domingo, 16 de janeiro de 2011

CÂNONE - SER OU NÃO SER

Perguntamos: Quando se abre a Bíblia, quando se lê qualquer livro do Antigo ou do Novo Testamento, o que ali encontramos foi realmente escrito por aquele, cujo nome encontramos escrito na parte superior de cada página? E, quanto ao seu conteúdo, será digno de confiança e de fé?
Assim, para podermos avançar, iremos tentar dar uma panorâmica do quanto constitui o Cânone. Só este é que tem o poder, só este é a Norma para definir quem é quem, quem é o quê! Enfim, aferir se toda e qualquer confissão religiosa se pauta pelo quanto aqui se encontra escrito. Caso contrário, não é verdadeira!

A Bíblia
A palavra Bíblia afirma, ao mesmo tempo, a sua unidade e autoridade. Para a definirmos empregamos o singular - livro - e não o plural – livros. A Bíblia é um livro e, em certo sentido, é o único livro. A propriedade do termo “Bíblia” é indiscutível. A unidade que ressalta através das suas partes, unidade na diversidade, tem sido aceite pela consciência cristã e tem exercido ao longo da sua existência uma grande e sublime influência.
Nenhum livro influenciou, tanto como a Bíblia, o ser humano! Escritores, poetas e artistas, todas a ela foram beber. Ela inspirou e inspira movimentos culturais e, como veremos mais adiante, irá também estar na base dos movimentos messiânicos e milenaristas, quer do passado, quer da actualidade.
Para já, a palavra Bíblia de onde vem? Bíblia é o mesmo nome que se dá às Escrituras em latim – Bíblia. A palavra portuguesa – Bíblia – é igual à latina. O termo latino também está no singular, mas é a forma latina da palavra grega – Biblia – que não é singular, mas o plural de – Biblion – (livro).
Pelo uso que se fez do papiro ( planta de terras inundadas, de que os antigos egípcios faziam finas folhas para escrever.) é que – Biblos – começou a adquirir o significado de livro, e o termo de - Biblion - passou a designar: um livro pequeno. No Novo Testamento, os termos – Biblios e Biblion – aplicam-se a um só livro do Antigo Testamento, ou a um grupo deles, tal como, por exemplo: o Pentateuco. É assim que o encontramos nas Escrituras: “(…) Não lestes no livro de Moisés (…)” – S. Marcos 12:26. No Antigo Testamento encontramos o plural usado com referência aos profetas, “Não escutámos os Vossos servos, os profetas (…)” – Daniel 9:6.
O plural assim empregue passou para a Igreja cristã e, sensivelmente, desde meados do século II, as Escrituras são conhecidas pelas designações: os livros, os livros divinos, os livros canónicos.
Uma vez que o plural grego - Bíblia - foi adoptado em latim, negligenciou-se o valor da primitiva significação. Bíblia, em latim, na sua forma gramatical, tanto pode ser um plural neutro, como um singular feminino. Como as Escrituras são um todo harmonioso, faz com que o plural - Bíblia - se tornasse singular e passasse a designar – o Livro.
Não deixa de ser maravilhoso que, das diversas palavras de Deus reveladas ao homem, estas formassem uma só – a Palavra de Deus. Apesar de nela encontrarmos diferentes escritores, nota-se uma unidade perfeita nesta diversidade de livros que formam o todo - a Bíblia. O termo Testamento não está em conformidade com o texto que lhe serve de suporte. A palavra mais apropriada é, sem dúvida alguma – Aliança – aquela que Deus estabeleceu com o antigo Israel e renovada em Cristo Jesus.
Quando abrimos a Bíblia saibamos que ela não tem uma apresentação cronológica, (isto é, que os livros foram escritos na ordem em que são apresentados), mas lógica! O Antigo Testamento contém livros históricos; no entanto, não se trata de uma História científica, mas de Salvação. Revela-se-nos a História de um povo escolhido para um fim específico, por Deus. A Bíblia sendo o Livro dos livros contém, como veremos a seguir, sessenta e seis livros, escritos por cerca de quarenta e cinco autores; esta contém 1189 capítulos, 929 no Antigo testamento e 260 no Novo Testamento e 31.173 versículos. O seu capítulo mais longo é o Salmo 119 e o mais curto é o Salmo 117. A Bíblia foi escrita ao longo de 1.600 anos.


Papiro 46 contendo 2 Coríntios 11:33-12:9
O Cânone Não se pode falar acerca da Inspiração, assim como da autoridade da Bíblia sem termos em conta, ainda que brevemente, das seguintes questões: 1- Como é que os livros individuais da Escritura, inspirados por Deus, foram reunidos?; 2- Por que é que alguns foram escolhidos, enquanto que outros foram, pura e simplesmente rejeitados e postos de lado?: 3- Em que época e em que circunstâncias é que foi elaborada a actual lista de livros inspirados, a qual se passou a chamar de – Cânone?
A palavra Cânone é de origem grega – Kanon – e significa literalmente: regra, pedaço de madeira comprido, régua de carpinteiro, regra. A ideia essencial da palavra é a de uma linha recta ou direita. O termo Cânone empregue em sentido metafórico, significa, não aquilo que mede mas o que é ou está conforme à regra ou medida. Com resquício desta nomenclatura temos, por exemplo, a palavra cónego (canonicus) da confissão religiosa Igreja Católica Apostólica Romana (é chamado assim, não porque os seus inferiores se devam moldar a si pelo seu exemplo, mas porque os cónegos eram, originalmente, membros de uma comunidade na qual todos os seus membros se deviam conformar com uma certa regra de fé e conduta; a palavra transferiu-se da regra para o homem que a ela estava sujeito).
No sentido metafórico de “regra de fé”, aparece a palavra Cânone no Novo Testamento “E a todos quantos seguirem esta regra (…)” – Gálatas 6:16. Parece, portanto, ter sido neste sentido que “desde o tempo dos Pais da Igreja (metade do século IV d.C.), a palavra cânon significa uma lista de escritos – inalteráveis em seu volume, forma e conteúdo – que são normativos para a vida e para a fé”.

Bibliografia:
 Klaus Homburg, Introdução ao Antigo Testamento, 3ª ed. S. Leopoldo, Ed. Sinodal, 1979, p. 190
Isidro Pereira, S.J., Dicionário Grego-Português e Português-Grego, 5ª ed. Porto, Ed. Apostolado da Imprensa, 1976, p. 295

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