Os comentadores da Bíblia com frequência equiparam a
estrutura paralela dos 7 selos em Apocalipse 6 com o discurso profético de
Jesus nos Evangelhos sinópticos. Beasley-Murray fala por muitos quando diz:
"Nenhuma passagem no Novo Testamento está mais intimamente relacionado a
este elemento [os selos] dentro do livro do Apocalipse que o discurso
escatológico dos Evangelhos, Marcos 13 e as passagens paralelos (Mat. 24 e Luc.
21)".1 Colocando as duas sequências proféticas em forma paralela, elas
mostram que os 7 selos apresentam as mesmas características e a mesma ordem
consecutiva do discurso do Monte das Oliveiras.
Esta comparação mostra que devemos considerar os selos
consecutivos em Apocalipse 6 como a exposição ulterior de Cristo de seu
discurso anterior no que tinha resumido a seus discípulos o que lhes
aconteceria durante sua missão no mundo. Isto significa que os selos predizem
não só os juízos do tempo do fim mas também os juízos messiânicos durante toda
a época da igreja. Em Mateus 24 Jesus adoptou o estilo apocalíptico de Daniel
de repetição e ampliação. Duas vezes Jesus começou seu esboço com sua própria
geração e depois passou rapidamente adiante na história até o fim da era da
igreja, como se pode ver por Mateus 24:1-4 e 24:15-31. Jesus anunciou que as
guerras que viriam, as fomes, as perseguições e a apostasia não precederiam imediatamente
a sua volta:
"Quando ouvirdes falar de guerras e revoluções, não vos
assusteis; pois é necessário que primeiro aconteçam estas coisas... E cairão a
fio de espada e para todas as nações serão levados cativos; e Jerusalém será
pisada pelos gentios, até que os tempos dos gentios se completem" (Luc.
21:9, 24).
Jesus lhes advertiu especificamente contra uma expectativa
iminente:
"Respondeu ele: Vede que não sejais enganados; porque
muitos virão em meu nome, dizendo: Sou eu! E também: Chegou a hora! Não os
sigais" (Luc. 21:8).
Se os selos desenvolvem em forma adicional Mateus 24, então
os selos igualmente se estendem sobre os séculos do período da era cristã. Esta
perspectiva histórica dos selos expressa o fluxo estrutural do livro do
Apocalipse da época histórica até o juízo final.
O Significado da Era Cristã
É instrutivo refletir sobre o significado das predições de
Cristo de guerras, desastres na natureza, perseguições dos santos e uma
crescente apostasia da verdade, o amor e a moral. Os selos de Apocalipse 6
assinalam o significado de toda a história ao colocá-los em uma perspectiva do
tempo do fim, isto é, à luz dos destinos eternos. Tanto a igreja como a
história mundial recebem seu significado transcendental da soberania e os
juízos de Cristo (cap. 5). Ele coloca a história do homem no contexto mais
amplo do conflito espiritual entre Deus e Satanás e seus respectivos princípios
de governo. O apóstolo Paulo reconheceu isto:
"Porque a mim me parece que Deus nos pôs a nós, os
apóstolos, em último lugar, como se fôssemos condenados à morte; porque nos
tornamos espetáculo ao mundo, tanto a anjos, como a homens" (1 Cor. 4:9).
O crisol da história humana é o meio pelo qual Cristo
santifica os que aceitam seu senhorio e testemunho de verdade sob as
circunstâncias mais adversas. Por outro lado, demonstra sobre a terra os
amargos frutos da rebelião contra ele, perdoando as vistas de seus inimigos,
desde Caim para frente. Ellen White oferece esta profunda revelação:
"Satanás está constantemente em atividade, com intensa
energia e sob mil disfarces para representar falsamente o caráter e governo de
Deus. Com planos extensos e bem organizados, e com poder maravilhoso está ele a
agir para conservar sob seus enganos os habitantes do mundo. Deus, o Ser
infinito e de toda a sabedoria, vê o fim desde o princípio, e, ao tratar com o
mal, Seus planos foram de grande alcance e compreensivos. Foi o Seu intuito não
somente abater a rebelião, mas demonstrar a todo o Universo a natureza da
mesma. O plano de Deus estava a desdobrar-se, mostrando tanto Sua justiça como
Sua misericórdia, e amplamente reivindicando Sua sabedoria e justiça em Seu
trato com o mal".2
Cada calamidade proporciona uma nova oportunidade para que o
homem caído se volte para Deus. Cristo ensinou esta lição a partir dos
acontecimentos de seu próprio tempo (ver Luc. 13:1-5; também João 9:2, 3).
No passado do Israel, Deus tinha enviado quatro juízos sobre
seu povo do pacto, que era rebelde: guerra, praga, fome e morte (ver Lev.
26:23-26; Deut. 32:23-25, 42 ["minhas setas"]; Ezeq. 14:12-14, 21).
Mas esses juízos nunca foram o juízo final de Deus. Serviram como juízos
preliminares, para motivar seu povo rebelde a voltar-se para Deus (ver Ose.
5:14, 15; 6:1-3). Quanto a isto também o Antigo Testamento é um livro de lições
para a igreja (1 Cor. 10:11 ).
Cristo deseja que a igreja compreenda que os juízos
vindouros ainda estão limitados por sua vontade. Deus ainda está no comando
mesmo que seus filhos morram como mártires. Também coloca limites ao cavaleiro
amarelo sob o quarto selo (Apoc. 6:8). De igual maneira, Apocalipse 12 e 13
afirmam que o anticristo recebe não mais de 3 ½ tempos proféticos, enquanto que
à última rebelião é concedida apenas "uma hora" (Apoc. 17:12).
Apocalipse 5 ensina que a responsabilidade pelos juízos de
Deus foi transferida a Cristo. Os selos apocalípticos, e por extensão as
trombetas e as pragas, todos devem entender-se como juízos messiânicos. O
Cristo entronizado é o Senhor da história, ou como Leão de Israel ou como o
Cordeiro de Deus (Apoc. 5:5, 6). Isto significa que os que rechaçam o sangue do
Cordeiro terão que enfrentar a "ira do Cordeiro" (Apoc. 6:16, 17).
Pela fé em Cristo os homens podem confiar que a era cristã tem significado,
porque leva a humanidade adiante, a seu destino glorioso.
Desenrolando o Livro da Providência
Em Apocalipse 6, os selos desenvolvem a visão da coroação de
Cristo como o Cordeiro imolado que aparece no capítulo 5. O Cordeiro só abre os
selos do rolo da escritura da providência. Sempre que Cristo abre um dos 4
primeiros selos, um dos 4 serafins diz "como com voz de trovão":
"Vem e vê!" Em resposta aparecem 4 cavalos em forma consecutiva, cada
um com uma cor diferente: branco, vermelho, preto e amarelo. Estes cavalos
levam cavaleiros diferentes. São enviados à terra um depois que o outro cumpriu
sua missão atribuída. Entendemos que cada cavalo se une aos prévios já
enviados, de maneira que finalmente os 4 cavalos cavalgam juntos sobre a terra
até o fim da era cristã.
Isto quer dizer que os primeiros 4 selos ainda não estão
completos, inclusive no tempo do fim. João está em dívida com o Antigo
Testamento para esta linguagem figurada de cavalaria celestial. Em suas visões,
Zacarias descreve 4 cavalos com cores diferentes (Zac. 1:8-17 e 6:1-8). Isto
indica que devemos considerar o significado dos 4 cavalos simbólicos do
Zacarias antes de interpretar os 4 cavaleiros apocalípticos.
Em Zacarias 1 atribuiu-se aos cavaleiros o dever de
inspecionar o mundo gentio com o fim de observar qualquer movimento para
restaurar Jerusalém e Judá (1:10). Este relatório foi frustrante: nada estava
acontecendo (v. 11). Entretanto, Deus assegura ao profeta que apesar das
aparências contrárias, ele estava trabalhando por Jerusalém e Sião com grande
zelo (v. 14), enquanto que ao mesmo tempo estava irado contra as nações (v.
15). O Deus do Israel voltaria para Sião, e seu templo e sua cidade seriam
reconstruídos. Seriam estabelecidas paz e prosperidade permanentes (8:12).
No capítulo 6, o profeta apresenta o complemento de sua
primeira visão. Esta vez vê 4 cavalos diferentes com carros de guerra
[merkaba], cada um enviado pelo Deus do céu em todas as direções da terra, para
levar a cabo o plano redentor de Deus para Jerusalém. O anjo que interpreta,
explica que os 4 carros significam "os quatro ventos dos céus" que
são enviados como ministros do Senhor para cumprir a vontade redentora de Deus
em todo mundo hostil (Zac. 6:5; cf. Sal. 104:3, 4; Jer. 49:36; Isa. 66:15).
A "terra do norte", ou Babilónia, é escolhida como
um lugar exemplar onde o Deus de Israel deseja governar e estabelecer seu
descanso (Zac. 6:8). Isto significa que os 4 carros de guerra da visão foram
enviados ao mundo com uma missão dupla: (1) submeter todos os poderes políticos
do mundo à vontade do Deus de Israel (ver Ag. 2:7-10, 20-23); (2) reunir a
todos os crentes israelitas e gentios em Jerusalém e no monte Sião (Zac. 8:8,
20-23). O propósito fundamental é a realização do plano de redenção de Deus e a
restauração da verdadeira adoração (vs. 22, 23).
No Apocalipse, Cristo envia seus cavaleiros apocalípticos à
terra, desta vez com uma missão do novo pacto (Apoc. 6:2-8): para conquistar os
corações humanos a Cristo com o arco e as flechas do evangelho, e para levar a
humanidade à reflexão por meio de alguns juízos limitados como antecipações do
castigo final de Deus por sua rebelião contra Cristo.
O Primeiro Selo
"Vi, então, e eis um cavalo branco e o seu cavaleiro
com um arco; e foi-lhe dada uma coroa; e ele saiu vencendo e para vencer"
(Apoc. 6:2).
O cavalo branco leva um cavaleiro com um arco e uma coroa de
vencedor, saindo como "vencendo e para vencer". Alguns expositores
modernos interpretam este cavaleiro apocalíptico como símbolo da avidez do
homem para conseguir poder e domínio mundial. O argumento é que os 4 cavaleiros
de Apocalipse 6 iniciam juízos, de modo que parece "inapropriado ao
contexto" ver aqui a conquista de Cristo por meio do evangelho. Os cavalos
se usavam para liberar a guerra. Entretanto, cada símbolo deve receber seu
significado de seu próprio contexto e nele podemos descobrir a natureza dessa
guerra.
Os selos desenvolvem mais amplamente a visão do trono de
Apocalipse 5, onde Cristo é descrito como o Senhor ressuscitado, simbolizado
pelo Leão que tinha triunfado (Apoc. 5:5). Estabeleceu sua vitória por sua
morte na cruz, simbolizado pelo Cordeiro imolado (V. 6). Depois enviou os
discípulos, dando-lhes autoridade, para ir a todas as nações e fazer discípulos
(Mat. 28:19). Deu-lhes o poder do Espírito Santo para conquistar para ele, até
os fins da terra (At. 1:8), assim como conquistou a seu "inimigo"
Saulo perto da porta de Damasco (cap. 9). Continua conquistando através do
poder do evangelho e a "espada de dois fios" de sua Palavra (Heb.
4:12), com o fim de ganhar para seu reino os corações sinceros de homens e
mulheres até o fim do tempo de prova.
Além disso, a estrutura quiástica do Apocalipse coloca a
Cristo como o Guerreiro em Apocalipse 19:11-16, como a contraparte
significativa e como a consumação do tempo do fim de Apocalipse 6:2. As
profecias messiânicas do Antigo Testamento representavam ao Rei davídico como
conquistando com arco e flechas (ver Sal. 45:4, 5; Deut. 32:23; Hab. 3:8-11;
Sal. 7:12; 21:12). Cristo anunciou que veio trazer a "espada" para todos
os que rechaçam sua paz (Mat. 10:34; Luc. 12:51-53). Portanto podemos
interpretar o cavalo branco do primeiro selo como o cavalo do evangelho que
oferece a todos os homens a justiça perfeita de Cristo. Este cavaleiro
evangélico ainda conquista homens e mulheres ao redor do globo (1 João 5:4, 5).
A última confissão de fé de Paulo ilustra o poder do cavaleiro do cavalo
branco: " Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé"
(2 Tim. 4:7).
O Segundo Selo
"Quando abriu o segundo selo, ouvi o segundo ser
vivente dizendo: Vem! E saiu outro cavalo, vermelho; e ao seu cavaleiro,
foi-lhe dado tirar a paz da terra para que os homens se matassem uns aos
outros; também lhe foi dada uma grande espada" (Apoc. 6:3, 4).
Os três seguintes cavaleiros apocalípticos têm autoridade
para trazer consigo juízos severos sobre a terra. Não devemos considerar estas
incursões que produzem morte, fome e praga como os resultados das guerras
seculares. Durante séculos houve paz no Império Romano, a "pax romana",
desde Arménia até a Espanha.
O cavalo vermelho representa o espírito de oposição ao
cavaleiro do evangelho, ou guerra contra o povo de Cristo. Jesus tinha
advertido que o testemunho de seus seguidores causaria uma oposição
encarniçada: "Não pensem que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz,
senão espada" (Mat. 10:34; ver a conexão com os vs. 32 e 33 e Luc.
12:51-53). Isto foi o que experimentou a igreja apostólica, como pode ver-se
nas cartas de Cristo às igrejas em Esmirna e Pérgamo (Apoc. 2:10, 13). Por outro
lado, só Cristo traz a paz do coração: "Deixo-vos a paz, a minha paz vos
dou; não vo-la dou como a dá o mundo" (João 14:27); "E a paz de Deus,
que ultrapassa todo entendimento, guardará os vossos corações e as vossas
mentes em Cristo Jesus" (Filip. 4:7).
Os césares romanos não toleravam nenhum pensamento de Cristo
como o supremo Rei e Senhor. Tentaram erradicar todas as testemunhas públicas
cristãs até o tempo da conversão do Constantino no século IV. A interpretação
de que o cavalo vermelho significa a perseguição religiosa-política por causa
de Cristo fica confirmado pela carta de Cristo à igreja da Esmirna (Apoc.
2:8-11 ) e o clamor dos mártires degolados sob o quinto selo (6:9).
Em qualquer lugar que se rechaça o Príncipe da paz, os
resultados são luta e violência, não só dentro da igreja mas também na
sociedade. O derramamento de sangue nos selos se cumpre em dois níveis:
primeiro, dentro da igreja de Cristo e segundo, contra a igreja ao executar os
seguidores de Cristo durante toda a época da igreja.
O Terceiro Selo
"Quando abriu o terceiro selo, ouvi o terceiro ser
vivente dizendo: Vem! Então, vi, e eis um cavalo preto e o seu cavaleiro com
uma balança na mão. E ouvi uma como que voz no meio dos quatro seres viventes
dizendo: Uma medida de trigo por um denário; três medidas de cevada por um
denário; e não danifiques o azeite e o vinho" (Apoc. 6:5, 6).
A cor "preta" do terceiro cavalo apocalíptico é o
contrário exato do primeiro cavalo. Isto sugere que agora se rechaça ou se
desconhece a justiça de Cristo. Uma situação assim resulta em fome espiritual,
o que nos recorda do juízo predito por Amós (8:11). A palavra de Deus e o
testemunho de Jesus chegaram a ser tão escassos que podem simbolizar-se pelo
fato de pesar o principal alimento do homem em uma balança (Apoc. 6:5, 6). Este
símbolo está tomado de Levítico 26:26, onde primeiro se refere ao juízo de Deus
sobre um povo rebelde que sofreria uma fome literal (ver também Ezeq. 4:16). A
Escritura também usa a balança para simbolizar um veredicto celestial (Dan.
5:27). O terceiro cavaleiro apocalíptico anuncia uma fome da Palavra e o
Espírito de Deus na igreja pós-apostólica, sugerindo que chegará a ser fraco na
verdade do evangelho, substituindo-a por um sistema de crenças doutrinais
chamado ortodoxia. Mas as doutrinas e cerimónias não podem alimentar a alma,
tal como Cristo admoestou em sua carta à igreja de Pérgamo (Apoc. 2:14-16). O
terceiro selo se aplica especialmente a esse período da história da igreja
quando a Igreja e o Estado se uniram e começaram a impor a ortodoxia sobre a
consciência humana. A ordem: "Não danifiques o azeite e o vinho"
(6:6), sugere um juízo limitado de Deus, que Deus protege seu evangelho em um
tempo de escassez espiritual. Revela que Deus cuida ternamente de seu povo.
O Quarto Selo
"Quando o Cordeiro abriu o quarto selo, ouvi a voz do
quarto ser vivente dizendo: Vem! E olhei, e eis um cavalo amarelo e o seu
cavaleiro, sendo este chamado Morte; e o Inferno o estava seguindo, e foi-lhes
dada autoridade sobre a quarta parte da terra para matar à espada, pela fome,
com a mortandade e por meio das feras da terra" (Apoc. 6:7, 8).
O cavaleiro do cavalo amarelo é chamado Morte, seguido pelo
Hades (a tumba). Os quatro juízos foram enviados antes pelo Deus de Israel a
seu povo do antigo pacto (ver Ezeq. 14:21). A cor de um pálido mortal sugere um
estado contínuo de decadência espiritual e de um endurecimento maior do
coração. O resultado é a apostasia da alma. Podemos pensar nas heresias e
enganos como uma consequência de rechaçar a verdade do evangelho (ver Apoc.
2:20-23). É o caminho à morte eterna. Então, as "feras da terra" são
uma antecipação simbólica das bestas perseguidoras de Apocalipse 13, as quais
também receberam permissão de "fazer guerra contra os santos e
vencê-los" (vs. 7, 14, 15). O quarto cavaleiro concentra os resultados do
trabalho dos cavaleiros anteriores: morte e condenação. Representa a situação
prolongada da igreja medieval.
Os primeiros 4 selos seguem o esboço do discurso profético
do Jesus em Mateus 24:6-8. A diferença entre Mateus 24 e os selos apocalípticos
está no fato de que no Apocalipse pode detectar-se um significado mais profundo
porque o primeiro cavaleiro é o evangelho de Cristo.
Os selos 2 a 4 mostram um endurecimento crescente da
incredulidade dos habitantes da terra, ao rechaçar a mensagem do evangelho do
cavaleiro do cavalo branco. Sua morte espiritual será selada finalmente na
morte eterna quando receberem a "ira do Cordeiro" durante o sexto
selo (Apoc. 6:15-17).
Embora haja uma progressão histórica, os selos refletem a
experiência de todos os que aceitam ou rechaçam o evangelho de Cristo. Isso
significa que a história pode repetir-se e que o passado outra vez pode chegar
a ser o futuro. Ellen White faz esta aplicação pastoral do terceiro e quarto
selo:
"Hoje se vê o mesmo espírito que o que está
representado em Apocalipse 6:6-8. A história se repetirá. O que foi, voltará a
ser. Este espírito trabalha para confundir e desconcertar. Ver-se-á dissensão
em cada nação, tribo, língua, e povo; e os que não tiveram um espírito para
seguir a luz que Deus deu por meio de seus oráculos viventes, através de suas
agências assinaladas, chegarão a confundir-se. Seu juízo revelará debilidade.
Na igreja se verão a desordem, a luta e a confusão".3
Em resumo, os cavaleiros apocalípticos dos selos 2 a 4
encontraram seu cumprimento da igreja pós-apostólica que se corrompeu, mas a
apostasia e a perseguição não estão limitadas à história passada. Como declara
Roy C. Naden: "Uma vez solto, cada cavalo contínua até a segunda
vinda".4
O Quinto Selo
"Quando ele abriu o quinto selo, vi, debaixo do altar,
as almas daqueles que tinham sido mortos por causa da palavra de Deus e por
causa do testemunho que sustentavam. Clamaram em grande voz, dizendo: Até
quando, ó Soberano Senhor, santo e verdadeiro, não julgas, nem vingas o nosso
sangue dos que habitam sobre a terra? Então, a cada um deles foi dada uma
vestidura branca, e lhes disseram que repousassem ainda por pouco tempo, até
que também se completasse o número dos seus conservos e seus irmãos que iam ser
mortos como igualmente eles foram" (Apoc. 6:9-11 ).
Esta imagem simbólica deve interpretar-se pela Escritura.
Jesus tinha anunciado que depois das revoltas políticas e os cataclismos
naturais, seus discípulos seriam perseguidos (ver Mat. 24:9-11, 21).
Depois de abrir o quinto selo, escuta-se o clamor para que
se faça justiça divina de todos os que morreram uma morte violenta "por
causa da palavra de Deus e por causa do testemunho que sustentavam" (Apoc.
6:9). Este clamor não sai de crentes vivos, e sim simbolicamente de suas
"almas" depois de ter sido derramado seu sangue, assim como no caso
de Abel, o primeiro mártir. Deus pediu contas a seu assassino com estas
palavras: "Que fizeste? A voz do sangue de teu irmão clama da terra a mim"
(Gên. 4:10). Isto nos ensina que o Criador nunca esquecerá seus filhos fiéis e
faz responsáveis a seus assassinos! Considera o lugar onde suas testemunhas
morreram como um "altar" onde foi derramado o sangue de seu
sacrifício (cf. Lev. 4:7). De igual maneira, Paulo considerou que sua iminente
decapitação pela ordem do imperador Nero, era uma morte como sacrifício a Deus
(2 Tim. 4:6).
A visão do quinto selo serve como um paralelo esclarecedor
de pisotear e pisar os santos que aparece nas visões do Daniel (Dan. 7-12). A
visão do Daniel 7 se estende dos impérios mundiais sucessivos, através da
divisão de Roma, até o surgimento do chifre pequeno e a perseguição dos santos
durante a Idade Média, até o tempo do fim com a cena de seu juízo majestoso na
sala do trono de Deus. Naquele tempo, o "Ancião de dias" pronunciará
seu veredicto em favor dos santos (v. 22).
O significado do quinto selo deve ser aberto com a chave de
Daniel. Especialmente a visão de Daniel da prevaricação assoladora e do pisar
dos verdadeiros adoradores aparece no antecedente do quinto selo. O clamor dos
mártires: "Até quando... não julgas, nem vingas o nosso sangue"
(Apoc. 6:10), corresponde ao mesmo clamor em Daniel 8: "Até quando durará
a visão...entregando o santuário e o exército para serem pisoteados?" (v. 13).
O quinto selo revela que o momento para a vindicação deve
esperar "um pouco de tempo", porque incluso não chegou a perseguição
do tempo do fim. A resposta de Deus à pergunta das testemunhas assassinadas em
Apocalipse 6 é: "Então, a cada um deles foi dada uma vestidura branca, e
lhes disseram que repousassem ainda por pouco tempo..." (v. 11). As
vestimentas brancas dadas aos mártires expressam o cumprimento da predição de
Daniel de uma vindicação forense dos santos caluniados (ver Dan. 7:22, 25).
Isto dá segurança ao povo de Deus de que ele cuida deles,
ouve seu clamor por justiça divina e os vindicará publicamente. Esta
consideração leva à conclusão de que o quinto selo alcança até o fim da era
cristã, quando Deus executará seus juízos com respeito aos santos e seus
perseguidores (Apoc. 11:15, 18). O clamor dos mártires cristãos evoca "a
ira do Cordeiro" sobre os que mataram os seguidores de Cristo.
A Palavra de Deus e o Testemunho de Jesus
Antes de passar ao sexto selo, devemos prestar atenção à causa
declarada pela qual morreram todos os verdadeiros mártires. O quinto selo diz
que morreram "por causa da palavra de Deus e por causa testemunho que
sustentavam" (Apoc. 6:9). À primeira vista, podemos pensar que o
"testemunho" que tinham se refere ao testemunho pessoal de sua fé em
Cristo e na palavra de Deus. Isto certamente é verdade. Mas uma comparação com
as referências cruzadas que há no Apocalipse indica que "o
testemunho" pelo qual deram sua vida foi o testemunho da própria revelação
de Jesus, transmitida pelo Espírito de profecia através dos apóstolos (ver
19:10).
João usa usualmente o termo "testemunho" para
referir-se ao testemunho dado pelo próprio Jesus. O próprio livro do Apocalipse
é chamado "o testemunho destas coisas [de Jesus] nas igrejas" (Apoc.
22:16). João escreve que estava na ilha de Patmos "por causa da palavra de
Deus e o testemunho de Jesus Cristo" (1:9). Isto indica que o sentido mais
amplo da frase "o testemunho de Jesus Cristo" é "o evangelho
como a revelação da vida e obra de Cristo".5 Isto significa que os
Evangelhos do Novo Testamento estão incluídos no testemunho de Jesus.
O Apocalipse se abre com a declaração que continua a
revelação que Deus deu a Jesus para a igreja (Apoc. 1:1). Portanto, no
Apocalipse, João dá testemunho sobre "a palavra de Deus e o testemunho de
Jesus Cristo" (v. 2). O Apocalipse como um todo, junto com a proclamação
do evangelho do Novo Testamento é parte do testemunho de Jesus. Identifica a
igreja remanescente que aparece na profecia do capítulo 12 por esta dupla
característica: "Os que guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho
de Jesus Cristo" (v. 17). O Apocalipse chama à igreja a ser fiel a esta
dupla norma da verdade. Esta expressão repetida no livro do Apocalipse serve
como uma linha de demarcação entre a adoração verdadeira e falsa de Deus
durante toda a era cristã (ver 20:4). Dentro deste amplo contexto chega a ser
claro que os mártires durante a era cristã sofreram uma morte violenta por
causa de ter mantido a palavra de Deus e do testemunho do Jesus (6:9). Os
mártires se aferraram [éijon] ao testemunho que tinham recebido de Jesus e
dessa forma foram testemunhas fiéis. "Aceitaram-no, recusaram renunciar a
ele, e por conseguinte foram executados. O 'testemunho' não menos que a 'palavra'
era uma posse objetiva dos mártires".6 Para um estudo mais amplo do termo
apocalíptico "o testemunho de Jesus", ver mais adiante, no capítulo
XXI desta obra, sobre Apocalipse 12:17.
Hans K.
LaRondelle
Referências
1.
Beasley-Murray, Revelation, p. 129.
2. Ellen White,
PP 78.
3. Ellen White, Carta 65, 1898; citado em Simpósio sobre o
Apocalipse, t. 1, pp. 371, 372.
4. Naden,
The Lamb Among the Beasts. Finding Jesus in the Book of Revelation, p. 110.
5. Pfandl, Simpósio sobre o Apocalipse, t. 2, P. 310.
6. Ibid.,
p. 313.
7. Knight,
Matthew. Bible Amplifier, p. 237.
6º e 7º SELO
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