Nossa primeira tarefa para interpretar as sete últimas pragas é considerá-las dentro do seu contexto imediato e do seu contexto mais amplo. A visão do santuário de Apocalipse 15 explica a sua origem sobrenatural: são enviadas da sala do trono no céu e expressam a fidelidade de Deus. As pragas não são forças cegas ou catástrofes naturais. A sua importância crucial chega a ser evidente quando sabemos que constituem a "ira de Deus" na advertência da mensagem do terceiro anjo.
"Seguiu-se a estes outro anjo, o terceiro, dizendo, em grande voz: Se alguém adora a besta e a sua imagem e recebe a sua marca na fronte ou sobre a mão, também esse beberá do vinho da cólera de Deus, preparado, sem mistura, do cálice da sua ira, e será atormentado com fogo e enxofre, diante dos santos anjos e na presença do Cordeiro" (Apoc. 14:9, 10).
O Enfoque Contextual
A mensagem de admoestação identifica a ira de Deus com a ira do Cordeiro. A sua manifestação aterrorizará os ímpios quando terminar o tempo de graça (Apoc. 6:16, 17). Apocalipse 16 desdobra a ira do Cordeiro como as sete últimas pragas. Estas pragas também são o cumprimento do pisar simbólico da "vinha da terra" no " grande lagar da ira de Deus" de Apocalipse 14:19 e 20. Por conseguinte, ao denominar-se "últimas pragas" (15:1) devem comparar-se com os outros juízos anteriores de Deus nos selos e nas trombetas (caps. 6, 8 e 9). A dramática intensificação sobre os juízos preliminares aparece em sua globalização. Entretanto, a diferença teológica é a natureza e o propósito das últimas pragas.
Enquanto os selos e as trombetas objetivam o despertar ao arrependimento em uma igreja apóstata e no mundo, e dessa maneira cumprem um propósito misericordioso, as últimas pragas caem sobre um mundo impenitente depois do fim do tempo de graça, quando o destino eterno de cada um foi selado no santuário celestial (Apoc. 15:8; 16:1; 22:11).
O propósito das últimas pragas é executar o veredicto de Deus sobre seus inimigos, para resgatar os seguidores de Cristo das mãos de seus opressores. Um comentário alemão declara: "Em certo momento indicado, Deus termina sua demora e intervém rapidamente e com caráter concludente. É o objetivo dos juízos das pragas. Quando terminam se anuncia: 'Feito está' (vs. 16, 17)".1 As últimas pragas servem como a substância da sétima trombeta. Isto requer uma breve recapitulação da origem de todos os juízos messiânicos no Apocalipse.
Origem Celestial dos Juízos messiânicos
Os selos, as trombetas e as últimas pragas todas são enviadas do santuário celestial (Apoc. 5; 8:3-5; 15:5-8). Estes três septenários estão precedidos por uma visão dos santos vitoriosos no reino dos céus (5:9, 10; 7:9-17; 15:2-4). Este arranjo literário mostra que o interesse primário dos juízos de Deus é a salvação de seu povo. Ao mesmo tempo, ele é o Deus de justiça que "não se deixa escarnecer" (Gál. 6:7). Este duplo aspecto do caráter santo de Deus: a sua justiça salvífica e sua justiça punitiva, já tinham sido reveladas a Moisés (ver Êxo. 34:6, 7). As suas ameaças são tão confiáveis e reais como suas promessas (ver Apoc. 22:18, 19). Ambas as manifestações da justiça divina se originam no Senhor ressuscitado (cap. 5).
A composição literária do Apocalipse mostra que as pragas seguem depois do último chamado ao arrependimento (Apoc. 14:6-12) e depois do selamento dos santos (7:1-4). Os juízos culminam na batalha do "Armagedom" quer dizer, na destruição de Babilónia (16:13-19). Os capítulos 17 a 19 constituem a explicação detalhada da queda de Babilónia (ver o cap. XXX desta obra).
Os Tipos do Antigo Testamento Prefiguram a Proteção Divina
Alguns comentadores assumem que os seguidores de Cristo serão arrebatados ao céu antes que comecem a derramarem-se as pragas, de maneira que não serão afetados pela ira de Deus. Mas a hipótese de um arrebatamento não está apoiado por uma exegese bem feita. A analogia das pragas com as pragas que caíram antes sobre o Egito mostra que Israel permaneceu na terra de Gósen de maneira que Faraó pudesse ver a "diferencia entre os egípcios e os israelitas" (Êxo. 11:7; 8:22, 23). Israel inclusive participou desta distinção colocando o sangue do cordeiro pascal como "um sinal" sobre os batentes de suas casas: "Quando eu vir o sangue, passarei por vós, e não haverá entre vós praga destruidora, quando eu ferir a terra do Egito" (Êxo. 12:13).
Também o povo de Deus do tempo do fim é chamado a separar-se de "Babilónia" e unir-se a Cristo, "para que não sejam partícipes de seus pecados, nem recebam parte de suas pragas" (Apoc. 18:4; 14:1). Assim como o Israel da antiguidade foi protegido pelo "sinal" do sangue, assim o Israel do tempo do fim será protegido por um selo especial do Deus vivente, que os anjos de Deus colocarão na fronte de cada um dos escolhidos (Apoc. 7:3; 14:1).
Outro paralelo está na visão do Ezequiel, sobre o selamento do remanescente fiel de Jerusalém. O selo de Deus garantia sua preservação. Assim acontecerá com o antítipo!2
As Pragas Dão Começo ao Dia do Senhor
A teologia popular identifica o "dia do Senhor" com o segundo advento de Cristo. O Apocalipse inclui a guerra do Armagedom em "aquele grande dia do Deus Todo-poderoso" (Apoc. 16:14). A esse "grande dia" ele o chama o dia de sua ira ou o dia da vingança de Deus (Isa. 34:8; Sof. 2:2; Apoc. 6:17). O dia da ira de Deus começa com as sete últimas pragas (ver Apoc. 15:1; 6:17). Quando as sete taças de ouro estejam cheias da ira de Deus, "ninguém podia entrar no templo até que fossem cumpridas as sete pragas dos sete anjos" (15:7, 8).
Como o tempo de graça termina ao iniciar-se as sete últimas pragas, o fim do tempo de graça pode identificar-se com o tempo no qual "se levantará Miguel, o grande príncipe, o defensor dos filhos do teu povo". Depois que se levante, "haverá tempo de angústia, qual nunca houve, desde que houve nação até àquele temp" (Dan. 12:1).
O dia do Senhor terminará quando os céus e a terra sejam purificados por fogo e quando se estabelecer um novo céu e uma nova terra como a morada dos justos (ver 2 Ped. 3:10-13), promessa que se realizará no fim do milénio (ver Apoc. 21:1-5).
A extensão completa do dia do Senhor pode representar-se no seguinte diagrama:3
O Motivo das Pragas do Êxodo
Parece que existe um consenso universal de que o motivo básico do Apocalipse é o motivo do êxodo. A descrição de Cristo como o cordeiro pascal, prepara o cenário para a igreja como o povo do novo êxodo. Quando os anciões cantam, "com o teu sangue compraste para Deus homens" (Apoc. 5:9), unem o motivo do cordeiro pascal com o tema do êxodo. Desde o começo, o Apocalipse chama a igreja de Cristo um "reino de sacerdotes" (1:5, 6). O "novo cântico" dos anciões espera com interesse um êxodo mais espectacular no futuro, o da igreja triunfante, "e reinarão sobre a terra" (5:10). Este panorama futuro se desenvolve na visão da nova terra e da Nova Jerusalém (caps. 21 e 22).
A sétima trombeta declara: "O reino do mundo se tornou de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará pelos séculos dos séculos" (Apoc. 11:15). Esse reino futuro de Deus e de Cristo será precedido pelas sete pragas últimas, porque a terra ainda está dominada por um opressor "o Egito" ou "Babilónia".
A realidade histórica das pragas e do êxodo conseguinte da igreja depende do poder do Messias e do mérito de sua morte como Cordeiro pascal. Só ele é digno de "abrir o livro e desatar seus sete selos" (Apoc. 5:5) e realizar a bem-aventurada esperança. Em nenhum lugar do Apocalipse se usa a tipologia do êxodo em forma mais explícita e sistemática que nas sete pragas.
O propósito das últimas pragas corresponde essencialmente ao das 10 pragas que caíram sobre o Egito nos tempos de Moisés: revelar a justiça de Deus ao subjugar e eliminar o perseguidor. Ambas as libertações do povo de Deus, a passada e a futura, são manifestações da fidelidade do mesmo Deus do pacto. Já Apocalipse 15 começa a conectar ambas as séries de pragas. João vê os que tinham alcançado a vitória sobre a besta e sua imagem estar em pé "no mar" ["junto ao mar", RC; "sobre o mar", BJ; "na margem", NBE] de vidro que parecia de cor vermelha ("misturado com fogo", RC), em outras palavras, estavam em pé ao lado de um "mar vermelho" (Apoc. 15:2). Em segundo lugar, tinham harpas e cantavam "o cântico de Moisés, servo de Deus, e o cântico do Cordeiro..." (vs. 2, 3). O cantar "o cântico de Moisés" volta a representar o tema da libertação do cântico de Moisés em Êxodo 15.
O cântico de Moisés louva a intervenção dramática de Deus como uma manifestação de seu reino: "O Senhor reinará por todo o sempre" (Êxo. 15:18, 11 ). Este ato histórico de liberação por parte do Deus de Israel constitui o tipo de todas as seguintes guerras santas do Senhor. Cantou Moisés: "Jeová é varão de guerra; Jeová é seu nome" (v. 3).
João exalta a Cristo como o único que trará uma libertação maior que a que trouxe Moisés. O Israel do tempo do fim cantará "o cântico de Moisés servo de Deus, e o cântico do Cordeiro" (Apoc. 15:3). Cristo levará a cabo uma libertação eterna e universal para o remanescente fiel no fim da era cristã. Serão sacados de uma forma sobrenatural do anticristo atacante, do qual Faraó foi só uma pálida antecipação.
Uma referência adicional aos dias de Moisés é a nota deliberada de João com respeito ao templo no céu, que é "o templo do tabernáculo do testemunho" (Apoc. 15:5; cf. Êxo. 38:21). Esta expressão centra a atenção sobre o "testemunho" ou a santa lei de Deus, que se guardava no "arca do testemunho" (ver Êxo. 40:3, 20, 21; Deut, 10:2; 1 Reis 8:9; cf. Heb. 9:4). Este foco de atenção apocalíptico sobre a lei de Deus dentro de seu templo celestial é apropriado em vista do conflito final do povo de Deus com o anticristo idólatra (ver acima, sobre o Apoc. 13:15-17). Em Apocalipse 15:5 se volta a enfatizar a fidelidade aos "mandamentos de Deus" (ver também Apoc. 11:19). Os "mandamentos de Deus" em Apocalipse 12:17 e 14:12 estão identificados como o Decálogo dentro do "tabernáculo do testemunho" de Israel, o que é de importância suprema para a última geração do povo de Deus.
Finalmente, o anúncio de que o templo no céu "encheu-se de fumaça pela glória de Deus, e por seu poder", de maneira que ninguém podia entrar (Apoc. 15:8), aponta para trás à vinda da presença de Deus como Redentor e Juiz (Êxo. 40:34, 35; 1 Reis 8:10, 11). Beasley-Murray aponta a este duplo significado:
"A dualidade do êxodo como juízo e redenção se mantém nos capítulos 15 e 16 [do Apocalipse], e para assegurar que o leitor entende isto, coloca-se primeiro o elemento positivo da redenção".4
João não inverte a ordem histórica em Apocalipse 15 e 16 como se colocasse as pragas (cap. 16) depois da libertação de Israel (cap. 15). João coloca a certeza da redenção do êxodo frente a Apocalipse 15 como o propósito de sua mensagem apocalíptica. Está impressionado pela segurança de que o povo de Deus do tempo do fim cantará porque foi livrado de seus opressores por meio do poder de Cristo:
"E entoavam o cântico de Moisés, servo de Deus, e o cântico do Cordeiro, dizendo: Grandes e admiráveis são as tuas obras, Senhor Deus, Todo-Poderoso! Justos e verdadeiros são os teus caminhos, ó Rei das nações! Quem não temerá e não glorificará o teu nome, ó Senhor? Pois só tu és santo; por isso, todas as nações virão e adorarão diante de ti, porque os teus atos de justiça se fizeram manifestos" (Apoc. 15:3, 4).
João revela esta manifestação final da justiça de Deus em Apocalipse 16. Elmer M. Rusten tirou este paralelo:
"Assim como o exército do Egito foi culpado no aquoso juízo de Deus e foi afogado (Êxo. 14:26-30 ), assim o anticristo e seus seguidores em Apocalipse 15 estão a ponto de ser culpados no juízo final da ira de Deus (Apoc. 16)".5
Cristo assegura a seus seguidores que sua fidelidade a ele, quer dizer, fidelidade aos mandamentos de Deus e ao testemunho de Jesus, será honrada ao resgatá-los na hora de sua necessidade suprema. O cântico de vitória em Apocalipse 15 será cantado depois que as pragas hajam dissolvido o "Império Babilónico". Apocalipse 15 não garante a expectativa popular de que cada mártir cantará o cântico da vitória no céu, isolado dos outros, porque todos os vencedores cantarão juntos ao mesmo tempo, assim como Israel cantou o cântico de Moisés depois de sua libertação como povo. Em realidade, todos os mártires da era cristã triunfarão juntos (ver Apoc. 6:9-11; 7:9-17). O fato de que o cântico de Moisés e do Cordeiro está composto de citações de Moisés (Êxo. 15; Deut. 32:4), dos salmos (Sal. 86:9; 110:2; 145:17) e dos profetas (Amós 4:13; Jer. 10:7), demonstra que o cântico futuro do povo de Cristo é a "revelação genuína de um Deus e de um Espírito, e o testemunho de uma fé".6
O cântico não enumera suas próprias virtudes. Louva a santidade, a justiça e a soberania de Deus, louvor que é o propósito final do plano de redenção e da história da salvação. Semelhante exaltação de Cristo é significativa, especialmente em vista da aparente vitória da besta sobre todos os que moram na terra e que se dobraram e adoraram o anticristo (Apoc. 13:4, 8, 12). Quando a igreja fizer frente à ameaça de morte dos poderes de plantão, deve recordar o cântico futuro sobre o mar de vidro diante do trono de Deus.
O Propósito Moral da Ira de Deus
A expressão apocalíptica "a ira [orgué] de Deus" necessita uma atenção cuidadosa, porque foi mal-entendida por intérpretes bem-intencionados. A frase é usada 375 vezes no Antigo Testamento,7 e permanece como uma característica essencial no evangelho no Novo Testamento e em sua perspectiva profética (Mat. 3:7; João 3:36; Rom. 1:18; 2:5-8; 5:8-11; Apoc. 6:16, 17).
Moisés revelou que o Deus de Israel era "tardio para a ira, e grande em misericórdia" mas que "ao culpado não tem por inocente" (Êxo. 34:6, 7; Núm. 14:18). Moisés interpretou a ira de Deus como uma ira santa, livre de qualquer imperfeição humana. Só despertava sua ira para opor-se ao pecado e se irava em grande maneira para castigar a rebelião contra a vontade soberana de Deus (2 Reis 17:16-18; 2 Crón. 36:16; Dan. 9:4-16).
A proclamação da ira de Deus e sua justiça retributiva não está em conflito com seu amor. Ao contrário, o reconhecimento da santa ira de Deus contra o pecado cria uma nova apreciação de sua misericórdia para todos os objetos de sua ira (Ef. 2:3; 5:6; Rom. 5:8-10). A ira de Deus é tão real como o é o amor de Deus.
Os 7 juízos punitivos de Apocalipse 16 não são explosões vingativas de um Deus ofendido, e sim a demonstração bem ordenada das maldições finais do pacto, destinadas para um povo do pacto que persiste na apostasia. Já em Levítico 26, Deus tinha admoestado a Israel que sua idolatria ininterrupta e o rechaço voluntário de sua Torah suscitaria um castigo séptuple, até mesmo uma guerra santa de Jeová contra o povo rebelde (Lev. 26:18, 21, 24, 28-33)! J. M. Ford inclusive conta exatamente sete castigos em Levítico 26:18-34.8 Mas, qual é a intenção do derramamento de sua ira "sem diluir" durante as últimas pragas se já não provocam mais arrependimento?
Em primeiro lugar, as pragas objetivam despertar o reconhecimento de que Babilónia se tem oposto ao Criador com sua imposição da marca da besta, sua adoração da imagem da besta e sua proscrição dos que rechaçam a marca. Entretanto, a reação de Babilónia é o oposto: amaldiçoa a Deus e recusa arrepender-se e glorificá-l´O (Apoc. 16:9, 11, 21). Esta reação demonstra a hostilidade de Babilónia contra Deus e seu povo.
Esta tríplice repetição enfatiza o misterioso endurecimento do coração, até mais obstinado que o de Faraó da antiguidade, o que revela a incapacidade espantosa do homem para chegar ao arrependimento por si mesmo. Heinrich Kraf assinalou que "a continuação obstinada do pecado se castiga a si mesmo, porque obstrui seu próprio caminho ao arrependimento".9 Os ímpios imputam a Deus o mal que lhes sobrevém, e o amaldiçoam como se fosse um tirano (Apoc. 16:9, 11). Nessa forma, mostram seu rechaço do amor de Deus e de seu sacrifício expiatório. Por este ato, Babilónia se condenará a si mesmo e se declarará perdida. As pragas têm o propósito de revelar os corações e as obras do homem em sua atitude para com Cristo. Os juízos correspondem à perseguição que Babilónia mesma escolheu. Babilónia sofrerá as consequências do que tem feito. É julgada de acordo com suas obras.
O Apropriado dos Sete Juízos das Pragas
Vestidos como Cristo o Sumo Sacerdote (Apoc. 15:6), os sete anjos têm as sete taças de ouro que já não estão cheios de incenso, como as que tinham levado antes os 24 anciões "cheias de incenso, que são as orações dos santos" (5:8). Agora os anjos usam as taças para derramar "a ira de Deus" (15:7). E. Schüssler Fiorenza assinala o apropriado desta resposta divina, e diz:
"As taças com as pragas são uma resposta à oração e o protesto dos cristãos por justiça. Também são uma advertência para os cristãos e os não cristãos por igual, para que não cheguem a ser membros da comunidade do culto imperial".10
Assim como as pragas das quatro primeiras trombetas em Apocalipse 8:7-12, as primeiras pragas se derramam igualmente sobre a terra (16:2), sobre o mar (v. 3), sobre os rios e as fontes das águas (v. 4) e sobre o sol (v. 8). Entretanto, os castigos finais seguem com uma severidade e um ritmo mais rápido. Toda a terra chega a ser como o antigo "Egito", quer dizer, o opressor do Israel de Deus.
1. A primeira praga de "úlceras malignas e perniciosas" afeta a todos os "portadores da marca da besta e adoradores da sua imagem" (Apoc. 16:2). Isto demonstra que o povo de Deus não sofrerá esta praga nem nenhuma seguinte! Alguns vêem o apropriado desta praga em uma marca externa com úlceras malignas sobre os que têm a marca da besta,
2. A segunda praga converte o mar "em sangue como de morto" (Apoc. 16:3), o que causa a destruição de uma grande porção da criação para a humanidade e mostra indubitavelmente "o dedo" de um Criador ofendido. O "sangue" das pragas apocalípticas mostra a condenação divina pelo derramamento de sangue dos mártires. O anjo explica: "Porquanto derramaram sangue de santos e de profetas, também sangue lhes tens dado a beber; são dignos disso" (v. 6).
3. A terceira praga converte os rios e as fontes das águas em sangue (Apoc. 16:4). Agora a água para os homens beberem se converte em uma maldição. De acordo com a última mensagem de admoestação de Deus, os moradores da terra recusaram reconhecer ao Criador do mar e das fontes das águas (14:7). A terceira praga é uma resposta adequada para os que têm feito caso omisso de Deus como a fonte e o sustentador da vida humana. Os anjos "das águas" e o do "altar" no céu, respondem com louvores ao santo, e dizem: "Tu és justo, oh Senhor" (16:5, 7). É evidente que estas pragas seguem-se uma à outra em rápida sucessão e em um tempo muito curto, porque do contrário ninguém sobreviveria às três primeiras pragas.
4. A quarta praga compara-se com a quarta trombeta em que afeta o sol, embora já não a "terça parte do sol" (Apoc. 8:12). Um calor que chamusca fará que os homens amaldiçoem o nome de Deus, porque "nem se arrependeram para lhe darem glória" (16:9). O contraste chega a ser evidente. Enquanto vozes celestiais louvam a Deus por seus juízos finais (vs. 5-7), vozes terrestres o amaldiçoam por seus juízos. Esta reação indica quão obstinados e endurecidos chegaram a ser os adoradores da besta contra aquele que "tem poder sobre estas pragas" (v. 9). É uma atitude similar à que mostrou o Egito da antiguidade durante as pragas nos dias de Moisés. Quando as pessoas recusam persistentemente arrepender-se, chega o momento quando já não podem arrepender-se!
5. A quinta praga é derramada "sobre o trono da besta, cujo reino se tornou em trevas" (Apoc. 16:10). Esta praga é similar à nona praga de Moisés, quando o Egito ficou coberto por uma escuridão total durante três dias. "Não viram uns aos outros, e ninguém se levantou do seu lugar por três dias; porém todos os filhos de Israel tinham luz nas suas habitações" (Êxo. 10:23). Durante a quinta praga, o "reino" da besta será paralisado por uma escuridão sobrenatural e impenetrável, um veredicto celestial apropriado para os que rechaçaram a Cristo como a luz do mundo e "amaram mais as trevas do que a luz" (João 3:19).
O reino da besta será mundial, porque se estende a todos os povos e nações (Apoc. 13:8; 14:8). Em vez de reconhecer seu pecado, amaldiçoam a Deus "por causa das angústias e das úlceras que sofriam" (16:11). Evidentemente as pragas finais caem rapidamente sobre a mesma geração, porque as úlceras que se produzem durante a primeira praga continuam sob a quinta. Ouvimos o estribilho: "Não se arrependeram de suas obras" (v. 11). Beasley-Murray explica isto de uma maneira perspicaz:
"Por conseguinte, os que amaldiçoam a Deus por seus juízos são os obstinados. A marca da besta em seus corpos penetrou suas almas, instilando neles a hostilidade para com Deus e sua santidade, que é característico da própria besta".11
Razão Básica para Aplicar a Descrição das Pragas
Existe confusão com respeito à hermenêutica de aplicar as pragas de Apocalipse 15 e 16 a realidades históricas futuras. Devem aplicar-se literalmente ou em forma figurada? Alguns têm tratado de uma ou outra maneira, sem ter verdadeira satisfação. A chave para decifrar o Apocalipse não é a aplicação rígida do literalismo ou do alegorismo. Do começo até o fim, este livro apocalíptico tece juntas a linguagem simbólica e a literal numa tela (ver Apoc. 1:16; 22:14, 17). Em Apocalipse 12, a "mulher" de Deus dá à luz "um filho varão, que regerá com vara de ferro a todas as nações" (v. 5). Aqui a linguagem figurada e a literal se mesclam para transmitir a mensagem com suficiente clareza. Esta clareza chega ao considerar o grande contexto da Escritura e a aplicação da história da salvação no idioma dos profetas. A "mulher" em Apocalipse 12 é simbólica porque esse símbolo foi empregado por Isaías, Ezequiel e outros para designar ao povo do Deus do pacto (ver o cap. XXI desta obra, sobre o Apoc. 12). O "filho varão" é uma clara referência ao Messias prometido (ver Isa. 9:6).
Este exemplo mostra que não se deve criar sua própria pauta simplesmente por deliberação em conseguir uma consistência abstrata. A Escritura deve dirigir o caminho para as aplicações de sua linguagem apocalíptica. Com respeito às últimas pragas devemos falar tentativamente, porque ainda não se cumpriram. Entretanto, é prudente dizer que as 7 pragas são todas literais ou juízos históricos de Deus, embora sua descrição está mais ou menos em imagens simbólicas. A primeira e a quinta descrevem os objetos da ira de Deus em termos simbólicos, como os que tinham "a marca da besta e adoravam sua imagem" ou "sobre o trono da besta" (Apoc. 16:2, 10). A sexta e a sétima pragas descrevem seus objetos como "o grande rio Eufrates" e "a grande Babilónia" (vs. 12, 19). De novo o contexto da Escritura indica um uso simbólico da história da salvação de Israel, para cumprir-se em um antítipo histórico maior no tempo do fim. A questão é determinar se os efeitos históricos das pragas se descrevem em linguagem alegórica ou literal. É interessante que Uriah Smith insistiu que sua interpretação das duas últimas pragas também reconheciam juízos "literais":
"Estas pragas, de acordo com a mesma natureza do caso, devem ser manifestações de ira e juízos contra os homens... Tudo o que recalcamos é que os castigos resultantes de cada taça tem caráter literal. No caso da sexta praga é assim como com todas as demais, embora as organizações que sofrem estes juízos podem ser apresentadas em forma simbólica".12
Entretanto, a base lógica decisiva para a aplicação das pragas é seu significado teológico. Roy Naden aplica seu ponto de vista cristológico das últimas pragas para os que rechaçam a Cristo como o Cordeiro de Deus:
"Os que rechaçam a Cristo experimentarão as consequências inevitáveis do pecado, e ao lhes faltar um substituto, experimentarão pessoalmente a ira de Deus nas sete últimas pragas. Este é o significado primário de Apocalipse 16".13
O Motivo do Êxodo nas Últimas Pragas
É essencial entender o caráter pactual de todas as pragas. O motivo do êxodo que une todos os juízos das pragas, serve ao propósito elevado da libertação do Israel oprimido. O caráter das pragas como maldições do pacto chega a ser evidente quando se reconhece a relação tipológica das pragas finais com as dez pragas do Egito.
Não menos importante foi o ato de Deus da "guerra santa" para libertar o seu povo do exército perseguidor do Egito: o repentino secamento do Mar Vermelho. Faraó e seus oficiais reconheceram as pragas do Egito como o "dedo de Deus" (Êxo. 8:19), devido a que eram os opressores dos israelitas (10:7). As últimas pragas agitam a consciência do mundo para o seu mau trato dos seguidores de Cristo, o que finalmente é obtido pela sexta e a sétima pragas. Estas últimas pragas proporcionam a libertação do êxodo do Israel de Deus. Surpreendentemente, as sete pragas, as últimas, não estão modeladas segundo as pragas egípcias e sim segundo a queda histórica do Império Babilónico.
Os Juízos da Sexta e da Sétima Taças
A sexta taça é derramada sobre "o grande rio Eufrates; e a sua água secou-se, para que se preparasse o caminho dos reis do Oriente" (Apoc. 16:12). Durante o juízo da sétima praga, "a grande Babilônia" é destruída (vs. 17-19). Obviamente, o Eufrates é o rio de Babilónia (ver Jer. 51:63, 64). Seu "secamento" súbito aponta para trás, à sequência histórica na história de Israel: o repentino secamento do Eufrates, seguido pela queda de Babilónia e a chegada dos reis do oriente. Isto requer uma reconstrução cuidadosa da queda do Império Neo - babilónico como foi predita por Isaías (caps. 44-47) e Jeremias (caps. 50 e 51). Isaías já tinha empregado o êxodo de Israel do Egito como um tipo do êxodo de Israel de Babilónia. Assegurou-lhes que Deus voltaria a secar uma vez mais as águas que formavam um obstáculo para a volta de Israel à terra prometida:
"O Senhor destruirá totalmente o braço do mar do Egito, e com a força do seu vento moverá a mão contra o Eufrates, e, ferindo-o, dividi-lo-á em sete canais, de sorte que qualquer o atravessará de sandálias" (Isa. 11:15; ver o v. 16).
O secamento do Eufrates demonstra o juízo de Deus sobre Babilónia! Resultou em sua queda repentina e assim "preparou o caminho" para a libertação de Israel do cativeiro de Babilônia.14
O Apocalipse transforma a história antiga da queda de Babilónia, por meio do secamento das águas do Eufrates, em um tipo profético para a era da igreja. Assim como Jeová e seu povo do pacto estavam situados no centro da queda de Babilónia, assim Cristo e seu povo do novo pacto estarão situados no centro da queda da Babilónia moderna. A história de salvação de Israel será cumprida pela igreja de Cristo como seu antítipo. Para compreender esta grandiosa tipologia, devemos explicar a função que desempenhou cada parte:
1. Babilónia se desempenhou como o opressor de Israel.
2. O Eufrates era uma parte integral de Babilónia, que a protegia e por isso era hostil para com Israel.
3. O secamento do Eufrates indicava o juízo de Deus sobre Babilónia, causando sua queda súbita. Cumpriu o papel de preparar a libertação de Israel.
4. Ciro e seus reis aliados de Média e Pérsia (Jer. 50:41; 51:11, 28) chegaram a Babilónia como os "reis do oriente" profetizados para cumprir o propósito de Deus. Foram os inimigos de Babilónia e os libertadores de Israel. Ciro foi "ungido" pelo Senhor para derrotar Babilónia e para libertar Israel (Isa. 45:1).
5. Daniel e o Israel de Deus constituíam o povo do pacto de Deus, fiel e arrependido, dentro de Babilónia (ver Dan. 9).
Estas caracterizações teológicas são os elementos essenciais da queda de Babilónia. No livro do Apocalipse, Babilónia representa ao arqui-inimigo de Cristo e de sua igreja. No tempo do fim, tanto Babilónia como Israel serão universais; o campo de ação territorial de cada um será mundial. O evangelho se prega explicitamente "a toda nação, tribo, língua e povo" (Apoc. 14:6). Esta quádrupla ênfase acentua sua extensão universal. O anúncio seguinte na mensagem do segundo anjo, "caiu, caiu a grande Babilónia", apoia-se no fato de que "tem dado a beber a todas as nações do vinho da fúria da sua prostituição" (v. 8). Finalmente, todo mundo chegou a estar sob seu feitiço,
Em harmonia com este alcance mundial de Babilónia, o anjo de Apocalipse 17 aplica ao rio de Babilónia, o Eufrates, uma extensão mundial: "Povos, multidões, nações e línguas" (v. 15). Os que insistem em que o Eufrates apocalíptico representa só as pessoas que vivem na localização geográfica do Eufrates, estão obrigados a seguir a mesma interpretação com Babilónia, Israel, o monte Sião, etc. Estes intérpretes falham em captar o caráter cristocêntrico da tipologia bíblica. O evangelho de Jesus Cristo nos liberta das restrições do literalismo étnico e geográfico durante a era cristã.
O Papel Explicativo de Apocalipse 17
A aplicação universal do Eufrates que o anjo faz em Apocalipse 17 serve-nos para evitar que demos ao rio de Babilónia uma conotação com o Oriente Médio. Onde quer que Deus secou um corpo de água literal ou um "dilúvio" de inimigos na história de Israel como o Mar Vermelho, ou o rio Jordão, ou a inundação dos invasores dos povos do Eufrates (Isa. 8:7, 8) –, sempre indicou um juízo providencial sobre os inimigos do povo de Deus. O secamento do grande rio de Babilónia durante a sexta futura praga (Apoc. 16:12) –, não será uma excepção!
Este juízo divino põe-se em marcha quando os governantes políticos e as multidões de todas as nações se dêem conta de repente da condenação de Deus sobre Babilónia e retirem o apoio que davam a Babilónia. Darão a volta e converterão seu apoio leal a Babilônia em um ódio ativo que a destruirá:
"E os dez chifres que viste na besta são os que aborrecerão a prostituta, e a porão desolada e nua, e comerão a sua carne, e a queimarão no fogo" (Apoc. 17:16).
Isto dá como resultado a repentina dissolução de Babilónia que na providência de Deus destruirá Babilónia. Apocalipse 17 nos proporciona uma explicação dramática da sexta e a sétima pragas de Apocalipse 16.
A Visão do Armagedom: Apocalipse 16:13-16
"Então, vi sair da boca do dragão, da boca da besta e da boca do falso profeta três espíritos imundos semelhantes a rãs; porque eles são espíritos de demônios, operadores de sinais, e se dirigem aos reis do mundo inteiro com o fim de ajuntá-los para a peleja do grande Dia do Deus Todo-Poderoso... Então, os ajuntaram no lugar que em hebraico se chama Armagedom" (Apoc. 16:13, 14, 16).
A visão intermediária não é uma parte da sexta praga. Mas bem explica as forças que operam no transfundo das sete últimas pragas. Alguns tiraram precipitadamente a conclusão de que estas palavras predizem uma guerra mundial entre os blocos de nações do Oriente e Ocidente. Uma especulação assim surge só quando separamos as palavras da Escritura de suas raízes e contextos bíblicos. Não se apresenta aqui nenhuma guerra entre as nações. A culminação do Apocalipse de João trata com um mal muito mais sério à vista de Deus: as forças religiosas apóstatas conduzirão a todos os poderes da terra a unir-se em uma causa comum, fazendo guerra contra o povo de Deus! Aqui está a trama assassina da última guerra demoníaca no Apocalipse. Aqui está a causa do mal que desencadeará a participação dramática de Deus, o juízo de sua guerra santa contra Babilônia.
Guerrear contra Deus é fazer guerra contra o povo de Deus, o que foi a experiência de Israel na Escritura e a razão pela qual Deus interveio para libertar o seu povo. O fato de que o povo de Cristo se encontre no centro da batalha apocalíptica pode inferir-se já da advertência de Cristo: "Eis que venho como ladrão. Bem-aventurado aquele que vigia e guarda as suas vestes, para que não ande nu, e não se vejam as suas vergonhas" (Apoc. 16:15). Este conselho do Messias é uma verdade sempre presente para a igreja, e entretanto tem uma urgência especial para o povo remanescente. Deve caminhar na armadura de sua justiça por meio de uma fé viva (ver 3:18).
Ao que parece, os santos inclusive não foram arrebatados ao céu durante as sete pragas. O contrário é a verdade. Desempenharão um papel ativo no conflito final, porque a guerra universal contra Deus toma a forma de uma guerra contra os seguidores do Cordeiro! Precisam estar alerta à tríplice mensagem de Apocalipse 14, com seu evangelho eterno e o testemunho de Jesus. A igreja de Sardes foi despertada com estas palavras: "Pois se não velar, virei sobre ti como ladrão, e não saberás a que hora sobre ti virei " (Apoc. 3:3).
Beasley-Murray coloca o conselho de Cristo em sua perspectiva adequada quando diz: "É precisamente porque os seguidores do anticristo não estão alertas a Deus e a seu evangelho, que para eles o dia de Deus é um dia de condenação em vez de ser um dia de redenção".15
Em resumo, o panorama profético das últimas pragas em Apocalipse 15 e 16 tem o propósito de revelar o plano ordenado de antemão por Deus para o triunfo de seus fiéis. O Deus de Israel intervirá mediante sua libertação messiânica mais espetacular em toda a história. Anulará a determinação de Babilónia de exterminar o Israel de Deus por meio de sua intervenção dramática na quinta praga. Este juízo envolverá repentinamente a todas as multidões atacantes com uma escuridão sobrenatural impenetrável (Apoc. 16:10). Este sinal não só deterá instantaneamente os perseguidores, mas também despertará as multidões enganadas a dar-se conta de sua rebelião contra seu próprio Criador! Como consequência, deixam de apoiar Babilónia. Uma retirada tão abrupta da lealdade a Babilónia por parte de todos os povos e nações é o que está representado na sexta praga pelo repentino "secamento das águas" de Babilónia, o Eufrates (v. 12). Esta mudança abrupta de sua lealdade a Babilónia, a sua destruição, é o que o anjo explica nos capítulos seguintes, do 17 ao 19.
A Sétima Praga em sua Recapitulação Preliminar:
Apocalipse 16:17-21
"Então, derramou o sétimo anjo a sua taça pelo ar, e saiu grande voz do santuário, do lado do trono, dizendo: Feito está! E sobrevieram relâmpagos, vozes e trovões, e ocorreu grande terremoto, como nunca houve igual desde que há gente sobre a terra; tal foi o terremoto, forte e grande. E a grande cidade se dividiu em três partes, e caíram as cidades das nações. E lembrou-se Deus da grande Babilónia para dar-lhe o cálice do vinho do furor da sua ira. Todas as ilhas fugiram, e os montes não foram achados; também desabou do céu sobre os homens grande saraivada, com pedras que pesavam cerca de um talento; e, por causa do flagelo da chuva de pedras, os homens blasfemaram de Deus, porquanto o seu flagelo era sobremodo grande" (Apoc. 16:17-21).
O derramamento da sétima praga "no ar" é ordenada por uma "grande voz" que sai do trono no templo no céu, declarando: Feito está! (Apoc. 16:17). Isto significa que Deus mesmo completa esta praga de juízo como a culminação de uma ação litúrgica celestial, que corresponde com a predição da retribuição divina do templo celestial anunciada por Isaías: "Voz de Jeová que dá o pagamento a seus inimigos" (66:6). A sétima praga é de uma importância e um impacto tão dramáticos que os capítulos 17 a 19 desenvolvem adicionalmente esta taça de juízo sobre Babilónia (ver Apoc. 16:19; 18:6; 19:2, 17-21). A última das pragas se introduz por meio dos sinais cósmicos que acompanham tradicionalmente a guerra santa de Jeová contra os opressores de seu povo: relâmpagos, trovões e um "grande terremoto" (16:18).
O "terremoto" desempenhava um papel distintivo nas teofanias do Antigo Testamento e no panorama apocalíptico do dia do Senhor (ver Êxo. 19:18; Sal. 68:8; 77:17, 18; 114; Isa. 64:3; Hab. 3). Um terremoto universal é parte da guerra santa de Deus (Isa. 13:13; 24:18-23; 34:4; Joel 2:10). Em seu artigo pioneiro, "O terremoto escatológico", Richard Bauckhan declara:
"A identificação da teofania escatológica como uma nova teofania do Sinai pertence à interpretação da história da salvação dos apocalipticistas, segundo o qual os atos redentores de Deus no futuro se descrevem sobre o modelo de seus atos passados".16
O terremoto sem precedentes da sétima praga não é um sinal preliminar do dia do juízo e sim uma parte do juízo de Deus sobre a própria Babilónia (ver Apoc. 16:18). A voz de Deus que fez estremecer o Sinai, de novo fará estremecer os céus e a terra quando vier para julgar (ver Heb. 12:25-29). João tinha mencionado este terremoto cósmico em seu sexto selo (Apoc. 6:12) e na sétima trombeta (11:19).
Enquanto João acrescentou "grande saraivada" na sétima trombeta (Apoc. 11:19), agora dá mais explicações sobre o "grande saraivada, com pedras que pesavam cerca de um talento" [uns 40 quilos] (Apoc. 16:21). Esta característica final conecta a sétima praga com o juízo de Gogue no tempo do fim, de que falou Ezequiel, quando Gogue ataque o Israel de Deus. Deste modo Ezequiel declarou que o juízo de Deus sobre Gogue será uma manifestação da "ira" divina (Ezeq. 38:18). Também descreveu a guerra de Jeová com característicos de uma teofania tormentosa, terremoto e saraiva, tudo o que se corresponde com Apocalipse 16:17-21.
O apóstolo João escreveu de maneira explícita:
"E a grande cidade se dividiu em três partes, e caíram as cidades das nações. E lembrou-se Deus da grande Babilónia para dar-lhe o cálice do vinho do furor da sua ira" (Apoc. 16:19).
O cálice "do vinho do furor de sua ira" é uma metáfora distintiva em Apocalipse 14:8-10; 16:19; 17:2, 4, 6 e 18:3 e 6, e está apoiada na linguagem profética dos oráculos hebraicos contra os arqui-inimigos de Israel (ver Jer. 25:15, 16; 51:7) e inclusive contra uma rebelde Jerusalém (Isa. 51:17)! Por isso, o "cálice" ou a taça do vinho da ira de Deus significa juízo divino sobre uma Jerusalém apóstata. Jean Pierre Ruiz captou o significado básico desta metáfora e expressa nestas palavras:
"Ao usar a metáfora profética da taça, João mostra que foi virado o omelete sobre a grande Babilónia. É-lhe dado a beber da mesma taça que ela mesma tinha preparado (18:6), a taça de ouro cheia das abominações e da imundície de sua fornicação (17:4) com a qual embriagou as nações e a seus reis (14:8; 17:2; 18:3). Por isso, ela deve beber a taça do vinho da vingança da ira de Deus".17
Enquanto Babilónia, como uma Jerusalém apóstata, é obrigada a "beber" do "cálice" que contém a santa vingança de Deus pelo sangue de seus servos (Apoc. 19:2), os santos, ao contrário, são convidados à "ceia das bodas do Cordeiro!" (V. 9).
O propósito mais elevado do plano de Deus de eliminar a velha criação (Apoc. 16:20) pode ver-se no movimento progressivo do Apocalipse: do colapso de Babilónia até a descida da Nova Jerusalém, o pináculo da nova criação (21:1, 2). Dessa maneira, todos os olhos estão cada vez mais cravados na cidade de Deus em contraste com "as cidades das nações" (16:19).
Hans K. LaRondelle
Referências
1 Pohl, Die Offenbarung des Johannes [O Apocalipse de João], p. 148.
2 Para um estudo mais detalhado das últimas pragas, ver LaRondelle, "Contextual Approach to the Seven Last Plagues" [Enfoque contextual às sete últimas pragas], Simpósio sobre o Apocalipse, T. 2, cap. 3.
3 Para um estudo do "dia do Senhor" e das "últimas pragas" na Escritura e nos escritos da Ellen White, ver W. E. Read, "The Great Controversy" [O grande conflito], Our Firm Foundation [Nosso Firme Fundamento] (Washington D. C., Review and Herald, 1953; 2 ts.), t-II, pp. 239-319 (especialmente as pp. 265-268).
4 Beasley-Murray, Revelation, p. 233.
5 Rusten, A Critical Evaluation of Dispensational Interpretations of the Book of Revelation, t. 2, p. 531.
6 Pohl, Die Offenbarung des Johannes [O Apocalipse de João], p. 150.
7 G. Kittel, Diccionario teológico del Nuevo Testamento, t. 5, p. 395.
8 J. M. Ford, Revelation, p. 255.
9 Kraft, Die Offenbarung des Johannes [O Apocalipse de João], p. 207.
10 Schüssler Fiorenza, Invitation to the Book of Revelation, p. 157.
11 Beasley-Murray, Revelation, p. 243.
12 Smith, Las profecías de Daniel y el Apocalipsis, t.2: El Apocalipsis., pp. 692, 694.
13 Naden, The Lamb Among the Beasts. Finding Jesus in the Book of Revelation, p. 234.
14 Para uma análise em profundidade, ver LaRondelle, "Armageddon: Sixth and Seventh Plagues" [Armagedom: A sexta e a sétima pragas], Simpósio sobre o Apocalipse, t 2 cap. 12 ver também seu livro Chariots of Salvation. The Biblical Drama of Armageddon.
15 Beasley-Murray, Revelation, 245.
16 Bauckham, The Climax of Prophecy. Studies on the Book of Revelation, p. 201.
17 Ruiz, Ezekiel in the Apocalypse: The Transformation of Prophetic Language in Apocalypsis 16, 17-19:10, p. 276.
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