quarta-feira, 2 de junho de 2010

DANIEL ENTRE OS LEÕES

"16 Então o rei deu ordem, e trouxeram Daniel, e o lançaram na cova dos leões. Ora, disse o rei a Daniel: O teu Deus, a quem tu continuamente serves, ele te livrará.

17 E uma pedra foi trazida e posta sobre a boca da cova; e o rei a selou com o seu anel e com o anel dos seus grandes, para que no tocante a Daniel nada se mudasse:

18 Depois o rei se dirigiu para o seu palácio, e passou a noite em jejum; e não foram trazidos à sua presença instrumentos de música, e fugiu dele o sono." Daniel 6:16-18

O final de tudo tinha, finalmente, chegado para Daniel. Assim pensaram os seus inimigos; na verdade, que ser humano poderia sair dali vivo?
Daniel foi lançado na fossa dos leões – v. 16. A tampa da fossa fora selada com o sinete real. No entanto este gesto poderá ser visto de duas maneiras: 1- para o rei – a garantia de que, a ser morto, não o seria por outro meio; 2- para os seus inimigos – a certeza absoluta de que não haveria nenhuma tentativa para o salvar. Assim, era só aguardar o fim!
Aquela noite foi longa para o rei pois “fugiu dele o sono” – v. 18b. E logo que a manhã chegou, o seu primeiro pensamento foi directamente para Daniel. Como é que ele estaria? E, sem hesitar, dirige-se para o local e com uma voz triste, segundo o relato bíblico, pergunta: - “dar-se-ia o caso que o teu Deus a quem tu continuamente serves, tenha podido livrar-te dos leões?” – v. 20. Para o profeta, como homem, poderia haver uma certa apreensão devido aquela tensa situação. Mas, Daniel conhecia plenamente o Deus que servia.
Não esqueçamos que, após o profeta ter conhecimento de que o édito real estava assinado – v. 10ª – ele procedeu como sempre o fizera até então –orava ao seu Deus. E foi no cumprimento deste nobre encontro diário com o Deus vivo que os seus inimigos o encontraram e assim tivessem razões para o denunciarem ao rei – como o fizeram sem demora. Mas, qual era o teor da conversa do profeta com o seu Deus? O texto revela-nos que - Daniel orava e suplicava perante o seu Deus. Que sublime relacionamento com a única fonte de todo o poder. Que suplicava este homem de Deus? Daniel conhecia as Escrituras que lhe diziam: - “Porque eu sei que o meu Redentor vive” – Job 19.25; ou ainda a esperança contida nas palavras do salmista: - “Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente na angústia. Pelo que não temeremos ainda que a terra se mude e ainda que os montes se transportem para o meio dos mares. Ainda que as águas rujam e se perturbem; ainda que os montes se abalem pela sua braveza” – Salmo 46.1-3. Na realidade, para aquele momento de crise, Deus também tinha uma palavra de conforto para o Seu servo: - “O anjo do Senhor acampa-se ao redor dos que o temem e os livra” – Salmo 34.7.
Por que temer? Deus proveria a melhor solução, mesmo ainda que esta pudesse ser, aparentemente, desagradável ao homem Daniel – cf. Daniel 3.17,18. O tempo foi passando e, ao raiar do dia, perante a pergunta do rei – v. 20 - Daniel faz ouvir a sua voz, dizendo: - “O meu Deus enviou o seu anjo e fechou a boca dos leões porque foi achada em mim inocência diante dele e também contra ti, ó rei, não tenho cometido delito algum” – v. 21,22.
Eis o calibre, a têmpera deste servo de Deus. Eis o patamar onde se encontram todos aqueles que, na realidade nascem de novo em espírito e em verdade. O que é que sempre esteve, não só neste momento tão delicado mas, na base de toda a sua vida? Ora vejamos: - o texto bíblico o refere: - “porque crera no seu Deus” – 23b. É este o ingrediente genuíno – fé - que deverá sempre existir entre o crente e Deus, caso contrário, o apóstolo Tiago nos revela que: - “não pense tal homem que receberá do Senhor alguma coisa” – Tiago 1.5-7.
Abramos um pequeno parêntesis para abordarmos, um pouco, a fé. Numa primeira abordagem o que é que ela significa? Desde já, como alguém referiu, ela não é “um acto irracional, um consentimento dissociado da razão. Esta é, ao contrário, a aderência da inteligência à própria verdade”. Na realidade, só desta forma se poderá ver e compreender o quanto Tiago nos quis transmitir ao dizer: - “Tu crês que há um só Deus; fazes bem. Também os demónios o crêem e estremecem” – Tiago 2.19. A fé é, desde logo, algo mais do que estar de acordo com alguém, ou do que uma simples adesão sentimental passageira; em relação a Deus, esta significa “uma adesão total ao seu ser, convicção, confiança e comunhão”. Fechando o parêntesis.
E nos nossos dias? Será diferente? Será que a compreensão da palavra fé é diferente? Se tal for o caso, então o que dizemos sentir, nada significa para Deus. E da parte de Deus, será que Ele mudou de planos a respeito do suplicante? Vejamos, a este respeito, o que nos diz S. Paulo na fase final da sua vida: - “porque eu sei em quem tenho crido e estou certo de que é poderoso para guardar o meu depósito até aquele dia” – II Timóteo 1.12; 4.6-8. Aqui temos, depois de tantos séculos, o mesmo Deus, a mesmíssima esperança para todos os crentes de todas as épocas.
Voltando ao texto: - depois de ouvir a voz de Daniel, o rei ordena, de imediato, que sejam trazidos à sua presença aqueles que o incentivaram à feitura daquele pérfida lei e os manda lançar na fossa que eles arquitectaram – v. 24. Cumpriu-se, de certa forma, o que o sábio dissera: - “o que faz uma cova nela caírá” – Provérbios 26.27. Assim que entraram na cova os leões fizeram o seu trabalho – v. 24. Tudo isto não é mais do que o cumprimento de outra advertência das Escrituras: - “eis que pecastes contra o Senhor; porém, sentireis o vosso pecado, quando vos achar” – Números 32.23.

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