quinta-feira, 14 de agosto de 2014

O SIGNIFICADO DA NOVA JERUSALÉM

"Vi novo céu e nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe. Vi também a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus, ataviada como noiva adornada para o seu esposo. Então, ouvi grande voz vinda do trono, dizendo: Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus, e Deus mesmo estará com eles. E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram. E aquele que está assentado no trono disse: Eis que faço novas todas as coisas. E acrescentou: Escreve, porque estas palavras são fiéis e verdadeiras. Disse-me ainda: Tudo está feito. Eu sou o Alfa e o Ómega, o Princípio e o Fim. Eu, a quem tem sede, darei de graça da fonte da água da vida. O vencedor herdará estas coisas, e eu lhe serei Deus, e ele me será filho. Quanto, porém, aos covardes, aos incrédulos, aos abomináveis, aos assassinos, aos impuros, aos feiticeiros, aos idólatras e a todos os mentirosos, a parte que lhes cabe será no lago que arde com fogo e enxofre, a saber, a segunda morte" (Apoc. 21:1-8).

Esta visão de João continua a série de visões ("Vi") que começaram com a do segundo advento em Apocalipse 19:11. Alguns inclusive consideram Apocalipse 21:1-8 como "a parte mais importante de seu livro".

Apocalipse 20 e 21 estão unidos por muitos elos. Ambos falam de "céu e terra" (20:11; 21:1), do "mar" (20:13; 21:1), do "livro da vida" (20:12; 21:17), do "trono" de Deus (20:11; 21:3), da "segunda morte" (20:14; 21:8) e do "lago de fogo" (20:15; 21:8). Estas conexões confirmam que a visão da Nova Jerusalém é a culminação da longa cadeia de visões que aparecem em Apocalipse 19:11 a 21:8. Em outras palavras, a visão de "um novo céu e uma terra nova" (21:1). Segue à segunda vinda de Cristo (19:11-16) e ao milénio.

A descida da presença constante de Deus sobre a terra renovada é o propósito do plano de Deus e dos seus juízos sobre a humanidade pecadora. Por conseguinte, a visão de Deus morando com os homens em Apocalipse 21:1-8 forma o ponto culminante de todas as visões anteriores de João, e a consumação da esperança dos mártires. A inspiração do Espírito Santo, os dois últimos capítulos de seu livro [o de João] formam o cântico mais sublime.

Agora João recebe visões repetidas da Nova Jerusalém (Apoc. 21:1-8, 10-27; 22:1-6), que revelam
progressivamente o esplendor da cidade de Deus. O fato de que João volta a ouvir a voz de Deus desde trono ordenando que escrevesse palavras que são "fiéis e verdadeiras" (21:5) é significativo. Desta maneira Deus autentica a veracidade do que João viu. As palavras de Deus estão formuladas nas promessas do Antigo Testamento que eram familiares ao povo de Israel. João usa estas alusões para enfatizar a continuidade do pacto de Deus. Destaca o seu compromisso repetindo sete vezes que Deus e o Cordeiro estão unidos inseparavelmente com a Nova Jerusalém (21:9, 14, 22, 23, 27; 22:1, 3). Dessa maneira, João transmite que as suas visões da Nova Jerusalém são em essência diferentes da esperança nacional judaica do seu tempo. A sua esperança futura se centra em Cristo Jesus e no seu povo universal.

Ao adoptar a linguagem gráfica de Isaías e Ezequiel, João descreve a realidade indescritível do céu... o quadro mais detalhado que alguma vez se deu na Escritura da realidade incomparável que Deus preparou para seus filhos.

O Significado Religioso de Jerusalém no Antigo Testamento
Os nomes de Jerusalém e o monte Sião são usados em forma sinónima no Antigo Testamento (ver Miq. 3:12; 4:8; Isa. 10:12). Jerusalém devia a santidade ao traslado que fez David da arca de Jeová, o símbolo do trono de Deus ao monte Sião (2 Sam. 6; Sal. 132:13-16). Sião funcionou como o centro da inspiração, salvação e adoração divinas (vejam-se os salmos 46, 48, 76). O Salmo 46 não glorifica a Jerusalém em si, excepto como o lugar onde Deus mora:
"Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente nas tribulações... Há um rio, cujas correntes alegram a cidade de Deus, o santuário das moradas do Altíssimo. Deus está no meio dela; jamais será abalada; Deus a ajudará desde antemanhã" (Sal. 46:1, 4, 5).

O Salmo 46 termina com uma perspectiva escatológica da majestade de Deus:
"Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus; sou exaltado entre as nações, sou exaltado na terra" (Sal. 46:10).

Espraiando-se sobre esta esperança paradisíaca, o salmista descreve a Jerusalém em termos ideais: "Há um rio, cujas correntes alegram a cidade de Deus, o santuário das moradas do Altíssimo" (Sal. 46:4). Como pôde o salmista dizer que Jerusalém tinha um "rio" quando não possui nenhum arroio, excepto um pequeno manancial perto de Giom? (ver 1 Reis 1:33, 38). Sua visão percebeu o tempo de salvação messiânico.

Vários profetas também descreveram Jerusalém escatológica como possuindo uma ligação com o marco do paraíso restaurado (ver Isa. 33:21; 35:6, 7; Joel 3:18; Ezeq. 47:1-12; Zac. 14:8). Dessa maneira, a cidade histórica de David chegou a ser na "teologia de Sião" de Jerusalém um símbolo da esperança escatológica, um tipo profético do reino messiânico. Dois profetas fizeram de Jerusalém a parte central do seu panorama futuro e portanto merecem a nossa atenção.

Ezequiel mostrou que Deus não estava atado incondicionalmente a Jerusalém, mas que a julgaria por sua apostasia religiosa, moral e social (Ezeq. 8-11). Deus abandonaria o templo e voltaria só para um Israel renovado moralmente (36:24-28; 37:26, 27), promessa que se amplia na descrição do novo templo em Ezequiel 40 a 48. Esse templo da visão de Ezequiel é de origem divina. É uma realidade celestial criada pelo próprio Jeová e transplantada para permanecer na terra. Virá à terra só quando o Israel de Deus seja purificado e quando o Messias tenha vindo a Israel (37:24, 25). A característica do novo templo será um rio doador de vida fluindo debaixo do templo (47:1-12). Esta característica forma um elo com o jardim do Éden (ver Gén. 2:8-14).

Isaías viu, na sua perspectiva profética, como os gentios irão à Nova Jerusalém com a confissão religiosa: "Só contigo está Deus, e não há outro que seja Deus" (Isa. 45:14; cf. 1 Cor. 14:25). Tudo estará unido por sua fé messiânica antes que por laços étnicos ou políticos. Isaías emprega os símbolos das pedras preciosas e jóias resplandecentes para descrever a beleza de seus muros e portas (Isa. 54:12), desenho que evoca a volta da opulência paradisíaca (ver Ezeq. 28:11-15; Isa. 51:3). Embora isto assinale uma qualidade transcendente da Nova Jerusalém, não há indicação em Isaías de que esta cidade tenha uma origem extraterrestre. A sua glória sobrenatural emana da presença de Deus. A essência de seu atractivo único não é tanto a sua beleza externa como a promessa de que Jeová voltará e de novo estará unido ao seu povo (Isa. 60:1, 2, 19; 62:11).

Portanto, a cidade recebe um nome novo (Isa. 62:2). Já não necessitará mais a luz do sol ou a da lua, porque "o Senhor será a tua luz perpétua, e o teu Deus, a tua glória" (60:19; cf. Apoc. 21:23; 22:5). Isaías mescla seu conceito da Sião do tempo do fim com seu motivo de uma nova criação usando as cores realistas de um paraíso terrestre (Isa. 65:17-25). Embora tenha anunciado mais explicitamente que nenhum outro profeta a criação de "novos céus e terra nova" (v. 17), esta descrição poética da Jerusalém renovada permanece em continuidade com o contexto histórico (v. 20). Permanece como uma realidade terrestre embora transformada. Sua bênção mais rica não será a longevidade ou a prosperidade, a não ser a presença de Jeová para responder suas orações (v. 24). Mas também estará presente o Messias, porque terá chegado o jubileu messiânico (61:1-3, 10; cf. Luc. 4:17-21).

Por esta análise breve do panorama profético de Jerusalém que temos nos salmos, no Isaías e no Ezequiel, sabemos que a cidade de Jerusalém desempenha o papel de tipo de uma Jerusalém futura e mais gloriosa. No Apocalipse de João vemos como se cumprirá esta promessa, muito além das expectativas dos profetas hebreus, na Nova Jerusalém de Apocalipse 21 e 22.
Depois de tudo, a Nova Jerusalém desce de cima, como uma criação nova de Deus, e por conseguinte será completamente diferente da velha Jerusalém.

Esperanças Judaicas Durante o Período Intertestamentário
Muito pouco tempo depois da revoltados macabeus (168-164 a.C.), os "sonhos-visão" do Apocalipse do “profeta” Enoc, escrito por volta dos anos 165-161 a.C., predisseram que com a aparição do Messias e a ressurreição dos justos mortos se construiria uma Nova Jerusalém, "uma casa nova, maior e mais alta que a primeira, e a pôs no lugar da que tinha sido recolhida" (1 Enoc 90:29).(6) Alguns escritos apocalípticos judeus depois de 70 d.C. expressaram a esperança de uma Nova Jerusalém "preparada antes", quando Deus decidiu criar o paraíso (2 Baruc 4:3).7 "Aparecerá a esposa como uma cidade e se verá a terra que está actualmente oculta... Com efeito, se manifestará meu Filho o Messias com os que estão com ele, e encherá de gozo os (justos) que sobrevivam durante quatrocentos anos" (4 Esdras 7:26-28).(8)

Aparentemente, alguns conciliábulos de judeus piedosos contavam com que Deus tinha "preparado e edificado" (4 Esdras 13:36) uma Sião ou Nova Jerusalém no céu que desceria à terra com o amanhecer do novo mundo. O autor do livro Apocalipse Eslavónico de Enoc (2 Enoc 55:2), também afirmou que a Nova Jerusalém estava situada no céu.

A literatura rabínica não continuou com estas expectativas judaicas, excepto na época posterior dos Midrash. Os rabinos em general acreditavam que imediatamente depois do juízo dos ímpios, Deus ou o Messias edificariam uma Nova Jerusalém sobre a terra.

As portas e as muralhas da Nova Jerusalém seriam construídas com safiras e com pedras preciosas e as suas ruas com puro mármore branco (Tobias 13:16, 17). A cidade seria tão grande, que as suas grandes muralhas se estenderia tão longe como Jope ou Damasco para albergar a "a raça celestial dos judeus bem-aventurados" no futuro (Oráculos sibilinos 5:250-252).(12) Deus viveria na cidade que levaria o nome de Deus. A característica central desta Jerusalém reconstruída seria o novo templo. Para o pensamento judeu, era completamente patente que a Nova Jerusalém não careceria de templo. A declaração do vidente cristão, 'e não vi nela templo' (Apoc. 21:22) teria sido inconcebível na velha sinagoga.

Esta recapitulação das diversas esperanças no judaísmo tardio indica que a esperança apocalíptica de João em uma Nova Jerusalém sem um templo é uma esperança distintivamente cristã, que se centraliza na presença de Cristo.

A Teologia de Paulo de uma Jerusalém Celestial
Paulo continuou o ensino de Cristo, de que Jerusalém e seu templo já não eram o lugar onde Deus habitava (ver Mat. 23:38; Gál. 4:25; também Heb. 12:22). Paulo escreveu que a igreja apostólica tinha chegado a ser o templo terrestre onde Deus estava presente: "Porque nós somos santuário do Deus vivente, como ele próprio disse: Habitarei e andarei entre eles; serei o seu Deus, e eles serão o meu povo" (2 Cor. 6:16; cf. Lev. 26:12; Jer. 32:38; Ezeq. 37:27; também Ef. 2:19-21).

Esta verdade do evangelho não compete com a eficácia do templo do novo pacto no céu, onde Cristo ministra como nosso Sumo-Sacerdote e intercessor e de onde envia seu Espírito vivificante (Heb. 7:25; 8:1, 2; 10:19; Rom. 8:34; 1 João 2:1). Paulo cria que a Jerusalém "de cima" é a "mãe" de todos os crentes cristãos, porque todos são renascidos por seu Espírito (Gál. 4:26, 29).
Enquanto no judaísmo rabínico a ideia de uma Jerusalém celestial se concebia em termos de um equivalente da Jerusalém terrestre em topografia e mobiliário, Paulo contempla a Jerusalém celestial como isenta de todas as noções geográficas, étnicas e nacionais. A Jerusalém celestial é a pátria dos cristãos, onde Cristo está e em que todos os cristãos têm sua cidadania (políteuma) registrada no livro da vida do Cordeiro (Filip. 3:20; 4:3; também Heb. 12:22, 23; Apoc. 21:27). Por Apocalipse 21:27 chega a ser evidente que o livro da vida do Cordeiro é a lista dos que estão inscritos como cidadãos da Jerusalém celestial.

A cidade celestial não é uma estrutura vazia; é a comunidade adoradora da igreja na terra com os anjos e os redimidos no céu (Heb. 12:22). Alguns identificaram a Nova Jerusalém com a igreja. Entretanto, deve conservar-se a distinção entre a cidade celestial e a igreja na terra, da mesma maneira que Hebreus 12 declara que a igreja se aproximou hoje a Cristo e à Jerusalém celestial (vs. 22-24). Como Cristo está ao mesmo tempo no céu e (por meio de seu Espírito) na terra, assim também existe uma relação espiritual íntima entre a Jerusalém celestial e a igreja sobre a terra. Assim como Cristo, que descerá fisicamente do céu à terra (Filip. 3:20), assim também a Jerusalém celestial descerá do céu à terra (Apoc. 21:2)! O objecto da esperança cristã não é meramente o "céu" e sim a cidade celestial: a Nova Jerusalém. Nossa cidadania actual nesta santa cidade representa mais que a segurança da salvação presente. Também nos dá a certeza de nossa entrada na cidade de descanso e gozo eternos (ver Heb. 4:9; 11:13-16). Assim como Abraão, os cristãos têm confiança absoluta procurando a "cidade... por vir" (Heb. 13:14). Virá depois do juízo final.

É chamativo que a esperança de uma Jerusalém celestial se descreva no contexto de uma polémica antijudaica, não só no Gálatas 4:26 e 27 e em Hebreus 12:18-24, mas também em Apocalipse 3:9 e 12. João destaca a verdade evangélica de que só o Cristo ressuscitado "tem a chave de Davi, que abre e ninguém fecha, e fecha e ninguém abre" (Apoc. 3:7). À luz de seu significado original em Isaías 22:22, esta declaração ensina "que a Cristo pertence toda a autoridade com respeito à admissão ou exclusão da cidade de Davi, a Nova Jerusalém". Cristo é a fonte de segurança para os crentes fiéis de que herdarão a cidade celestial. Diz Jesus:

"Ao vencedor, fá-lo-ei coluna no santuário do meu Deus, e daí jamais sairá; gravarei também sobre ele o nome do meu Deus, o nome da cidade do meu Deus, a nova Jerusalém que desce do céu, vinda da parte do meu Deus, e o meu novo nome" (Apoc. 3:12).

A Nova Jerusalém em Contraste com Babilónia
A Nova Jerusalém de Apocalipse 21 e 22 se descreve com a mesma imagem simbólica de uma "mulher" ou "esposa" como se tem descrito a igreja no Novo Testamento (ver 2 Cor. 11:2; Ef. 5:25-27). A visão que teve João da Jerusalém celestial como a "a noiva, a esposa do Cordeiro" (Apoc. 21:9), conecta a Jerusalém vindoura com a formosa "mulher" que aparece em Apocalipse 12:1 e 2. Na Nova Jerusalém a igreja já não sofrerá por causa da perseguição ou da adoração apóstata. Por isso Apocalipse 12 e 21 representam duas eras consecutivas: a era actual da igreja e a era por vir.

A Nova Jerusalém está colocada em contraste com Babilónia, a cidade prostituta. A prostituta tem gravado sobre sua fronte as palavras "mistério: Babilónia, a grande" (Apoc. 17:5), e está representada em Apocalipse 18 como a cidade condenada. "A mulher que viste é a grande cidade que domina sobre os reis da terra" (v. 18). Este simbolismo duplo de Babilónia (Apoc. 17, 18) contrapõe-se com o da Nova Jerusalém em Apocalipse 21 e 22 por meio de uma antítese perfeita.

Todos os habitantes da terra que não procurem refúgio no monte Sião (Apoc. 14:1), pertencem a Babilónia; os seus nomes não estão escritos no livro da vida do Cordeiro (13:8). Estão obrigados a beber não só do cálice do vinho de Babilónia mas também do cálice do vinho da ira de Deus sem mescla de misericórdia (14:10). Esta ira divina a descreve simbolicamente com a imagem da condenação de Sodoma e Gomorra ("com fogo e enxofre") (14:1; cf. Gén. 19:24), e a de Edom ("a fumaça de sua tortura sobe pelos séculos dos séculos", Apoc. 14:11; cf. Isa. 34:9, 10). Esta linguagem figurada expressa a finalidade do juízo de Deus. Os impenitentes nunca entrarão no descanso de Deus (Apoc. 14:11 ; cf. Sal. 95:11 ).

O Apocalipse de João põe em contraste a Jerusalém como a cidade do Cordeiro (Apoc. 21:2, 9) com Babilónia como a cidade da besta (caps. 17 e 18). É significativa a forma idêntica como as introduz o anjo do juízo:

APOCALIPSE 17:1   
"Veio um dos sete anjos que têm as sete taças e falou comigo, dizendo: Vem, mostrar-te-ei o julgamento da
grande meretriz que se acha sentada sobre muitas águas".   
APOCALIPSE 21:9
"Então, veio um dos sete anjos que têm as sete taças cheias dos últimos sete flagelos e falou comigo, dizendo: Vem, mostrar-te-ei a noiva, a esposa do Cordeiro".

Este arranjo literário ensina que a Nova Jerusalém é a única alternativa para Babilónia. Ambas as visões desenvolvem mais correspondências opostas (ver Apoc. 17:3-5 e 21:10-14). Ambas as seções literárias sobre Babilónia (17:1-19:10) e a Nova Jerusalém (21:9-22:6) concluem com a mesma segurança de que estas revelações descansam não meramente sobre a autoridade de um anjo e sim sobre Deus mesmo e, portanto, são "fiéis e verdadeiras":

APOCALIPSE 19:9   
"Então, me falou o anjo: Escreve: ...São estas as verdadeiras palavras de Deus".
APOCALIPSE 22:6
"Disse-me [o anjo] ainda: Estas palavras são fiéis e verdadeiras".

A reacção de João de adorar ao anjo depois de cada visão recebe a mesma exortação: "Adora a Deus!" (Apoc. 19:10; 22:8, 9). Enquanto tanto as seções sobre Babilónia e sobre Jerusalém começam e terminam da mesma forma, seus contextos ampliam os contrastes entre a cidade prostituta e a cidade santa.

A Segurança e Consolo Final do Apocalipse
Em Apocalipse 21 e 22 João revela "o último das últimas coisas", o ponto culminante de todas suas visões e de toda a Bíblia. A revelação principal é a aparição de uma nova criação e a descida da Nova Jerusalém (21:1, 2), que será a consumação do propósito eterno de Deus para o planeta terra. Deus garante de uma maneira explícita a confiabilidade de suas promessas (v. 5). Uma voz que sai do trono de Deus explica seu significado para a humanidade:

"Então, ouvi grande voz vinda do trono, dizendo: Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus, e Deus mesmo estará com eles. E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram" (vs. 3, 4).

Estas palavras resumem a essência da esperança de todos os profetas e santos. Disse um comentador a respeito desta passagem:
"Na verdade, é gozo inefável, porque aqui se descreve o propósito final da igreja sofredora e a única recompensa que desejam realmente os mártires de Cristo, quer dizer, o próprio Deus na companhia de todos os que o amam".

As palavras de João, "Vi novo céu e nova terra; porque o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe" (Apoc. 21:1), apontam ao novo acto criador de Deus que está confirmado por sua declaração: "Eis que faço novas [kainá] todas as coisas!" (v. 5). O termo grego kainós ("novo"), que se emprega 4 vezes nos versículos 1-5, significa algo fundamentalmente novo, e enfatiza com mais vigor que o termo néos o carácter de cumprimento escatológico.

Em sua visão anterior do grande trono branco, João declarou: "Vi um grande trono branco e aquele que nele se assenta, de cuja presença fugiram a terra e o céu, e não se achou lugar para eles" (Apoc. 20:11). João já declara que a velha terra e seus céus atmosféricos serão substituídos por uma nova criação. A nova característica dominante será a cidade santa, a Nova Jerusalém. Sua perspectiva está afiançada sobre este centro de existência para os redimidos. Vê a cidade Nova Jerusalém "que descia do céu, da parte de Deus" (21:2). Portanto, não é uma velha Jerusalém reconstruída na Palestina, e sim uma nova criação. Cumprirá a esperança de Abraão, "que esperava a cidade que tem fundamentos, cujo arquitecto e construtor é Deus" (Heb. 11:10). Pedro acrescenta a esperança de uma sociedade transformada: "Atendo-nos a sua promessa, aguardamos um céu novo e uma terra nova nos que habite a justiça" (2 Ped. 3:13, NBE).

Tanto Pedro como João fundamentam suas expectativas nas predições de Isaías (ver Isa. 65:17-19; 66:22, 23). A promessa do pacto de Deus será levada a cabo na Nova Jerusalém sobre a terra feita nova:

"Eis o tabernáculo [skené] de Deus com os homens [anthrópon]. Deus habitará [literalmente, 'tabernaculará'] com eles. Eles serão povos de Deus [literalmente 'povos'], e Deus mesmo estará com eles" (Apoc. 21:3).

A expressão que diz que Deus "habitará" com os "homens" é profunda, porque recorda a presença redentora de Deus no antigo tabernáculo [skené] de Israel: "E me farão um santuário, e habitarei no meio deles" (Êxo. 25:8). Em segundo lugar, o verbo "habitar, fazer morada" recorda João 1:14, onde se expressa a encarnação do Verbo de Deus com as palavras: "Habitou [literalmente, 'acampou', 'pôs seu tabernáculo'] entre nós".

Dessa maneira a promessa da Nova Jerusalém conecta a glória de Deus com a glória de Cristo e assegura à igreja que Deus deverá habitar entre os "homens" em cumprimento de sua promessa do pacto, o que significa que o primeiro advento de Cristo é a garantia da futura vinda de Deus com os seres humanos. As expressões "homens" e "seus povos" (em plural no texto original) indicam a inclusão de todos os crentes em Cristo na sociedade do futuro. Inclusive serão abolidos os limites da igreja e de todas as denominações religiosas. A raça humana sobre a terra nova será o povo de Deus porque todos são "seus povos" (Apoc. 21:3). E ele estará "com eles" sempre como o "Deus-com-eles" (v. 3, BJ).

O resultado desta comunhão com Deus é: "E lhes enxugará dos olhos toda lágrima" (Apoc. 21:4). Aqui se repetem as promessas divinas de Isaías 25:8, 35:10 e 65:19 para indicar seu cumprimento dramático na Nova Jerusalém. Então se cumprirá a esperança mais elevada de todos os santos: "Verão seu rosto..." (Apoc. 22:4). Este ver a Deus dos seres humanos foi a esperança dos crentes hebreus:

"Quanto a mim, contemplarei a tua face na justiça; eu me satisfarei da tua semelhança quando acordar" (Sal. 17:15).
"Depois que me arranquem a pele, já sem carne, verei deus; eu mesmo o verei, e não outro, meus próprios olhos o verão. O coração me desfaz no peito!" (Job. 19:26, 27, NBE).

Esta foi a promessa explícita de Cristo: "Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus" (Mat. 5:8). Esta foi a segurança do Paulo: "Então veremos face a face" (1 Cor. 13:12). E a de João: "Haveremos de vê-lo como ele é" (1 João 3:2). A confiabilidade desta promessa está recalcada por Deus: "Tudo está feito. Eu sou o Alfa e o ómega, o Princípio e o Fim... " (Apoc. 21:6).

Só o Criador pode pronunciar palavras que criarão uma realidade nova (ver Gén. 1). Disse Cristo na cruz: "Está consumado!" (João 19:30), e sua missão de oferecer sua vida em expiação pela raça humana ficou consumada. No fim das 7 últimas pragas a voz de Deus voltará a dizer: "Feito está!" (Apoc. 16:17), então, se consumará o juízo de Babilónia. Quando a Nova Jerusalém descenda sobre a terra e Deus morre com os redimidos, voltará a dizer: "Feito está!" (21:6).

Então se cumprirá a oração do Pai-nosso: "Venha o teu reino; faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu" (Mat. 6:10). Como "o Alfa e o Ómega", Deus é o iniciador e aperfeiçoador da criação. Apenas Ele dá à história humana seu começo e seu objectivo. O objectivo se realizará tão certamente como seu começo. Outras duas promessas de Deus também nos afectam hoje em dia:
"Ao que tiver sede, eu lhe darei gratuitamente [doreán] da fonte da água da vida. Quem vencer herdará todas as coisas, e eu serei seu Deus, e ele será meu filho" (Apoc. 21:6, 7).

A linguagem figurada de "estar sedento" era familiar para os santos hebreus (ver Isa. 55:1). Para eles significava gozar de comunhão com Deus. Colocaram um valor mais elevado neste companheirismo com Deus que no da própria vida física. Davi descarregou seu coração neste cântico poético:

"Ó Deus, tu és meu Deus, eu te procuro. Minha alma tem sede de ti, minha carne te deseja com ardor, como terra seca, esgotada, sem água... Valendo teu amor mais que a vida, meus lábios te glorificarão" (Sal. 63:1, 3, BJ).
"Como suspira a corça pelas correntes das águas, assim, por ti, ó Deus, suspira a minha alma. A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando irei e me verei perante a face de Deus?" (Sal. 42:1, 2).

Esta experiência da alma foi realizada só de maneira intermitente e parcial. Pela fé em Cristo está à nossa disposição uma nova comunhão com Deus para todos os que a busquem: "Se alguém tem sede, venha a mim e beba. Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva. Isto ele disse com respeito ao Espírito que haviam de receber os que nele cressem" (João 7:37-39).

Quando Deus promete no Apocalipse de João que nos dará "gratuitamente da fonte da água" (Apoc. 21:6), oferece-nos o Espírito de Cristo, quem pagou o preço definitivo por nós. Esta comunhão também oferece aos vencedores "gratuitamente" [doreán: "livremente" ], um termo muito importante em Paulo (ver Rom. 3:24).

O paraíso, como a presença de Deus, é oferecido a todos os vencedores pela graça de Deus. Este carácter-da-graça volta-se a recalcar na segurança de que o vencedor "herdará todas as coisas" (Apoc. 21:7). Uma herança nunca se pode ganhar, só pode receber-se pela vontade do testador. Paulo explicou esta condição de herdeiro ao conectar a herança futura de uma forma indissolúvel com Cristo como o dom maior de Deus. "Ora, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo...  Aquele que não poupou o seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura, não nos dará graciosamente com ele todas as coisas?" (Rom. 8:17, 32). O Apocalipse não é menos cristocêntrico que Paulo". Isto é evidente pelas sete vezes que o Cordeiro é mencionado em Apocalipse 21 e 22. A entrada na Nova Jerusalém é dada só a "os que estão inscritos no livro da vida do Cordeiro" (21:27).

Este é o propósito pastoral que João também indicou em seu contraste entre as duas mulheres simbólicas: a meretriz (Apoc. 17:1-19:5) e a esposa de Cristo (19:6-10; 21:1-22:17). O interesse pastoral de João para a era actual é alertar a cada crente a permanecer fiel no Senhor.

A razão pela qual dedica tanta ênfase à meretriz e à noiva é que nas sete cartas escritas às sete igrejas (Apoc. 1:4, 11) a alternativa básica a que tinham que fazer frente [os membros] era se iriam formar parte da verdadeira igreja, a noiva, ou da falsa igreja, a meretriz.

É nosso privilégio escutar o testemunho final de Cristo às igrejas:
"Eis que venho sem demora. Bem-aventurado aquele que guarda as palavras da profecia deste livro" (Apoc. 22:7).
"Bem-aventurados aqueles que lavam as suas vestiduras no sangue do Cordeiro, para que lhes assista o direito à árvore da vida, e entrem na cidade pelas portas" (Apoc. 22:14).

O Interesse Pastoral de João para com a Igreja da Actualidade
João usa um estilo interessante para descrever a novidade da era futura. Define a nova criação em termos negativos 7 vezes: não haverá mais mar (21:1); não haverá mais morte, lágrimas, pranto, clamor ou dor (v. 4); não haverá mais templo (v. 22); não haverá mais necessidade do Sol ou da Lua (21:23; 22:5); não haverá noite, nem as portas nunca serão fechadas (21:25; 22:5); não haverá mais pecado (21:27); e não haverá mais maldição (22:3). Este estribilho de coisas que na última visão de João "não serão mais", indica como relaciona as suas visões às necessidades presentes dos seus membros de igreja. Escreve com um profundo interesse pastoral para os seus leitores que sofriam perseguição e estavam ameaçados pelos poderes anticristãos do mar,
João não escreve simplesmente para nos informar a respeito dos acontecimentos futuros ou para satisfazer a nossa curiosidade a respeito de realidades futuras. O seu propósito prático é inspirar os crentes que deviam passar por provas a perseverar na Palavra de Deus e no testemunho de Jesus apesar da cruel oposição. Insiste com cada crente para que tome a sua decisão final entre a fidelidade ou a deslealdade a Cristo Jesus. Este requerimento se apresentou primeiro nas sete cartas de Cristo às igrejas (Apoc. 2, 3). A promessa da recompensa descreveu-a na visão dos selos (6:9-11; 7) e na das trombetas (cap. 11). João assume constantemente que a causa de Cristo triunfará porque o Cordeiro de Deus é "o Rei dos reis e Senhor dos senhores" (17:14; 19:16). A hora da restauração do reino de Deus virá no próprio tempo de Deus durante a última trombeta:
"E o sétimo anjo tocou a trombeta, e houve grandes vozes no céu, que diziam: Os reinos do mundo vieram a ser de nosso Senhor e de seu Cristo; e ele reinará pelos séculos dos séculos" (Apoc. 11:15).

O propósito de João é animar a cada cristão a fazer um compromisso total com Cristo. João obtém este objectivo colocando em contraste o Cordeiro e a besta, a esposa e a prostituta, e a Nova Jerusalém e Babilónia. Este dilema de pertencer a uma comunidade ou à outra, insiste connosco a fazer agora uma eleição existencial porque nela estão envoltos destinos eternos.

João não proporciona informação abstracta para as predições especulativas. Apresenta claramente a sua preocupação pastoral quando destaca que há só duas classes de pessoas: os salvos ou os perdidos, os vencedores e os perdedores (ver Apoc. 21:7, 8; 22:11, 14, 15), os que "têm sede" da água de vida e os que não a têm (21:6; 22:17). Esta última distinção aponta à necessidade espiritual das pessoas mais que à sua conduta moral. Os que procuram a Deus em primeiro lugar para satisfazer a sua sede espiritual comparam-se com os vencedores:
"Ao que tiver sede, eu lhe darei gratuitamente da fonte da água da vida. Quem vencer herdará todas as coisas, e eu serei seu Deus, e ele será meu filho" (Apoc. 21:6, 7).

É iluminador descobrir que as características dos que são excluídos da Nova Jerusalém são as mesmas com as que se define a Babilónia e aos seus habitantes: imundos (Apoc. 21:27; 18:2); abomináveis, que fazem abominação, abominações (21:8, 27; 17:4, 5); homicidas (17:6; 18:24; 21:8); fornicários (17:1, 2, 5, 15, 16; 18:3, 9; 21:8); feiticeiros, feitiçarias (18:23; 21:8); idólatras (19:20; 21:8); e mentirosos (19:20; 21:8).

Badenas vê estas listas de vícios (Apoc. 21:8 e 22:15) como uma admoestação pastoral contra os que preferem outras relações à relação com Deus. Isto é o que os exclui da santa cidade (cf. 21:27). Por outras palavras, João não se está a referir a feitos isolados de pecado mas sim à atitude de maldade e idolatria que separa o pecador de Deus.

Não deveria escapar à nossa atenção o facto de que João começa a lista com "os covardes" (Apoc. 21:8). Os "covardes" são os que fogem de confessar a Cristo na hora da prova e por isso falham em perseverar na fé (ver Heb. 10:36-39). Quando Paulo se referiu à ameaça de "covardia" [deilías], admoestou imediatamente a Timóteo dizendo: "Não te envergonhes, portanto, do testemunho de nosso Senhor..." (2 Tim. 1:7, 8), e lhe assinalou o dom do "espírito... de poder".

Em Apocalipse 21:8, João menciona pelo menos sete classes de pessoas que serão excluídas da santa cidade. Como uma oitava classe menciona a "todos os mentirosos", Pohl considera que se refere a uma recapitulação das sete anteriores. A lista dos perdedores que João menciona, cumpre a função a outra face da moeda  das sete classes de vencedores mencionados nas cartas às igrejas nos capítulos 2 e 3. A designação dos "mentirosos" é significativa, porque assinala a mentira religiosa que perverte a verdade a respeito de Deus e do Cordeiro. Giblin denomina a esta mentira a mentira definitiva, porque a mentira é a negação da verdade, proeminentemente como a falsificação de Deus e do que deve a ele. Os mentirosos estão em notório contraste com os 144.000 israelitas que seguem ao Cordeiro, de tal maneira que "em suas bocas não foi achada mentira" (Apoc. 14:5).

Desde a primeira característica (a covardia) até à última (a mentira), o interesse de João aponta a elevada vocação do crente de confiar em Cristo, de seguir ao Cordeiro e de confessar o seu senhorio. A lista mais pequena dos vícios em Apocalipse 22 conclui outra vez com "todo aquele que ama e pratica a mentira" (v. 15), o que indica que tais pessoas vivem a "mentira" como uma filosofia de vida, de carácter e de adoração. A mentira como o oposto da verdade foi também a recapitulação que faz Paulo da apostasia final em 2 Tessalonicenses 2:9-12.

O Significado do Esplendor da Nova Jerusalém
Apocalipse 21:9 a 22:5, contêm uma descrição da Jerusalém celestial. O anjo a compara com a interpretação da condenação de Babilónia em Apocalipse 17:1 a 19:10. Reconhece-se que as duas secções são intencionais. Felizmente, a visão que João teve da Nova Jerusalém é a mais longa e elaborada do Apocalipse. Amplia as profecias gráficas de uma Nova Jerusalém que são apresentas por Isaías 54 a 60 e Ezequiel 40 a 48.

Assim como Ezequiel, João vê na visão "um monte muito alto" (Ezeq. 40:2; Apoc. 21:10). A glória de Deus na Nova Jerusalém (Apoc. 21:11) corresponde à glória de Jeová que vem do oriente no novo templo da visão do Ezequiel (Ezeq. 43:1, 2). A diferença é que agora Deus mesmo é a glória constante da santa cidade (Apoc. 21:11). Ezequiel se concentra sobre o novo templo, mas João descreve uma cidade imensamente maior sem um templo particular (Apoc. 21:22).

João dedica uma atenção especial às suas amplas muralhas e às doze portas. Usa o número "doze" doze vezes em Apocalipse 21, número que está carregada de significado. O anjo tem uma vara de medir, de ouro, "para medir a cidade, suas portas e seu muro" (Apoc. 21:15). A cidade é descrita como um cubo perfeito medindo cada lado doze mil estádios, que literalmente seriam 2.400 quilómetros em cada direcção, até para cima, muito além da estratosfera! Não é maravilha que os intérpretes responsáveis tenham advertido contra um dogmático literalismo com respeito às visões de Apocalipse 21 e Ezequiel 40 a 48.

Nestas profecias tão gráficas, o grau de identificação segue sendo um problema que deverá ainda ser interpretado. Giblin declara que João tenta evocar a imagem de um gigantesco 'lugar muito santo' que era um cubo perfeito, recoberto de ouro (1 Reis 6:20). As dimensões de cubo da cidade sugerem claramente que toda a "santa cidade" é o lugar santíssimo sobre a terra, o trono de Deus. Isto transcende a necessidade de ter qualquer templo local. O apóstolo o explica assim:
"E nela não vi templo, porque o seu templo é o Senhor, Deus Todo-poderoso, e o Cordeiro...

"E tinha a glória de Deus. A sua luz era semelhante a uma pedra preciosíssima, como a pedra de jaspe, como o cristal resplandecente" (Apoc. 21:22, 11).

Não pode haver dúvida de que o propósito de João em Apocalipse 17 e 18 é colocar esta cidade de Jerusalém em contraste directo com a cidade de Babilónia. A beleza sobressalente da Nova Jerusalém consiste na presença de Deus e a dos redimidos. As incríveis dimensões dos doze mil estádios têm um claro significado simbólico: a cidade contém o Israel de Deus de toda a história da salvação. Badenas o explica assim: Eclipsando Babilónia e Roma, a Nova Jerusalém é a cidade verdadeira, e a única cidade universal.

Os muros da cidade têm uma altura de 144 côvados (Apoc. 21:17), literalmente 66 metros, destacando outra vez o número 12 (12 x 12 = 144). Por definição, uma muralha não só significa segurança, mas também separação do "exterior" (Apoc. 22:15), o que se refere basicamente ao lugar do "lago de fogo" (21:8). Este símbolo pode entender-se melhor como uma referência ao juízo pós-milénio de Apocalipse 20:7-15. A muralha é feita de jaspe cristalino (21:18) e brilha como um diamante. Está assentada sobre doze fundamentos de pedras preciosas, cada uma das quais é uma gema enorme (vs. 19, 20), cada uma com um nome escrito com um nome de "os doze apóstolos do Cordeiro" (v. 14). Entretanto, sobre as doze portas estão os nomes das "doze tribos dos filhos do Israel" (v. 12). Tudo em seu conjunto significa que o Israel profético de Deus inclui a todos os seguidores do Cristo, o que constitui a mensagem fundamental da visão de João a respeito da vida na Nova Jerusalém.

As características das doze pedras preciosas e das doze portas de pérola complementam a mensagem básica de que Deus unirá a todos os seus filhos em um rebanho enquanto reconhece que também permanecem diversificados em seus caracteres individuais. Cada tipo de carácter reflectirá a natureza divina, assim como cada pedra preciosa reflectirá a glória de Deus em sua própria forma. Entretanto, a investigação mostra que as pedras do Apocalipse não podem correlacionar-se com tribos específicas, apóstolos, signos do zodíaco ou direcções geográficas.

As doze pedras preciosas da Nova Jerusalém simbolizam basicamente a presença de Deus, a origem divina da cidade, e o novo povo de Deus. As doze pedras preciosas também cumprem a função de ser contrapartes das pedras preciosas que adornam a Babilónia a prostituta (Apoc. 17:4; 18:12, 16). Desde esta perspectiva, as pedras preciosas da santa cidade são "um emblema para sustentar a fé na vitória final de Deus.

O esplendor da Nova Jerusalém, com o trono de Deus e a árvore da vida, transmite esta mensagem: O paraíso será restaurado com uma glória maior que a do jardim do Éden porque o Criador estabelecerá sua presença e seu trono ali para sempre. Cada crente pode cobrar ânimo e saber que as promessas do pacto que Deus fez com o Israel se cumprirão em uma manifestação gloriosa inimaginável no futuro.

A profecia diz que as nações caminharão à sua luz, e até ela os reis da terra levarão seu esplendor... E levarão até ela o esplendor e a honra das nações (Apoc. 21:24, 26, CI), é provocadora, já que esta predição usa a descrição de Isaías 60 mas a adapta ao estado eterno. Agora os reis da terra já não desfilarão como conquistadores (Isa. 60:10, 11) ou como trazendo tributo (vs. 5-7). Virão antes como gentios redimidos para contribuir com sua glória em sua adoração a Deus e ao Cordeiro durante o festival de louvor e acção de graças na Nova Jerusalém. Ellul explica que tudo o que foi a obra cultural, científica, técnica, estética e intelectual; toda a música e a escultura; toda a poesia e a matemática; toda a filosofia e o conhecimento em todas as ordens, todos entrarão nesta Jerusalém, e serão empregados por Deus para estabelecer esta obra perfeita final.

Que conceito emocionante! Quem não desejará ser parte desta educação superior na vida futura do povo de Deus? Cristo e a Nova Jerusalém convidam a cada pessoa que procura Deus a formar parte do estado eterno onde reinará a felicidade:
"E o Espírito e a esposa dizem: Vem! E quem ouve diga: Vem! E quem tem sede venha; e quem quiser tome de graça da água da vida" (Apoc. 22:17).

Hans K. LaRondelle
José Carlos Costa, (fez a adaptação, conservando a ideia original).

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