quinta-feira, 10 de abril de 2014

Apocalipse Escrito em Quiasma

O quiasma é uma lista dupla de itens correlacionados, em que a ordem da segunda lista se encontra em oposição - ou antítese - à ordem da primeira lista. É algo parecido com a divisão dos pares em algumas danças antigas, ou grandes marchas, com os homens e mulheres partindo, inicialmente, em direcções opostas. Tais quiasmas, aplicados ao entretenimento, ainda hoje são divertidos. Nos tempos bíblicos, os quiasmas literários eram muitos populares, sendo intensamente admirados.

Se dividirmos o Apocalipse ao final do capítulo 14, formando duas metades não perfeitamente iguais, e então repartirmos cada metade em várias divisões, constataremos que as divisões de cada metade poder ser arranjadas em pares, os quais - a exemplo dos pares homem/mulher das danças antigas ou grandes marchas - relacionam-se uns com os outros, mas continuam sendo diferentes, uma vez que se deslocam em direcções diferentes.
 
A forma mais fácil de nos familiarizarmos com o quiasma do Apocalipse, é começar a introdução ao livro (ou prólogo), e com a sua conclusão (ou epílogo). Comparando ambos entre si, você pode facilmente constatar a existência de várias frases e sentenças admiravelmente semelhantes em cada uma dessas partes.

As semelhanças não são, contudo, cegamente precisas. Por exemplo, existe no epílogo uma advertência que não é encontrada no prólogo; a promessa da breve volta de Cristo é encontrada duas vezes no epílogo, e só uma vez no prólogo. Estamos tratando de similaridades literárias, não similaridades mecânicas. Os grandes escritores seguem um método, mas jamais permitem que o método se torne mais importante que as suas mensagens.

Muitos comentadores observaram a estreita relação que existe entre a primeira divisão após o prólogo e a última divisão antes do epílogo. A primeira divisão contém as cartas às sete igrejas (1:10 a 3:22) e a última divisão descer a Nova Jerusalém (21:9 a 22:9). Examinaremos rapidamente cada uma.

Na primeira divisão verá a igreja de Deus, representada por sete cidades simbólicas, severamente tentada e perseguida. Na última divisão, poderá observar a igreja de Deus  agregada novamente numa só cidade, a gloriosa Nova Jerusalém. Na primeira divisão, a igreja encontra-se em luta contra o pecado, na Terra que hoje conhecemos. Na última divisão, ela vive em paz e perfeita bondade, junto com Deus no lar eterno, a futura Terra renovada. Também aqui, tal qual vimos no prólogo e no epílogo, existem frases e sentenças extremamente semelhantes, nas duas divisões.

Dentre outras expressões similares, podemos mencionar as referências à árvore da vida, a uma porta aberta (e a portões que nunca se fecham), bom como à Novo Jerusalém que desce dos Céus.

Um lembrete ou observação: não se aborreça porque as nossas divisões não correspondem aos capítulos. No Apocalipse, os capítulos não foram determinados por João. Eles não existiam na sua presente forma, até mais de mil anos após a morte do autor. O arranjo do Apocalipse em capítulos embora útil em determinadas circunstâncias, não é inspirado.
Nota: A divisão em capítulos e versículos foi organizada para a leitura em comum, ou seja, o/a que dirige a leitura chama a atenção para uma determinada leitura em concreto citando o livro, capítulo e versículo. Esta organização é muito útil, no entanto, não era assim no princípio, nada no texto foi alterado, isso é o realmente importante.

Avançando para a divisão que se segue à das sete igrejas, chegamos aos sete selos (4:1 a 8:1). Retrocedendo a partir da divisão que focaliza a Nova Jerusalém, encontramos aquela que apresenta o Milénio e os eventos relacionados com este (19:11 a 21:8). Dedique especial atenção ao texto do capítulo 6:9 e 10, nos sete selos. Aqui pode verificar que as almas dos mártires cristãos clamando a Deus que julgue os seus inimigos. Durante o milénio, os mártires, agora ressuscitados são postos sobre tronos e designados por Deus (20:4) a julgarem os seus inimigos! Essas duas divisões começam com uma referência aos céus sendo abertos. Em ambas, aparece destacadamente um cavaleiro sobre um cavalo branco. Finalmente, nas duas partes pode ler-se de reis, oficiais militares e pessoas de todas as classes que se põem a clamar, pedindo a morte, ou morrem efetivamente por ocasião da segunda vinda.     

Deslocando-nos ainda mais de ambas as extremidades, em direção ao centro de livro, encontramos aquele par que provavelmente é o quiasma de maior notabilidade. As sete trombetas (8:2 a 11:18) e as sete últimas pragas (15:1 e 16:21) são, em vários sentidos, muitos diferentes. Diferem especialmente na intensidade, pois as pragas são muito piores que as trombetas. Todavia, se verificarmos com mais atenção a ambas: percebemos que cinco das seis primeiras trombetas e cinco das seis primeiras pragas afectam essencialmente os mesmos objectos, e na mesma ordem: terra, mar, rios, corpos celestes e o rio Eufrates! As sete trombetas representam severos juízos, enviados para advertir os maus a que modifiquem o seu procedimento. As sete últimas pragas representam juízos extremamente severos, enviados para punir os maus depois que estes se recusaram a mudar os seus caminhos de impiedade.

As sete trombetas e as sete últimas pragas formam pares com "seções" intituladas "O Grande Conflito" e "A Queda de Babilónia", respectivamente. Há uma razão para isso. É fascinante observar que, imediatamente após lermos sobre as sete trombetas, encontramos o texto que focaliza uma mulher vestida de branco, uma genuína mãe, cujos filhos guardam os mandamentos de Deus. Por outro lado, imediatamente depois de lermos sobre as sete últimas pragas, o texto que assoma diante de nossos olhos, fala sobre uma mulher vestida de púrpura, uma prostituta cujas filhas são também prostitutas. Ambas as mulheres passam algum tempo no deserto. Ambas têm de relacionar-se com uma besta que apresenta sete cabeças e dez chifres. Nessas duas divisões - como em outras partes do Apocalipse - ouvimos o místico clamor: "Caiu, caiu a grande Babilónia!"

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