segunda-feira, 21 de março de 2011

IDENTIDADE DO CHIFRE PEQUENO

Tal como já o dissemos, muitos comentadores do passado identificaram, assim como os recentes continuam a identificar o “chifre pequeno” como sendo o rei da dinastia seleucida Antíoco IV Epifânio (175-164 a. C.), o perseguidor dos Judeus em Jerusalém e o profanador do Templo – cf. I Macabeus 1.41-64; 4.52-54.412 Com a identificação desta personagem com a continuação da Roma pagã, ou seja, a Roma papal, desaparecem os conflitos escriturísticos; mas se se continuar a identificar Antíoco IV Epifânio com o “chifre pequeno” alguns problemas se colocam, como por exemplo:
1- Em Daniel 7.8 o relato bíblico afirma que o “chifre pequeno” arrancará 3 chifres. No entanto, os esforços dos eruditos para encontrar três reis “arrancados” por Antíoco IV Epifânio têm-se demonstrado infrutíferos.
2- Segundo o texto bíblico, o “chifre pequeno” é o 11º rei, visto ele aparece após os dez primeiros chifres
já existentes – Daniel 7.8,20. Assim, se este rei é, de facto, o cumprimento e realização do “chifre pequeno”, então deveria de ser, igualmente, o 11º rei da linhagem dos seleucidas. Acontece, porém que Antíoco IV Epifânio é o 8º rei!
3- Quanto ao elemento “tempo”: - a supremacia do “chifre pequeno” sobre os santos deveria durar, segundo o profeta Daniel, três tempos e meio – Daniel 7.25. se tomarmos esta indicação de tempo como sendo anos literais, quer dizer que Antíoco IV Epifânio deveria ter perseguido os judeus durante três anos e meio. Acontece que, segundo o livro de Macabeus, a perseguição e a profanação do templo durou unicamente três anos e dez dias!
4- A expressão bíblica “2.300 tardes e manhãs” – Daniel 8.14 – contrariamente ao que alguns intérpretes pretendem, esta indicação de tempo poderá ser reduzida a um período de 1.150 dias completos para assim ser aplicado à profanação do templo levada a efeito por Antíoco IV Epifânio que, como acima dizemos, não durou 2.300 nem 1.150 dias mas, três anos (isto é, 360 x 3= 1.080) e dez dias, ou seja: 1080 + 10= 1.090! Portanto, o chifre pequeno não se aplica, de modo algum, ao rei da dinastia seleucida.
5- Segundo as Escrituras – Daniel 7.18,27 – os santos do Altíssimo, receberiam o reino, um reino eterno. Ora, se Judas Macabeu pôs fim a Antíoco IV Epifânio, o poder perseguidor dos santos do Altíssimo, logicamente, este novo reino deveria corresponder ao descrito na profecia. Mas não, pois, não só o reino dos Macabeus não era, de forma alguma, o reino dos santos do Altíssimo, como também não era eterno!
6- O texto bíblico descreve a trajectória do chifre pequeno e revela que este – “cresceu muito” – Daniel 8.9. Este cresceria, expandir-se-ia, para “o meio-dia (Sul - Egipto), o oriente (Este-Síria) e para a terra formosa (Norte - Palestina)” – cf. Ezequiel 20.6. Ora, este poder expandiu-se em quase todas as direcções, pois notamos a ausência de um ponto cardeal – o Oeste!
Assim, na perspectiva de um habitante da Palestina, o poder histórico mencionado pelo profeta, não é outro a não ser Roma, que veio, curiosamente, deste mesmo ponto cardeal – o Oeste. O reino Seleucida que cobria o território da Síria e de babilónia de onde é oriunda a personagem Antíoco IV Epifânio, ficava a Norte!
7- Segundo a Bíblia, o “chifre pequeno” se engrandeceu até ao príncipe do exército” – Daniel 8.10a,11a,25b. À luz da coerência da interpretação bíblica, o título “príncipe do exército” nunca se aplica ao humano, mas um ser celeste - Daniel 8.25;10.13,21;12.1 – o Filho de Deus, como mostrámos acima.
Então como é que os homens vêem a profecia? Ora vejamos: - sabemos, historicamente falando, que o rei Antíoco IV Epifânio mandou assassinar o sumo-sacerdote Onias III em 171 a. C. em Antioquia. Segundo alguns comentadores, este rei representa o chifre pequeno que se engrandece até ao “príncipe do exército”, sendo este último identificado, biblicamente falando, como um ser celeste; alguns intérpretes das Escrituras, como já o referimos, afirmam que Onias III, representa a figura bíblica do – “príncipe do exército”. Sendo assim - como poderá o rei Antíoco IV Epifânio corresponder ao chifre pequeno, se ambos são duas realidades diferentes?! A primeira - está, historicamente relacionada com Onias III; a segunda – como vimos, está bíblica e profeticamente relacionada com um ser celeste - o “príncipe do exército”. Assim sendo – como poderá haver qualquer relação entre Antíoco IV Epifânio (homem) e o “príncipe do exército”, ser celeste? São duas realidades e de dimensões diferentes. Portanto, perante o exposto, não existe qualquer relação entre o chifre pequeno e Antíoco IV Epifânio, nem tão pouco de Onias III com o príncipe do exército. À luz da informação bíblica, isso sim, é clara a relação entre o poder humano, mas de cariz espiritual – ponta pequena – e o - príncipe do exército – criatura celeste e espiritual.
8- A expressão “2.300 tardes e manhãs” - Daniel 8.14 - tal como vimos, não só significa dias plenos, completos, tal como é empregue no relato da Criação – Génesis 1.5,8,13,19,23,31 – como também aponta para a data em que o santuário será purificado. O anjo Gabriel aponta para o cumprimento desta profecia, isto é, - o tempo do fim – cf. Daniel 8.17,19,26. Assim, o período apontado não se enquadra com acontecimentos que se concluíram, como alguns interpretam, no II século antes de Jesus – no tempo de Antíoco IV Epifânio!
9- Se compararmos os acontecimentos históricos de Daniel 2,7,8 notamos que os dois primeiros capítulos começam com o antigo reino de Babilónia e o último começa com o Medo-Persa, mas todos eles continuam a enumerar acontecimentos até ao fim dos tempos – o que implica, só por si, interpretar o tempo anunciado como sendo profético.
10- Como podemos ver no quadro acima, existe um paralelismo entre o julgamento - Daniel 7.26 -, o qual conduz à 2ª vinda de Cristo - e a purificação do santuário – Daniel 8.14. Assim, tanto uma acção como a outra ocorrerão antes da 2ª vinda de Cristo, apontando para tempo do fim. Estes acontecimentos inerentes ao tempo do fim não seriam possíveis se o período de “2.300 tardes e manhãs” fossem literais. Portanto, não se enquadram, de forma alguma com o rei seleucida Antíoco IV Epifânio.
11- O chifre pequeno ou o poder por ela personificado é, apresentado na linguagem do profeta como um poder de natureza, essencialmente, religiosa – cf. Daniel 7.25, 8.12. Acontece que Antíoco IV Epifânio, apesar das suas pretensões à divindade, era um poder político, nada mais.
12- Se lermos o texto – Daniel 8.22,23 – a ponta pequena está directamente ligada com o aparecimento de um rei - o 5º rei – v. 23 – logo após os quatro do v. 22. Ora, como vimos acima, Antíoco IV Epifânio é o 8º e não o 5º!
13- A profecia refere que este poder – ponta pequena – “(…) sem mão será quebrado” – Daniel 8.25. No entanto, se como dizem, este poder é o rei Antíoco IV Epifânio, os livros apócrifos I e II Macabeus, apresentam-nos três causas diferentes para a sua morte, a saber: 1ª- “(…) agora, morro de tristeza (…)” – I Macabeus 6.13; 2ª- “Esmagado por uma chuva de pedras” – II Macabeus 1.16; 3ª- “(…) prostrado pela doença (…). Enfim, ferido mortalmente” – II Macabeus 9.21,28. Como se poderá ver – nenhuma delas está de acordo com as palavras proféticas!
14- O chifre pequeno, como se poderá ver no quadro comparativo acima, quer no cap. 7 como no cap. 8 aparece no mesmo momento, mais precisamente após os impérios universais – 7.2-7,15-20; 8.2-8,20-22 – ou seja, após o século III da nossa era.
Além disto e segundo o texto bíblico, a actividade do chifre pequeno prolonga-se até ao final dos tempos e para lá do período compreendido pelas “2.300 tardes e manhãs”, visto que só neste final de tempo é que o santuário seria purificado, como também num tempo mais além, este poder seria “sem mão quebrado” – Daniel 8.25. Portanto, pelo quanto pudemos analisar, o rei seleucida Antíoco IV Epifânio está totalmente ausente do livro profético de Daniel.

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