quarta-feira, 16 de junho de 2010

DANIEL E BELSAZAR OU A VERDADE E A MENTIRA

"Então respondeu Daniel, e disse na presença do rei: Os teus presentes fiquem contigo, e dá os teus prêmios a outro; todavia vou ler ao rei o escrito, e lhe farei saber a interpretação. O Altíssimo Deus, ó rei, deu a Nabucodonozor, teu pai, o reino e a grandeza, glória e majestade; e por causa da grandeza que lhe deu, todos os povos, nações, e línguas tremiam e temiam diante dele; a quem queria matava, e a quem queria conservava em vida; a quem queria exaltava, e a quem queria abatia. Mas quando o seu coração se elevou, e o seu espírito se endureceu para se haver arrogantemente, foi derrubado do seu trono real, e passou dele a sua glória. E foi expulso do meio dos filhos dos homens, e o seu coração foi feito semelhante aos dos animais, e a sua morada foi com os jumentos monteses; deram-lhe a comer erva como aos bois, e do orvalho do céu foi molhado o seu corpo, até que conheceu que o Altíssimo Deus tem domínio sobre o reino dos homens, e a quem quer constitui sobre ele. E tu, Belsazar, que és seu filho, não humilhaste o teu coração, ainda que soubeste tudo isso; porém te elevaste contra o Senhor do céu; pois foram trazidos a tua presença os vasos da casa dele, e tu, os teus grandes, as tua mulheres e as tuas concubinas, bebestes vinho neles; além disso, deste louvores aos deuses de prata, de ouro, de bronze, de ferro, de madeira e de pedra, que não vêem, não ouvem, nem sabem; mas a Deus, em cuja mão está a tua vida, e de quem são todos os teus caminhos, a ele não glorificaste." Daniel 5:17-23.

Agora acontece o que o rei mais temia – a presença de Daniel/Beltessazar! A verdade perante a mentira e a depravação é como um espinho na carne e convém evitá-la a todo o custo. Agora, o monarca tinha chegado a um verdadeiro beco sem saída. Na verdade o procedimento do rei é tipicamente humano, ou seja, estar de acordo com o adágio popular – “lembramo-nos de Santa Bárbara, unicamente quando troveja”! Quando os juízos de Deus se fazem presentes, mais cedo ou mais tarde, a falsa segurança humana dá lugar, inevitavelmente, ao terror. Só na dificuldade e na impossibilidade de encontrar uma solução para aquele enigma diante de si e dos seus é que se vê obrigado a convocar o profeta.
Mas, antes de cumprir a missão para a qual fora chamado, o profeta toma a liberdade de lhe ministrar um verdadeiro “estudo bíblico”, o qual se encontra do v. 17-24.
Não esqueçamos que estamos no ano 539 a. C., isto é, que o profeta Daniel terá nesta altura cerca de 85 anos de idade. A idade e o respeito granjeado até então lhe tinham dado um grande estatuto na corte ao ponto de poder dirigir-se ao rei desta maneira, ao rejeitar o seu aliciante presente, em termos humanos: - “Os teu dons fiquem contigo e dá os teus presentes a outro” – v. 17. Qual a razão provável desta resposta? A sua idade? O seu estatuto? Claro que não, pela simples razão que a verdade não tem preço; o profeta não fez mais do que seguir o conselho do sábio Salomão: - “compra a verdade e não a vendas” – Provérbio 23.23. Por outro lado, esta verdade também tinha outra realidade – que a vida deste homem iria desaparecer e os seus dons terrenos, não passavam daqui, desta terra, daquilo que é efémero e fugaz!
Assim, antes de ler e interpretar a escritura na parede irá falar ao rei acerca do quanto deveria ter feito e não o fez! Belsazar tivera certamente muitas oportunidades de conhecer e fazer a vontade de Deus. Ele vira o seu avô Nabucodonozor ser banido do convívio das pessoas. Ele testemunhara o intelecto no qual se vangloriava o orgulhoso monarca e como lhe fora retirado por Aquele que o tinha concedido. Ele vira o seu avô ser afastado do reino e tornar-se companheiro dos animais do campo. Ele conhecia onde se encontrava a verdade e quem a poderia ministrar mas, em vez disso, preferiu afastar-se e recusar humilhar-se dedicando-se aos divertimentos e à glorificação do eu, apagando, desta forma, as lições que nunca deveria ter esquecido.
Este monarca desperdiçou as oportunidades que tão graciosamente lhe foram concedidas para se familiarizar com a verdade. Por estas razões, o profeta começa por lhe recordar a história do grande Nabucodonozor e como este fora humilhado ao longo daqueles sete anos, até que reconhecesse que só o Altíssimo reina – v. 20,21. E vai directo ao assunto dizendo ao rei “não humilhaste o teu coração ainda que soubeste tudo isto” – v. 22.
E, para finalizar o profeta acrescenta: - “E te levantas-te contra o Senhor do céu (…). Além disto, deste louvores aos deuses de prata, ouro, cobre, ferro, madeira e de pedra, que não vêem, não ouvem, nem sabem; mas a Deus, em cuja mão está a tua vida e todos os teus caminhos, a ele não glorificaste. Então dele foi enviada aquela parte de mão” – v. 23.
Na realidade, tal como diz a Escritura “Horrenda coisa é cair nas mãos do Deus vivo” – Hebreus 10.31 – ou ainda “Porque o nosso Deus é um fogo consumidor” – Hebreus 12.29. Que palavras amargas.
Já vimos que, todo aquele que adora algo a não ser o Deus Criador, em primeiro lugar, está a desrespeitar o 2º mandamento da Lei de Deus – Êxodo 20. 1-17; em segundo lugar está a atentar, pela segunda vez contra Deus, pois está a pôr em causa a inteligência por Ele dada a todo o ser humano! Se este adorar um objecto inerte que inteligência demonstrará? Nenhuma, não é verdade! Por esta atitude desprovida de senso, está a demonstrar que Deus não existe! A todo aquele que assim procede, as Escrituras só têm um nome para o qualificar, ou seja: tolo, néscio – cf. Salmo 10.4; 14.1; 53.1- isto é, desprovido de inteligência!
A este propósito, abramos aqui um parêntesis para que possamos ver um ou outro pormenor:

* Ídolos
Afinal, que lição queria dar o profeta ao ter dito: - “(…) deste louvores aos deuses de prata, ouro, cobre, ferro, madeira e de pedra, que não vêem, não ouvem, nada sabem (…) “ – v. 23? Será esta chamada de atenção válida para os nossos dias? Que dizem e pensam, hoje, aqueles que continuam a praticar tais actos que o profeta denuncia? Ora vejamos uma opinião deveras curiosa: - “A liturgia politeísta estava cheia de estátuas de deuses e deusas; por isso não admira o alerta constante da Bíblia para tal perigo. Mas é esta a doutrina da Igreja Católica em relação às imagens do culto católico? De modo algum. (…), só adoramos a Deus e mais ninguém. (…). As imagens, sejam elas da Virgem Maria ou dos Santos, têm tão-somente um valor de mediação ou de exemplaridade. Como humanos precisamos de sinais, de significantes e significados. (…). Se eu olho para uma imagem ou pintura da Mãe do Senhor Jesus Cristo, lhe ofereço flores, incenso, cânticos, procissões, etc., não estou contra a Bíblia que proíbe apenas as imagens dos deuses ou de seres terrenos (animais, aves), humanos e celestes (sol, lua, estrelas) que eram adorados, pois continuo a ser monoteísta, a adorar apenas a Deus, embora venere a Mãe do Senhor Jesus, nosso Salvador”.
Acerca desta citação iremos tecer algumas considerações:

* As imagens
- Na realidade, o culto das imagens é um fenómeno humano. Começaremos por comentar a citação acima: - “Como humanos precisamos de sinais, de significantes e significados”. Recordamos que estas palavras nada têm de novo! Esta explicação faz-nos recordar as célebres palavras de Madame Sevigné quando exclamou: - “Adensai-me a religião senão evapora-se toda”.
Na realidade que quererão dizer estas palavras? Nada mais demonstram a não ser pouca fé. Para a consolidar, o ser humano precisa de “sinais, de significantes”! Na realidade, de que tipo é a nossa fé para que só O possamos adorar através de um objecto de mediação? Aliás, desde logo, se estivermos a ver a representação de quem dizemos crer, ainda que esta fosse real, perguntamos: - onde estará a tal dita fé?

- Depois, é dito que: - “Se eu olho para uma imagem ou pintura da Mãe do Senhor Jesus Cristo, lhe ofereço flores, incenso, cânticos, procissões, etc., não estou contra a Bíblia que proíbe apenas as imagens dos deuses ou de seres terrenos (animais, aves), humanos e celestes (sol, lua, estrelas) que eram adorados, pois continuo a ser monoteísta, a adorar apenas a Deus, embora venere a Mãe do Senhor Jesus, nosso Salvador”. O que quererá isto dizer?
Qual será a diferença entre “adorar” e “venerar”? Mas perguntemos a quem sabe. Somos informados que: Adorar é: prestar culto à divindade; Venerar é: reverenciar, tratar com respeito.
Na mente do adorador, onde está a diferença? Na verdade, só se for nas palavras e não em mais lado nenhum! Depois, é dito que à mãe do Senhor Jesus Cristo é oferecido “incenso, cânticos e procissões”. Mas qual é a diferença disto e do quanto è atestado e condenado pelas Escrituras? Ouçamos o profeta Jeremias 44.17, quando denunciava estas mesmas práticas do antigo Israel: - “(…) queimando incenso à rainha dos céus e oferecendo-lhe libações (…)”; ou ainda “o Senhor não podia por mais tempo sofrer a maldade das vossas acções, as abominações que cometestes” – v. 22
Haverá muita dissemelhança entre a personagem deste texto bíblico e a que se refere e o que nos é revelado no Catecismo? Ora vejamos: - “Por isso, a Virgem é invocada na Igreja com os títulos de advogada, auxiliadora, socorro e medianeira”. Não contraria esta afirmação a ordem das Escrituras? Ora vejamos, quem é o único “mediador” entre nós e Deus. O apóstolo Paulo esclarece-nos “Porque há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem” – I Timóteo 2.5. Quem terá razão? O apóstolo ou o Catecismo? Ou ainda “a santíssima Virgem é, desde os tempos mais antigos, honrada com o título de ”. Que diferença haverá entre este título e o de “rainha dos céus”? Em abono da verdade dizemos: - nenhuma!
O autor fala ainda em “procissões”! Ora vejamos o que diz as Escrituras a este respeito: - “nada sabem os que conduzem em procissão as suas imagens de escultura feitas de madeira e rogam a um deus que não pode salvar” – Isaías 45.20; ou “Com prata e ouro o enfeitam ; com pregos e com martelos o firmam para que não se mova. São como a palmeira, obra torneada, mas não podem falar, necessitam quem os leve, porquanto não podem andar” – Jeremias 10.4,5. Que diferença existe entre a idolatria do antigo Israel e a de hoje?
- Acerca da estatuária, mesmo por muito perfeita que seja a imagem que representem, as Escrituras ainda referem que: - “têm boca e não falam (…) nem som algum sai da sua garganta” – Salmo 115.5,7. Apesar de ser uma imagem perfeita e de altíssima qualidade de execução está isenta de vida! Qual a diferença destes e de Deus? É enorme, como facilmente se compreenderá. E porquê? As Escrituras dão-nos a conhecer a grande diferença, nestes termos: - “Pela palavra do Senhor foram feitos os céus e todo o exército deles pelo espírito da sua boca. (…). Porque falou e tudo se fez; mandou e logo tudo apareceu” – Salmo 33.6,9. Para Deus não há qualquer diferença entre o dizer e o criar. Assim “para designar o que não existe, a língua hebraica dirá simplesmente – lô dabar (não palavra) – ou empregar um dos muitos termos que significam: vazio, sem conteúdo, sem força, sem eficácia. O ídolo de madeira é uma mentira porque ele não pode salvar” – cf. Isaías 45.20
Em conclusão, só a Deus, segundo as Escrituras, se pode e deve venerar e adorar. Tudo o resto não passa de uma abominação ao Senhor.

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