domingo, 4 de março de 2012

O CLAMOR DO PRIMEIRO ANJO - II

O TEMOR de Deus não tem nada de supersticioso que paralise ou obrigue a viver uma religião de forma mecânica ou magica. Na Bíblia, o temor de Deus é associado frequentemente ao amor. Logo depois do apelo a temer a Deus pela obediência à Sua lei, o texto de Deuteronómio (Deut. 6:1-3) termina com o principio subentendido: “Estes, pois, são os mandamentos, os estatutos e os preceitos que o Senhor teu Deus mandou ensinar-te, a fim de que os cumprisses na terra a que estás passando: para a possuíres; para que temas ao Senhor teu Deus, e guardes todos os seus estatutos e mandamentos, que eu te ordeno, tu, e teu filho, e o filho de teu filho, todos os dias da tua vida, e para que se prolonguem os teus dias. Ouve, pois, ó Israel, e atenta em que os guardes, para que te vá bem, e muito te multipliques na terra que mana leite e mel, como te prometeu o Senhor Deus de teus pais. “
De seguida vem: “Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todas as tuas forças.” (Deut. 6:5).
Temer a Deus significa amá-Lo e saber-se que se é amado por Ele. É esta convicção do amor de Deus que nos segue onde quer que possamos ir, o Seu olhar está sobre nós, não com a intenção de nos surpreender em falta e de no fazer pagar por isso, mas no cuidado do Protector que nos guarda de todo
o mal. “Eis que os olhos do Senhor estão sobre os que o temem, sobre os que esperam na sua benignidade.” (Salmo 33:18).
A obediência e a referência à lei do Altíssimo a cada momento da existência, procedem precisamente desta dimensão do amor recíproco. A vida sob o olhar de Deus é uma vida com Deus. O contrário, e porque vivemos com Deus, vivemos sob o seu controlo. A verdadeira religião é consequente. Deus é tomado a sério.
É a lição que se deduz do texto de Apocalipse: o apelo a temer Deus é seguido do apelo render-Lhe glória: “dizendo com grande voz: Temei a Deus, e dai-lhe glória; porque é chegada a hora do seu juízo; e adorai aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas.” (Apocalipse 14:7). A palavra hebraica kabod, traduz por “glória”, retém a ideia de peso. Deus tem peso. Ele é respeitado. A mensagem do Apocalipse é claramente contra a hipocrisia das religiões fáceis e superficiais que não souberam inspirar respeito por Deus, precisamente porque a referencia a Deus é frequentemente dada sem o temor de Deus. Fala-se de Deus, constrói-se-lhe catedrais e sinagogas, Deus é evocado dentro desses lugares sem calor, sem entusiasmo, debates teológicos ou da politica eclesiástica, mas o coração do homem não muda; continua carregado das suas mentiras e crimes. Em pleno século XX, e no coração da nossa civilização cristã, o holocausto gritou o fracasso da religião e especialmente da religião cristã.
E isto porque a religião não é coerente, Deus não é tomado a sério, e Deus tornou-se para multidões um Deus inofensivo que é manipulável, ou um lindo pequeno Jesus “muito querido” que apazigua as almas sensíveis e que as deixa insensíveis.
Para outros, Deus está morto. E esta tese espalhou-se mesmo dentro dos círculos religiosos. A religião quando ela existe, não passa de uma experiencia espiritual, um código moral, ou simplesmente uma tradição cultural. Já não é inteligente – pensam alguns – crer num Deus do céu e menos ainda esperar o Seu reino.
Porque se perdeu o sentido do que é temer a Deus, não se ousa mais imaginar e desejá-Lo na Sua glória. Para que imaginar? Para quê desejar? Um leva ao outro. Esta palavra do Apocalipse no coração do século XXI é por isso mesmo muito actual. Ela apela ao temor a Deus, para voltar a dar o gosto de Deus, para despertar nos corações dos homens e das mulheres a ocuparem-se na obra que se realiza na Cidade de Deus e a sentir necessidade da vinda de Jesus em toda a glória, é preciso gritar a todos os cantos da terra, gritar de tal modo que faça eco no coração dos homens e desperte o desejo pela esperança.
Pr. José Carlos Costa

Sem comentários:

Enviar um comentário