domingo, 20 de fevereiro de 2011

MALEFÍCIOS HISTÓRICOS DO VATICANO

O autor refere, (Pe Carreira das Neves) a este respeito que “(…) não há dúvida que muitas tomadas de posição seja do bispo de Roma, seja dos responsáveis hierárquicos da Igreja Católica, ao longo dos séculos, na perspectiva moderna da democracia, liberdade religiosa e direitos fundamentais da pessoa, foram erradas e perniciosas. Por isso mesmo, os Papas Paulo VI, João XXIII e o actual Papa têm pedido perdão dos males do passado, seja aos judeus, aos protestantes, à própria ciência, etc.” (sublinhado nosso).
Realmente, humanamente falando, é de se tirar o chapéu a tal atitude! Mas, sem sermos teimosos ou exigentes, será que esta basta? Qual a mudança operada nesta confissão religiosa? Que dizer do percurso desta, desde a sua estranha génese até à consolidação do seu poder, como um verdadeiro Estado dentro do Estado? Com quê? Com quem a deveremos comparar? Passaremos a tornar mais claro o nosso pensamento:
a) Como poder temporal: Estado
 O exemplo de Cristo:
A raiz do Cristianismo, assim como o Seu fundador é, inquestionavelmente, – Cristo. No entanto, quando
olhamos para este pobre “homem” da Galileia, nada encontramos a não ser alguém preocupado com o espalhar o Reino dos Céus, isto é, ensinar aos Seus contemporâneos, a verdadeira vontade de Deus contida na Sua Palavra - não em preceitos humanos!
Se recordarmos as cenas referentes ao anúncio do Seu nascimento no seio dos homens, os evangelhos revelam-nos que um dia, uns Magos do oriente, ao terem tomado conhecimento de que em Belém nasceria o “rei dos judeus”, vieram adorá-Lo. O prezado leitor já reparou, segundo o que conhece a este propósito, relatado nas Escrituras, onde eles se dirigiram? Os seus passos encaminharam-se para o único lugar, dado entre os homens, onde nascem príncipes…o palácio! O do rei Herodes! – S. Mateus 2:1-6.
Eu ou você, não faríamos a mesma coisa? Claro! Porque fomos ensinados que os reis nascem em palácios! Só que este rei, apesar de não ser um rei qualquer, pois, segundo as Escrituras, é o “Rei dos reis e Senhor dos senhores” – I Timóteo 6:15 – sempre, desde o Seu nascimento, contrariou as leis mais elementares dos costumes e da sociedade! Vejamos alguns exemplos:

1- Jesus sempre mostrou que tinha algo de especial – um quê que o diferenciava de um comum mortal! Esta particularidade não passou, obviamente, despercebida aos Seus familiares que com Ele viviam o dia a dia. Certa vez Lhe disseram: “«Sai daqui e vai para a Judeia, a fim de os Teus discípulos também verem as obras que Tu fazes; pois ninguém, que pretenda ser conhecido, actua em segredo. Já que fazes estas coisas, manifesta-Te ao mundo»” – S. João 7:3,4
Por outras palavras mais simples: Tu que tens esses dons que nos transcendem, por que continuas na província? Vai para a grande cidade e ali dá-Te a conhecer e terás tudo, a todos os níveis. Não é isto que, dois mil anos depois, cada um de nós faz? Quando um vizinho nosso tem, por exemplo, uma excelente voz, não o encaminhamos para cantar na cidade, onde poderá ser conhecido e ali ganhar a sua vida? Claro que sim. O mesmo aconselharam os Seus familiares mais directos.

2- Certa vez, mais tarde, no decurso do Seu ministério, um escriba, apercebendo-se que Cristo tinha tudo para formar um partido político promissor, veio até ele e ofereceu-se para ser Seu discípulo. Ao aproximar-se disse: “(…) «Mestre, seguir-te-ei para onde quer que fores». Respondeu-lhe Jesus: «As raposas têm tocas e as aves do céu têm ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça».” – S. Mateus 8:19, 20.
Por outras palavras, Jesus lhe estava a dar a entender que: se me seguires unicamente pelo interesse de um dia seres alguém num hipotético reino temporal, que só existe na tua imaginação, olha que estás muito enganado a meu respeito! Nada tenho para te oferecer daquilo que alimentas na tua mente!

3- Outra vez, uma mulher, a mãe de dois discípulos Seus, aproximou-se e fez-Lhe, por outras palavras, o mesmo pedido, só que, desta vez, explicitamente: “(…) «Ordena que estes meus dois filhos se sentem, um à Tua direita e o outro à Tua esquerda no Teu reino». A resposta, obviamente, não se fez esperar – “Jesus retorquiu:«Não sabeis o que pedis (…)»” – S. Mateus 20:21, 22.

4- Um outro episódio ainda mais paradigmático é aquele que nos é relatado no evangelho de S. João – a multiplicação dos pães! Nunca se tinha visto nada igual! Para a época e naquele preciso contexto político-social, vinha mesmo a calhar alguém que preenchesse o vazio que se fazia sentir; alguém com carisma, e que fosse um agente galvanizador das gentes e instaurasse o Poder; enfim – o verdadeiro Messias – há tantos séculos esperado e, agora, no momento político oportuno, eis diante de nós o homem que se esperava que aparecesse!
Ei-lo ali à mão, mesmo à mercê. Um homem sensível às necessidades físicas do povo tão oprimido a diversos níveis. Um concidadão capaz de saciar a fome de cerca de cinco mil homens sem contar com as mulheres, inacreditável! Quem poderá, na medida do razoável, com cinco pães e dois peixes saciar a fome de milhares de pessoas e ainda sobejarem cerca de doze cestos de pedaços? Simplesmente fora de série! – S. João 6:9-13.

5- O resultado era mais do que evidente; não poderiam ter feito outra coisa ou tomarem outra atitude. Eis o homem capaz de nos libertar do jugo dos Romanos! Eis, no seio de tantos pseudo Messias, anteriormente aparecidos na cena política, mas que falharam; este, nada tem de comparável com os do passado recente, a todos os níveis! O que é que a multidão fez? O que acha que deveria ter feito à luz deste contexto que acabámos de expor? Fizeram isso mesmo que está a pensar: – proclamaram-no líder! Mais do que isso! Rei! Se havia alguém que o merecia era certamente este Jesus de Nazaré!
Quem não gosta do “poder”? O Poder seduz qualquer um… e, por que não o homem Jesus, oriundo da cidade de Nazaré, da província do norte, na Galileia? Mas, prezado leitor e amigo cristão, qual foi a atitude do homem Jesus? Simplesmente desconcertante, inacreditável?! Vejamos os factos como vêm relatados nas Escrituras: “Jesus, sabendo que viriam arrebatá-Lo para O fazer rei, retirou-Se, novamente sozinho, para o monte.” – S. João 6:15.
Abramos aqui, a este propósito, um pequeno parêntesis: Certas confissões religiosas, nossas contemporâneas, para desculparem um certo luxo e ostentação, quer delas próprias, quer dos seus líderes, alguns destes, para justificarem um ou outro avião particular, chegam ao cúmulo de terem este raciocínio que, é aplicável nos governos humanos, mas não no de Deus, porque tal forma de pensar não existe, biblicamente falando. Dizem mais ou menos isto: Se os governos deste mundo, desejam que os seus embaixadores não andem a parecer mal, devendo estes mostrar sinais exteriores de riqueza, para que o país, onde está a referida embaixada, possa saber que o país representado é rico, isto a julgar pelo que se vê no embaixador e afins, então, com os embaixadores do Deus Todo Poderoso seria diferente? A resposta deles é: Claro que não!
Se “Deus é o Rei dos reis e Senhor dos senhores”, tal como a Bíblia o afirma, então por que é que eu, Seu ministro e chefe desta confissão religiosa e, na qualidade de Seu embaixador, não poderei fazer o mesmo? Deus não quererá estar abaixo do nível da ostentação humana! Assim, através de postulados como este é, aparentemente, explicada a posse de aviões particulares! Ou será que estamos a exagerar? Pensamos que não. Fechando o parêntesis

6- finalmente, perante Pilatos, Jesus disse a certa altura: “O meu reino não é deste mundo” e Pilatos retorquiu: “Logo, tu és rei?”. Mas repare-se na resposta de Jesus: “«Tu o dizes! Eu sou Rei! Para isso nasci e para isto vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz».” – S. João 18:36-37. (sublinhado nosso)
Prezado leitor, em lado algum vemos Cristo ir além do ser humano vulgar em relação ao Poder Temporal. Limitou-se a dizer e recordar que tinha vindo “tornar-se carne” para dar “testemunho da Verdade” e afirmar peremptoriamente que: “Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz”. Como conciliar tão estranha resposta com o ensino da confissão religiosa que diz ser a Sua pretensa continuidade e seguidora? Que testemunho da Verdade dá se poucos ou nenhuns dos Seus seguidores, infelizmente, lêem as Sagradas Escrituras, a única Verdade à qual Cristo incessantemente se referiu? Depois, se não leio esta - Verdade - então como poderei, segundo as Suas palavras, ouvir a Sua voz?
Como conciliar tudo isto com os crentes desta confissão religiosa que, dos quais, tão poucos são praticantes e, para mal de todos os males, desconhecem, de todo, a palavra da Verdade – as Escrituras? Como foi que Cristo expressou o Seu desejo de santificação dos Seus discípulos? O método apontado é simples. Ele apontou um único caminho para tal, não seguir uma confissão religiosa, mas a – Regra – que orientará e definirá se esta confissão contém, ensina e vive a Verdade - a Palavra: “Santifica-os na verdade. A Tua palavra é a verdade” - S. João 17:17. É por esta razão que constantemente aconselhamos a leitura e estudo das Escrituras, caso contrário, como poderemos ouvir a Sua voz, se só ali é que ela se encontra? Convenhamos que é difícil!

 O exemplo da Sua continuidade: a Igreja
Se olharmos para a trajectória desta confissão religiosa que diz ser a Sua continuidade, ao longo de toda a História da Idade Média, ficaremos surpreendidos, como o veremos mais adiante. Para já, dentro deste contexto de “Poder Temporal” do sistema papal recordaremos, por exemplo, alguns artigos, (27, no total!), do decreto Dictatus Papae de 1075, a saber:
Artº 9 - O Papa é o único homem ao qual todos os príncipes beijam os pés.
Artº 12 - Poder para depor imperadores.
Artº 20 - Ninguém pode condenar uma decisão da Sé Apostólica.
Artº 22 - A Igreja Romana nunca errou e, segundo o atestam as Escrituras, jamais poderá errar.”

Como poderá ver, é de ficarmos, no mínimo, espantados! Segundo o que acima expusemos, em quê esta Sua “dita” continuidade tem a ver com a sua “raiz – Cristo Jesus? Rigorosamente NADA! Infelizmente para todo o cristianismo, este não passa de uma manta de retalhos – cada um com a sua pseudo Verdade!
Perguntamos, prezado amigo leitor: onde está a sede do Poder Temporal do inventor do cristianismo? Certamente que nos irá responder que esta não era a Sua missão. Se esta for a sua resposta, muito bem, pois é justa e correcta! Mas, e quanto à conduta, neste contexto, da confissão religiosa que diz ser a Sua continuidade? Ao longo da História tentou e conseguiu o que nunca esteve no horizonte do Seu fundador – uma Monarquia Religiosa?! Quem diria?!

b) Como exemplo moral: Bispo de Roma

Note, prezado leitor, como inteligentemente o autor tenta nuançar, amaciar os factos históricos! Eis o que ele diz: “(…) na perspectiva moderna de democracia, liberdade religiosa e direitos fundamentais da pessoa”. (sublinhado nosso). Quer dizer que, se bem entendemos, o procedimento, à luz dos nossos dias, não foi o mais correcto; mas que, ao tempo dos acontecimentos, a mentalidade, os costumes, eram assim! Com esta explicação tão convincente, qual a necessidade de falarmos, por exemplo, na problemática de uma Inquisição em Portugal no reinado de D. João III, o Piedoso! Tudo está explicado e justificado, não é verdade?!
Se formos coerentes com este mesmo postulado, explicativo e perdoador, que direito tem a sociedade contemporânea de julgar as atrocidades de um Hitler ou o sistema por ele encabeçado? O Horrendo Holocausto! Não foi, de igual modo, não esteve na sua base, uma questão de mentalidade – A Raça Ariana, a eleita? Claro que sim!
Portanto, se tudo foi uma questão de “mentalidades”, então, os dois casos estão em igualdade de circunstâncias, apesar de estarem separados no tempo - isto para sermos coerentes com tal raciocínio! Este, ao ser válido para esta confissão religiosa, seremos injustos se o não aplicarmos, de igual modo, aos diferentes casos acima mencionados ou a outros da mesma índole!
Recordaremos alguns ensinamentos de Jesus; à luz destes, veremos se o argumento do autor é justo e correcto, ou se não passa de uma falácia! Para este efeito vejamos o discurso do Sermão do Monte. Tal foi a sua força que, mais tarde, no libelo acusatório contra a Sua pessoa, são atestadas as seguintes palavras: “(…) Encontrámos este homem a sublevar o povo (…)” – S. Lucas 23:2. (sublinhado nosso).
Recordemos as palavras do Mestre dos mestres, quando ensinava os Seus ouvintes e discípulos: “«Ouvistes o que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, digo-vos: Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem. Fazendo assim, tornar-vos-eis filhos do vosso pai que está nos Céus. (…) Porque, se amais os que vos amam, que recompensa haveis de ter? Não fazem já os publicanos? E, se saudais somente os vossos irmãos, que fazeis de extraordinário? Não fazem também os pagãos?»” – S. Mateus 5:43-47. (sublinhado nosso).
O que é que Jesus estava a ensinar? Aparentemente, parece que contrariava o ensino anteriormente ministrado ao povo, ao dizer: “Eu porém vos digo”. De certa forma estava a corrigir o ensino que circulava, um pouco distorcido, deste texto antigo que dizia: “Tu deves amar o teu compatriota, mas ao teu adversário tu não tens necessidade de amar” – cf. Deuteronómio 19:18.
Se virmos assim o texto, já entendemos melhor a razão de Jesus ter dito: “Eu porém vos digo”. O que Deus desejava, contrariamente ao que as escolas clássicas ensinavam era, que o homem – o cristão - amasse todo aquele que fosse diferente, não importava em que aspecto fosse!
Para melhor explicitar o Seu ponto de vista e corrigir o distorcido ensino dos teólogos da época, Jesus irá contar uma parábola, a do - Bom Samaritano – cf. S. Lucas 10:25-37.
Certo doutor da Lei aproximou-se de Jesus e fez-Lhe uma pergunta. Este fê-la, não para ser informado, mas para saber como o Mestre dos mestres responderia! A pergunta foi: “E quem é o meu próximo?” – v. 29. Repare, prezado leitor, que o doutor da Lei coloca a questão. Deliberadamente evita fazer a mesma pergunta nestes termos: “O que é um próximo?”. A razão é muito simples! Por que esta, assim formulada, era tremendamente fácil responder! Por outras palavras, o doutor da Lei perguntava a Jesus: “A quem eu devo amar”?
Jesus, de seguida, começa a contar a parábola. Se Jesus tivesse permanecido onde o doutor da Lei desejava - após a intervenção destes três homens que representavam diferentes castas sociais - teria perguntado ao Seu interlocutor: “De qual dos três o ferido é o próximo”! A pergunta era possível, mas no contexto judaico, à partida estava respondida! O ferido (aparentemente judeu) era, portanto, o próximo, tanto do Sacerdote como do Levita. Não o seria, certamente, do Samaritano, que por ali passava de viagem! O Sacerdote e o Levita deveriam ter amado e sentido compaixão pelo ferido. O Samaritano podia não amar o ferido visto ser seu inimigo! (Esta forma de proceder estaria em conformidade com a interiorização do entendimento do ensino da Lei de Deuteronómio 19:18, ministrado pelos Rabis).
Mas a pergunta, para estupefacção do doutor da Lei foi diferente, inesperada! E esta foi feita nestes termos: “Qual destes três te parece ter sido o próximo daquele homem que caiu nas mãos dos salteadores?” – v. 36. Perante a subtileza e finura da pergunta de Jesus, “o centro de interesse se desviou do judeu que procurava determinar quem era o próximo, para um homem em dificuldade que procura um próximo que o venha socorrer. (…) No centro do universo não está mais o «eu», mas o «outro»”.
Assim, sentindo-se encurralado, o doutor da Lei que queria “testar” Jesus, foi obrigado a reconhecer o que não queria! A exemplo de qualquer Judeu que se prezasse, odiava todo e qualquer Samaritano – cf. S. Lucas 9:51-54; S. João 4:9; 8:48. Este foi, apesar da sua consternação, obrigado a reconhecer a única resposta que o Salvador solicitava; e assim respondeu: “O que usou de misericórdia para com ele” – v. 37a. E sabe o que disse Jesus? Disse-o naquele tempo, no I século; o mesmo era válido para sempre, para a confissão religiosa dita Sua continuidade ao longo da sua triste existência, em termos opressivos e coercivos! O mesmo ainda hoje é válido para cada um de nós este solene conselho: “«Vai e faz tu também do mesmo modo»” – v.37b
Repare, prezado leitor, este, ao responder a Jesus, para não ficar imundo, ritualmente falando, omite pronunciar a palavra maldita, para um judeu da época – Samaritano! Assim, o pecado e a sujidade ritual não seria assim tão grande! Para Deus, prezado leitor, não existem raças, credos, ricos ou pobres, livres ou escravos, mas unicamente seres humanos a salvar, nada mais!
Abramos um parêntesis para podermos apreciar mais um facto histórico que revela, uma vez mais, a intolerância desta confissão religiosa. Recordamos aqui um episódio do pontificado de Inocêncio III (1198-1216) – a heresia Albigense! Esta deveu o seu levantamento ao vento de reacção que sublevou o mundo cristão perante o espectáculo da corrupção eclesiástica do século X e até do XII.
Este pontífice, o mais importante da Idade Média, aos olhos dos historiadores é caracterizado desta maneira: “um indivíduo sedento de glória, astuto, autoritário e inflexível”. Os hereges ficaram conhecidos por Albigenses, por se concentrarem na região de Albi! Enfim, para ele e o sistema que representava, estes eram tidos como uma seita, entre outras!
O que caracterizou os Albigenses foi a adesão em massa, em simultâneo, do povo, da burguesia, dos senhores feudais e, em particular, do conde Raimundo de Tolosa. Em 1208, este pontífice pregou uma cruzada contra os Cátaros - pois o lema era o de sempre: quem não é por mim é contra mim! Para anular esta ameaça Albigense, o papado recorre ao sabre e à fogueira.
Um tal Simão de Montfort l’Amaury tomará a direcção da expedição. Que nos é relatado acerca do que se passou? Vejamos: “Roubou-se e queimou-se. Massacrou-se com entusiasmo. «Matai-os a todos» gritava o legado do papa, «Deus saberá reconhecer os seus».! O sul de França, foi cenário de uma guerra de religião, sem piedade; refere a história que “só em Béziers, calcula-se que os cruzados exterminaram cerca de 30.000 pessoas”.
A causa da dita Cruzada, distorcida a realidade histórica, sob a parcialidade de um sacerdote, é devido ao “fanatismo duma seita que, com a protecção de alguns nobres ambiciosos, se apoderava de igrejas e mosteiros, insultando e matando fiéis”! Assim, “Inocêncio III pediu a intervenção do rei e de todos os barões e bispos de França contra o conde Raimundo”; a Cruzada “ultrapassando os intentos meramente dissuadores do Papa, se transformaria numa autêntica carnificina”. Qual era a realidade histórica? O 4º Concílio de Latrão (1215) desliza do domínio religioso ao político! Em causa, mais do que a questão Albigense, é a conquista do imperium mundi. O Papa desapossa, em seu proveito, Raimundo de Tolosa, para investir no condado deste, Simão de Monfort. Submete à suserania, na qualidade de feudo e de vassalo da Sé apostólica, a Inglaterra, a Hungria, a Bósnia, a Sérvia, a Escócia, a Irlanda, Portugal, Nápoles e Aragão. Depõe Otão IV e nomeia Frederico II, rei dos Romanos. Enfim, numa palavra – apodera-se da Europa!”. Eis a sua ambição - “governar não só a Igreja universal, mas todo o mundo secular (…). Assim como a lua recebe a luz do sol, da mesma maneira, o poder real recebe da autoridade pontifícia o esplendor da sua dignidade”.
Que mais dizer? Não estaremos, infelizmente, prezado leitor, bastante elucidados, dentro do pouco que vimos, historicamente falando, acerca desta confissão religiosa? Cremos que sim! Fechamos aqui o parêntesis.
Passaremos a perguntar: em termos históricos, portanto, quem é o mais velho? Quem está mais perto da barbária? Tomemos, como exemplo, a Inquisição em Portugal, em 1536, no reinado de D. João III. O Jesus histórico viveu, fisicamente, entre o Seu povo no século I. Este, nesta época, ensinava que “todos os homens deveriam amar o outro como a si mesmos”! Será que, depois de Cristo, aqueles que se dizem cristãos ou a Sua própria continuidade estarão isentos? Continuamos a crer que não! O que é que a História nos diz? Apesar de tudo e, passados 15 séculos, esta sempre fez orelhas surdas às Suas palavras!
Se tivesse sido interiorizada e posta em prática a ordem de Cristo, a questão das mentalidades não tinha, nem tem razão de ser, porque em Jesus - a opressão e a intolerância - deixaria de existir! Infelizmente, a história dos homens e desta confissão religiosa revelam exactamente o contrário! Portanto, à luz do exposto, reafirmamos que esta confissão religiosa não pode ser, de modo algum, desculpada “(…) na perspectiva moderna de democracia, liberdade religiosa e direitos fundamentais da pessoa”, visto que, desde o século I, sabe que deve “amar o outro – seja ela que confissão for, seja em que época for, seja em que enquadramento mental for – como se ama a si mesma!
Não é assim que se expressou Jesus, já no século I? Quanto a nós, nunca o duvidámos! Vejamos as suas palavras, o Seu solene conselho e ordem: “Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; assim como Eu vos amei, vós também vos deveis amar uns aos outros. É por isto que todos saberão que sois Meus discípulos: Se vos amardes uns aos outros” – S. João 13:34,35. (sublinhado nosso). Poderão existir dúvidas perante tal clareza?!
Será, prezado leitor, difícil de compreensão o que acabámos de expor? Será possível enquadrar, neste contexto as pseudo-desculpas engendradas pelo autor em causa? Com toda a caridade cristã cremos que não! Ou será que estamos errados na apreciação dos factos históricos? Continuamos a pensar pela negativa! Que acha o prezado leitor?

Bibliografia:
Joaquim Carreira das Neves, OFM, op. cit., p. 122.
Jean-Baptiste Duroselle, História da Europa, Lisboa, Ed. D. Quixote, 1990, vol. I, p. 130.
J. Jeremias, op. cit., p. 266, nota 232
Xavier Léon-Dufour, S. J., Os Evangelhos e a História de Jesus, S. Paulo, Ed. Paulinas, 1972, pp. 446,447
Jean-Baptiste Duroselle, op. cit., vol. I, p. 138
Jean-Louis Schonberg, Verdadeira História dos Concílios, Lisboa, Ed. Europa-América, 1964, p. 129
Julio Valdeon Baruque, Historia General de la Edad Media (sec.XI-XV), Madrid, Ed. Mayfe, 1970, p. 140.
Heitor Morais da Silva, S. J., História dos Papas, Luzes e Sombras, Braga, Ed. Apostolado da Oração,1991, p. 185
Jean-Louis Schonberg, op. cit., p. 132
cf. para uma visão de conjunto - Julio Valdeon Baruque, op. cit., pp. 100-103; Philipe Tourault, História Concisa da Igreja, Lisboa, ed. Publicações Europa-América, 1996, pp. 152-155

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