a) Gálatas 3.16
“Ora, as promessas foram feitas a Abraão e à sua posteridade. Não diz: E às posteridades, como falando de muitas, mas como de uma só: E à tua posteridade, que é Cristo”. Como podemos ver, aqui está dito que Deus fez a Abraão algumas promessas. E quais foram elas? Uma delas é: - “E far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei, e engrandecerei o teu nome; e tu serás uma bênção” – Génesis 12.2; uma outra, logo a seguir: - “(…); e em ti serão benditas todas as famílias da terra” – v.3; ou: - “E em tua semente serão benditas todas as nações da terra; porquanto obedeceste à minha voz” – Génesis 22.18; e ainda: - “Porque toda esta terra que vês, te hei-de dar a ti, e à tua semente, para sempre” – Génesis 13.15.
Todas estas promessa visavam uma terra, mas qual? Para a cristandade, em geral, esta terra tem que ver com Israel. Mas, a promessa de Deus está muito para além, geograficamente falando desta dita terra de Israel. Não só lhe foi prometido que dele sairia uma grande multidão, como também uma grande bênção sobre Israel. Vejamos o texto Paulino que assim se expressa: - “Porque a promessa de que havia de ser herdeiro do mundo não foi feita pela lei a Abraão, ou à sua posteridade, mas pela justiça da fé” – Romanos 4.13. À luz deste texto, qual era a terra que Deus prometeu a Abraão? Tal como ele próprio refere – o mundo. Sim, ele seria, na verdade uma bênção para todas as nações.
Voltemos, de novo, ao texto inicial - a epístola aos Gálatas 3.16 – exposto acima. Sem será, na verdade, a posteridade do patriarca Abraão? Será um qualquer governante actualmente em Israel tenha ele o nome que tiver? Este, apesar de ser natural desta terra, segundo a Palavra de Deus, um judeu que não aceita Cristo não é, de modo algum, um verdadeiro descendente de Abraão. Os verdadeiros descendentes deste patriarca são, única e somente, todos aqueles que se unem a Jesus Cristo. A Igreja – o Israel de Deus (Gálatas 6.16) – está vinculada a Cristo; esta Igreja não é uma Igreja local, mas de âmbito mundial. Na verdade, à luz deste contexto, esta terra é, como facilmente se compreenderá – o mundo. Mais tarde, quando abordarmos o capítulo 11 do livro do profeta Daniel, aqui encontraremos, como não podia deixar de ser, terminologia israelita, a saber: Sião, Jerusalém, Mar Mediterrâneo. Mas, isto não significa que tudo ali descrito se desenrolará num palco local, pela simples razão de que Israel, nos dias de hoje, é, repetimos uma vez mais, de âmbito mundial. Em termos proféticos, estes nomes são meros símbolos, tais como: rei do Norte, rei do Sul, o mar, o monte de Sião.
Retomando o texto de Gálatas 3.16 – “(…). Não diz: E às posteridades, como falando de muitas, mas como de uma só: E à tua posteridade, que é Cristo”. Qual é a única semente de Abraão? Segundo o texto, ela é – Cristo. E quanto a nós, qual será o nosso lugar em tudo isto? Vejamos para um cabal esclarecimento da situação, a continuação do texto Paulino, um pouco mais à frente: - (v. 28)- “Nisto, não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho e fêmea porque todos vós sois um em Cristo Jesus. (29)- E, se sois de Cristo, então sois descendentes de Abraão, e herdeiros conforme a promessa”. Como foram cumpridas as promessas que, no passado, foram feitas a Abraão e através de quem? Não, certamente, de Isaque, que mais não era do que um símbolo, mas de Cristo, o seu total cumprimento. Alguns pensam que Deus colocou os judeus em Israel em 1948; mas estes, obviamente não crêem nem aceitam Cristo. Assim sendo como é que nestes se poderá cumprir a promessa, segundo a qual, Deus dará a terra a Israel? Um verdadeiro contra-senso.
O estabelecimento da nação, do Estado de Israel não é, de modo algum, o cumprimento de nenhuma profecia. Porque, para que Deus possa, na verdade cumprir a Sua promessa, as profecias, o povo judeu tem que crer e aceitar Cristo. Estas, de modo algum se estão a cumprir com o povo judeu literal, mas sim com os verdadeiros descendentes de Abraão, ou seja, os que se unem a Cristo. Na verdade, quantos de nós somos israelitas? Pelos parâmetros modernos a pergunta não tem qualquer sentido, pois não só não temos características físicas deste povo, como não vivemos em solo israelita. Assim sendo, se os israelitas ou judeus, são espirituais – os membros da Igreja - então, a terra onde estes vivem também deverá ser Jerusalém espiritual, tal como os seus inimigos – de âmbito mundial.
b) Romanos 2.28,29
(v.28)- “Porque não é judeu o que o é exteriormente, nem é circuncisão a que o é exteriormente, na carne. (29)- Mas é judeu o que o é no interior, e circuncisão a que é do coração, no espírito, não na letra; cujo louvor não provém dos homens, mas de Deus”. Aqui vemos, uma vez mais reforçada a ideia de que qualquer governante ou cidadão de Israel não é judeu. A Igreja, tal como já dissemos, ao englobar os cristão ela representa na sua totalidade o povo judeu aos olhos de Deus. O que diferencia, segundo as Sagradas Escrituras, um judeu de um outro homem é a circuncisão que, segundo o estipulado na lei, era aplicada na criança no 8º dia 24 após o seu nascimento; esta significava a pertença, “a incorporação no povo de Deus”. Mas, biblicamente falando, ser judeu é ser circunciso de coração, dito por outras palavras – convertido. Mas, convertido a quem? Será que poderá existir uma verdadeira conversão sem que creiamos em Cristo? Poderemos estar convertidos sem O conhecermos? Ou confundimos estar convertidos com estar convencidos? Conhecemos a obra ou o Senhor da obra? A confusão por vezes instala-se e é a desgraça! Pois pensamos que não é possível estarmos convertidos sem O conhecermos verdadeiramente. No episódio com Nicodemos27 Jesus o mostrou claramente: - “(…) todo aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus” – João 3.5. E quem é este Espírito Santo? Este é, segundo as Sagradas Escrituras, o r
epresentante de Cristo nesta Terra – “Mas quando vier o Consolador, que eu da parte de meu Pai vos hei-de enviar, aquele Espírito de verdade, que procede do Pai, ele testificará de mim” – João 15.26.
epresentante de Cristo nesta Terra – “Mas quando vier o Consolador, que eu da parte de meu Pai vos hei-de enviar, aquele Espírito de verdade, que procede do Pai, ele testificará de mim” – João 15.26.
c) Romanos 9.6-8
V.6- “Não que a palavra de Deus haja faltado, porque nem todos os que são de Israel são israelitas. (7)- Nem por serem descendência de Abraão são todos filhos; mas em Isaque será chamada a tua descendência. (8) Isto é: não são os filhos da carne que são filhos de Deus, mas os filhos da promessa são contados como descendência”. Aqui podemos ver que, os que pretendem ser judeus, na verdade não o são. Os que são judeus são, não segundo a carne, mas porque aceitaram Jesus Cristo e, estes não estão, como já dissemos, confinados a um lugar mas estão espalhados por todo o mundo. Por esta razão as promessas para o fim dos tempos cumprir-se-ão a nível mundial. Paulo refere algo de tremenda importância para a cristandade, ao dizer que: - “(…) nem todos os que são de Israel são israelitas” - v.6. Ou ainda: - “Nem por serem descendência de Abraão são todos filhos (…) – v.7. Como facilmente compreenderemos que o que se passa com Israel é precisamente o contrário! O texto continua: - “(…) mas em Isaque será chamada a tua descendência” – v.7b. O que é que se passou com Isaque? Este foi quase sacrificado pelo pai em obediência ao Senhor – cf. Génesis 22.28 Abramos aqui um curto parêntesis para salientar algum conteúdo da nota que acabámos de mencionar – nota 79. Aqui, acerca do relato, o autor citado nesta nota, considera-o de “estória” e o diferencia de ! Mas o que qual o seu significado, etimológico da palavra “estória” para que o leitor possa perceber a diferença entre estas duas palavras? Uma estória é uma “Narrativa de ficção; exposição romanceada de fatos puramente imaginários (distinta da história, que se baseia em documentos ou testemunhos); conto, novela, fábula” – fechar parêntesis.
Se lermos a carta aos Hebreus – Hebreus 11 - é-nos dito que: - (v.18)- “Sendo-lhe dito: Em Isaque será chamada a tua descendência, considerou que Deus era poderoso para até dos mortos o ressuscitar. (19)- E daí, em figura, ele o recobrou”. Assim, na mente de Abraão, acontecesse o que acontecesse a Isaque, mesmo que tivesse, em última instância de morrer, Deus o ressuscitaria – tal era a fé deste patriarca. Aquela experiência tão estranha no Monte de Moriá, onde este homem de fé ia imolar o seu filho, todo o seu futuro onde assentavam todas as promessas de Deus, era verdadeiramente o Monte do Absurdo – o Deus que promete, o Deus que proíbe sacrifícios humanos - e eis que agora pede todo o seu futuro! Aqui Deus mostrou a este homem, através do seu exemplo, até onde pode ir o amor de pai, de Abraão para com Isaque, mas, acima de tudo, de Deus para com o Seu Filho, antecipando desta forma e representação humana o que aconteceria ali, naquele mesmo lugar, a mesma cena, só que de outra grandeza e dimensão cósmica – a Redenção de toda a humanidade – em Jesus Cristo.
Será que Abraão apercebeu-se da dimensão e significação do seu acto naquele palco? Será que o patriarca viu o dia de Cristo? O Senhor Jesus afirma-o peremptoriamente aos Seus interlocutores, ao dizer: - “Abraão, vosso pai exultou por ver o meu dia; e viu-o e alegrou-se” – João 8.56. No entanto, hoje em dia, os judeus que dizem ser o Seu povo eleito e filhos de Abraão – cf. João 8.39 – apesar disto, assistem incentivam à Sua crucifixão. Será que estes que isto fazem são o mesmo que aquele que dizem ser seu pai? Será que, em boa verdade, são descendentes, semente de Abraão? Pensamos que não, visto que a semente deverá comportar-se como o seu progenitor. Ao contrário destes, Abraão ao ver o dia de Cristo “viu-o e alegrou-se”, enquanto que hoje, os Seus auto apelidados “filhos” vêem-n’O e O ignoram. Se não O aceitam não podem ser filhos, descendência de Abraão. Retomando o texto da carta aos Romanos 9.7 – “(…) mas em Isaque (…)”. Afinal, quem descendeu de Isaque? O Senhor Jesus Cristo. O sacrifício de Isaque simbolizava, apontava para o de Cristo – cf. Gálatas 3.16.
Gostaríamos de tecer algumas considerações sobre a riqueza deste cenário no Monte de Moriá. Isaque antes do sacrifício faz uma pergunta óbvia ao pai: - “(…) onde está o cordeiro para o holocausto?” – Génesis 22.7. A resposta deste pai roído pelo pesar e pela angustia foi: - “Deus (Elohim) proverá (Yir’eh) para si o cordeiro para o holocausto” – v. 8 – (sublinhado nosso). Depois de tudo ter corrido bem, eis que Abraão, totalmente liberto daquele pesadelo mental, irá dar um nome aquele lugar tão especial para ele e para toda a humanidade – “E chamou Abraão o nome daquele lugar, o Senhor (Yahweh que, de certa maneira prevalece – a Morte de Cristo – isto é, como é possível que Aquele que, um dia, disse ser: - “a vida” – João 14.6 - possa conhecer a morte, ainda que, por umas horas? Connosco é diferente porque o ser humano tem vida - por um tempo longo ou curto – enquanto que Ele é a própria vida. É este que ao longo dos escritos de S. Paulo é ventilado: - Efésios 3.8-10; 6,19 – assim como pelo apóstolo Pedro: - I Pedro 1.10-12.
Assim sendo, como é que a morte de Cristo foi possível, não tendo pecado? Será que a Palavra de Deus, aqui é contraditória? De maneira nenhuma! Uma vez mais, o apóstolo Paulo nos dá uma pista, pois a verdade é outra, bem diferente. S. Paulo nos mostra claramente que, não só Deus nunca O abandonou, que nunca esteve ausente daquele lugar – o Calvário -, como também nos dá a conhecer a causa da Sua morte. Vejamos como o apóstolo se expressa acerca do primeiro aspecto: - ao abordar o tema da reconciliação. Ele fá-lo, à sua maneira, magistralmente: - “Isto é, Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecados; e pôs em nós a palavra da reconciliação” – II Coríntios 5.19 – . Na verdade, onde foi feita a reconciliação? Claro, na cruz do Calvário – cf. Efésios 1.7; Romanos 3.24. Deus estava ali em Cristo, sempre ali esteve, tão perto, mas sem nada poder fazer, por amor ao ser humano. Sim este ser, este que é, unicamente, “pó e cinza” – Génesis 18.27.
Mas quanto à segunda vertente, ou seja como foi possível Jesus Cristo morrer na cruz. Na verdade operou-se ali algo de extraordinário, uma estranha simbiose tal como a descreve S. Paulo, ao dizer: - “Aquele que não conheceu pecado, o fez (epoiêsen) pecado (amártian) por (uper) nós (êmôn); para que nele fôssemos feitos justiça de Deus” – II Coríntios 5.21. Na verdade, o que é que se passou naquele madeiro? Este mistério é comentado assim: - “(…) - amártian epoiêsen: enfraquece-se o pensamento do apóstolo se se traduzir:. Há mais do que isto! A ideia é mais profunda; Cristo substituiu os pecadores, sem dúvida, e tratado como tal, mas ainda, ele substituiu o pecado! Deus fez dele a personificação do pecado, tratou-o como sendo o próprio pecado, não deixando nada do que se chama pecado fora dele e não vendo nele nada a não ser o pecado. (…), o justo substitui os pecadores. É eles que Deus vê nele (porque ele fez seus o seus pecados, João 1.29); Deus vê nele o pecador; não vê nele senão o pecado; a reacção necessária de Deus contra o pecado assenta, não contra eles, mas contra ele, o seu substituto, tornado para eles . Trata-se, portanto, não de comunicação, mas de imputação”. Agora sim, tudo nos parece mais claro. Fechamos aqui o parêntesis.
Retomando o que estávamos a abordar, ou seja, os paralelos entre Isaque e Jesus:
4- Jesus foi colocado sobre o madeiro, tal como Isaque carregou a lenha. Aquela viagem, desde a sua tenda até ali, quantos dias permaneceu aquela angústia? Cerca de três dias – Génesis 22.4. E quanto a Cristo, quanto tempo demorou a Sua angústia? Exactamente o mesmo tempo.
5- Há um pormenor interessante, no relato do Génesis que por vezes nos escapa. Aqui é dito que, ao fim daqueles dias de marcha Abraão “(…) viu o lugar de longe” – v. 4. Pai e filho foram mais adiante enquanto os criados ficaram ali à espera que eles voltassem; assim, estes puderam observar a cena, de longe – v. 5. No episódio passado com Jesus – a crucifixão - os evangelhos, em relação aos circunstantes, relatam as mesmas palavras: - “E estavam ali, olhando de longe (…)” – Mateus 27.55.
6- No texto de Génesis, Isaque é tido, em relação a Abraão – “(…) o teu filho, o teu único filho, Isaque a quem tu amas (…)” – Génesis 22.2. Como sabemos, à luz das Sagradas Escrituras, este não era, de modo algum, o único filho de Abraão, pois antes deste nasceu da relação deste com a sua serva Agar, um filho que teve por nome – Ismael. Abraão tinha 86 anos de idade – Génesis 16.16. O seu 2º filho, fruto, desta vez, do casal verdadeiro - Abraão e de Sara - chamado Isaque - irá nascer muito mais tarde, quando este tinha 100 anos – Génesis 21.5. Como estamos a ver, a terminologia “único filho” não tem conotação cronológica, pois ele não foi nem o único nem o primeiro a nascer! Ele é considerado por Deus desta forma porque, Isaque apesar de ser o segundo filho, em termos de placenta é, segundo a promessa e propósito de Deus – o único, o eleito – não Ismael, apesar deste ter sido o primogénito de Abraão! A mesma terminologia encontramos em relação a Cristo, visto Ele também era um filho muito especial, muito amado pelo Pai – “E eis que uma voz dos céus dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo” – Mateus 3.17.
7) Ao fim de três dias de caminho, Abraão chega ao local indicado por Deus para o holocausto – Génesis 22.4. Deus não iria permitir tal sacrifício visto ser contrário aos sacrifícios humanos praticados pelos pagãos. No entanto, o patriarca obedece integralmente à ordem do Senhor até ao momento crucial – v. 10. Ele empunha a faca, levanta-a e prepara-se para a cravar no seu próprio filho. Mas para ele ainda houve uma voz a cancelar tudo, no derradeiro momento, dizendo: - “(…) não estendas a tua mão sobre o moço, e não lhe faças nada (…)” – v. 12. Podemos compreender a angústia vivida por este pai até este momento. E quanto a Deus, o Pai em relação ao sacrifício do Seu filho? Para Jesus não houve uma voz de cancelamento daquela acção terrível – a crucifixão! Nem sequer uma voz – nada! Contráriamente a Abraão. Em termos humanos, que agonia n’Aquele que tem todo o poder mas, que nada pode fazer, voluntariamente!
A Bíblia fala que, em relação a Abraão, o anjo do Senhor, no último momento, impediu aquele acto; de seguida apareceu o substituto – o carneiro – v. 13. Isaque representa; 1- Cristo; 2- cada um de nós. Como Isaque não chegou a morrer foram precisos dois símbolos. Se Isaque tivesse morrido e ressuscitado, então teria sido o símbolo perfeito. No entanto, como estes sacrifícios humanos eram proibidos por Deus, foram necessárias duas coisas: 1ª- Isaque, em representação da submissão, carregou a lenha na qual o pai o iria castigar. 2ª- Isaque revelou-se manso e humilde ao ouvir do pai qual era, efectivamente, o plano que os levou até ali.
De seguida se provê o substituto; tal como nós, todos deveríamos morrer mas se provê um substituto. Não deixa de ser interessante como o autor da carta aos Hebreus vê este episódio passado no monte de Moriá. É referido que o patriarca recebe o seu filho, como se, na realidade ele tivesse ressuscitado ao 3º dia – “e também, em figura, (parabolê - parábola) o recebeu” – Hebreus 11.19. Esta história apontava, simbolicamente, para a realidade da morte de Cristo. Isaque, no monte de Moriá, foi sacrificado. No mesmo local foi, mais tarde, edificado o templo do rei Salomão – II Crónicas 3.1 – onde se ofereciam os sacrifícios que apontavam para o sangue derramado do Senhor Jesus Cristo.
Se lermos a carta aos Hebreus – Hebreus 11 - é-nos dito que: - (v.18)- “Sendo-lhe dito: Em Isaque será chamada a tua descendência, considerou que Deus era poderoso para até dos mortos o ressuscitar. (19)- E daí, em figura, ele o recobrou”. Assim, na mente de Abraão, acontecesse o que acontecesse a Isaque, mesmo que tivesse, em última instância de morrer, Deus o ressuscitaria – tal era a fé deste patriarca. Aquela experiência tão estranha no Monte de Moriá, onde este homem de fé ia imolar o seu filho, todo o seu futuro onde assentavam todas as promessas de Deus, era verdadeiramente o Monte do Absurdo – o Deus que promete, o Deus que proíbe sacrifícios humanos - e eis que agora pede todo o seu futuro! Aqui Deus mostrou a este homem, através do seu exemplo, até onde pode ir o amor de pai, de Abraão para com Isaque, mas, acima de tudo, de Deus para com o Seu Filho, antecipando desta forma e representação humana o que aconteceria ali, naquele mesmo lugar, a mesma cena, só que de outra grandeza e dimensão cósmica – a Redenção de toda a humanidade – em Jesus Cristo.
Será que Abraão apercebeu-se da dimensão e significação do seu acto naquele palco? Será que o patriarca viu o dia de Cristo? O Senhor Jesus afirma-o peremptoriamente aos Seus interlocutores, ao dizer: - “Abraão, vosso pai exultou por ver o meu dia; e viu-o e alegrou-se” – João 8.56. No entanto, hoje em dia, os judeus que dizem ser o Seu povo eleito e filhos de Abraão – cf. João 8.39 – apesar disto, assistem incentivam à Sua crucifixão. Será que estes que isto fazem são o mesmo que aquele que dizem ser seu pai? Será que, em boa verdade, são descendentes, semente de Abraão? Pensamos que não, visto que a semente deverá comportar-se como o seu progenitor. Ao contrário destes, Abraão ao ver o dia de Cristo “viu-o e alegrou-se”, enquanto que hoje, os Seus auto apelidados “filhos” vêem-n’O e O ignoram. Se não O aceitam não podem ser filhos, descendência de Abraão. Retomando o texto da carta aos Romanos 9.7 – “(…) mas em Isaque (…)”. Afinal, quem descendeu de Isaque? O Senhor Jesus Cristo. O sacrifício de Isaque simbolizava, apontava para o de Cristo – cf. Gálatas 3.16.
Gostaríamos de tecer algumas considerações sobre a riqueza deste cenário no Monte de Moriá. Isaque antes do sacrifício faz uma pergunta óbvia ao pai: - “(…) onde está o cordeiro para o holocausto?” – Génesis 22.7. A resposta deste pai roído pelo pesar e pela angustia foi: - “Deus (Elohim) proverá (Yir’eh) para si o cordeiro para o holocausto” – v. 8 – (sublinhado nosso). Depois de tudo ter corrido bem, eis que Abraão, totalmente liberto daquele pesadelo mental, irá dar um nome aquele lugar tão especial para ele e para toda a humanidade – “E chamou Abraão o nome daquele lugar, o Senhor (Yahweh
Assim sendo, como é que a morte de Cristo foi possível, não tendo pecado? Será que a Palavra de Deus, aqui é contraditória? De maneira nenhuma! Uma vez mais, o apóstolo Paulo nos dá uma pista, pois a verdade é outra, bem diferente. S. Paulo nos mostra claramente que, não só Deus nunca O abandonou, que nunca esteve ausente daquele lugar – o Calvário -, como também nos dá a conhecer a causa da Sua morte. Vejamos como o apóstolo se expressa acerca do primeiro aspecto: - ao abordar o tema da reconciliação. Ele fá-lo, à sua maneira, magistralmente: - “Isto é, Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecados; e pôs em nós a palavra da reconciliação” – II Coríntios 5.19 – . Na verdade, onde foi feita a reconciliação? Claro, na cruz do Calvário – cf. Efésios 1.7; Romanos 3.24. Deus estava ali em Cristo, sempre ali esteve, tão perto, mas sem nada poder fazer, por amor ao ser humano. Sim este ser, este que é, unicamente, “pó e cinza” – Génesis 18.27.
Mas quanto à segunda vertente, ou seja como foi possível Jesus Cristo morrer na cruz. Na verdade operou-se ali algo de extraordinário, uma estranha simbiose tal como a descreve S. Paulo, ao dizer: - “Aquele que não conheceu pecado, o fez (epoiêsen) pecado (amártian) por (uper) nós (êmôn); para que nele fôssemos feitos justiça de Deus” – II Coríntios 5.21. Na verdade, o que é que se passou naquele madeiro? Este mistério é comentado assim: - “(…) - amártian epoiêsen: enfraquece-se o pensamento do apóstolo se se traduzir:
Retomando o que estávamos a abordar, ou seja, os paralelos entre Isaque e Jesus:
4- Jesus foi colocado sobre o madeiro, tal como Isaque carregou a lenha. Aquela viagem, desde a sua tenda até ali, quantos dias permaneceu aquela angústia? Cerca de três dias – Génesis 22.4. E quanto a Cristo, quanto tempo demorou a Sua angústia? Exactamente o mesmo tempo.
5- Há um pormenor interessante, no relato do Génesis que por vezes nos escapa. Aqui é dito que, ao fim daqueles dias de marcha Abraão “(…) viu o lugar de longe” – v. 4. Pai e filho foram mais adiante enquanto os criados ficaram ali à espera que eles voltassem; assim, estes puderam observar a cena, de longe – v. 5. No episódio passado com Jesus – a crucifixão - os evangelhos, em relação aos circunstantes, relatam as mesmas palavras: - “E estavam ali, olhando de longe (…)” – Mateus 27.55.
6- No texto de Génesis, Isaque é tido, em relação a Abraão – “(…) o teu filho, o teu único filho, Isaque a quem tu amas (…)” – Génesis 22.2. Como sabemos, à luz das Sagradas Escrituras, este não era, de modo algum, o único filho de Abraão, pois antes deste nasceu da relação deste com a sua serva Agar, um filho que teve por nome – Ismael. Abraão tinha 86 anos de idade – Génesis 16.16. O seu 2º filho, fruto, desta vez, do casal verdadeiro - Abraão e de Sara - chamado Isaque - irá nascer muito mais tarde, quando este tinha 100 anos – Génesis 21.5. Como estamos a ver, a terminologia “único filho” não tem conotação cronológica, pois ele não foi nem o único nem o primeiro a nascer! Ele é considerado por Deus desta forma porque, Isaque apesar de ser o segundo filho, em termos de placenta é, segundo a promessa e propósito de Deus – o único, o eleito – não Ismael, apesar deste ter sido o primogénito de Abraão! A mesma terminologia encontramos em relação a Cristo, visto Ele também era um filho muito especial, muito amado pelo Pai – “E eis que uma voz dos céus dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo” – Mateus 3.17.
7) Ao fim de três dias de caminho, Abraão chega ao local indicado por Deus para o holocausto – Génesis 22.4. Deus não iria permitir tal sacrifício visto ser contrário aos sacrifícios humanos praticados pelos pagãos. No entanto, o patriarca obedece integralmente à ordem do Senhor até ao momento crucial – v. 10. Ele empunha a faca, levanta-a e prepara-se para a cravar no seu próprio filho. Mas para ele ainda houve uma voz a cancelar tudo, no derradeiro momento, dizendo: - “(…) não estendas a tua mão sobre o moço, e não lhe faças nada (…)” – v. 12. Podemos compreender a angústia vivida por este pai até este momento. E quanto a Deus, o Pai em relação ao sacrifício do Seu filho? Para Jesus não houve uma voz de cancelamento daquela acção terrível – a crucifixão! Nem sequer uma voz – nada! Contráriamente a Abraão. Em termos humanos, que agonia n’Aquele que tem todo o poder mas, que nada pode fazer, voluntariamente!
A Bíblia fala que, em relação a Abraão, o anjo do Senhor, no último momento, impediu aquele acto; de seguida apareceu o substituto – o carneiro – v. 13. Isaque representa; 1- Cristo; 2- cada um de nós. Como Isaque não chegou a morrer foram precisos dois símbolos. Se Isaque tivesse morrido e ressuscitado, então teria sido o símbolo perfeito. No entanto, como estes sacrifícios humanos eram proibidos por Deus, foram necessárias duas coisas: 1ª- Isaque, em representação da submissão, carregou a lenha na qual o pai o iria castigar. 2ª- Isaque revelou-se manso e humilde ao ouvir do pai qual era, efectivamente, o plano que os levou até ali.
De seguida se provê o substituto; tal como nós, todos deveríamos morrer mas se provê um substituto. Não deixa de ser interessante como o autor da carta aos Hebreus vê este episódio passado no monte de Moriá. É referido que o patriarca recebe o seu filho, como se, na realidade ele tivesse ressuscitado ao 3º dia – “e também, em figura, (parabolê - parábola) o recebeu” – Hebreus 11.19. Esta história apontava, simbolicamente, para a realidade da morte de Cristo. Isaque, no monte de Moriá, foi sacrificado. No mesmo local foi, mais tarde, edificado o templo do rei Salomão – II Crónicas 3.1 – onde se ofereciam os sacrifícios que apontavam para o sangue derramado do Senhor Jesus Cristo.
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