Devido ao fato de que o seu arranjo literário e a sua mensagem
teológica estão entretecidas, o possuir um conhecimento do seu plano arquitectónico
contribui substancialmente à nossa compreensão da mensagem. João transmite a sua
unidade pela construção do modelo simétrico, um paralelismo inverso chamado
quiasma. Isto se faz evidente em primeiro lugar pelo fato de que o começo
(prólogo; Apoc. 1:1-8) e o final (epílogo; Apoc. 22:6-21) correspondem-se
mutuamente. E as sete promessas às igrejas nos capítulos 2 e 3 encontram seu
contraparte nas sete visões do tempo do fim (cada uma começando com as palavras
"então vi") em Apocalipse 19:11 aos 22:21. A primeira e a última
série de setes relacionam-se entre si como a promessa e o cumprimento divinos,
a igreja militante e a igreja triunfante. Ambas as unidades começam com uma
cristofania (aparição de Cristo) esplêndida: Apocalipse 1:12-18; 19:11-16. O
modelo simétrico se estende a outros duetos, que se concentram em uma seção
central. Tal ensambladura literária, "uma arquitetura verdadeiramente
monumental",[1] foi reconhecido por numerosos eruditos e chegou a ser um
requisito indispensável para a compreensão do Apocalipse. Essa forma serve para
esclarecer o significado da mensagem do Apocalipse.
Uma lição que se aprendeu de um consenso cada vez maior de
estudos críticos é a convicção de que o Apocalipse como um todo é uma carta
apostólico-profética, dirigida às igrejas do Senhor Jesus Cristo, em qualquer
tempo e em qualquer lugar. Portanto, não é legítimo separar as sete cartas de
Apocalipse 2 e 3 das visões seguintes (Apoc. 4-22). Esta unidade interna do
Apocalipse é reconhecida amplamente, como afirma K. A. Strand: "A maioria
dos expositores reconhece que a descrição da Nova Jerusalém e a nova terra nos
capítulos finais do Apocalipse, recordam (como cumprimento) as promessas feitas
aos vencedores nas mensagens às sete igrejas nos capítulos iniciais".[2] O
Apocalipse promete a Nova Jerusalém sobre a nova terra a todos os seguidores de
Cristo em todas as igrejas.
É especialmente digno de menção o movimento da igreja no
tempo de João (Apoc. 1-3) através da era cristã tão cheia de acontecimentos
(Apoc. 12 e 13), até que entra sem perigo na Cidade de Deus no paraíso
restaurado sobre a terra (Apoc. 21 e 22). Primeiro, o Cristo ressuscitado
apresenta sua avaliação da condição da igreja apostólica nas sete cartas às
sete igrejas (Apoc. 2 e 3). Mas estas mensagens não foram destinadas só para a
igreja primitiva, como se o Senhor da história estivesse interessado só naquele
período de tempo. As promessas de Cristo nessas cartas mostram uma progressão
significativa, que assinala cada vez mais a sua segunda vinda. As mensagens das
cartas de Cristo devem entender-se em mais de um nível. Primeiro, como
dirigidas às igrejas do primeiro século, depois a cada membro individual da igreja
em qualquer tempo durante a era da igreja, e finalmente, às diversas condições
da igreja durante a era cristã. Os intérpretes historicistas ressaltaram em
forma crescente este aspecto preditivo das sete cartas. [3] Hoje em dia, estes
três aspectos são reconhecidos pelos expositores adventistas. [4] Esta breve
declaração é representativa: "As sete igrejas, estudadas em sua ordem,
concordam com a experiência predominante da igreja cristã durante sete eras
sucessivas".[5]
As cartas estão vinculadas com as visões seguintes e se
iluminam mutuamente com uma urgência crescente enquanto avança a história. Esta
progressão está recalcada pelas visões sucessivas que João teve do templo, que
seguem a sequência dos festivais anuais do antigo tabernáculo de Israel. As primeiras
visões do templo em Apocalipse 1:12-16 e nos capítulos 4 e 5 descrevem
graficamente o Senhor ressuscitado como tendo completo as festas da primavera
da Páscoa (Apoc. 1:5, 17, 18) e o Pentecostes (5:6-10). Depois o Apocalipse
continua na visão do templo de Apocalipse 8:2-6 para revelar o ministério a
longo prazo de Cristo na série das "sete trombetas" (Apoc. 8, 9 e 11
) que levam à Festa das Trombetas de Israel, a primeira de todas as festas do
ano religioso judeu. A significativa sequência dos festivais do outono: Festa
das Trombetas, Dia da Expiação e Festa dos Tabernáculos (Lev. 23; Núm. 29).
Richard M. Davidson assinala que...
"...assim como a Festa das Trombetas (também chamada
Rosh Hashana) convocava ao antigo o Israel a preparar-se para o vindouro dia do
juízo, o Yom Kippur, assim também as trombetas do Apocalipse põem especialmente
de relevo a aproximação do Yom Kippur antitípico".[6]
A Festa das Trombetas ocorre como a culminação dos sete
festivais lunares. Formam a ponte entre os festivais da primavera e o solene
Dia da Expiação e a Festa dos Tabernáculos. No Apocalipse o ponto central de
atração muda gradualmente ao dia do juízo final e à terra restaurada quando
Jesus morará com seu povo. A sétima trombeta apresenta uma cena do templo que
se centra no "arca de seu pacto" (Apoc. 11:15, 19). No tabernáculo de
Israel o "arca" estava no lugar santíssimo do santuário e só era
vista durante o ritual de purificação final, no Dia da Expiação (Lev. 16:15).
Nesse dia, Israel era julgado e se limpavam os pecados que contaminavam o povo
por meio do bode emissário (Lev. 16:19, 22; 23:29, 30). De igual maneira,
Apocalipse 10 anuncia que não haverá mais tempo ou demora quando o sétimo anjo
esteja a ponto de tocar a trombeta. Então, "o mistério de Deus se
consumará" (Apoc. 10:6, 7).
Em Apocalipse 15 observamos a terminação da obra mediadora
de Cristo no templo celestial, seguindo-se o juízo retributivo das sete últimas
pragas (Apoc. 16 e 17). Em Apocalipse 19:1-10 ouvimos que "chegaram as
bodas do Cordeiro e sua esposa preparou-se" (v. 7).
Apocalipse 20 e 21 introduzem o milénio de triunfo para
todos os que morreram no Senhor (20:4-6). A Nova Jerusalém descende sobre uma
terra renovada: "Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens, e ele
morará com eles" (21:3). Isto aponta ao glorioso cumprimento da festa dos
tabernáculos, quando Israel celebrava sua liberação e se regozijava diante do
Senhor com a ondulação dos ramos de palmeira (Lev. 23:40, 43). Este simbolismo
descreve a salvação futura da igreja de Cristo, formada de todos os povos da
terra (Apoc. 7:9, 10; 15:24). Devemos relacionar a estrutura do livro com seu
movimento progressivo se é que vamos compreender o significado do Apocalipse.
O significado deliberado do Apocalipse não é simplesmente
documentar um momento histórico da igreja no Ásia Menor ou proporcionar um
estímulo apostólico para a igreja em crise nos dias da Roma imperial. Acima de
tudo, coloca a cada igreja na luz examinadora dos olhos do Senhor, de maneira
que cada igreja possa saber o que é que Cristo espera de seu povo. Dessa
maneira, Cristo coloca tanto suas expectativas como suas responsabilidades
diante de todas as igrejas. Isto desperta nossa consciência para contemplar a
relação íntima que existe entre Cristo e seu povo em todos os tempos. Jacques
Ellul o expressa desta maneira:
"O Senhor da igreja, quem ao mesmo tempo é o Senhor da
história, não é um Deus distante, inacessível e incompreensível; é o que fala
com sua igreja, é o que vive na história por meio de seu povo".[7]
Os diferentes septenários (séries de setes) – tais como as
cartas, os selos, as trombetas e as taças com as últimas pragas – contêm uma
luz que se projeta sobre os acontecimentos do tempo do fim. Este fenómeno
reiterativo indica que o Apocalipse coloca uma ênfase particular sobre o
período do tempo do fim da igreja e do mundo. Ellen White expressa esta visão
mais ampla quando diz:
" Esta revelação foi dada para guia e conforto da
igreja através da dispensação cristã. ... Suas verdades são dirigidas aos que
vivem nos últimos dias da história da Terra, como o foram aos que viviam nos
dias de João".[8]
Hans K.
LaRondelle
Referências:
1. J.
Ellul, Apocalypse, The Book of Revelation, p. 36.
2. F. B.
Holbrook, ed., Symposium on Revelation – Book 1 [Simpósio sobre o Apocalipse –
Livro 1] (Silver Spring, Maryland: Biblical Research Institute, 1992), p. 31.
3. Ver
Froom, The Prophetic Faith of Our Fathers, v. 4, pp. 848, 1118.
4. Ver D.
Ford, Crisis! A Commentary on the Book of Revelation [Crise! Um
Comentário sobre o Livro do Apocalipse] (Newcastle, Califórnia: Desmond Ford
Publications, 1982; 2 ts.), T. 2, pp. 264-308; C. Mervyn Maxwell, Apocalipsis:
sus revelaciones (Florida, Buenos Aires: Asociación Casa Editora Sudamericana,
1991), pp. 89-145; R. C. Naden, The Lamb Among the Beasts. Finding Jesus in the Book of Revelation [O
Cordeiro Entre as Bestas. Encontrando a Jesus no Livro do Apocalipse]
(Hagerstown, Maryland: Review and Herald, 1996), caps. 4 e 5.
5. Maxwell,
Apocalipsis: sus revelaciones, p. 94.
6. Richard
M. Davidson, Simpósio sobre o Apocalipse, T. 1, p. 123.
7. Ellul,
Apocalypse, The Book of Revelation, p. 51.
8. Ellen White, AA 583, 584.
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