quinta-feira, 4 de novembro de 2010

ROMA VERSUS CONSTANTINOPLA

Conatantinopla actual Istambul
Se os cristãos tinham sido favorecidos entre 313 a 323, agora, Constantino devia ao deus das vitórias uma prova inequívoca do seu reconhecimento. Este irá demonstrá-lo através de um acto histórico, muito estranho! Irá criar uma segunda Roma, a saber: Constantinopla, no oriente!
O que levou o imperador a proceder assim? Será que queria formar uma nova cidade totalmente cristã, enquanto que a de Roma sofria de um incurável paganismo? Para o historiador “a fundação de Constantinopla é um mistério político”. Mais abaixo abordaremos alguns aspectos que esclarecem, a nosso ver, este acto incompreensível para a mente humana, enfim, um verdadeiro mistério! Mas não para a profecia bíblica!
César Augusto
Poncius Maximus
Para já, continuemos a seguir a trajectória do bispo de Roma. Assim, mercê desta reviravolta inesperada, Roma cessa de ser o bastião do paganismo, na pessoa do imperador, para se tornar, quem diria, o quartel-general do cristianismo! Como a História o revela claramente, o bispo de Roma aumenta, dia após dia, a sua importância e tomará, progressivamente, o lugar que o imperador ocupara! A “Igreja de Roma veio a apoderar-se insidiosamente do lugar antes ocupado pelo Império Romano. Na realidade, esta perpetuou-se nela. O Papa – Pontifex Maximus – veio a suceder ao César. O Papa passa a ser imperador”. Na ausência do imperador, o bispo de Roma, apodera-se também do título pagão que outrora pertenceu ao monarca romano – Sumo Pontífice, o fazedor de pontes), ligando a terra ao céu!
Se o bispo de Roma passa a ocupar o lugar do imperador, o que acontecerá, a partir desta mudança imperial, ao seu congénere de Constantinopla, cidade da nova residência do imperador? O raciocínio é elementar e, por isso, fácil! Se a Igreja irmã, a de Roma, cresceu à sombra da influência do soberano, então, agora em relação a esta segunda opção do imperador, então, certamente que acontecerá a mesma coisa! Falando clara e objectivamente, qual será, a partir de agora, a posição, entre o clero, nomeadamente, a do bispo de Constantinopla, cidade na qual vive agora o imperador? Poderá, porventura, o bispo desta manter a mesma dignidade do passado recente, ou seja, inferior ao seu colega de Roma? A resposta não se fez esperar! Assim, “O segundo concílio ecuménico de Constantinopla, em 381, decreta que o bispo desta cidade detém o primeiro lugar depois do de Roma, «porque Constantinopla é a Nova Roma», Cânone 3”.
A polémica começa a instalar-se; quem gosta de perder posição? Nem a Igreja! O bispo de Roma tudo irá fazer para chamar a si a primazia de Pedro. A rivalidade entre Roma e Bizâncio, entre a velha e a nova Roma, como acima já o referimos, fará com que “a partir do concílio de 381 em Constantinopla, o antagonismo resulta em Cânones sucessivos. O Cânone terceiro declara que Constantinopla, na qualidade de segunda Roma terá direito às honras devidas à sua posição e que o bispo de Bizâncio terá autoridade sobre Antioquia e Jerusalém, imediatamente a seguir ao bispo de Roma”. O objectivo, repetimos, era bastante claro, isto é, dar a Constantinopla uma posição inatacável, no Oriente. Depois, dá-se um passo em frente, até que, no concílio ecuménico de Calcedónia, em 451, na sua 15ª sessão, é dito que: “por diligência do imperador, foi promulgado o Cânone 28 que concedia a Constantinopla, como uma nova Roma, todas as prerrogativas da antiga”. Nesta altura o Papa era Leão I, o Grande (440-461) e, de modo algum, aceitou esta decisão Conciliar, como facilmente se compreenderá, não é verdade? Este, bispo de Roma, para contornar esta perda de poderes em favor do seu congénere, bispo de Constantinopla, irá falsificar “o 6º Cânone de Niceia ao adicionar as palavras: «Roma sempre teve a primazia»”. Apesar de tudo isto, os ventos da História iriam soprar e fazer balançar os pratos da balança a favor de Roma, ao dar-se a derrocada do império do oriente.

A Visão do Profeta
Mas, dissemos nós acima, que a escolha de Constantinopla para – segunda Roma – era, segundo os historiadores - um mistério político! Quanto a nós, gostaríamos de apresentar uma mera sugestão de resolução do problema, que se encontra, segundo cremos, nas Escrituras e na História, vejamos:
Quando S. Paulo escreve aos crentes de Tessalónica acerca da segunda vinda do Senhor Jesus e do quanto deverá acontecer antes de tal acontecimento - sinal precursor - ele escreveu, acerca do assunto, estes versículos estranhos: “ Que ninguém, de modo algum, vos engane, antes, há-de vir a apostasia e há-de manifestar-se o homem da iniquidade, o filho da perdição, o adversário, aquele que se levanta contra tudo, o que leva o nome de Deus ou o que se adora, a ponto de tomar lugar no templo de Deus e de se apresentar como se fosse Deus. (…). Agora, vós sabeis perfeitamente o que o detém, de modo que Ele só se manifestará a seu tempo (…) esperando apenas o desaparecimento daquele que o impede” – II Tessalonicenses 2:3-7.
Colocaremos em destaque, quanto a nós, os pontos mais relevantes destas estranhas revelações:
1- O apóstolo fala que, antes deste glorioso acontecimento, virá:
a) A apostasia;
b) O Filho da perdição;
c) O Adversário;
d) Leva o nome de Deus;
e) Toma o lugar no templo de Deus;
f) Apresenta-se como Deus;

2- De seguida, acrescenta:
a) Sabeis o que o detém;
b) Se manifestará a seu tempo;
c) Há um que agora resiste
d) Até que do meio seja tirado.

Que personagem ou personagens poderão preencher estes requisitos? De que tempo histórico? Do passado, do presente ou do futuro? A personagem em questão não é, pensamos, a figura histórica de Antíoco IV Epifânio, como acima o demonstrámos. No entanto, o nosso autor diz: “o conjunto só pode ter a ver com a figura de Antíoco Epifânio que derrotou exércitos humanos (…). Revoltou-se contra o próprio Príncipe dos exércitos, isto é, contra o próprio Deus. Nem devemos esquecer que se autoproclamou de Epifânes ou Epifânio, que significa aparição de Deus. Ele mesmo se autodivinizou”.
É verdade que o contexto a que pertence a citação supra, é diferente, mas o conteúdo e sentido espiritual é exactamente o mesmo! Como identificar este personagem com a segunda parte dos pontos mais relevantes acima separados, a saber: 1- Manifestar-se-á a seu tempo; 2- Espera apenas o desaparecimento daquele que o detém, que o impede? Nem com muito, mas mesmo muito boa vontade o poderemos identificar com esta personagem histórica, da qual tanto gosta o nosso autor!

A História
Mais adiante falaremos acerca das vicissitudes pelas quais passou a Igreja, ao longo da História, sob a égide do Dragão – Apocalipse 12. Por agora, limitemo-nos a abordar a relação entre o bispo de Roma e o imperador, numa determinada fase.
Como já o referimos, a Igreja de Roma não estava preparada para a brusca mudança de atitude do governo imperial, que passara da perseguição à tolerância e, mesmo até, a uma certa generosidade. O imperador pela sua posição privilegiada, sempre interferiu nos Concílios da Igreja; estes eram convocados sob a sua protecção e patronado; enfim, estas reuniões para debater certos assuntos, e dos quais nada compreendia, eram feitas à sua imagem!
É interessante analisarmos o desenrolar da História dos Concílios para nos podermos, minimamente, aperceber e compreender o desenvolvimento e apogeu do bispo de Roma. No contexto destas relações entre este último e o imperador, podemos ler o seguinte comentário: “o primeiro obstáculo ao desenvolvimento papal, dadas as novas condições administrativas era, pois, a atitude do governo imperial para com a Igreja, atitude que persistiu mesmo depois de o imperador haver abandonado o título pagão de Pontifex Maximus, em 397. A teocracia imperial atingiu o seu apogeu com Justiniano (527-565). As medidas violentas são conhecidas: a brutal deposição de Silvério (536-537), que morreu numa colónia penitenciária; a prisão de Virgílo (537-555); a elevação forçada do indigno Pelágio I (556-561) ao trono pontifício”. Ou ainda: “o tempo de Pelágio I e até 741, a dependência do papado em relação ao Estado exprime-se pela comunicação ao imperador de Constantinopla, do nome do Papa eleito, acompanhada de uma quantia considerável, equivalente a um tributo”. Será, perante o exposto que não encontramos matéria de facto para enquadrar os acontecimentos nas alíneas destacadas? Vejamos se as personagens encaixam no que acima realçámos do texto de S. Paulo. Recordemo-lo:
a) Um poder que detém e impede = Imperador Romano
b) O detido, impedido de = O bispo de Roma
c) Quando o que detém desaparecer = O poder e influência de Constantinopla devido à ruína “da cristandade oriental e à eliminação dos rivais do bispo de Roma, os patriarcas de Alexandria, Antioquia, Jerusalém e a Igreja de Cartago que eclipsara Roma”.

Moeda com o nome de Constantino - rara.
Assim, perante o exposto, pensamos que, afinal, o abandono de Roma para Constantinopla pelo imperador, poderá ser, em termos políticos e afins, um verdadeiro “mistério”, mas em termos religiosos, como nos pudemos aperceber, tudo parece bastante claro e evidente! Tudo constituiu uma espécie de porta que se abriu para que, tal como o revelam as Escrituras, quando “desaparecer aquele que o detém”, então o que “toma o lugar no templo de Deus (Igreja) e se apresenta como se fosse Deus” possa, finalmente, surgir em toda a sua força e esplendor, até certa altura, isto é, - “ao tempo da segunda vinda de Jesus” - acontecimento para o qual aponta a continuação do texto bíblico em questão!
Estaremos a ser, prezado amigo, biblistas-fundamentalistas? Estaremos a fazer um uso excessivo e abusivo dos textos, manipulando-os a nosso contento para que estes digam o que queremos? Continuamos a pensar que não! Muito embora, certamente que o nosso autor, se nos ler, dirá que sim!
Ferdinand Lot, op. cit., p. 44

Bibliografia:
Idem, p. 58
Idem, p. 268
Jean Louis Schonberg, op. cit., p. 44
Idem, p. 66
J. M. Nicole, op. cit., pp. 63,64
Joaquim Carreira das Neves, OFM, op. cit, p. 132
Geoffrey Barraclough, Os Papas na Idade Média, Lisboa, Ed. Verbo, 1972, p. 25
Idem, p. 34
Idem, p. 35

Sem comentários:

Enviar um comentário