O quiasma é uma lista dupla de itens correlacionados, em que
a ordem da segunda lista se encontra em oposição - ou antítese - à ordem da
primeira lista. É algo parecido com a divisão dos pares em algumas danças
antigas, ou grandes marchas, com os homens e mulheres partindo, inicialmente,
em direcções opostas. Tais quiasmas, aplicados ao entretenimento, ainda hoje
são divertidos. Nos tempos bíblicos, os quiasmas literários eram muitos
populares, sendo intensamente admirados.
Se dividirmos o Apocalipse ao final do capítulo 14, formando
duas metades não perfeitamente iguais, e então repartirmos cada metade em
várias divisões, constataremos que as divisões de cada metade poder ser
arranjadas em pares, os quais - a exemplo dos pares homem/mulher das danças antigas
ou grandes marchas - relacionam-se uns com os outros, mas continuam sendo
diferentes, uma vez que se deslocam em direcções diferentes.
A forma mais fácil de nos familiarizarmos com o quiasma do
Apocalipse, é começar a introdução ao livro (ou prólogo), e com a sua conclusão
(ou epílogo). Comparando ambos entre si, você pode facilmente constatar a
existência de várias frases e sentenças admiravelmente semelhantes em cada uma
dessas partes.
As semelhanças não são, contudo, cegamente precisas. Por
exemplo, existe no epílogo uma advertência que não é encontrada no prólogo; a
promessa da breve volta de Cristo é encontrada duas vezes no epílogo, e só uma
vez no prólogo. Estamos tratando de similaridades literárias, não similaridades
mecânicas. Os grandes escritores seguem um método, mas jamais permitem que o
método se torne mais importante que as suas mensagens.
Muitos comentadores observaram a estreita relação que existe
entre a primeira divisão após o prólogo e a última divisão antes do epílogo. A
primeira divisão contém as cartas às sete igrejas (1:10 a 3:22) e a última
divisão descer a Nova Jerusalém (21:9 a 22:9). Examinaremos rapidamente cada
uma.
Na primeira divisão verá a igreja de Deus, representada por
sete cidades simbólicas, severamente tentada e perseguida. Na última divisão, poderá
observar a igreja de Deus agregada
novamente numa só cidade, a gloriosa Nova Jerusalém. Na primeira divisão, a
igreja encontra-se em luta contra o pecado, na Terra que hoje conhecemos. Na
última divisão, ela vive em paz e perfeita bondade, junto com Deus no lar
eterno, a futura Terra renovada. Também aqui, tal qual vimos no prólogo e no
epílogo, existem frases e sentenças extremamente semelhantes, nas duas
divisões.
Dentre outras expressões similares, podemos mencionar as
referências à árvore da vida, a uma porta aberta (e a portões que nunca se
fecham), bom como à Novo Jerusalém que desce dos Céus.
Um lembrete ou observação: não se aborreça porque as nossas
divisões não correspondem aos capítulos. No Apocalipse, os capítulos não foram
determinados por João. Eles não existiam na sua presente forma, até mais de mil
anos após a morte do autor. O arranjo do Apocalipse em capítulos embora útil em
determinadas circunstâncias, não é inspirado.
Nota: A divisão
em capítulos e versículos foi organizada para a leitura em comum, ou seja, o/a
que dirige a leitura chama a atenção para uma determinada leitura em concreto
citando o livro, capítulo e versículo. Esta organização é muito útil, no
entanto, não era assim no princípio, nada no texto foi alterado, isso é o
realmente importante.
Avançando para a divisão que se segue à das sete igrejas,
chegamos aos sete selos (4:1 a 8:1). Retrocedendo a partir da divisão que
focaliza a Nova Jerusalém, encontramos aquela que apresenta o Milénio e os
eventos relacionados com este (19:11 a 21:8). Dedique especial atenção ao texto
do capítulo 6:9 e 10, nos sete selos. Aqui pode verificar que as almas dos
mártires cristãos clamando a Deus que julgue os seus inimigos. Durante o milénio,
os mártires, agora ressuscitados são postos sobre tronos e designados por Deus
(20:4) a julgarem os seus inimigos! Essas duas divisões começam com uma
referência aos céus sendo abertos. Em ambas, aparece destacadamente um
cavaleiro sobre um cavalo branco. Finalmente, nas duas partes pode ler-se de
reis, oficiais militares e pessoas de todas as classes que se põem a clamar,
pedindo a morte, ou morrem efetivamente por ocasião da segunda vinda.
Deslocando-nos ainda mais de ambas as extremidades, em
direção ao centro de livro, encontramos aquele par que provavelmente é o
quiasma de maior notabilidade. As sete trombetas (8:2 a 11:18) e as sete
últimas pragas (15:1 e 16:21) são, em vários sentidos, muitos diferentes.
Diferem especialmente na intensidade, pois as pragas são muito piores que as
trombetas. Todavia, se verificarmos com mais atenção a ambas: percebemos que
cinco das seis primeiras trombetas e cinco das seis primeiras pragas afectam
essencialmente os mesmos objectos, e na mesma ordem: terra, mar, rios, corpos
celestes e o rio Eufrates! As sete trombetas representam severos juízos,
enviados para advertir os maus a que modifiquem o seu procedimento. As sete
últimas pragas representam juízos extremamente severos, enviados para punir os
maus depois que estes se recusaram a mudar os seus caminhos de impiedade.
As sete trombetas e as sete últimas pragas formam pares com
"seções" intituladas "O Grande Conflito" e "A Queda de
Babilónia", respectivamente. Há uma razão para isso. É fascinante observar
que, imediatamente após lermos sobre as sete trombetas, encontramos o texto que
focaliza uma mulher vestida de branco, uma genuína mãe, cujos filhos guardam os
mandamentos de Deus. Por outro lado, imediatamente depois de lermos sobre as
sete últimas pragas, o texto que assoma diante de nossos olhos, fala sobre uma
mulher vestida de púrpura, uma prostituta cujas filhas são também prostitutas.
Ambas as mulheres passam algum tempo no deserto. Ambas têm de relacionar-se com
uma besta que apresenta sete cabeças e dez chifres. Nessas duas divisões - como
em outras partes do Apocalipse - ouvimos o místico clamor: "Caiu, caiu a
grande Babilónia!"
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