a) I Coríntios 15:20,51
A confissão religiosa representada pelo autor que continuamos a citar ensina, como é sabido, a intercessão dos Santos! Este critica a confissão religiosa - os Adventistas - na pessoa do seu biblista, quando diz: “segundo os adventistas, os chamados «santos», como afirma, Ernesto Ferreira, não nos podem ouvir porque ainda não ressuscitaram.”
Depois, transcreve os textos citados E. Ferreira nos quais este sustenta a sua tese, que são: 1- Para o Antigo Testamento: Salmo 6:5; 115:17; 146:4; Isaías 38:18,19; Eclesiastes 9:5,6,10; 2- Para o Novo Testamento: : I Coríntios 15:20,51 e I Tessalonicenses 4:14. O nosso autor ao comentar estes textos diz que: “E. Ferreira cita-os para defender a sua tese sobre o sono da morte, mas a verdade é que os textos afirmam o contrário”.
Lemos com muita atenção o raciocínio do referido autor, mas, desde já, confessamos que não compreendemos nada do que este, neste pequeno capítulo, escreveu para anular a tese do seu interlocutor!
Que diz o texto em causa, visto que, segundo o nosso autor, afirma o contrário do quanto o seu interlocutor afirmou! Ora vejamos o seu conteúdo: “Cristo ressuscitou dos mortos como primícias dos que morreram” - I Coríntios 15:20. Perante tal citação bíblica conclui que: “o texto não afirma que a ressurreição só acontecerá no fim dos tempos, e, que até lá, os mortos permanecem no tal «sono da morte». Perguntamos: se não afirma que a ressurreição acontecerá, um dia, então ensina o quê? Que esta é imediata, em espírito, após a morte, tal como o nosso autor pretende que seja? Pelo menos assim ensina a confissão religiosa que representa!
Onde está a prova bíblica para tal afirmação? Onde, no texto em lide, tal como pretende o nosso autor, está o menor indício que o permita concluir que “mas a verdade é que os textos afirmam o contrário”, isto é, afirma, segundo o nosso autor que a - ressurreição imediata, em espírito, após a morte – terá lugar!
Francamente, apesar de reconhecemos as nossas limitações no campo da teologia, não conseguimos perceber o que é que este eminente teólogo descobriu assim de tão transcendente e que lhe permita concluir tal postulado! O próprio texto afirma somente o que afirma, (perdoem-nos a redundância), isto é, que Cristo ressuscitou e que, por este facto, Ele tornou-se o garante da nossa ressurreição – nada mais do que esta solene e esperançosa verdade!
Logo a seguir, o autor cita o v. 51 que diz: “Vou revelar-vos um mistério: Nem todos morreremos, mas todos seremos transformados.” - v. 51. De novo, com palavras simples, ao alcance de qualquer mente, o texto refere que, a dada altura, – todos – seremos transformados! Até aqui tudo é simples! Até aqui, voltamos a repetir, não conseguimos ver em que é que o autor pode negar a afirmação feita pelo seu interlocutor, cujo teor é: “os chamados «santos», não nos podem ouvir porque ainda não ressuscitaram”.
Se a ressurreição não é imediata, espiritualmente falando, assim como a fisicamente falando, pois esta acontecerá mais tarde – “Os vossos mortos reviverão, os seus cadáveres ressuscitarão, despertarão jubilosos os que jazem no sepulcro! (…). – Isaías 26:19. – então, realmente estes “não poderão ouvir” visto estarem no pó da terra – no sepulcro!
b) I Tessalonicenses 4:14
Em continuação da sua exposição para rebater e, de certa maneira, anular a afirmação supra citada do seu interlocutor, o autor transcreve este texto bíblico, cujo teor é: “Se cremos que morreu e ressuscitou, assim também devemos crer que Deus, levará, por Jesus, e com Jesus os que morrem n’Ele” - I Tessalonicenses 4:14
De novo perguntamos: o que é que o texto em causa diz? Reitera, uma vez mais que Jesus morreu e ressuscitou e que - um dia – Deus levará os que morreram em Cristo Jesus.
Os verbos do texto bíblico estão no futuro, não no presente! Portanto, passar-se-á algo – um dia – não agora! Será que é preciso ser teólogo para chegar a esta simples conclusão em função das claríssimas palavras do apóstolo S. Paulo? Continuamos a pensar que não!
Quanto a nós, e até ao presente momento, ficamos na expectativa da sapiente demonstração em contrário, visto que o propósito do autor é combater, eis o termo apropriado, a afirmação feita pelo seu interlocutor.
De seguida, faz esta afirmação espantosa: “S. Paulo é totalmente claro a este respeito na I Coríntios 15:12-14”. (sublinhado nosso). Ficámos contentes em ler isto! Sabe porquê? Porque pensámos que ficaríamos totalmente esclarecidos, visto que o autor dizia que o apóstolo abordava o assunto com toda a - clareza! Vejamos o texto citado pelo autor para nos apercebermos da dita clareza: “Ora, se se prega que Cristo ressuscitou dentre os mortos, como dizem alguns de vós que não há ressurreição dos mortos? Se não há ressurreição dos mortos, também Cristo não ressuscitou. E, se Cristo não ressuscitou é vã a nossa pregação e vã a nossa fé” - I Coríntios 15:12-14
O que é que S. Paulo diz, afinal, com toda a clareza no texto acima? Exactamente o que o seu interlocutor disse, isto é, que Cristo ressuscitou e que este grandioso acontecimento, será o garante da nossa ressurreição física, um dia! Segundo o texto, este acontecimento deverá acalentar a esperança dos cristãos, em particular. Então o que é que este eminente teólogo provou em contrário? Repetimos: rigorosamente nada! Muito antes pelo contrário, reiterou esta mesma esperança na futura ressurreição física.
O autor, afinal, nada disse em contrário e ainda aguardamos ser esclarecidos sobre o porquê do autor ter dito: “a verdade é que os textos afirmam o contrário”! Onde está o contrário? O autor nada disse a este respeito! Quem terá razão? Quanto a nós, leigos na matéria, em nada fomos esclarecidos pelos ditos textos que, segundo o nosso autor “afirmavam o contrário”! Quanto a nós, basta-nos a clareza da Palavra de Deus e não as palavras confusas e detractoras deste ou daquele arauto desta ou daquela confissão religiosa!
Os textos apresentados até aqui, todos, sem excepção, apontam para o futuro e não para um presente realizado, aqui e agora. Por outras palavras, mais no âmbito teológico, o que se passa é a tensão entre - o “déjà” (já), e o “pas encore” (ainda não), - isto é, no momento da morte de qualquer pessoa, esta já tem a esperança da ressurreição mas, na realidade, ainda não aconteceu tal facto.
Como vimos acima, foi-nos apresentado um texto bíblico que se encontra na primeira carta aos Tessalonicenses e no v. 14. Agora, convidamo-lo a ler connosco o versículo a seguir, que diz: “Eis que vos declaramos, conforme a palavra do Senhor: Por ocasião da vinda do Senhor, nós, os que estivermos vivos, não precederemos os mortos. Quando for dado o sinal, à voz do Arcanjo e ao som da trombeta de Deus, o próprio Senhor descerá do Céu e os que morreram em Cristo ressurgirão primeiro. Depois, nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles sobre nuvens; iremos ao encontro do Senhor nos ares, e assim estaremos para sempre com o Senhor. Consolai-vos, portanto, uns aos outros com estas palavras.” - v. 15-18.
Uma vez mais, o apóstolo S. Paulo reitera que este acontecimento glorioso terá lugar num futuro, no momento da gloriosa segunda vinda de Jesus. Na Sua vinda à terra, levará, finalmente, consigo todos aqueles que morreram, crendo no Seu nome e fazendo a Sua vontade.
Perguntamos: qual é a confusão que o texto tem? Como se poderá falar diferentemente do quanto acontecerá no preciso momento da ressurreição? Se dissermos o contrário, isto é, que existe uma ressurreição espiritual imediatamente após a morte, estamos a mentir! E porquê? Pela simples razão que as nossas palavras ou explicação, por muito piedosas que possam ser, se não estiverem de harmonia com a Palavra de Deus, são, por conseguinte, palavras, visto que não passam de palavras meramente humanas!
Por outro lado, é a Palavra de Deus que nos admoesta a não misturarmos a palavra do homem com a de Deus! Leiamos o conselho do apóstolo S. Paulo a todo aquele que pensa ser o intérprete das Escrituras: “(…) para que em nós aprendais a não ir além do que está escrito. (…)” – I Coríntios 4:6. (sublinhado nosso). O prezado leitor ficou confuso com a clareza dos textos bíblicos acerca da ressurreição? Continuamos a crer que não! Porque estas são palavras verdadeiras e que nos dão conforto e esperança nos momento de maior dor ao perdermos um ente querido; transmitem-nos confiança no Deus que não mente, tal como as Escrituras abertamente o afirmam. “Na esperança da vida eterna prometida desde os mais antigos tempos pelo Deus que não mente” – Tito 1:2. Por esta grandiosa esperança, que o Seu excelso nome seja louvado.
Convidamos o prezado leitor a pensar um pouquinho naquilo que, apesar de tudo, esta confissão religiosa, graças a Deus, ainda mantém e ensina – o Credo. Só que, infelizmente, não medita nas palavras que constantemente repete! Recordemos algumas passagens deste - símbolo de Niceia-Constantinopla - composto no concílio de Constantinopla em 318 d. C., a saber:
“Cremos em um só Deus, Pai todo-poderoso, criador
do céu e da terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis.
Cremos num só Senhor, Jesus Cristo, o Filho único de Deus (…)
Foi crucificado sob Pôncio Pilatos, sofreu e foi sepultado;
ressuscitou dos mortos ao terceiro dia, segundo as Escrituras;
subiu aos céus; está sentado à direita do Pai. De lá voltará
na glória para julgar os vivos e os mortos e o seu reino
não terá fim (…). Nós aguardamos a ressurreição dos mortos
e a vida futura. Amén”.
Já pensou, prezado amigo leitor no que repete em cada vez que assiste e participa na liturgia, na Igreja? Sim, é verdade, é isso mesmo! Afinal dizemos que Jesus se encontra no céu, à direita do Pai e de lá virá para julgar os vivos e os mortos. Que quererão dizer estas palavras? No mínimo pressupõem um julgamento e, se este é verdadeiro, então implica que nos devemos preparar em consequência, para nos encontrarmos com o Senhor Jesus.
Nada, prezado leitor, acontecerá, como gratuitamente esta confissão religiosa o afirma e ensina, no preciso momento da morte! Acontecerá sim, prezado leitor, mas unicamente na altura da ressurreição, tal como vimos nos textos acima expostos, isto é, no momento da gloriosa vinda de Jesus.
Recorde que o Credo diz que: “de lá voltará na glória para julgar os vivos e os mortos”. Se virá julgar, então haverá um tribunal, não é verdade? Como é que fazemos quando temos um julgamento marcado? Será que não nos preparamos, antecipadamente, para essa solene ocasião? Claro que sim!
Ora se assim é, será, porventura, diferente, no campo espiritual? Pensamos convictamente que não! Ouçamos, prezado amigo e leitor, a voz de Deus, não a dos homens, porque esta, tal como teremos oportunidade de verificar, repousa unicamente em tradições e filosofias humanas! Não num claro e inequívoco: “Assim diz o Senhor” ou num “Está escrito”!
Bibliografia:
Oscar Cullmann, A Formação do Novo Testamento, S. Paulo, Ed. Sinodal, 1979, p. 44
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