Que nos seja permitido um breve parêntesis: - A Igreja é hoje, mais do que nunca, uma força que será preciso ter em conta, pois move-se como ninguém no seu meio ambiente preferido, onde ela é mestre e exímia devido à sua larga experiência de séculos – o xadrez político. Como material de base reportar-nos-emos a um volumoso livro escrito por um teólogo jesuíta chamado Malachi Martin, que foi professor na Universidade Pontifícia, no Vaticano. Este escreveu o livro que fazemos referência, na década de 1980, acerca desta mesma problemática. O livro, todo ele, é sugestivo, pois desde logo, na capa, tem a figura da personagem mais importante, politicamente falando, do passado recente – o Papa João Paulo II.
Como se isto não bastasse, o título do livro em causa é, de igual modo, tremendamente sugestivo: - “As Chaves deste Sangue”. Este tem como subtítulo algo ainda mais extraordinário para um livro de aparência religiosa. Eis o subtítulo em causa: - “O Papa João Paulo II versus Rússia e o Oeste para controlo da Nova Ordem Mundial”. Isto dito por outras palavras, teremos: - a luta pelo domínio do mundo entre: João Paulo II, Mikhail Gorbatchev e o Ocidente capitalista (U.S.A). Abramos aqui um breve parêntesis para analisarmos a, desde já, alguns excertos do livro em causa:
1ª- A competição será a nível global, segundo o autor, entre estas três partes beligerantes, politicamente falando. Diz ele que: - “a vida individual dos cidadãos, das famílias, do comércio, dinheiro, sistemas de educação, religiões e culturas e a identidade nacional, tudo será poderosa e radicalmente alterado para
sempre. Ninguém pode estar isento dos seus efeitos. Nenhum sector das nossas vidas será intocável”.
sempre. Ninguém pode estar isento dos seus efeitos. Nenhum sector das nossas vidas será intocável”.
2ª- Ele, o autor, dá um passo em frente na explanação dos seus argumentos e refere que, nesta competição – “o pontificado de João Paulo é o vitorioso nesta competição”.
3ª- Assim, princípios como a “separação da Igreja do Estado foi a causa da ruína moral do Ocidente”. Curiosamente, o Espírito de Profecia, a este propósito refere, exactamente, o contrário – “Foi também concedida liberdade de fé religiosa, sendo permitido a todo o homem adorar a Deus, segundo os ditames da sua consciência. Republicanismo e protestantismo tornaram-se os princípios fundamentais da nação. Estes princípios são o segredo do seu poder e prosperidade”. Nesta qualidade é necessário restabelecer o que se perdeu – moral e espiritualmente – falando. Assim: - “Os valores da libertação e liberdade são garantidos por valores elevados”. Continuando o autor a dizer que: - “A santidade é o objectivo não só das pessoas, mas também das instituições humanas. Tudo isto, claro, é rejeitado pelo actual secularismo”.
Claro, perante a falência dos sistemas políticos, qual será a potência que garante a estabilidade de todos estes valores morais e espirituais? A resposta, para a época, estava no pontificado de João Paulo II – na medida em que “João Paulo II é não só a cabeça espiritual de um corpo mundial de crentes, mas também o líder executivo de um Estado soberano que é membro reconhecido da sociedade de Estados do final do século vinte. Com um objectivo e uma estrutura política? Sim, com um objectivo e uma estrutura geopolítica. Pois, em análise final, João Paulo II, reclamando o título de Vigário de Cristo também reclama ser o tribunal de última instância da sociedade de Estados enquanto sociedade”.
4ª- Alguns ao caracterizarem o papa João Paulo II, dizem: - “Neste século, este Papa é, certamente, depois de Pio XII, o mais fervoroso devoto da Virgem no trono de S. Pedro”.401 Isto tem que ver como Malachi Martin descreve a relação do 3º segredo de Fátima com o papado – João Paulo II. Ao contexto próximo estão ligadas algumas vertentes, tais como: 1ª- a consagração da Rússia; 2ª- o atentado que este papa foi alvo, etc. O papa, ele mesmo refere, a propósito: - “uma mão que puxou o gatilho e uma outra mão materna que guiou a trajectória da bala”. (…). A piedade mariana de Wojtyla (João Paulo II) torna-se cristocêntrica. Torna-se o próprio sofrimento de Cristo na cruz;”.
Este terceiro segredo de Fátima foi analisado por três papas e, segundo Malachi Martin: - “João XXIII achou que os acontecimentos ali relatados não tinham relevância para o seu pontificado (…). Paulo VI leu o conteúdo e decidiu não fazer nada acerca do assunto. João Paulo I também lê o documento de Lúcia, mas só vive 33 dias. João Paulo II leu o documento e, a exemplo dos seus antecessores, nada viu de relevante ali. Mas estávamos em 1978”. Na verdade, “o atentado contra João Paulo II mudou o cenário”. Efectivamente, tudo mudou. Desde logo, na compreensão de alguns acontecimentos:
a– Efectivamente, tal como é referido - “para João Paulo II, as profecias de Fátima são . Estas aparições e o atentado de 13 de Maio de 1981 inscrevem-se no mesmo pano de fundo, que é a História trágica do século XX, que começou em 1917 e terminou com a queda do Muro de Berlim em Novembro de 1989”.
b- Para um enquadramento dos factos, vejamos como é descrita a actuação do Pontífice neste contexto agora aflorado, visando o cumprimento do que fora predito por Lúcia em relação à Rússia: - “Se o colapso do comunismo aconteceu, a partir de 1989, sem o terrível derramamento de sangue que poderia tê-lo acompanhado, isso foi também em virtude dos actos de João Paulo II, dos seus firmes e emocionados apelos públicos e da diplomacia subterrânea encorajada por ele. Como testemunhou um qualificado representante político - . Reconheceu-o abertamente o próprio presidente russo Makhail Gorbachov quando afirmou: ”.
c- Ou ainda, recorde-se, a visita espectacular no dia 1 de Dezembro de 1989 de Mikhail Gorbachov, pela primeira vez, ao Vaticano para um encontro com João Paulo II. Qual foi, nas suas grandes linhas, o teor e objecto deste encontro? Ora vejamos quão significativa é a descrição do quanto neste se passou: - “(…) só a força de Deus levou os homens a aceitar a mudança, e ”.
d- Tal como já referimos, com a queda do comunismo, a esta está interligada, nomeadamente, a queda do muro de Berlim a 9 de Novembro de 1989. Uma vez mais, o nome do Pontífice a ela está ligado: - “Do mesmo modo, quando lhe agradeciam porque tinha contribuído para a queda do muro de Berlim, replicava: , seguro da profecia da Virgem de Fátima acerca da conversão da Rússia e da subsequente queda do comunismo”. Assim, em função de todos estes acontecimentos, finalmente, “Em 1992 Gorbachov fez chegar ao Vaticano duas páginas de testemunhos em russo intituladas Sobre o Papa de Roma, nas quais confirmava a sua própria convicção de que a figura do Pontífice tinha sido decisiva para imprimir esta direcção à História”.
5ª- Perante todos estes acontecimentos, nesta “(…) luta de titãs, o comunismo e a Igreja (…)” só deveria existir entres estes dois poderes – Europa e Leste – um único vencedor, tal como Malachi Martin o refere – o papado. Na perspectiva de João Paulo II haveria uma outra era, longa ou curta, quando um grande projecto de Deus fosse inaugurado – uma unidade geopolítica de todas as nações. E quem estaria à cabeça deste sistema para reedificar o edifício moral que os Estados não conseguiram manter? Alguém tinha que estar à altura desta grande tarefa e, segundo este autor: - “o Grande Projecto de Deus seria executado. Ele, João Paulo II seria o Servo do Grande Projecto”.
6ª- Porquê o título do livro de Malachi Martin? Porque quis, não só realçar e descrever o nome da pessoa ou do sistema por ele representado – João Paulo II -, como também, a razão do direito do papado a vencer nesta litigância. Para realçar ainda mais o seu propósito, ele cita o resultado de uma visão que Catarina de Siena teve acerca da origem da autoridade papal. Na época, após a morte do papa – Gregório XI (1370-1378) – vários perigos ameaçavam a Igreja na disputa da cadeira de Pedro. Acerca da origem da autoridade papal, eis o que ela conta, a este propósito, de uma das suas muitas visões estáticas:
“Deus, o pai:
– De quem é este sangue?
Catarina:
- O sangue do Nosso Senhor, Vosso divino Filho.
Deus, o pai:
- A quem deu o Meu Filho as Chaves deste sangue?
Catarina:
- A Pedro, o Apóstolo
Deus, o pai:
- Sim. E a todos os sucessores de Pedro até este momento. E a todos os sucessores de Pedro até ao tempo do fim. Isto é porque a autoridade destas chaves nunca fraquejará, porque a força deste sangue nunca poderá ser diluída”.
Assim, segundo a visão, não só a autoridade papal é definitivamente proclamada e, uma vez mais assente, não no homem, na sociedade, como também esta vem directamente de Deus aos sucessores de S. Pedro. Portanto, uma autoridade incontestável.
7ª- É, portanto, relativamente recente ouvir-se falar da temática – Nova Ordem Mundial – visto que esta ideia pressupõe um governo centralizado, advogando a unidade de todos os poderes. Na verdade, para que o velho sonho de Babel possa ser, finalmente, uma realidade, nada mais resta a não ser encontrar - um chefe galvanizador – alguém que tenha algumas particularidades, carisma, ou seja, alguém que seja aceite por todos, independente de todas as nações, que garanta os valores que o tempo e os sucessivos governos foram a causa primeira da sua degradação. Esta resposta a estas questões passa, inevitavelmente, por um sistema que comporte, em simultâneo, estas duas vertentes, a saber: a religiosa e a política. Na área religiosa, apesar de diferente, consegue, por estranho que possa parecer, galvanizar e harmonizar vontades tão distintas umas das outras. Na área política, que país ou Estado na Europa ou no mundo, tem a experiência que o Vaticano tem na arte diplomática, historicamente falando? A resposta é simples: - nenhum.
Na verdade, a figura carismática do papa João Paulo II parecia reunir todos estes ingredientes. Pois não será, certamente por acaso, à luz do que vimos até aqui, que a Revista Time elegeu João Paulo II como sendo o - "Homem do ano" de 1994. Este orgão de informação justificou assim a escolha: - "em um ano em que tantas pessoas lamentam a deterioração dos valores morais ou buscam pretextos diante de um mau comportamento, o Papa João Paulo II levou adiante, com determinação, sua visão de uma vida reta e convidou o mundo a fazer o mesmo. Por essa retidão, ele é o . (…) A sua angústia pela situação da Bósnia e por outras guerras no mundo, pela decadência dos valores morais e, sobretudo, sua preocupação com a santidade do ser humano para a qual, segundo o texto, ”.
Na verdade, todos estes movimentos a nível global que concorrerão para esta unidade de governos para que haja um único líder, um único sistema centralizador, poderá assustar qualquer um. Mas, a exemplo do passado, o povo de Deus nada tem a temer, pois o Deus do passado é o mesmo de hoje e Ele continua no controlo deste mundo, visto ser Ele o seu Criador. Fechar parêntesis.
Voltemos de novo, à Palavra de Deus – Génesis 11. Como vimos atrá, à voz de Deus, tudo o que era normal, de repente, ficou anormal, confuso. Inesperadamente, a união que parecia forte, até então, agora, desfaz-se.
- V.9- “Por isso se chamou o seu nome Babel, porquanto ali confundiu o Senhor a língua de toda a terra; e dali os espalhou o Senhor sobre a face de toda a terra”.
Aquele lugar passou a chamar-se: - Babel, confusão. Assim sendo, para que a harmonia se restabelecesse, ainda que divididos, aqueles que se compreendiam uniram-se entre si e, cada grupo linguístico, foi para cada lado.
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