“E vi outro anjo voando pelo meio do céu, e tinha um evangelho eterno para proclamar aos que habitam sobre a terra e a toda nação, e tribo, e língua, e povo.” (Apoc. 14:6)
Este clamor dirige-se em primeiro lugar ao campo dos que estão sensíveis à voz do Cordeiro, é uma mensagem de interpelação. O primeiro anjo recebe como missão de anunciar o “Evangelho Eterno” (Apoc. 14:6). O termo grego euanggelion, traduzido aqui por Evangelho, significa literalmente a “boa nova”. Esta expressão é utilizada na literatura grega clássica para pronunciar a nova da vitória alcançada no campo de batalha. Ela concerne seja à morte do inimigo, seja a aparecimento do imperador romano (F.JOSEFO, Antiguidades 18.228,229) que chega para salvar as nações das invasões e trazer-lhes a pax romana (a paz romana).
A mensagem do primeiro anjo é pois uma mensagem de esperança. O anjo anuncia que a tragédia humana está a chegar ao fim. Para aqueles que escolheram seguir o Cordeiro, esta boa nova ouve-se no interior da existência humana ao mesmo tempo como um apelo a temer Deus como Juiz, e à adoração do Criador. “Temei a Deus, e dai-lhe glória; porque é chegada a hora do seu juízo; e adorai aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas.” (Apoc. 14:7)
Temer o Juiz.
No antigo Médio Oriente, o rei é também o juiz supremo. Deste modo a Bíblia associa as duas funções (Êxodo 18:13; 2 Reis 15:5; 2 Crónicas 1:10; Salmo 72:2). É no contexto desta gloriosa visão de Deus como rei e como juiz que se tona necessário compreender o apelo do anjo a temer Deus.
Esta noção de temer a Deus é impopular e muitas vezes mal compreendida. Quando analisarmos Apocalipse 11:8, debruçar-nos-emos um pouco mais sobre este assunto. Devemos, no entanto, ter consciência do olhar do Omnipresente de Deus. a palavra hebraica traduz esta noção (yra) é seguramente a mesma com que o grego apresenta a ideia de ver (raah). Temer Deus, é saber que Deus nos olha onde quer que estejamos, como somos, façamos o que fizermos.
A Bíblia interliga o temer a Deus à lei, vejamos: “para que temas ao Senhor teu Deus, e guardes todos os seus estatutos e mandamentos, que eu te ordeno, tu, e teu filho, e o filho de teu filho, todos os dias da tua vida, e para que se prolonguem os teus dias.” (Deut. 6:2)
O temor a Deus coloca-se deste modo como uma garantia da ética, “teme a Deus e observa os Seus mandamentos” (Ecl. 12:13). Nesta passagem, a sintaxe da frase hebraica sugere que a conjunção de coordenação “e” deve ser compreendida, não como uma indicação de adição, mas de explicação. Seria necessário traduzir “teme a Deus, ou seja, observa os seus mandamentos”. Para Eclesiastes, “todo o homem” (kol haadam) está implícito um compromisso, precisamente por causa do julgamento, na perspectiva que este julgamento implica o que é sabido só pela pessoa, mas tudo o que é do conhecimento de Deus. “Porque Deus há de trazer a juízo toda obra, e até tudo o que está encoberto, quer seja bom, quer seja mau.” (Ecl. 12:14).
Temer Deus significa estar atento ao bem, ao direito, ao justo; é observar os mandamentos de Deus , não só aparentemente, aos olhares da sociedade, mas igualmente em família e na intimidade. Encontra-se neste texto toda uma concepção de existência. A religião não é relegada a algumas horas do Domingo ou do Sábado, ou a um momento sagrado de oração. Todo o movimento, toda a decisão, toda a obra e todo o pensamento estão colocados sob o controlo do Alto. É esta a razão porque constitui o temor a Deus algo tão importante na literatura bíblica.
O temor a Deus abraça as preocupações existenciais que estão no quotidiano da vida, e no centro das reflexões profundas provadas e sentidas no fogo da dúvida e da inteligência critica, o temor a Deus recebe o primeiro lugar: “O temor do Senhor é o princípio sabedoria; e o conhecimento do Santo é o entendimento.” (Provérbios 9:10; cf. 1:7ss).
Hoje, vamos ficar aqui sobre este assunto tão rico de vida espiritual. Você que lê estas reflexões só pode ser uma pessoa de grande exigência espiritual, estes temas não são para toda a gente, assim, oro que Deus vos abençoe em Cristo. Amem!
Pr. José Carlos Costa
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