As traduções católicas romanas possuiem 7 livros apócrifos. |
Alguns dos livros com estas características: Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesiástico, Baruque, I e II de Macabeus; há ainda a considerar os fragmentos gregos incorporados no texto hebraico do Antigo Testamento, a saber: o Cântico dos 3 hebreus (66 versículos intercalados entre os versículos 23 e 24 do capítulo 3 do livro do profeta Daniel); Bel e o Dragão (Daniel capítulo 14) e 7 capítulos no fim do livro de Ester.
A Vulgata Latina, a Bíblia da Igreja Romana contém estas adições, as quais concorrem para que esta última tenha, não 66 livros, mas 72, assim distribuídos: Antigo Testamento = 45; Novo testamento = 27. Qualquer outra Bíblia contém unicamente 66 livros, em conformidade com o Cânone Palestino.
Estas adições - os Apócrifos - contidos na Vulgata Latina, a Bíblia da Igreja Romana, apesar de não canónicos e, portanto, sem autoridade em matéria de fé, alguns deles são de alto valor literário, histórico e moral.
Ao referir a existência desta problemática e realçando o seu valor, o nosso autor declara que “foi a Igreja do Antigo Testamento e a Igreja do Novo Testamento quem determinou os livros que são canónicos e os que não são”. Em certo sentido esta afirmação está correcta! Tem-se dito que a Bíblia dos Apóstolos – as Escrituras - que habitualmente é citada é a Septuaginta (LXX), versão que contém estas mesmas adições! O conhecimento da Septuaginta – Cânone Alexandrino - é indubitável, visto que o autor da Carta aos Hebreus, por exemplo, faz uso, entre outras fontes, do conteúdo de descrições existentes no 1º e do 2º livro dos Macabeus:
1- Carta aos Hebreus 11:35 (…) uns foram torturados, não aceitando o seu livramento, para alcançarem uma melhor ressurreição” (sublinhado nosso) – cf. II Macabeus 6:21,26; 7:1,9-11
2- Carta aos Hebreus 11:36 “(…) escárneos, açoites, cadeias e prisões” (sublinhado nosso – cf. I Macabeus 7:34-38;9:26.
3- Carta aos Hebreus 11:38 “(…) errantes pelos desertos e montes e pelas covas e cavernas da terra” (sublinhado nosso) – cf. I Macabeus 2:28-30; II Macabeus 5:27; 6:11; 10:6
Apócrifo; diz-se dos livros da Bíblia cuja autenticidade não foi suficientemente estabelecida e que são rejeitados pelas Igrejas cristãs. |
A divergência, somente ocorre sobre os livros do Antigo Testamento. Estes circulavam no tempo de Jesus; já que esta existe, então proporemos um critério muito simples e coerente, a saber: Como Jesus se serviu das Escrituras (Antigo Testamento) usadas pelos judeus da Palestina no Seu tempo, por que não, desde já, formularmos a pergunta: eram os escritos, em questão, aceites pelos Judeus da Palestina, no século I da era cristã? Se eram, devemos aceitar como inspirados os livros que Jesus, ele mesmo, aceitou? Caso contrário devemos rejeitá-los. É interessante notar que “todo o Novo Testamento não contém nenhuma citação explicita dos Apócrifos do Antigo Testamento”.
Na verdade, se existe uma Bíblia é porque, de igual modo, existe um Cânone que a engendrou e regulamenta. O autor que nos ocupa, para realçar a ideia de que o Cânone não apareceu de maneira divina e, muito menos, de uma forma mágica, faz alusão a alguns Cânones que circulavam, nomeadamente: “o Palestiniano, o Alexandrino e o de Flávio Josefo”.
É verdade que o Cânone não caiu do céu tal qual! Mas também não é menos verdade que a dita “autoridade da Igreja” é usada, muitas vezes, de forma enganosa e tendenciosa! Por outras palavras, as Escrituras – Antigo e Novo Testamento – deram testemunho por si mesmas da sua própria autoridade! A Igreja não fez mais do que se inclinar perante a mesma e oficializar o que “naturalmente não correspondia à verdade inspirada”, os escritos espúrios – os Apócrifos! E tanto foi assim que nenhum Concílio Geral, desde os tempos mais remotos, procurasse definir o Cânone, a não ser, curiosamente, só no século XVI! E porquê? Para fazer face às investidas inconvenientes dos ventos da Reforma, como mais abaixo o veremos!
O Cânone de Flávio Josefo, e o Palestiniano contêm 22 livros. Façamos aqui uma breve nota explicativa acerca deste Flávio Josefo. Ele era um historiador judeu (37-100). Na guerra contra Roma foi encarregado pelo Sinédrio do comando da província da Galileia, ao norte da Palestina, cuja defesa organizou. Depois, convicto da inutilidade desta guerra, capitulou. Assiste, ao lado do general romano Tito, à conquista de Jerusalém no ano 70 d.C. Depois, instala-se em Roma e ali redige, em grego, a obra que o imortalizou: A Guerra dos Judeus, as Antiguidades Judaicas e Contra Apio.
Flávio Josefo menciona um Cânone com apenas 22 livros, ao escrever: “não existe entre nós miríades de livros discordantes e contraditórios? Mas temos unicamente vinte e dois livros que contêm a memória dos tempos passados e que são tidos por divinos.” Depois, a certa altura acrescenta um interessante pormenor: ”desde Artaxerxes, a nossa História foi escrita, mas estes livros não foram dignos de crédito como os que os precederam porque a sucessão dos profetas, desde esse tempo, não era correcta.” Note-se que o autor revela:
a) Um limite de vinte e dois livros canónicos;
b) Não se escreveram escritos canónicos desde o reinado de Artaxerxes (465-424 a. C.) filho de Xerxes (486-465 a.C.)
c) Nada foi incorporado aos anteriores 22 livros canónicos a partir deste período, isto é, do último profeta do Antigo Testamento – Malaquias. Portanto, como compreender, naturalmente, a inserção no Cânone os livros Apócrifos escritos posteriormente? Com que autoridade? A não ser pela conveniência; para silenciar as vozes discordantes para com certos ensinos. Caso contrário, como se explicará tal inclusão abusiva?
Bibliografia:Isidro Pereira, S.J., op. cit., p. 72
Joaquim Carreira das Neves, OFM, op. cit, p. 11
Klaus Homburg, op. cit., p. 194
Joaquim Carreira das Neves, OFM, op. cit, p. 12
Cf. H. Strathmann, L’Épître aux Hebreux, Genève, Ed. Labor & Fides, 1971, p. 119
René Pache, op. cit., p. 90
Joaquim Carreira das Neves, OFM, op. cit, p. 24
“Flávio Josefo” in Nova Enciclopédia Larousse, Lisboa, Ed. Círculo de Leitores, 1997, Vol. I0, p. 3048
Flávio Josefo, Contra Apio,1.8, citado por Gleason L. Archer, op. cit., p. 69 nota 8
John Bright, op. cit., pp. 508,509
Daniel-Rops, A Vida Quotidiana na Palestina no Tempo de Jesus, Lisboa, Ed. Livros do Brasil, s.d., p. 151
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