quarta-feira, 27 de abril de 2011

SEXTO DIA: O HOMEM DO PECADO, O FILHO DA PERDIÇÃO (II Tessalonicenses 2)

Vamos examinar algo que não se encontra directamente, nem nos escritos do profeta Daniel nem no livro do Apocalipse, mas que está relacionado com o tema em causa. Apercebemo-nos que existe um elemento comum a todos os escritos proféticos, ou seja, a figura do chifre pequeno que persegue, implacavelmente, o povo de Deus. Aqui iremos analisar uma profecia que se enquadra no que já vimos até aqui, ou seja, a actividade do chifre pequeno.
Nos escritos do apóstolo S. Paulo esta entidade não tem este nome, mas um outro, ou seja – o homem do pecado. Vejamos o que o apóstolo Paulo escreveu acerca deste assunto. Quando é que Paulo escreveu o que se encontra em II Tess. 2.1-9? Qual é o último poder que governará o mundo antes que Cristo venha e que será destruído nesta mesma ocasião? Como já analisámos até aqui, é o chifre pequeno em conluio com a besta. Este poder que S. Paulo descreve é o mesmo que o chifre pequeno e a besta, não somente pelas suas características que iremos evidenciar, como também porque o apóstolo S. Paulo disse que este poder será destruído no momento no momento da 2ª vinda de Cristo. Se “o homem do pecado” irá ser destruído quando Cristo voltar, então é porque é o ultimo poder que governará o mundo. O poder que estava a dominar o mundo na época de S. Paulo era o Império romano. Isto quer dizer que, o que o apóstolo descreve encontra-se no futuro, O apóstolo S. Paulo está a viver sob o poder simbolizado pelo dragão – Roma. Isto quer dizer que, o que ele escreveu deverá acontecer depois do dragão, Roma. Para que possamos compreender perfeitamente - II Tess. 2.1-9 – temos que ter presente o seu contexto que se encontra na Iª carta aos Tessalonicenses – a 2ª vinda de Cristo.
I- Introdução
Vejamos então o texto que se encontra em I Tess. 4.15-17: - “Dizemo-vos, pois, isto, pela palavra do Senhor: que nós, os que ficarmos vivos para a vinda do Senhor, não precederemos os que dormem. Porque
o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles, nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor” – I Tess. 4.15-17. Numa primeira abordagem, que impressão este texto provoca em cada um de nós? Parece que a vinda de Cristo iria acontecer no seu tempo. Assim, no capítulo seguinte dá-nos a conhecer que, quando alguns ouviram esta notícia deixaram de trabalhar; pois se Cristo está aí, às portas, para quê trabalhar? O resultado desta maneira de ver não consentânea com a realidade, fez com que, no seio da Igreja, se encontrasse um grupo de pessoas ociosas.
Ele está a dizer o que, na verdade, acontecerá no momento da 2ª vinda de Jesus Cristo, pois se tal ocorresse hoje, diz ele, uns e outros, vivos e ressuscitados seriam arrebatados a encontrar o Senhor nos ares. Sabemos, que o que Paulo aqui escreveu não era o reflexo temporal da sua crença na vinda de Cristo, isto é, para os seus dias. E a prova do que estamos a afirmar a encontramos na sua 2ª epístola aos mesmos destinatários. Aqui - 2.1-9 – o apóstolo retoma e precisa, colocando por ordem o que deverá acontecer, historicamente falando, antes que ocorra tal glorioso acontecimento. É por esta razão também que esta 2ª carta é mais curta, visto que o mais importante já tinha sido dito à comunidade de Tessalónica. Acrescente-se, por uma questão de curiosidade, que estas duas epístolas foram os primeiros escritos a serem escritos no Novo Testamento, portanto, antes dos evangelhos, apesar de não terem sido inseridas, no Cânone, antes dos evangelhos.318
II- Uma explicação
Vejamos, então, o que S. Paulo escreveu para corrigir todo e qualquer mal-entendido que a 1ª epístola pudesse ter suscitado aos seus destinatários. Assim sendo, analisemos o conteúdo da II Tess. 2.1-9.
Vejamos o v. 1,2: - “Ora, irmãos, rogo-vos, pela vinda de nosso Senhor Jesus Cristo e pela nossa reunião com ele. Que não vos movais facilmente do vosso entendimento, nem vos perturbeis, quer por espírito, quer por palavra, quer por epístola, como de nós, como se o dia de Cristo estivesse já perto.”. Aqui, o apóstolo menciona alguns perigos a evitar acerca deste assunto; ele começa por dizer: 1- “não vos movais (…) quer por espírito” - ou seja, se alguém disser que tem qualquer mensagem profética a corroborar a eminente vinda de Cristo, não creiais; 2- “nem por palavra” – isto é, que alguém se possa apresentar a vós, dizendo que o apóstolo Paulo disse isto ou aquilo; 3- “nem por epístola” - com se tivesse algum escrito da minha parte, a corroborar tal ideia, de que a vinda de Cristo esteja já aí. Como corolário deste v. 2, o que está a ser vinculado é que este grande acontecimento, que tanto aguardamos, ainda está muito longe, não para os nossos dias, disse ele.
Voltamos a ver o que já analisámos até aqui, nomeadamente em Dan. 7 e Apoc. 13. O Império romano foi o último que governou. Sendo este o último, será que foi substituído? Segundo Dan. 2 e Apoc. 13, profeticamente falando, podemos ver em cena um poder, não essencialmente político, curiosamente, mas, acima de tudo, religioso. Na verdade, apercebemo-nos, em primeiro lugar, da existência de um período de existência governativa de 1260 anos exercido pelo poder emergente, após Roma, mas com as mesmas características identificativas deste poder – o chifre pequeno. Logo após a vigência deste período longo de actuação político-religiosa do chifre pequeno sobre toda a religiosidade europeia, somos informados que, a dado momento, surge um outro poder insignificante, de início, ou seja “a terra que ajuda a mulher” – para onde se refugiaram todos aqueles que queriam louvar Deus em total liberdade. Profeticamente falando, a Bíblia fala-nos não só do poder que conheceu o seu ocaso no final deste longo período de 1260 governação misturada com opressão religiosa, como também que esta ferida, ou seja, este interregno de exercício de poder, a seu tempo, seria curada e o poder restabelecido. Vimos também, no profeta Daniel que este mesmo poder conheceria, definitivamente, o seu ocaso resultante da 2ª vinda do Senhor Jesus a esta Terra, num tempo profético preciso, ainda que desconhecido. Aqui, o apóstolo está a dizer que, segundo a análise da sua época, esta vinda do Senhor, ainda que certa, não seria para a sua época, nos seus dias, expressando-se, desta forma aos crentes de Tessalónica: - “Ninguém, de maneira alguma vos engane; porque não será assim sem que antes venha a apostasia e se manifeste o homem do pecado, o filho da perdição” – II Tess. 2.3. Iremos considerar algumas particularidades mencionadas neste texto que mostram claramente que o tempo do apóstolo não era aquele em que teria lugar o grande acontecimento de toda a cristandade – a volta de Jesus.
1- A apostasia – v. 3
Muitas vezes a profecia é mal interpretada porque o intérprete esquece o enquadramento histórico, ou seja, se este tempo histórico se enquadra, se cumpre o quanto o profeta está a dizer. Sob que império Paulo escreve? O de Roma, não é verdade. Apesar de se encontrar no último Império à face desta Terra, pois não haveria outro, mesmo assim, o apóstolo é peremptório ao afirmar que Cristo não viria a este mundo sem que, antecipadamente, acontecesse algumas coisas, entre as quais, a primeira delas, um grande marco religioso – a apostasia! Repare-se, desde já que esta é bem precisa, pois o apóstolo não fala de – uma apostasia qualquer ocorrida aqui ou ali -, mas refere, isso sim, com toda a firmeza e convicção – “apostasia”. E, à luz do que já vimos, de que apostasia se tratará? Que período lhe está subjacente? Segundo a profecia, este marco apontado por S. Paulo apontava para o poder subjacente a Roma, ou seja – o chifre pequeno/a besta. A vinda de Cristo está ligada, segundo o texto, ao prévio aparecimento de uma apostasia bem precisa e específica.
Afinal, o que significa a palavra – apostasia? Será que, em boa verdade, podemos qualificar de – ateu – alguém que nunca quis nada com Deus ou com a Igreja? Pensamos que não, porque ao fazê-lo estamos a ser incoerentes! Porquê? Pela simples razão que, racionalmente falando, como é que o ser humano poderá negar algo ou a existência de uma entidade que, simplesmente, não existe? Será que, quando nos mostram uma mão vazia e nos dizem que nela está uma bola, será que, racionalmente, repetimos, ousaremos negar a existência da mesma naquele lugar? Continuamos a crer que não! Que nos seja permitida a abertura de um breve parêntesis: - a Bíblia utiliza outra imagem, mais forte e mais coerente, racionalmente falando. Assim, quando o ser humano, provido de inteligência, negar o que não existe, ou ao contrário, aquele que persistir em negar o que, embora não seja perceptível pelos órgãos da visão, mas que é clara a evidência da sua existência, a Palavra de Deus, dizíamos, só tem uma resposta desprovida de floriados e artifícios humanos, chamando a este, não - ateu – mas, simplesmente: – insensato, néscio - Salmo 14.1; 53.1. A Palavra de Deus utiliza várias palavras para caracterizar esta situação humana. O livro por excelência na explicação do termo – insensato – é o livro de Provérbios. Aqui, nestes dois textos, em particular (Salmo 14.1; 53.1), encontramos a palavra – Nabal - que pode ter significados similares: estupidez, obstinação, teimosia. Curiosamente, encontramos a mesma palavra, onde ela é definida e traduzida na sua máxima expressão e significado. O contexto onde esta foi aplicada, foi quando David, fugitivo do rei Saúl (1º rei de Israel), envia homens seus, a um povoado, para solicitar a um homem rico, víveres para si e para os homens que o acompanhavam – “(…) era este homem mui poderoso e tinha 3.000 ovelhas e 1.000 cabras” - I Sam. 25.2. Este homem recusa-se a atender o pedido de David (v. 11). Este enche-se de ira e, com alguns dos seus homens apronta-se para castigar aquele homem (v.13). Entretanto, a mulher deste fazendeiro – Abigail (v.14) - intervém e, à revelia do marido, propõe-se executar o pedido feito por David, para evitar o pior – “200, pães, 2 odres de vinho, 5 ovelhas guisadas, 5 medidas de trigo tostado, 100 cachos de passas e 200 pastas de figos passados” - v.18- um pouco do muito das suas posses. Mas o mais interessante deste episódio é a maneira como ela define o seu marido; ora vejamos como ela se expressou a David: - “Meu senhor, agora não faça este homem de Belial (confusão), impressão no seu coração, porque tal é ele qual é o seu nome. Nabal é o seu nome, e a loucura está com ele; e eu, tua serva, não vi os mancebos de meu senhor, que enviaste” – v. 25.
Retomando o texto: - dizíamos que a apostasia, a que fala o apóstolo S. Paulo, ela caracteriza e explica a atitude de alguém que é religioso, que professa a religião verdadeira, os princípios bíblicos, e que, a dado momento, os abandona – cf. Ef. 4.14; Heb. 10.25. A apostasia de que fala o apóstolo será algo de profundo no seu significado, na medida em que, como foi aflorado, esta reveste um carácter de excepção. A mesma situação que demonstra a mesma preocupação em enfatizar uma situação bem precisa, é aplicada no livro do Apocalipse quando são abordadas algumas características dos juntos no tempo do fim, quando é dito que estes salvos saíram, a sua fé foi refinada num contexto de provação bem preciso e específico. Vejamos, para nos situarmos, o texto do Apocalipse refere que: - “E eu disse-lhe: - Senhor, tu sabes. E ele disse-me: estes são os que vieram de grande tribulação e lavaram os seus vestidos e os branquearam no sangue do Cordeiro” - Apo. 7.14 (sublinhado nosso). À luz da tradução podemos supor que estes passaram, na verdade, por um período de tribulação, difícil. Só que esta tradução não traduz, de modo algum, a força da situação que o vidente de Patmos quis transmitir, ao dizer, simplesmente: - “(…) vieram de grande tribulação (…)”. No original encontramos algo de diferente, uma outra força comunicada ao texto; nele está escrito: - “(…) vieram da tribulação, opressão, a grande”. Como tudo muda! Não é, como se poderia imaginar, uma situação de opressão ou de tribulação comum ou vulgar, mas a fase aqui descrita é a mais obscura e terrível de todas ela é a tribulação das tribulações, aquela que João chama: – “a grande”. Mas, em boa verdade, só assim estaremos em uníssono com o quanto o apóstolo João quis comunicar a todos aqueles que o lessem para que tomassem consciência de que esta tribulação era, não uma qualquer, mas, verdadeiramente – a grande.
2- “(…) e se manifeste (…)” – v. 3
Esta última palavra vem do termo grego apocalupsis que também significa: revelação. Esta é a primeira palavra com que começa o último livro – Apoc. 1.1 - e, ao mesmo tempo, lhe dá o nome – Apocalipse. Assim sendo, se estamos perante uma revelação, logicamente que o seu contrário será – ocultar, esconder. Na época de Paulo este poder não estava revelado, mas oculto; estava a começar a germinar para que, a seu tempo, se pudesse manifestar, para o cumprimento cabal da profecia.
3- O homem do pecado – v. 3
O chifre pequeno nos textos de – Dan.7; Apoc. 13 e II Tess 2 – é evidenciado como um poder, exclusivamente, humano. Em Dan. 7 é referido que este poder tem “olhos de homem” – v. 8. Esta particularidade – olhos – na Palavra de Deus, representam sabedoria. Por outras palavras, este sistema aqui representado, depende exclusivamente da sua sabedoria, a humana. Em Apoc. 13, a besta, por ser a mesma entidade, tem algo inerente ao humano, pois ali é dito que esta tem “o número de um homem” – v. 18. E qual é o número deste homem? Sem dúvida que é um número ligado ao - 6 - porque, neste dia da criação – o 6º- o ser humano foi criado.
Afinal, quando invocamos a palavra – pecado – o que é que compreendemos da mesma? Para melhor compreendermos o que queremos dizer, partamos da causa - (o acto produzido - a transgressão), para o efeito - (o pecado, a resultante). Vejamos o que nos diz a Palavra de Deus, em sentido inverso, pois parte do efeito para a causa, a saber: - “(…) porque o pecado é iniquidade” – I João 3.4; assim sendo, temos aqui a causa, (o acto produzido – a transgressão) - que é apresentada e traduzida pela palavra – iniquidade – a qual, por sua vez, traduz a palavra grega – anomia, (anomós) – I João 3.4. Assim sendo, esta causa, ou seja, o acto produzido - a transgressão -, produz, por sua vez, um mal-estar, o qual solicita um acto de perdão não devido a um estado de espírito, mas unicamente devido a algo cometido que o provoca. Tal assim é que o transgressor “não pode declarar ou confessar a não ser um acto cometido, não um estado de impureza”. Se existe um acto cometido que é traduzido, como vimos por – iniquidade – em conotação com a entidade transgredida – a lei – como é que, para a cristandade em geral, após a cruz já não se tem que guardar, observar a lei de Deus, pois o cristão, após este grandioso acontecimento de Redenção, já não está sob a lei, mas sob a graça? Mas, como poderemos da graça divina, em Cristo Jesus sem que, antecipadamente tivéssemos tido e transgredido a lei deste mesmo Deus? Só podemos chegar a uma única conclusão - uma não existe sem a outra, por muito que nos esforcemos para ver o contrário!
Haverá algum paralelo entre o “homem do pecado” e o chifre pequeno? Este último, segundo o relato bíblico, o que pretendeu fazer? Segundo Dan. 7.25 o seu propósito era o de “mudar a lei”. Aqui, no texto que nos ocupa, o apóstolo Paulo mostra-nos que este “homem do pecado”, a exemplo do chifre pequeno, tem prazer na transgressão da lei; por esta razão poderíamos dizer o seu novo nome, sinónimo do anterior, ou seja, o transgressor da lei, visto que, como vimos acima, a palavra que traduz o pecado é – iniquidade ou transgressão da lei (anomias/anomós). Para ser considerado um transgressor da lei, contrariamente ao que poderíamos pensar, não é necessário transgredir toda a lei, basta negligenciar apenas um mandamento desta mesma lei – cf. Tiago 2.10 – pois tal como o texto enfatiza, ao transgredir num deles, o transgressor tornou-se “culpado de todos”. Porquê esta ressalva? A razão é simples. Porque alguns crêem e ensinam que a lei comporta unicamente 2 mandamentos: - 1º- amar ao Senhor sobre todas as coisas; 2º- amar ao próximo como a nós mesmos. Se assim fosse, o que deveríamos encontrar na epístola de Tiago não era aquele texto mas um que dissesse que, ao transgredirmos um, tornamo-nos culpados do “outro”! Mas não é isto que ele diz, mas sim, ao contrário – “de todos” – ou seja, dos restantes 9! O “homem do pecado”, efectivamente, não diz que irá atacar a lei de Deus (Dan. 7.25) é verdade, mas sim, que pensará “mudar a lei”.
Abramos aqui um parêntesis para falamos, uma vez mais, acerca do Sábado visto este ser um tema incontornável quando abordamos alguns temas, de uma forma mais profunda, a Palavra de Deus. Aliás, o Sábado está para a Palavra de Deus, assim como um verbo está para uma frase. Convenhamos que é muito difícil construir uma frase sem um verbo! Assim, dentro do muito que podemos dizer ou dissertar acerca do Sábado, gostaríamos de chamar a atenção para um par de situações que, a nosso ver, são de importância capital para o leitor moderno para quem, segundo certas mentalidades e conceitos, conta o “espírito” e não a “letra”. Poderá o “espírito” fortalecer-se, fazer opções se a dita “letra” for, como muitos desejam – letra morta? Na verdade, se for tirada a “letra”, o que permanecerá? Um amontoado de conceitos e preconceitos humanos, nada mais. Vejamos, a nível da “letra” do texto, o que esta tem para dizer.
a- No início da Bíblia podemos ver o relato da criação do mundo, em 6 dias, com tudo o que o compõe. Assim, nos primeiros três dias Deus deu forma à Criação; nos três dias restantes, Deus deu plenitude à forma. De seguida, é dito que Deus, apesar de já ter criado tudo, ainda irá voltar a criar mais um dia, um dia vazio de criação – um período de 24 horas – a que chamou, para dar continuidade ao criado até então, o 7º dia. Na versão dos LXX, no livro do Génesis, encontramos os dias da semana, desde o primeiro ao último, unicamente sob a numeração ordinal: do 1º ao 7º dia. Mas, este último dia da Criação comporta duas particularidades: 1ª- este foi o único dia da Criação ao qual Deus disse que era santo - o tempo - que revestia este dia; 2ª- do 1º ao 7º, este último foi o único ao qual Deus deu um nome – o Sábado – cf. Êx. 16.26; 20.8-11. Todos os demais, por não terem nome são mencionados por ordem de existência, mas sempre em referência a este 7º dia – o Sábado. Na septuaginta, assim como numa qualquer tradução do Novo Testamento, na nossa língua materna, encontramos os dias da semana grafados numa numeração ordinal, ou seja: - 1º, 2º, 3º dia da semana - nada mais. No entanto, no texto original do Antigo Testamento, os encontramos da forma que acabámos de descrever: dia 1º, dia 2º, dia 3º etc. – cf. Gén. 1.5,8,13, etc. No Novo Testamento encontramos algumas referências a alguns dias da semana, nomeadamente ao – 1º dia da semana e ao Sábado. Aqui, no Novo Testamento, encontramos esta mesma nomenclatura ordinal, só que acrescida da palavra – semana – o que dá: – 1º dia da semana - frase que aparece, unicamente, 8 vezes no Novo Testamento. Ora, vejamos qual palavra, no texto original, é traduzida por – semana:

Como podemos constatar, nas 8 ocorrências, no original, encontramos a palavra – sabbátou (sábado) ou sabbátôn (sábado). Portanto, a sucessão dos dias – 1º, 2º, 3º, etc - é contada em função do dia de Sábado. Isto quer dizer que, numa tradução mais literal do texto original teríamos: – no 1º dia do sábado – e não como vulgarmente encontramos: - no 1º dia da semana.
b- Este dia criado - o 7º - mereceu toda a atenção de Deus, apesar de só ter criado nele a entidade - tempo. O texto mostra-nos, não só que o Criador o “santificou”, como também nele “descansou” – Gén. 2.2,3. Nada mais sabemos a não ser isto mesmo. Na verdade, o que é que Deus está a querer transmitir ao leitor de todos as épocas e culturas? Será que o Criador, afinal, estava cansado, exausto? Se dúvidas houvesse, a Bíblica afirma categoricamente o contrário – Isaías 40.28. Assim sendo, compreende-se que a ênfase não é, obviamente, um hipotético “descanso” de Deus mas, ao fazer assim, estava a reforçar não só o significado do gesto, como também a preparar o caminho para a proclamação seguinte, ou seja, a “santificação” do tempo inerente a este dia 7º – um tempo de adoração e de reconhecimento ao Deus Criador.
c- Até aqui constatámos duas verdades: 1ª- na fase criativa, até ao seu final, nenhum dia da Criação tem nome, pelo menos de uma forma explícita; 2ª- que, nesta fase, seja detectável em qualquer dia da Criação, qualquer actividade relacional entre a criatura e o seu Criador.
d- Só mais à frente o leitor começa a perceber, em crescendo, o quanto os gestos que acabámos de ventilar, iniciados por Deus, inerentemente ao dia 7º significam. Posteriormente, após o povo de Deus ter sido libertado da escravatura do Egipto, em pleno deserto, já a caminho da terra prometida – Canaã – irá acontecer algo interessante. O povo começou a fomentar um certo mal-estar e descontentamento pela situação que estavam a viver. E, como sempre, o deus ventre está na origem de tantas e tantas desgraças. Aqui não foi excepção. Este povo queria estar bem alimentado e, com nostalgia, recordavam o passado, apesar da escravatura! Sim, recordavam “as panelas de carne” do Egipto, enquanto que ali estavam, segundo eles, “a morrer de fome” – Êxodo 16.3.
Deus iria resolver o problema enviando, em cada dia, uma comida diferente do quanto o povo tinha visto até ali – o maná. E também, pela 1ª vez, podemos constatar do vínculo existente, de uma forma oral, entre Deus e o Seu povo. Qual era este vínculo? Para já, unicamente, com o todo – a Sua lei. Assim se expressou Deus: – “ (…) farei chover pão dos céus e o povo sairá e colherá (…) para que eu veja se anda em minha lei ou não” – Êxodo 16.4. Agora, à medida que o texto se desenvolve, no v. 22 encontramos o cumprimento de uma ordem dada por Deus ao Seu povo – v. 5. De seguida, Moisés relembra que: - “amanhã é repouso, o santo sábado do Senhor” – v. 23. Ora, que dia é este representado pela palavra “amanhã”? Claro, o dia 7º - o que segue o anterior – o dia 6º. Aqui encontramos, pela 1ª vez a palavra – Sábado. Pela primeira vez é dado um nome a um dia no conjunto de 7, ao dia 7º – para o caracterizar e diferenciar de todos os demais dias. Se em relação às pessoas, “a essência de uma pessoa concentra-se no seu nome. Um homem sem nome é desprovido, não somente de significação, mas até de existência”333 certamente que, não será abusivo da nossa parte dizermos que, Deus ao dar um nome ao dia 7º, tinha em mente este mesmo propósito, ou seja, que ele tivesse um significado e existência própria.
Aqui encontrámos, como vimos algumas particularidades: 1ª- pela 1ª vez é dado um nome – o Sábado - a um dia da Criação – ao 7º; 2ª- pela 1ª vez é mencionada a relação e parte integrante do – dia 7º - da santa lei de Deus; 3ª- a lei de Deus é mencionado, oralmente, ou seja, antes da sua forma escrita que surge também, pela 1ª vez, por escrito, no monte Sinai; 4ª- como corolário de tudo isto, podemos perceber que esta lei, contrariamente ao que se poderia pensar, ela é anterior do Sinai, portanto, já existente desde o Éden, tal como o Senhor Jesus mais tarde o irá recordar, ao dizer que: - “O sábado foi feito por causa do homem e não o homem por causa do sábado” – Marcos 2.27.
e- Aqui é dito que para fazerem face a uma necessidade bem peculiar, o povo, segundo a ordem de Deus, podia - no dia 6º - “colher o dobro do que colhem cada dia” – Êxodo 16.5. Porquê em dobro se em cada dia até ao dia 5º assim não acontecia? O próprio texto explica a razão: - “porque no sábado do Senhor não o achareis no campo” – v. 25. E o que acontecia se, por mero acaso, alguém tivesse recolhido a mais do que a porção diária? Ela, simplesmente: 1- criava bichos; 2- cheirava mal – v. 20.
Mas, no cumprimento da ordem de Deus, tudo se processava de maneira diferente. Só neste acto de obediência em acatar a ordem de Deus, aconteciam 3 milagres: 1º- em cada dia 6º havia, contrariamente aos restantes dias – do 1º ao 5º - uma anormal chuva de pão do céu (maná), ou seja, em dobro – v. 5; 2º- apesar de ser em dobro, a colheita efectuada no dia 6º, visto nesta estar incluída a porção para o dia 7º, o maná recolhido a mais “não cheirou mal nem nele houve algum bicho” – v. 24; 3º- no dia 7º - o sábado - não havia qualquer chuva de pão do céu – maná – v. 26.
f- Como em tudo em que participa o humano, algo é discordante e dissonante. Deus irá insurgir-se contra a desobediência do Seu povo. Eles ainda não tinha compreendido que o que Deus ordenava e ordena na Sua santa Palavra era e é para levar a sério. A ordem de Deus era clara: - “seis dias o colhereis, mas o dia 7º é o sábado, nele não haverá” – v. 26. E aconteceu que “ao dia 7º, alguns do povo saíram para colher, mas não o acharam” – v. 27. Aquele dia 7º nada tinha de especial, pois era igual em termos de tempo, igual aos restantes. Na verdade, o que o tornava diferente era que Deus, nele tinha requerido obediência, para que neste tempo que Ele tinha descansado, abençoado e santificado – Génesis 2.2,3 – e que a criatura deveria obedecer ao quanto Deus tinha ordenado. Na verdade, a história repete-se, pois apesar da ordem de Deus, no passado, ao Seu povo para não saírem, infelizmente – “alguns do povo saíram para colher” – ainda hoje, teimosamente, alguns do povo de Deus, homens e mulheres, ditos cristãos, continuam, teimosamente, a sair, a desobedecer ao Deus Criador.
g- A peregrinação do povo continua e eis que chega ao monte Sinai – Êxodo 20. Aqui, como já aflorámos, acontece algo extraordinário – aqui Deus irá dar, por escrito, a Sua lei, aquela que S. Paulo chama de: - “santa; e o mandamento santo, justo e bom” – Romanos 7.12. Aqui, no Sinai, ficamos a saber qual o lugar que ocupa, na lei de Deus - o 4º mandamento – o que diz respeito ao dia 7º da semana – o Sábado;335 como também o porquê da sua inclusão na lei.
h- Neste contexto encontramos algumas curiosidades de extrema relevância, mas que a cristandade, em geral, não se apercebe. Vejamos: 1ª- contrariamente ao que poderíamos pensar, é o próprio Deus que a irá escrever pelo Seu próprio dedo (linguagem metafórica) – Êxodo 31.18; 2ª- nada desta lei é humano. Moisés, unicamente, limitou-se a estender a mão para a receber do próprio Deus. Assim sendo, este conjunto de leis morais – 10 mandamentos – é, erroneamente apelidada de – Lei mosaica; 3ª- não é, tão pouco, uma lei judaica, pela simples razão de que não existiam judeus; ela, no passado, foi outorgada a um povo anónimo e nos dias de hoje ela continua a ser extensiva a todo o anónimo que quiser engrossa o verdadeiro povo de Deus. Pois é esta lei e só ela que constitui o verdadeiro sinal de Deus, pois contém aquilo que distingue e diferencia o verdadeiro adorador – o 7º dia da semana – o Sábado – o 4º mandamento da lei de Deus – Êxodo 31.17; Ezequiel 20,12,20. Esta lei foi dada a todo o ser vivente, não só ao judeu, tal como nos mostra o sábio Salomão, ao dizer: - “(…) teme a Deus e guarda os seus mandamentos; porque este é o dever de todo o homem (Adam)” – Eclesiastes 12.13. Sim, de todo o Adão, de todo o ser vivente, tenha ele a nacionalidade que tiver.
j- Nesta lei, finalmente, encontramos o verdadeiro motivo da santificação deste dia 7º da semana - o Sábado: a)- o dia 7º da semana é o Sábado e não outro dia qualquer; b)- lembrar à criatura que, em cada ciclo de 6 dias de trabalho, precisa descansar – Marcos 2.27; c)- a razão pela qual Deus “descansou”, “abençoou” e “santificou”, pois só Ele pode criar um dia santo, por conseguinte, só Ele pode criar ou tornar uma pessoa santa. Ao obedecermos a Deus de uma forma voluntária, visto que o mandamento começa por “lembra-te” – Êxodo 20.8 – estamos a reconhecer não só que o dia 7º - o Sábado – é um dia especial, diferente dos demais, como, acima de tudo, reconhecemos, neste dia, que nele devemos adorá-lO, prestar-lhe culto, pois Ele é o único Deus Criador de tudo o que existe. Se assim não fizermos, ou seja, se procedermos fizermos tábua rasa da admoestação -“lembra-te” – então ficaremos sem perceber várias realidades capitais, a saber: 1ª- para que servirá o dia 7º? 2ª- qual a relação da criatura com o seu Criador? 3ª- quando e porquê o ser criado deverá louvar, adorar o Criador – num dia à escolha arbitrária da criatura ou no dia estipulado pelo Criador?
Por todas estas razões, tal como referimos inicialmente, parecem pequenos pormenores negligenciados pelo cristianismo, em geral, mas que são tremendamente importantes e de relevância extrema para a vida do verdadeiro cristão. Fechar parêntesis.
4- O filho da perdição – v. 3
Vemos aqui uma interessante característica deste poder emergente. Nada na Palavra de Deus é resultante de algum acaso fortuito, nada. Se esta expressão aqui se encontra é porque nos quer mostrar uma particularidade bem definida do poder em causa, ou seja, como veremos, se caracteriza alguém ligado às coisas do espírito ou se, pelo contrário, é uma personagem meramente política sem qualquer vínculo com a religião.
Esta expressão, em toda a Sagrada Escritura, só a encontramos duas vezes. Uma delas, é esta; a outra, vamos encontrá-la como parte constituinte do texto conhecido como a oração sacerdotal de Jesus em prol da unidade dos Seus discípulos. Devido a esta identificação extremamente importante e significativa somos imediatamente conduzidos ao círculo íntimo do Senhor Jesus, aqueles que com Ele privavam no dia-a-dia. Ora vejamos então a segunda referência bíblica: - “Estando eu com eles no mundo, guardava-os em teu nome. Tenho guardado aqueles que tu me deste, e nenhum deles se perdeu senão o filho da perdição, para que a Escritura se cumprisse” – João 17.12. Depois, um pouco antes da Ceia do Senhor, a refeição pascal, Jesus abre um pouco mais o véu acerca da Escritura que fala do amigo que trai, dizendo: - “Não falo de todos vós; eu bem sei os que tenho escolhido; mas, para que se cumpra a Escritura: O que come o pão comigo, levantou contra mim o seu calcanhar” – João 13.18. Afinal, de que parte das Escrituras está Cristo a citar? No tempo de Jesus esta “Escritura” era, na verdade, o Antigo Testamento. Vejamos então o que o Senhor Jesus cita para consolidar o que afirma: - “Até o meu próprio amigo íntimo em quem eu tanto confiava, que comia do meu pão, levantou contra mim o seu calcanhar” – Salmo 41.9; 55.12,13. Esta personagem aqui descrita é: 1º- “o meu próprio amigo íntimo”; 2º- por esta razão é alguém “em quem eu tanto confiava”; 3º- alguém “que comia do meu pão”; 4º- e no entanto “levantou contra mim o seu calcanhar”. Como um comportamento que se poderia esperar de um amigo, muda assim tão radicalmente?
Quem poderá ser este “amigo” aqui referido de uma forma velada? Jesus, na frase – “eu bem sei os que tenho escolhido” – João 13.18 - estava a referir-se a alguém que não tinha sido escolhido por Ele – Judas Iscariotes. Quem era Judas, e como podemos perceber o seu carácter? Vejamos como o Espírito de Profecia o descreve: - Enquanto Jesus estava a preparar os discípulos para a sua ordenação, um que não tinha sido chamado esforçou-se para ser contado entre eles. Foi Judas Iscariotes, que professava ser um seguidor de Cristo. Adiantou-se então, solicitando um lugar neste círculo mais íntimo de discípulos. Com grande veemência e aparente sinceridade, declarou:  Jesus nem o repeliu nem lhe deu as boas-vindas, mas proferiu apenas as tristes palavras: - Mateus 8.19,20. Judas acreditava que Jesus fosse o Messias; e, ao unir-se aos discípulos, esperava assegurar para si alta posição no novo reino. Com a declaração da Sua pobreza, Jesus quis tirar-lhe esta esperança. Os discípulos estavam ansiosos para que Judas se juntasse a eles. Tinha um ar dominador, era dotado de perspicácia e capacidade executiva e eles recomendaram-no a Jesus como pessoa que Lhe seria de grande utilidade no Seu trabalho. Ficaram surpreendidos por Ele o receber tão friamente”. Qual a razão para que os discípulos, na sua superficialidade pensassem desta maneira? Talvez pela maneira como encontramos descrito este episódio do evangelho de S. Mateus. Neste evangelho não é identificada a pessoa que se aproxima de Jesus a fazer tal sugestão, mas é-nos dada a conhecer a sua posição social – um escriba – uma pessoa muito bem situada na sociedade judaica.
As Sagradas Escrituras mostram-nos a trajectória de Judas. O contexto da manifestação desonesta de Judas passa-se no episódio passado no banquete em casa do fariseu Simão – Lucas 7.36-50; João 12.1-8 – quando Maria parte o vaso de alabastro contendo nardo puro, um perfume muito caro ungindo os pés do Senhor Jesus com ele – João 12.3. Ele critica o gesto dizendo: - “Por que não se vendeu este unguento por trezentos dinheiros e não se deu aos pobres? Ora ele (Judas) disse isto, não pelo cuidado que tivesse dos pobres, mas porque era ladrão, e tinha a bolsa, e tirava o que ali se lançava” – João 12.5,6. À luz do exposto na Palavra de Deus podemos compreender a reacção deste discípulo, pois “Judas era tesoureiro dos discípulos e do seu pequeno depósito subtraía dinheiro às escondidas para uso próprio (…). Judas não tinha coração para os pobres. Se se tivesse vendido o unguento de Maria, e o lucro caísse em seu poder, os pobres não teriam recebido benefício algum“. Judas professava amar e cuidar dos pobres e, no entanto, agia desta maneira. Judas, segundo o Espírito de Profecia “tinha em alto conceito a sua habilidade administrativa. Julgava-se, como economista, muito superior aos seus colegas e levara-os a considerá-lo da mesma maneira. Conquistara a sua confiança e exercia sobre eles grande influência. A sua declarada simpatia pelos pobres enganou-os (…)”.
Jesus sempre tratou Judas com deferência, mas o carácter deste foi-se degradando depois deste episódio. Na verdade “Se Jesus, porém, tivesse desmascarado Judas, isto teria sido apresentado como causa da traição. (…). O Salvador não o repreendeu e evitou assim dar-lhe desculpa para a sua traição. O olhar que Jesus lhe lançou, no entanto, convenceu Judas de que o Salvador tinha percebido a sua hipocrisia e lera o seu carácter baixo e desprezível. (…). Antes disto, o Salvador nunca lhe fizera uma censura directa. Agora, a reprimenda irritou-o. Decidiu vingar-se”. Tudo isto pesava no seu coração totalmente imperceptível aos restantes discípulos que tinham nele uma grande consideração, por isso “Judas era altamente considerado pelos discípulos e exercia sobre eles uma grande influência. Tinha em grande estima as suas próprias aptidões e considerava os seus irmãos como muito inferiores a si no discernimento e na capacidade. Pensava que eles não viam as suas oportunidades, nem se aproveitavam das circunstâncias. A igreja nunca prosperaria tendo como guias homens de vistas assim tão curtas. Pedro era impetuoso; agia sem pensar. João, que absorvia as verdades que saíam dos lábios de Jesus, era olhado por Judas como um fraco administrador. Mateus, cuja preparação o ensinara a ser correcto em tudo, era demasiado escrupuloso em questões de honestidade (…). Assim, Judas passava em revista todos os discípulos, e gabava-se de que a igreja se teria visto muitas vezes em dificuldades e apuros, se não fosse a sua capacidade como administrador”.345 Eis o retrato do seu verdadeiro carácter. E nos momentos derradeiros, no seio do grupo, quando, finalmente, Jesus lhe diz abertamente que se defina, dizendo-lhe: - “O que fazes, fá-lo depressa” – João 13.27 – ou seja, traí-lO e ultimar a venda do seu Senhor por 30 moedas de prata – Mateus 26.15. Estas palavras ouvidas pelos discípulos, segundo a serva do Senhor, para eles elas tinham uma única direcção, serviço ao próximo e nunca uma qualquer traição, quando diz a este propósito: - “(…) os discípulos pensaram que Ele lhe pedira que comprasse o que era preciso para a festa (Páscoa) ou que desse qualquer coisa aos pobres”. Caiu a máscara, finalmente.
Para melhor compreendermos as citações da serva do Senhor acerca de Judas, e o altamente questionável conceito humano acerca do quanto não passa de aparência, e sem querermos desvirtuar ou contradizer o exposto, que nos seja permitido abrir aqui um pequeno parêntesis. Aqui apresentamos, a seguir, um parecer empresarial, totalmente imaginário, acerca do perfil dos colaboradores de Jesus – os Seus discípulos – para a grande tarefa de anunciar o Reino de Deus. Este parecer especializado, qualquer empresa, nos nossos dias, faria para a atribuição de certas funções a determinados colaboradores. Eis a carta enviada:
Empresa do Jordão – Consultores
Rua Nova – Jerusalém
Ao:
Ex.mo Senhor;
Jesus (Filho de José)
Oficina de Carpintaria – Nazaré

Estimado Senhor;
Sentimo-nos gratos pelo relatório que nos enviou acerca dos doze homens que escolheu para ocuparem cargos directivos na Sua nova organização. Todos eles responderam aos testes que, oportunamente, lhes enviámos. Não só introduzimos esses resultados nos nossos computadores, como também marcámos entrevistas pessoais de cada um deles com os nossos psicólogos e consultores vocacionais. Junto remetemos-Lhe o perfil de cada um desses homens, e esperamos que V. Ex.a os examine cuidadosamente.
Como parte do nosso serviço, e a título de informação, fazemos-Lhe alguns comentários de ordem geral, como faria um revisor de contas. São o resultado das consultas que tivemos com os membros do nosso pessoal, e não implicam nenhuma despesa extra para si.
É opinião do nosso pessoal, que a maior parte dos Seus candidatos carece de preparação, de educação e de aptidões vocacionais para o tipo de empresa que V. Ex.ª está a lançar. Não fazem a menor ideia do que seja trabalhar em equipa. Recomendamos-Lhe que continue a procurar pessoas de experiência e de reconhecidas capacidades administrativas. Simão Pedro é emocionalmente instável e perde o domínio próprio facilmente. André não reúne quaisquer condições para ser dirigente. Os filhos de Zebedeu, Tiago e João, põem os seus interesses pessoais acima dos da companhia. Tomé mantém uma atitude de dúvida que poderia minar o moral do grupo. Lamentamos ter que dizer-Lhe Mateus está sob censura do Departamento de Ética Comercial de Jerusalém. Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu, têm inclinações radicais definidas, e ambos obtiveram pontuação muito elevada na escala maníaco-depressiva.
No entanto, um dos candidatos manifesta grandes possibilidades. É hábil e dispõe de recursos; dá-se bem com as pessoas; tem capacidade empresarial e conhece muita gente nas altas esferas. Está muito motivado, é ambicioso e responsável. Recomendamos-Lhe Judas Iscariotes como Seu administrador financeiro e como Seu braço direito. Quanto aos outros perfis, nada mais acrescentaremos.
Desejamos-Lhe os maiores êxitos na Sua nova empresa.
Sempre ao Seu dispor,
Empresa do Jordão - Consultores
Fechar parêntesis. Na verdade, o exemplo deste homem encerra grandes lições para o povo de Deus dos últimos dias. Este homem recebeu tudo o quanto os seus colegas receberam de Jesus – “O Salvador não repeliu Judas. Deu-lhe lugar entre os doze. Confiou-lhe a obra de evangelista. Dotou-o do poder de curar os doentes e expulsar demónios. Mas Judas nunca chegou a render-se inteiramente a Jesus. Não renunciou às suas ambições terrenas nem ao seu amor o dinheiro”.
Será que este discípulo enganou todos os restantes colegas? Na verdade permaneceu, até ao fim, no seio dos discípulos, camuflando sempre os seus propósitos. Na verdade o paralelo entre estes dois “filhos da perdição” não poderia ser mais profundo. Este poder descrito por S. Paulo na carta aos crentes de Tessalónica, não só irá apostatar e misturar-se com a política, como também terá uma postura semelhante a este discípulo. O que importa realçar desta comparação é que este Anticristo de II Tessalonicenses 2, não será um poder ateu que atacará Cristo ou a Igreja cristã, de fora para dentro, mas é alguém, um sistema que, ao contrário, professa ser cristão e que, a exemplo de Judas O irá trair.
Se analisarmos bem no que já vimos até aqui, inerentemente ao modo de actuação da besta, afinal, qual é o poder que a domina, que está a trabalhar nos bastidores, que está por trás de tudo quanto esta faz? A resposta é uma só – Satanás – o grande enganador, o grande inimigo de Deus. Recorde-se que em Apoc. 13, o dragão dá à besta - “poder, trono e autoridade” – v. 2 -, isto significa que este poder recebe tudo dele. O chifre pequeno, como vimos, também sai da cabeça do dragão; estas entidades, tudo o que fazem é sob inspiração de Satanás. De novo, comparativamente, o modo de actuar de Judas não é diferente, segue, parece-nos, a mesma matriz. Vejamos como a Bíblia nos mostra isto mesmo, na resposta de Jesus a Simão Pedro, ao dizer: - “Não vos escolhi a vós os doze? E um de vós é um diabo” – João 6.70; ou ainda, já mais perto do fim, um pouco antes da sua traição, vejamos como as Escrituras mostram sob que influência agia Judas: - “E, acabada a ceia, tendo já o diabo posto no coração de Judas Iscariotes, filho de Simão, que o traísse” – João 13.2 e “E, após o bocado, entrou nele Satanás. (…)” – João 13.27. Jesus ao referir-se desta maneira será que está a dar a entender que o diabo se disfarçou de Judas? Pensamos que não. Satanás manifesta-se no mundo através de sistemas que utiliza para este fim. Judas entregou Cristo, porque, na verdade, quem desejava tanto que tal acontecesse? A resposta é só uma – Satanás. A mesma coisa se passa, repetimo-lo, em relação à besta, ou seja, ao chifre pequeno, visto que quem rege a batuta é sempre a mesma entidade – a que, no passado, impulsionou Judas. Um pequeno parêntesis a propósito - recentemente surgiu uma publicação de uma, dita, grande descoberta arqueológica, da qual saiu o não menos sensacional – O Evangelho de Judas - 350 no qual se reabilita a figura de Judas, como alguém que é preciso para cumprir uma tarefa – a morte de Cristo! Só que, como apócrifo que é, afirma falsa doutrinas e conceitos, como por exemplo, em relação à morte de Jesus: 1º- esta não é atribuída a ele, mas às movimentações do clero, como voz incómoda – Mateus 26.4; Lucas 4.29; João 11.53, etc. 2º- Como já vimos, não esqueçamos que, para Judas, a morte de Cristo nunca esteve no seu pensamento; esta morte era, simplesmente, impensável, porque o seu grande objectivo era a realeza deste Cristo e ter um lugar de destaque neste mesmo reino. Entregá-lo à morte, significava o desmoronar de todos os seus planos mais acalentados. O seu acto, ao princípio, tal como nos é apresentado nos evangelhos, não passava de um simples gesto tendo em vista a tomada do poder, finalmente, por Cristo, nada mais! CLICAR

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