para nós, é o clímax da questão. Tomámos a liberdade de o traduzir livremente: “Tu, entrega-te a Deus como trabalhador zeloso, genuíno, que não tem que se envergonhar, que se orienta por uma estrada recta, a Palavra de Deus” – II Timóteo 2:15. Por outras palavras, “ a palavra da verdade deverá estar conforme o padrão correcto, isto é, o evangelho”.
Poderíamos ainda acrescentar múltiplos exemplos que apontam, sem excepção para as Escrituras como única norma de fé e de conduta para o cristão. Citaremos ainda um outro exemplo bíblico. Na epístola de S. Tiago, encontramos vários conselhos sobre o uso da nossa língua. Esta serve para muitas coisas: para abençoar e, infelizmente, também para amaldiçoar o nosso semelhante. O que o apóstolo aplica à língua, será que se está a “adulterar”, ou a forçar a Palavra de Deus se aplicarmos, estes mesmos conselhos, para definirmos a clareza da Palavra de Deus, em termos doutrinários ou de verdades bíblicas?
Reiteramos o conselho que S. Tiago nos revela: “De uma mesma boca procedem a bênção e a maldição. Não convém meus irmãos, que isto seja assim. Porventura uma fonte lança pela mesma bica água doce e água amarga? Porventura, meus irmãos, pode a figueira produzir azeitonas ou a videira dar figos? Do mesmo modo, a fonte de água salgada não pode dar água doce” – S. Tiago 3:10-12. E não é isto verdade? Não se passará o mesmo com a Palavra de Deus? Como é que, por exemplo, havendo uma só Bíblia existem tantas confissões religiosas a reclamarem, para si, a Verdade, quando esta, na realidade é uma só?
S. Paulo se expressa neste sentido, ao escrever: “Há um único Senhor, uma única fé, um único baptismo, um só Deus (…)” – Efésios 4:5,6. Perante tal revelação, como é possível espartilhar assim tanto a Verdade? Será que em todas existe parte desta mesma verdade? Será a Bíblia tão estranha que consiga, ela mesma, em simultâneo, dizer, sob o mesmo texto, um sem número de doutrinas? Continuamos a pensar, com toda a sinceridade, que não!

Bibliografia
Formavam um partido principalmente político no judaísmo do século II a.C. até à queda de Jerusalém em 70 d.C.. Encontravam-se, principalmente, entre a aristocracia sacerdotal – cf. A. van Den Born “Saduceus” in op. cit., col. 1363,1364
John N. D. Kelly, I e II Timóteo e Tito, introdução e comentário, S. Paulo, Ed. Mundo Cristão, 1983, p. 170 A. van Den Born “levirato” in Idem, col. 886

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