As trombetas descrevem os juízos de Deus fazendo alusões às
antigas pragas do Egipto:
O primeiro toque de trombeta envia "granizo e fogo
misturados com sangue, que foram lançados sobre a terra" (Apoc. 8:7). Isto
se refere à sétima praga do Egipto (Êxo. 9:22-26) que foi enviada por motivo da
libertação de Israel. A segundo trombeta joga uma grande montanha no mar, de
modo que "a terça parte do mar se converteu em sangue, e morreu a terça
parte dos seres viventes que estavam no mar" (Apoc. 8:8, 9). Isto é uma
alusão à primeira praga do Egito, quando Moisés feriu o rio Nilo com sua vara e
"todas as águas que havia no rio se converteram em sangue" (Êxo.
7:20, 21). O toque da terceira trombeta envia uma estrela ardendo sobre "a
terça parte dos rios, e sobre as fontes das águas" de maneira que as águas
se fizeram absinto, matando a muitos homens (Apoc. 8:10, 11). Isto tem alguma
semelhança com o fato de que os egípcios não podiam beber a água do Nilo (Êxo.
7:21). A quarta trombeta faz que uma teça parte do sol, da lua e das estrelas
se escureçam na terça parte do dia e da noite (Apoc. 8:12). Este fenómeno nos
recorda da nona praga, que causou densas trevas sobre toda a terra do Egito por
três dias (Êxo. 10:21-23). A quinta trombeta faz que lagostas diabólicas
torturem as pessoas por 5 meses (Apoc. 9:1-11). Isto alude à oitava praga do
Egito, quando as lagostas devoraram "toda a erva da terra, e todo o fruto
das árvores" (Êxo. 10:13-15). A sexta trombeta envia uma cavalaria
monstruosa do rio Eufrates que mata a "a terça parte dos homens"
(Apoc. 9:13-19). Um juízo assim corresponde à décima praga, quando o anjo da
morte enviado por Deus causou a morte de todos os primogénitos do Egito,
"para que saibam que Jeová faz diferença entre os egípcios e os
israelitas" (Êxo. 11:7).
Ao mesmo tempo que lemos que a cada praga que caiu sobre o
Egito Faraó endureceu seu coração para não deixar ir a Israel, assim também
lemos depois da sexta trombeta: "Os outros homens, aqueles que não foram
mortos por esses flagelos, não se arrependeram das obras das suas mãos,
deixando de adorar os demónios e os ídolos de ouro, de prata, de cobre, de
pedra e de pau... nem ainda se arrependeram dos seus assassínios, nem das suas
feitiçarias, nem da sua prostituição, nem dos seus furtos" (Apoc. 9:20,
21).
A semelhança literária das trombetas com as pragas do Egito
nos diz que as trombetas não são fundamentalmente desastres naturais ou
calamidades gerais, e sim as maldições do Deus do pacto sobre seus inimigos. Da
vitória de Cristo sobre Satanás, o príncipe deste mundo (João 12:31; 14:30;
16:11; 2 Cor. 4:4), Cristo esteve atuando para voltar a estabelecer o reino de
Deus na terra: "Porque preciso é que ele reine até que tenha posto a todos
seus inimigos debaixo de seus pés" (1Cor. 15:25).
O ministério intercessor de Cristo no céu inclui sua
paciência redentora para com seus inimigos. As trombetas anunciam os limites de
sua paciência e a contínua derrocada dos reinos malignos antes de sua vinda. As
trombetas revelam a incapacidade dos reinos humanos e os incapacita. Depois, a
sétima trombeta declara: "O reino do mundo se tornou de nosso Senhor e do
seu Cristo, e ele reinará pelos séculos dos séculos" (Apoc. 11:15).
O Criador Continua Sendo o Governante da Terra
As trombetas sugerem a ruína gradual da obra da criação. O
juízo de cada trombeta se refere a um característico que corresponde a um dia
da semana da criação: (1) a terra; (2) o mar; (3) os rios e as fontes das
águas; (4) o Sol, a Lua e as estrelas; (5) as lagostas; (6) o homem; (7) o
reino. Desde esta perspectiva os juízos das trombetas tocam todos os 6 dias da
criação. A destruição progressiva da criação de Deus pode entender-se como uma
desqualificação dos atuais habitantes do mundo:
"O significado destas referências à criação [em Apoc.
8-9], sem dúvida alguma indicam que Cristo está estabelecendo seu reino sobre
cada aspecto da criação, e que todos os herdeiros falsos, embora exerçam
temporalmente o domínio, serão despojados".1
Entretanto, Cristo não destrói sua própria criação. Só
proporciona oportunidade a Satanás, cujo nome tanto em hebraico como em grego é
"destruidor" (Apoc. 9:11). Satanás destrói o que Deus criou. Nenhuma
passagem no Apocalipse descreve mais graficamente este caráter demoníaco que a
quinta e a sexta trombetas (cap. 9). Podemos esperar que aconteça isto cada vez
mais no curso da história, especialmente no tempo do fim.
João não espera que apliquemos em forma literal esta
descrição de lagostas e cavalos que atormentam. Deseja que compreendamos que
Deus usa inclusive os poderes do mal e de Satanás como seus instrumentos de
juízo para expor o mal oculto de seus adversários.
As trombetas mostram que a igreja não deve esperar que o
evangelho vá criar paz no mundo e vá dissipar a idolatria (ver Apoc. 9:20, 21).
De fato, a segunda metade do Apocalipse revela que o evangelho será cada vez
mais escurecido pelos espíritos malignos que procedem da boca do dragão, da
boca da besta e da boca do falso profeta (16:13). O propósito da atividade dos
espíritos de demónios é enganar a humanidade por meio de sinais milagrosos e
dessa maneira unir ao mundo em uma rebelião contra seu Criador.
Tanto Jesus como Paulo predisseram que o tempo do fim
estaria marcado por uma manifestação crescente de engano demoníaco por meio de
sinais e milagres (ver Mat. 24:24; 2 Tes. 2:9-12). Esta atividade intensificada
dos espíritos de demónios é colocada no Apocalipse como a contraparte do
reavivamento da obra do Espírito Santo, tal como se descreve em Apocalipse
18:1-4. Em contraste com o escurecimento do céu "pela fumaça do poço"
do abismo (9:2), aparece o anjo do Senhor que tem grande autoridade para
iluminar a terra com sua glória (18:1).
Este contraste nos leva a considerar as últimas trombetas de
Apocalipse 9 dentro do grande plano de Deus, tal como se desenvolve nas visões
do tempo do fim em Apocalipse 12 a 20. Estas visões revelam o objetivo oculto
dos espíritos demoníacos, que consiste em conduzir a todo mundo a seu último
ataque contra os seguidores do Cordeiro de Deus (13:15-17; 20:7-9). Nesse
desenvolvimento final do grande conflito entre Deus e Satanás, "tudo o que
não esteja ocupado pelo Espírito de Deus, chegará a estar ocupado pelos
espíritos de demônios".2
Hans K.
LaRondelle
Referências
1. Rusten,
A Critical Evaluation of Dispensational Interpretations of the Book of
Revelation, t. 2, p. 370.
2. D. Ford,
Crisis! A Commentary on the Book of Revelation, t. 2, p. 417.
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