O esboço apocalíptico da história da igreja que Paulo
apresenta em 2 Tessalonicenses 2 cumpre um propósito similar ao que cumpre
Mateus 24 (e paralelos) nos Evangelhos. Não há uma predição mais explícita a
respeito da era da igreja no Novo Testamento. É estranho, mas a maioria dos
comentadores entende que este capítulo é uma passagem escura nos escritos
paulinos.
Em geral se reconhece que o apóstolo em 2 Tessalonicenses 2
tem como propósito dar conselho pastoral para seus dias, a mesma finalidade que
teve Cristo ao pronunciar seu discurso profético. Por conseguinte, devemos
supor que as frases que Paulo usa aqui não eram desconhecidas para os leitores
cristãos a quem dirigiu sua carta ao redor de 50 d.C.
Muitos acreditam que a segunda epístola do apóstolo aos
Tessalonicenses foi escrita para rebater um mal-entendido que tiveram alguns
membros da igreja com sua primeira carta: que o dia do Senhor viria em forma
repentina "como ladrão de noite" (1 Tes. 5:2, 4), e que Paulo e
outros poderiam estar "ainda vivos" quando retornasse o Senhor
(4:15).
Evidentemente, alguns tinham suposto que o dia do Senhor
"já tinha chegado" ou que ia acontecer em qualquer momento (2 Tes.
2:2). Esta ideia injustificada de uma expectativa iminente tinha levado alguns
membros a converter-se em ociosos ou a entusiasmar-se e desordenar-se
excessivamente (2 Tes. 3:6-15).
Paulo trata de corrigir o engano desta expectativa – que o
dia do Senhor podia ocorrer em qualquer momento –, e deduz seu argumento do
esboço apocalíptico do Daniel. Na opinião de Paulo, para fazer frente ao engano
de uma esperança desencaminhada era essencial conhecer a ordem consecutiva de
dois acontecimentos fundamentais na história da igreja, e esses dois eventos
proféticos, em ordem cronológica, são: a vinda do anticristo e a vinda de
Cristo. Primeiro, "a apostasia" [e apostasia] deve manifestar-se no
"homem de iniquidade" [o ánthropos tes anomias] até "sentar-se
ele mesmo no templo de Deus" [éis ton naón tou theú kathísai], acompanhado
por "sinais e prodígios de mentira" (2 Tes. 2:3, 4, 9, JS). Só então
o Senhor se revelará e destruirá o iníquo (2 Tes. 2:8).
A advertência de Paulo se enfoca no surgimento da apostasia
dentro do templo de Deus durante a era da igreja, quer dizer, dentro da igreja
como uma instituição (ver 2 Cor. 6:16-18; 1 Cor. 3:16; Ef. 2:19-21). Seu ponto
de vista é que esta apostasia vindoura, profetizada por Daniel, não se tinha
desenvolvido como um fenómeno público na igreja apostólica, mesmo que o
mistério da iniquidade "estava já em ação" (2 Tes. 2:7). Por
conseguinte, o dia do Senhor não podia ter chegado nem podia esperar-se no
futuro imediato.
Paulo empregou seu conhecimento apocalíptico sobre o futuro
da história da igreja para corrigir um apocalipticismo extremo na igreja
apostólica. O uso que o apóstolo fez do livro de Daniel como a fonte de seu
esboço profético de história da igreja, faz que 2 Tessalonicenses 2 seja outro
elo indispensável entre os livros de Daniel e Apocalipse.
O Enfoque
Contínuo-Histórico em Daniel
Daniel profetiza o reinado de 4 impérios mundiais sucessivos
em duas ocasiões (caps. 2 e 7). O anjo interpretador os identifica como Babilónia,
Medo-Persa e Grécia (ver Dan. 2:38; 8:20, 21), e aponta Roma em Daniel 9:26 e
27. O ponto crítico na visão de Daniel, que necessita que se preste cuidadosa
atenção, é a revelação de que a quarta besta (ou império) tem 10 chifres,
dentre os quais surge lentamente um décimo primeiro "chifre pequeno"
para converter-se no anticristo. O anjo interpretador explica isto de uma maneira
mais precisa:
"Os dez chifres correspondem a dez reis que se
levantarão daquele mesmo reino; e, depois deles, se levantará outro, o qual
será diferente dos primeiros, e abaterá a três reis. Proferirá palavras contra
o Altíssimo, magoará os santos do Altíssimo e cuidará em mudar os tempos e a
lei; e os santos lhe serão entregues nas mãos, por um tempo, dois tempos e
metade de um tempo. Mas, depois, se assentará o tribunal para lhe tirar o
domínio, para o destruir e o consumir até ao fim tempo, e tempos, e meio tempo"
(Dan. 7:24-26).
O anjo não diz que o 4° império (Roma) estaria regido por 10
reis contemporâneos, porque isso estaria contra a história de Roma. Antes, a
declaração do anjo é que "deste" império mundial sairiam 10 reis que
reinariam em forma contemporânea. Esta ordem de eventos, a substituição do
Império
Romano pelos reinos divididos da Europa, também foi profetizada pelo sonho da estátua de Nabucodonosor: "O que viste dos pés e os dedos, em parte de barro cozido de oleiro e em parte de ferro, será um reino dividido" (Dan. 2:41).
Romano pelos reinos divididos da Europa, também foi profetizada pelo sonho da estátua de Nabucodonosor: "O que viste dos pés e os dedos, em parte de barro cozido de oleiro e em parte de ferro, será um reino dividido" (Dan. 2:41).
Os reino dos 10 reis substituíram gradualmente o Império
Romano e durarão até que o reino da glória os substitua no dia do juízo (Dan.
2:44, 45; 7:26, 27). Dessa forma, Daniel 2 e 7 incluem todo o espectro da
infeliz Idade Média dentro de sua esfera profética. Ignorar esse intervalo de
tempo de tantos séculos na perspectiva profética de Daniel é o descuido
fundamental de dois sistemas dogmáticos de interpretação: o preterismo e o
futurismo. Ambas as escolas de interpretação criam um intervalo injustificado
de mais de 1.500 anos na história profética de Daniel, como se a Idade Média,
caracterizada pelo surgimento do reino papal entre os dez reis da Europa, não
fora pertinente na perspectiva que Deus tem da história. Os símbolos do Daniel
devem interpretar-se em harmonia com a história, em particular com a história
eclesiástica. A profecia fica confirmada por seu cumprimento (João 14:29).
Em seu discurso profético, Cristo aparentemente tomou a
futura história da igreja com uma seriedade inconfundível. É essencial para a
escatologia cristã reconhecer que Cristo interpretou a destruição de Jerusalém
por parte dos exércitos romanos como o cumprimento das profecias do Daniel (ver
Mat. 24:15; Luc. 21:20-24). Isto confirma a opinião que diz que a quarta besta
de Daniel 7 representa a Roma imperial (cf. Dan. 9:26, 27). O ponto decisivo é
que Cristo tomou o esboço profético de Daniel como a pauta para seu próprio
panorama do futuro, e depois identificou uma certa característica profética em
Daniel como cumprindo-se em sua própria geração.
Este método de interpretar o esboço apocalíptico do Daniel
também foi seguido pelo apóstolo Paulo em 2 Tessalonicenses 2, essa vez para
demonstrar que o dia do Senhor não era algo iminente. Como resultado, o esboço
de Paulo e o discurso de Cristo têm paralelos notáveis em suas aplicações
históricas.
Paralelos Entre os
Esboços Apocalípticos de Jesus e Paulo
Muitos se deram conta de que o esboço profético de Paulo em
2 Tessalonicenses exibe um paralelo estrutural notável com o discurso de Jesus
no monte das Oliveiras. Ambos os esboços apocalípticos contêm termos idênticos
e similares, tais como o advento, o dia do Senhor, a reunião dos santos, o
engano do anticristo, e sinais e milagres. Inclusive alguns comentadores
inferiram que o discurso profético de Cristo foi a fonte primária do ensino do
Paulo (cf. 1 Tes. 4:15). Estabeleceu-se uma semelhança muito surpreendente de
expressões entre esses dois capítulos. Portanto, podem-se estudar ambos os
esboços apocalípticos juntos com muito proveito. Ao mesmo tempo, precisamos
compreender que tanto Jesus como Paulo fundamentam seu panorama do futuro sobre
o esboço apocalíptico de Daniel. E cada um tem o propósito de aplicar o ponto
de vista de Daniel da história contínua da salvação a sua época contemporânea.
Esta fonte comum explica por que Jesus e Paulo usam frases e esboços similares.
Como já observamos antes, Paulo insiste com os
Tessalonicenses a não ser enganados ao acreditar que o dia do Senhor já veio.
Seu argumento principal é que "a rebelião" representada pelo
"homem de iniquidade" ainda não se revelou publicamente no cenário da
história (2 Tes. 2:3). Do mesmo modo, Jesus indicou que durante a era da
igreja, "muitos se desviariam da fé" (literalmente,
"tropeçarão") e se entregariam e aborreceriam uns aos outros, e se
levantariam muitos falsos profetas e enganariam a muitos (Mat. 24:10, 11). Até
o próprio fim, insistiu Cristo, "se levantarão falsos Cristos e falsos
profetas, e farão grandes sinais e prodígios, de tal maneira que enganarão, se
for possível, até os escolhidos" (Mat. 24:24). Parece que, de acordo com
Jesus, os Messias falsos são os que afirmariam ser Cristo em sua segunda vinda;
e os falsos profetas são os que falsamente afirmam falar em nome de Cristo.
Jesus começou seu discurso profético com a advertência:
"Vede que ninguém vos engane" (Mat. 24:4). Paulo adota o mesmo
começo: "Ninguém vos engane de maneira nenhuma" (2 Tes. 2:3). Com
seus esboços proféticos, ambos tratam de esfriar uma expectativa prematura e
exagerada da volta de Cristo. Cada um enfatiza que se desenvolverá uma
apostasia horrível, o que precipita e faz necessário a execução do juízo da
vinda de Cristo.
Cristo descreve a natureza da apostasia vindoura como
"a abominação da desolação... instalada no lugar santo" (Mat. 24:15,
BJ), uma alusão evidente à profanação blasfema do templo que se prediz em
Daniel 8 e 9. Paulo personifica a apostasia religiosa em "o homem do
pecado", que se faz passar por Deus, um ser humano blasfemo que é "o
filho de perdição" (2 Tes. 2:3, JS). Paulo também localiza a apostasia
vindoura no templo de Deus: "O qual se opõe e se levanta contra tudo que se
chama Deus ou é objeto de culto, a ponto de assentar-se no templo de Deus,
fazendo-se passar por Deus" (2 Tes. 2:4).
Esta harmonia de Jesus e Paulo com respeito ao lugar onde se
encontra a apostasia – no templo de Deus – está enraizada diretamente no apocalipse
de Daniel. Em particular, o anjo interpretador resumiu a visão do Daniel 8 como
"a visão do contínuo sacrifício, e a prevaricação [pesha']
assoladora" (Dan. 8:13). A explicação adicional do anjo é importante:
"Dele sairão forças que profanarão o santuário, a
fortaleza nossa, e tirarão o sacrifício diário, estabelecendo a abominação
desoladora. Aos violadores da aliança, ele, com lisonjas, perverterá, mas o
povo que conhece ao seu Deus se tornará forte e ativo" (Dan. 11:31, 32).
Parece evidente que Daniel é a fonte para o ensino do Novo
Testamento de que um anticristo blasfemo apareceria durante a era da igreja.
Tanto Cristo como Paulo mencionam que este apóstata sacrílego estaria
acompanhado com "sinais e prodígios". Cristo conecta estes com
"falsos cristos e falsos profetas" (Mat. 24:24); Paulo os associa com
o advento do "iníquo", a quem descreve como o anticristo escatológico
(2 Tes. 2:9).
Sobre a base deste paralelismo global, muitos chegaram à
conclusão de que o ensino apocalíptico de Paulo em 2 Tessalonicenses 2:1-12,
tanto em sua estrutura como em sua teologia, é paralela ao discurso profético
de Cristo (Mat. 24; Mar. 13; Luc. 21). Ambos se iluminam mutuamente. Portanto,
a conclusão principal é que "a abominação desoladora" no lugar santo
da profecia de Cristo, e o anticristo pessoal sentado no templo de Deus na
profecia do Paulo, são o mesmo fenómeno. Pode-se dizer que enquanto Mateus se
centra sobre o futuro sacrilégio do templo de Deus, Paulo põe a ênfase no
perpetrador do sacrilégio. Entretanto, o Evangelho de Marcos já tinha indicado
que o sacrilégio escatológico seria perpetrado por um anticristo pessoal, ereto
[hestekóta] "onde não deve" (Mar. 13:14), ou "usurpando um lugar
que não é dele" (NBE).
A Ênfase de Paulo
Sobre a Apostasia Religiosa
É digno de atenção que a frase de Paulo "hei
apostasia" (2 Tes. 2:3), traduzido como "apostasia" em quase
todas as versões brasileiras (RA, RC; BJ; NVI; e como "revolta" na
versão BLH), sempre significa uma rebelião religiosa tanto no Antigo Testamento
como no Novo, quer dizer, um esquecimento do Senhor e de sua verdade (cf. Jos.
22:22; 2 Crón. 29:19; Jer. 2:19; At. 21:21).* Esta rebelião é mais que uma
transgressão fortuita da lei divina. Esta "iniquidade" [anomia]
representa uma rebelião fundamental e sustentada contra Deus. Embora já estava
ativa em uma forma oculta no tempo do Paulo, a apostasia se desenvolveria
finalmente em uma rebelião mundial, uma forma idolátrica de adoração que
desafiaria a autoridade da Palavra de Deus.
O apóstolo não insinua que está revelando alguma verdade
nova e assombrosa. Paulo recorda a seus leitores o fato de que já lhes ensinou
este segredo apocalíptico enquanto ainda estava com eles (2 Tes. 2:5). A
instrução de Paulo aos novos conversos ao cristianismo incluiu aparentemente os
pontos essenciais do discurso profético de Cristo e do anticristo de Daniel
(cf. At. 20:27-30; 1 Tim. 4:1, 2; 2 Tim. 3:1-5). Paulo não recorda aos
Tessalonicenses de uma apostasia geral vindoura, a não ser especificamente de
"a rebelião" que estava descrita em forma tão dramática como a
falsificação do Messias no livro de Daniel.
Para entender o apóstolo devemos compreender que "o
homem da iniqüidade" que se opõe a todo deus – quem por exaltar-se a si
mesmo no templo de Deus está condenado à destruição (2 Tes. 2:3, 4) – é a
descrição condensada de Paulo do anticristo que se faz passar por Deus em
Daniel 7 a 11 (especificamente em 7:25, 26; 8:11-13; 11 :31, 36-39, 45).
A natureza essencial do anticristo de Daniel é sua vontade
jactanciosa de "mudar" a lei de Deus e os tempos sagrados (Dan.
7:25), e trocar a adoração redentora no templo de Deus por seu próprio culto
idólatra de adoração (Dan. 8:11-13, 25). Portanto, a perspectiva de Daniel
representa uma apostasia dupla: uma, da lei divina (Dan. 7) e outra, do
evangelho e o santuário (Dan. 8). É decisivo compreender que o objetivo do mal
não é estabelecer o ateísmo, e sim impor uma religião falsificada com um
sistema falso de adoração e salvação.
Paulo destaca a natureza religiosa do anticristo que virá,
quem tratará de autenticar seu culto idolátrico por meio de sinais e milagres
sobrenaturais (2 Tes. 2:4, 9). O anticristo se sentará solenemente no templo de
Deus com uma obsessão compulsiva para demandar autoridade divina e usurpar as
prerrogativas que pertencem só a Cristo. Por este engano, forçará todos os
homens a aceitá-lo como o Messias e o Senhor.
Como Paulo Emprega a
Frase "o Templo de Deus"
O apóstolo nunca emprega o termo grego naós (templo) para o
edifício do templo em Jerusalém. Visto que Paulo cria que Deus já não morava
mais no velho santuário, a não ser entre a comunidade dos cristãos, considerou
a igreja de Deus como o novo templo de Deus:
"Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o
Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o
destruirá; porque o templo de Deus, que sois vós, é santo" (1 Cor. 3:16,
17).
"Ou não sabeis que o nosso corpo é o templo do Espírito
Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós
mesmos?" (l Cor. 6:19).
"E que consenso tem o templo de Deus com os ídolos?
Porque vós sois o templo do Deus vivente, como Deus disse: Neles habitarei e
entre eles andarei; e eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo" (2
Cor. 6:16, citando Ezeq. 37:27).
"Assim que já não sois estrangeiros, nem forasteiros,
mas concidadãos dos santos e da família de Deus; edificados sobre o fundamento
dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da
esquina; no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para templo santo no
Senhor" (Ef. 2:19-21).
Além de referir-se ao crente individual como o templo de
Deus, Paulo viu tanto na igreja local como na igreja universal de Cristo o
cumprimento da promessa escatológica feita pelo profeta Ezequiel de que Deus
criaria um novo templo no tempo do Messias (Ezeq. 37:24-28). Paulo declara
solenemente que qualquer que destrua a santidade e a unidade espiritual deste
novo templo (por ensinos falsos ou idolatria), "Deus o destruirá " (1
Cor. 3:17).
Por esta evidência nos escritos do Paulo, podemos concluir
que seu emprego normal do termo "templo" [naós] é uma referência não
ao judaísmo e sim à igreja cristã. Esta conclusão fica confirmada adicionalmente
quando consideramos como avaliou Paulo "a cidade atual de Jerusalém"
representando o judaísmo: como um pacto de obras que escraviza (Gál. 4:25).
Para o Paulo, "a Jerusalém de cima, a qual é mãe de todos nós, é
livre" (Gál. 4:26).
À luz destas referências, parece extremamente improvável que
o apóstolo Paulo pensasse que a frase "o templo de Deus" referia-se
ao edifício do templo em Jerusalém. O contexto mais amplo do emprego que Paulo
faz da linguagem figurada para o templo apoia a idéia de que seu emprego do
"templo de Deus" em 2 Tessalonicenses 2:4 se refere à comunidade da
igreja cristã do futuro.
A declaração do Paulo de que o homem de pecado "se
senta" [kathísai] no "templo de Deus" é de profundo significado.
Este conceito audaz reflete a visão de Daniel, em que o Ancião de dias
"sentou-se" para levar à justiça o poder arrogante e endeusado. À luz
deste antecedente profético do tribunal, a descrição do Paulo do adversário
"sentando-se" indica que o anticristo se estabeleceria a si mesmo como
mestre e juiz dentro da igreja!
Aqui Paulo está oferecendo mais que uma "admoestação
pastoral". A predição de Paulo segue a revelação de Daniel do
desenvolvimento futuro da história da salvação. Paulo interpreta o esboço de
Daniel de acordo com o princípio do evangelho: o cumprimento é em Cristo e a
igreja de Cristo.
A apostasia predita em Daniel 7, 8 e 11 surgiria dentro do
povo do novo pacto, em um falso mestre, em um Messias falso. Por outro lado,
Jesus prometeu que as portas do hades [inferno] nunca prevaleceriam contra sua
igreja (Mat. 16:19), e que seus escolhidos não seriam enganados se
permanecessem alerta (Mar. 13:22, 23). A tensão entre a igreja como instituição
e a igreja como uma comunidade espiritual se reflete também na admoestação
pastoral de Paulo em 1 Coríntios 11:19, e em sua predição profética aos anciões
de Éfeso em Atos 20:28-31: "E de vós mesmos se levantarão homens que
falarão coisas perversas para arrastar após si os discípulos" (v. 30).
Isto chegou a ser uma ameaça séria em algumas igrejas apostólicas na província
romana da Ásia (Apoc. 2:19-29; 1 João 2:18-27).
Finalmente, o que se desenvolve como tema central no
Apocalipse de João é o simbolismo das duas mulheres em Apocalipse 12 e 17. Aqui
se descreve a igreja cristã e à apóstata não só em termos de diferenças
dogmáticas ou doutrinais, mas também como duas comunidades adoradoras
diferentes.
Como Paulo Emprega os Tipos da Falsa Adoração no Antigo Testamento
A admoestação de Paulo se centra na chegada da apostasia
religiosa – o "homem da iniquidade" dentro do templo de Deus na terra
–, uma apostasia que permanecerá até a gloriosa vinda de Cristo:
"Ninguém, de maneira alguma, vos engane, porque não
será assim sem que antes venha a apostasia e se manifeste o homem do pecado, o
filho da perdição, o qual se opõe e se levanta contra tudo o que se chama Deus
ou se adora; de sorte que se assentará, como Deus, no templo de Deus, querendo
parecer Deus" (2 Tes. 2:3, 4).
"Então, será, de fato, revelado o iníquo, a quem o
Senhor Jesus matará com o sopro de sua boca e o destruirá pela manifestação de
sua vinda" (2 Tes. 2:8).
Dois pontos caracterizam o esboço do Paulo da futura
história da igreja: Primeiro, o tempo histórico do surgimento do "homem do
pecado" dentro da história da igreja; segundo, a natureza religiosa de
suas afirmações messiânicas.
Chega a ser evidente, ao compará-lo intimamente com o Antigo
Testamento, que Paulo compôs sua descrição do anticristo combinando 3
revelações proféticas a respeito dos poderes antiDeus:
(1) A época do tempo histórico do surgimento do antimessias
em Daniel 7, 8 e 11;
(2) a blasfémia religiosa de auto-endeusamento pelos reis de
Tiro e de Babilónia em Ezequiel 28 e Isaías 14;
(3) a destruição final do "iníquo" pela aparição
do Messias em Isaías 11.
No seguinte estudo poderemos notar algumas alusões
literárias e religiosas em 2 Tessalonicenses 2:4 com as profecias do Antigo
Testamento:
Paulo funde estas 3 alusões aos soberanos que estão contra
Deus para informar os santos como identificar o anticristo quando surgir na era
da igreja, até dentro do cristianismo, como o "templo de Deus" sobre
a terra (ver também At. 20:29-31).
Paulo usa o princípio da tipologia cristã quando aplica à
era da igreja as promessas e as ameaças de Deus a Israel (ver 1 Cor. 10:1-11;
Gál. 4:21-31). A relação de um tipo do Antigo Testamento com um antítipo do
Novo Testamento se determina teologicamente por sua conexão com o Jeová antes
da cruz, e sua conexão com Cristo na era da igreja. Na perspectiva profética, a
distância temporária entre o tipo e o antitipo não tem importância. Sua ênfase
está no fato que o mesmo Deus que atua no cumprimento histórico iminente,
também atuará no juízo e a salvação final.
Dessa forma, Paulo contempla os reis de Tiro e de Babilônia
que se idolatram a si mesmos (no Ezeq. 28:2 e Isa. 14:13, 14), como tipos
proféticos da essência religiosa do anticristo (2 Tes. 2:4). O adversário de
Cristo na era cristã ensinará e julgará como se fora Deus, com autoridade
divina e infalibilidade.
A Aplicação que Paulo
Faz do Antimessias Predito por Daniel
Como em Daniel 8 e 11, Paulo localiza a apostasia blasfema
do inimigo escatológico de Deus "no templo de Deus" (2 Tes. 2:4). Sem
o princípio apostólico do cumprimento cristológico, são inevitáveis os perigos
do literalismo ou o alegorismo ao interpretar a frase "templo de
Deus" em 2 Tessalonicenses 2 como um templo literal e reedificado em
Jerusalém no qual o anticristo se estabelecerá para exigir a adoração dos
judeus depois do rapto da igreja. Uma interpretação mais popular é tomar o
"templo" neste capítulo como um símbolo do trono de Deus no céu,
recorrendo a Isaías 14:13, 14 e 66:1. Em outras palavras, entendem o
"templo de Deus" como uma metáfora para indicar que o iníquo tratará
de usurpar o lugar de Deus e exigirá honras divinas e obediência. Isto se aplica
depois a qualquer sistema totalitário de governo, a deificação do Estado,
quando se derrubarem a lei e a ordem e a violência demoníaca explore em
perseguição da igreja. Em outras palavras, a frase "o homem da iniquidade"
aplica-se aos governos totalitários ateus.
As interpretações precedentes de 2 Tessalonicenses 2:4 podem
parecer atrativas e convencer a alguns. Mas a questão vital é: deu-se a
consideração apropriada ao contexto fundamental do Antigo Testamento no qual
Paulo apoia sua descrição apocalíptica?
A alusão de Paulo a Daniel 11:36 deve nos levar em primeiro
lugar a considerar a profanação religiosa do templo por parte do "rei do
norte" em Daniel 11:31-45 e em Daniel 8:9-13. Ele originará a corrupção ou
apostasia entre o povo do pacto. A origem da apostasia profetizada por Paulo
está em Daniel 11:32.
Os expositores protestantes dos dias do Lutero e Calvino
interpretaram tradicionalmente que este rei que se exalta a si mesmo de Daniel
11:36 e o homem de iniqüidade de 2 Tessalonicenses 2:4 são um mesmo indivíduo
que se engrandecerá por cima de todos os deuses (Dan. 11:37). Não pode ser um
ideólogo ateu, porque o homem da iniqüidade pretende ser Deus.
Captamos a essência
teológica da abominação de Daniel quando observamos que o desolador porá no
templo de Deus uma adoração falsificada que ensina um falso sistema de expiação
(ver Dan. 8:11-13; 11:31; 12:11). Isto define a "rebelião" como uma
apostasia religiosa da adoração ordenada no templo de Deus.
Na aplicação que Cristo faz da "abominação desoladora"
de Daniel ao exército romano (Mat. 24:15; Mar. 13:14) vê-se um cumprimento
parcial, um tipo que assinala mais à frente do ano 70 a seu antítipo universal,
a abominação maior dentro da igreja. Paulo explica que a manifestação histórica
do culto religioso apóstata deve acontecer antes da vinda de Cristo.
O contexto mais amplo do Novo Testamento relaciona a
verdadeira adoração de Deus na terra com a intercessão de Cristo no templo
celestial (Heb. 4:14-16; 7:25; 8:1, 2). É absolutamente essencial não separar o
templo terrestre do celestial. Profanar o "templo" ou a igreja na
terra significa também a profanação do ministério de Cristo no templo celestial
(Apoc. 13:6).
Assim como o antimessias de Daniel 8 é destruído
repentinamente "não por mão humana" (v. 25), e assim como "o rei
do norte" é destruído repentinamente sem que ninguém lhe ajude (Dan.
11:45), assim o anticristo na descrição do Paulo será destruído pela aparição
de Cristo, "com o espírito de sua boca" (2 Tes. 2:8; ver Isa. 11:4).
O Momento Histórico
Exato do Anticristo Segundo Paulo
A carga pastoral de Paulo em 2 Tessalonicenses 2 é corrigir
entre os cristãos da Tessalónica a opinião falsa de que já tinha começado o dia
do Senhor (2 Tes. 2:2). Recorda-lhes o que lhes havia dito verbalmente, que
primeiro [próton] deve surgir a rebelião [hei apostasia] (2 Tes. 2:3) dentro do
templo de Deus. Só então virá o dia do Senhor e destruirá o "iníquo"
com "o resplendor de sua vinda" (2 Tes. 2:3-8).
Na opinião de Paulo, um conhecimento da sequência dos eventos
é essencial para acautelar uma expectativa iminente injustificada. Introduz a ideia
de um atraso prolongado do surgimento do anticristo por causa da existência de
um poder que refreia: "E agora vós sabeis o que o detém" (2 Tes.
2:6). A igreja apostólica aparentemente não tinha problemas a respeito da
identidade desse poder que "retinha". Sabiam qual era. É interessante
que a maioria dos primeiros Pais na igreja pós-apostólica (igreja primitiva)
ensinaram que a ordem civil do Império Romano, com o imperador à sua cabeça,
era o poder que impedia, ao qual Paulo se referiu em 2 Tessalonicenses 2:6 e 7.
Apesar de várias teorias novas a respeito (por exemplo que o Espírito Santo ou
a missão de Paulo poderiam ser esse poder), vários eruditos de primeira linha
de nossos dias sustentam que a interpretação clássica é a que mais satisfaz.
O Império Romano governou o mundo desde ano 168 a.C. até 476
d.C. Depois veio a divisão da Europa Ocidental em vários reinos mais pequenos.
Em Daniel 7, o poder blasfemo, o "chifre pequeno", saiu dentre estes
reino que existiam simultaneamente (7:7, 8, 24). Esta sucessão histórica no
esboço de Daniel – quer dizer, primeiro a "besta" e depois o
surgimento do "chifre" anticristão – se encontra na base do esboço
histórico de Paulo em 2 Tessalonicenses 2. Só essa perspectiva histórica de
Daniel 7 pode decifrar o enigma do misterioso "agente retardador do
desenvolvimento" que estava atrasando o desenvolvimento do anticristo.
É obvio, mais importante que esse "agente
retardador" é o que escreve Paulo a respeito da vinda do "homem da iniquidade"
(ánthropos tes anomias) ou, de acordo com manuscritos de menor autoridade,
"o homem do pecado" (amartias). O apóstolo declara que a manifestação
pública do "iníquo" (ho ánomos, v. 8) ocorrerá só depois de um
desenvolvimento histórico prolongado de forças ocultas que já estavam ativas no
próprio tempo de Paulo (v. 7). Paulo coloca a revelação efetiva do iníquo
imediatamente depois que o Império Romano (como "o que o detém")
tenha sido "tirado do meio" (2 Tes. 2:7), e indica firmemente que o
próprio trono ocupado pelo que o detém seria ocupado pelo homem da iniquidade.
A inferência da mensagem de Paulo em 2 Tessalonicenses 2 é
inconfundível: Quando o Império Romano tenha caído, o surgimento do anticristo
já não será restringido ou retido em Roma. Portanto, o anticristo será revelado
sem demora na era seguinte, usualmente denominada a Idade Média. Este período
prolongado foi descrito por Daniel como os 3 ½ tempos de opressão política dos
santos (Dan. 7:25; 12:7). Nesta era cristã é onde Paulo localiza a apostasia. O
bispo anglicano Christopher Wordsworth, extraiu uma conclusão convincente:
"Posto que Paulo também descreve aqui ao homem do
pecado como continuando no mundo do tempo da eliminação do poder que o impede,
inclusive até o segundo advento de Cristo (2 Tes. 2:8), o poder que aqui se
personifica no 'homem do pecado' deve ser por conseguinte um que continuou no
mundo por muitos séculos, e continua até o tempo atual. Também, sendo que lhe
atribuiu esta longa permanência na profecia, uma permanência que excede em
muito a vida de qualquer indivíduo, devido a isso o 'homem de pecado' não pode
ser uma só pessoa".[1]
O propósito de Apocalipse de João é animar a igreja
universal até o próprio fim, para resistir ao poder enganador e perseguidor da
besta-anticristo e de seu aliado, o falso profeta, e triunfar sobre a marca
escatológica da besta quando for imposta nas nações.
A carta de Paulo aos Tessalonicenses reconhece a presença do
4.º império de Daniel 7. Ensinou à igreja que o "chifre pequeno" de
Daniel não se levantaria durante o Império Romano. Entretanto, o Apocalipse de
João põe de sobreaviso a igreja universal sobre o momento exato quando
apareceria a besta depois do desaparecimento do Império Romano, e João descreve
este poder, o anticristo, com os característicos do chifre pequeno de Daniel
que governaria as nações por 42 meses (Apoc. 13:5), uma variante dos 3 ½ tempos
(Dan. 7:25). Por conseguinte, este tempo simbólico em Daniel e no Apocalipse
deve aplicar-se ao período depois da queda de Roma em 476 d.C. Isto leva a
Idade Média a situar-se dentro da esfera da profecia bíblica,
Em resumo, a aplicação histórica que Paulo faz de Daniel 7
em 2 Tessalonicenses 2, favorece o enfoque contínuo-histórico antes que a
exclusiva estrutura contemporânea ou a futurista. O esboço de Paulo da futura
história da igreja em períodos sucessivos com respeito à apostasia e ao poder
que o retém, demonstra que o apóstolo não cria em uma expectativa do fim de um
momento ao outro. De fato, 2 Tessalonicenses 2 propõe-se a refutar esta mesma ideia
sobre a base da perspectiva histórica do Daniel.
O Anticristo de Paulo
como uma Paródia de Cristo
Deveria dar-se atenção especial ao fato de que Paulo
descreve a apostasia do vindouro "homem de iniquidade" como uma que
nega tanto a verdadeira adoração cristã como toda a adoração pagã;
"opõe-se... contra tudo o que se chama Deus ou é objeto de culto" (2
Tes. 2:4). Exaltar-se-á até o ponto do auto-endeusamento dentro do templo de
Deus, "tanto que se senta no templo de Deus, fazendo-se passar por
Deus" (V. 4). Paulo adota esta caracterização específica de adoração
religiosa do anticristo, do antimessias predito por Daniel (Dan. 7:25; 8:11-13;
11:31; 12:11). Nas profecias de Daniel, o chifre pequeno ou o rei que se
ensoberbece, invade a terra santa, e se mete pela força no santuário de Deus e
de seu Messias. Profana o culto religioso divino do santuário não só mudando a
lei divina e os tempos sagrados (por exemplo, o sábado; ver Dan. 7:25), mas
também por sua própria "abominação": a adoração falsificada de si
mesmo como o "deus das fortalezas" (ou poder) desconhecido para o
povo do pacto (Dan. 11:31, 36-38).
Parece que Paulo molda intencionalmente o anticristo à
imagem de um Cristo falso, porque o descreve na necessidade de que seja
"revelado" em seu "vinda" (2 Tes. 2:3, 8, 9), termos que
aplica igualmente a Cristo (ambos têm uma revelação pessoal [apokálupsis] e sua
vinda [parousia; cf. 2 Tes. 1:7; 2:8]). Isto sugere que Paulo considera o
anticristo como um rival do Messias, cuja "vinda" é uma paródia da
vinda de Cristo.
Assim como a revelação de Deus culminou em Cristo, assim a
manifestação do mal encontrará sua culminação no anticristo, cuja aparição é a
caricatura satânica de Cristo. Já Irineu tinha declarado que o anticristo de 2
Tessalonicenses 2 seria um "apóstata" religioso, que desencaminhará
os que o adorem "como se fora Cristo".[2]
É significativa a descrição de Paulo de que o
"iníquo" virá "por obra de Satanás" [kat enérgeian tou
sataná], quem energizará e dará poder ao anticristo através de "toda
classe de milagres, sinais, prodígios enganosos" (2 Tes. 2:9, BJ). Uma vez
mais Paulo parece indicar por meio desta tríplice frase (milagres, sinais e
prodígios) que o anticristo tentará imitar o ministério de Cristo (ver Mat.
24:24; At. 2:22). O livro do Apocalipse descreve mais plenamente a maneira como
Satanás dará energia à besta do mar ou anticristo: "E o dragão lhe deu seu
poder e seu trono, e grande autoridade" (Apoc. 13:2).
O Mistério da Iniquidade
Paulo se refere à atividade satânica do mal nesta frase
significativa: "...porque já está em ação o mistério da iniquidade"
(2 Tim. 2:7); ou, literalmente, "o mistério da impiedade já está
atuando" (BJ). Aqui o apóstolo reconhece que uma força malvada já estava
operando em uma forma secreta, além da atividade humana, decidida a conseguir a
supremacia sobre a igreja de Cristo. A princípio, o poder político imperante no
tempo do Paulo impediu que se levasse a cabo este plano anticristão (v. 6). Não
obstante, quando o que retinha foi tirado, as forças da apostasia surgiram
imediatamente e chegaram a ser conhecidas publicamente durante a Idade Média.
Nos escritos de Paulo o termo "mistério" leva em
si o conceito básico de verdade salvadora, mantido anteriormente oculto por
Deus mas agora manifestado no evangelho (ver Rom. 16:25, 26; Ef. 1:9, 10; Col.
1:26, 27; 1 Cor. 2:7). O conteúdo deste mistério é o plano redentor de Deus
para salvar a humanidade por meio da união com Cristo. Este
"mistério" divino esteve personificado em Cristo como o grande
"mistério da piedade: Deus foi manifestado em carne" (1 Tim. 3:16).
Por outro lado, quando Paulo falou do "mistério da iniquidade", muito
bem pôde ter tido em mente exatamente o contrário da verdade salvadora de Deus
em Cristo: o mistério caracterizado pelo anticristo:
(1) Este mistério nunca será inoperante, mas sim atua
continuamente do tempo do Paulo até o fim. Por conseguinte, a incessante
atividade satânica não nos permite localizar "o mistério da iniquidade"
exclusivamente em algum período histórico isolado no passado ou no futuro, como
postulam as teorias do preterismo e do futurismo. Exatamente o oposto é o que
ensina Paulo: depois da queda de Roma, este mistério de rebelião estará ativo e
prosperará sem limitações (2 Tes. 2:7).
(2) Entretanto, este segredo satânico é conhecido pelos
verdadeiros escolhidos de Cristo, pois "não ignoramos suas
maquinações" (2 Cor. 2:11). Iluminados pela sabedoria divina que vem do
livro de Daniel (ver Dan. 11:33; 12:10), sabem que o ataque de Satanás está
dirigido contra o reino de Deus e seu plano de redenção, centrado este no
santuário com sua santa lei e o evangelho.
(3) Por analogia com o "mistério da piedade" – o
plano de Deus para revelar o Messias e seu evangelho de salvação –, o
"mistério da iniquidade" indica o maligno propósito de Satanás de
opor-se ao plano de Deus por meio de um plano contrário diabólico e um culto religioso
contrário que exalta o falso rei-sacerdote. Um erudito bíblico define esta
frase paulina com profundo discernimento: "Em um estilo paralelo, o
mistério da iniquidade, o plano contrário de Satanás, é um propósito diabólico
fixo, um ardil contínuo, para opor-se à realização do decreto divino (de
redenção)".[3]
Paulo conclui declarando que existe um antagonismo
fundamental entre a verdade do evangelho de Cristo e a decepção do homem de iniquidade:
"Perecem, porque não receberam o amor da verdade para se salvarem. E, por
isso, Deus lhes enviará a operação do erro, para que creiam a mentira, para que
sejam julgados todos os que não creram a verdade; antes, tiveram prazer na iniquidade"
(2 Tes. 2:10-12).
A apostasia anticristã está apoiada em uma hostilidade
profundamente arraigada contra o evangelho de Deus e de seu Cristo. Neste
encontro, a humanidade deve fazer suas decisões finais em favor ou contra
Cristo. Segundo o apóstolo, a decisão que alguém faça por Cristo agora, revela
em princípio a eleição que todos terão que fazer no tempo do fim entre Cristo e
o anticristo. Toda a história está governada pelo conflito espiritual entre
Deus e Satanás, e a era da igreja se caracteriza pelo conflito entre a verdade
do evangelho de Cristo e a mentira do anticristo.
Devido a isto, o apóstolo Paulo alerta a igreja a estar em
guarda contra o engano de um mestre poderoso do cristianismo que sustentará que
fala em lugar de Cristo e que insiste em que só sua vontade é lei divina. Paulo
nos admoesta não simplesmente contra um evangelho falsificado e adoração falsa
no futuro, mas sim por cima de tudo assinala a origem cósmica deste engano
mestre: é o artifício e o engano de Satanás (2 Tes. 2:9). Para esta dimensão
sobrenatural Paulo encontrou apoio nas Escrituras. Daniel tinha revelado uma
batalha cósmica entre Deus e Satanás como o poder motivador por trás dos
conflitos religiosos na terra (ver Dan. 10). Isaías tinha apontado a Lúcifer,
ou a estrela da manhã no céu, como quem quis ser como Deus e trabalha por meio
dos governantes da terra (Isa. 14:12-14).
O Ato que Coroará o
Drama do Engano
A perspectiva profética do Paulo em 2 Tessalonicenses 2
indica que o fim do tempo trará consigo cada vez mais sinais sobrenaturais, que
apoiarão o "homem da iniquidade", "o filho da perdição" (2
Tes. 2:3). Estas designações últimas do anticristo sugerem que aparecerá como
um indivíduo que está em um definido contraste com "o Filho do
Homem". Isto dá lugar para um engano quase irresistível para o homem: a
personificação que Satanás fará de Cristo e de sua vinda à terra.
Deliberadamente, Paulo faz um paralelo entre as aparições do homem da iniquidade
e as de Cristo, tendo cada uma sua própria parousia; seus próprios sinais e
milagres, e exigindo cada uma adoração. Em todas as aparições, Satanás se
disfarça "como um anjo de luz" (ver 2 Cor. 11:14). Seu objetivo
supremo sempre foi exigir a dignidade e as prerrogativas de Deus (2 Tes. 2:4);
por conseguinte, seu último pecado é a idolatria que exige para que o adorem.
Paulo recalca que o rechaço universal da verdade do
evangelho preparará a humanidade para o último engano e rebelião (2 Tes. 2:10,
11; 1:7, 8). Nesse ponto de maturação do mal, Deus retira seu Espírito de todos
os que rechacem "o amor da verdade". Como resultado já não haverá
mais nenhuma limitação ao "poder enganoso para que creiam a mentira"
(2 Tes. 2:11 ).
Desta forma, Paulo aponta ao fim do tempo de prova da
humanidade, quando começa o ato final de Satanás. Esta cena aparece ampliada em
Apocalipse 16:13-16, onde os espíritos de demónios levam os habitantes do mundo
a unir-se em rebelião contra Deus, enganando até os governantes civis. Um
erudito resume a situação nas seguintes palavras: "Com o rechaço final dos
rogos do Espírito de Deus virá a dissolução da lei civil, e então as promulgações
do 'homem do iniquidade' levarão aos homens a guerrear contra o santo".[4]
Além disso, até ameaça a humanidade um ato capital de
engano: a personificação de Cristo e sua vinda. Estas palavras de discernimento
espiritual nos põem em guarda:
"Assim, o grande enganador fará parecer que Cristo
veio. Em várias partes da Terra, Satanás se manifestará entre os homens como um
ser majestoso, com brilho deslumbrante, assemelhando-se à descrição do Filho de
Deus dada por João no Apocalipse (cap. 1:13-15). ... O povo se prostra em
adoração diante dele, enquanto este ergue as mãos e sobre eles pronuncia uma
bênção, assim como Cristo abençoava Seus discípulos quando aqui na Terra
esteve".[5]
Resumo
A aplicação histórica de Paulo das visões do anticristo de
Daniel formam um elo interpretativo indispensável entre Daniel e Apocalipse. O
esboço estrutural de Paulo em 2 Tessalonicenses 2 funciona como o respaldo
apostólico do enfoque contínuo-histórico das profecias de Daniel. Paulo
caracteriza a futura apostasia cristã como um culto de adoração espúrio,
autorizado por um rival do Messias, que se levantaria dentro do templo cristão
de Deus muito pouco depois da queda da Roma pagã.
O livro do Apocalipse (nos caps. 13 aos 19) desenvolve o
tema teológico do anticristo com maiores detalhes como a besta e seu falso
profeta.
Referências
Para a Bibliografia, ver as páginas 107-108.
1. Ch.
Wordsworth, Is the Papacy predicted by St. Paul? An Inquiry, p. 15.
2. Irineu
de Lyon, Contra hereges, 25, ANF, T. 1, P. 554.
3. P. H.
Furfey, "The Mystery of Lawlessness", CBQ 8 (1946), p. 190.
4. D. Ford,
The Abomination of the Desolation…, p. 225.
5. Ellen White, GC 624.
Hans K. LaRondelle
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