Agora o Soberano no céu revela a João um esboço da era da
igreja, com ênfase especial sobre o resultado final como está determinado por
sua vontade soberana. Este futuro se centra em Cristo e em seu povo do pacto, e
se revela por meio da visão do "livro" de Apocalipse 5 a 7.
O livro divino [biblíon] em Apocalipse 5 está selado com 7
selos que ninguém nem no céu nem na terra é digno de abrir. Isto é altamente
significativo. Nenhum ser criado, seja anjo ou santo, tem a dignidade de Jesus
exaltado. Só Cristo pode dar a conhecer os juízos de Deus, abrindo os selos
(Apoc. 6 e 7), e pelas visões seguintes e esclarecedoras do Apocalipse. Desse modo
Cristo dá sentido à história mundial. Ele colocou a humanidade em direção a uma
meta que Deus predeterminou na sua sala do trono no céu. Por isso as visões do
trono de João são fundamentais para todo o livro. G. R. Beasley-Murray percebeu
isto e disse: "Neste particular, estes capítulos [Apoc. 4 e 5] constituem
o fator fundamental da estrutura que mantém unido o livro, porque o resto das
visões são montadas nesta estrutura principal".1
A ênfase sobre o livro divino na mão direita de Deus amplia
o foco de Deus como o Criador em Apocalipse 4 para Deus como o Redentor de sua
criação. A visão do trono no capítulo 5 revela a maneira na qual Deus "tem
que vir" (Apoc. 4:8) na história da humanidade para cumprir seu propósito.
A Majestade sobre o trono tem em sua mão direita um livro escrito em ambos os
lados, e selado com 7 selos (5:1). Alguns viram aqui uma similitude com o rolo
do livro desdobrado que Ezequiel recebeu de Deus, no qual estavam escritas por
diante e por trás "lamentos e lamentações e ais" (Ezeq. 2:9, 10).
Outros vêem um paralelo mais adequado com o rolo de Deuteronómio, o qual, como
o livro do pacto, devia dar-se a um recém-coroado rei em Israel (ver Deut.
17:18-20; 2 Reis 11:12). Em sua tese, Ranko Stefanovic tira esta ampla
conclusão:
"Ao tomar o livro, a Cristo lhe encomendou a soberania
do mundo (cf. 1 Ped. 3:22; Fil. 2:9-11); o livro significaria então a legítima
transferência do reino. Em tal contexto, também tem um caráter de testamento, e
pode chamar-se também o livro da herança de Cristo. Desde que a transferência
do reino se refere à recuperação da posse do direito que se perdeu pelo pecado,
o livro tem todas as características do livro da redenção ou a escritura da
venda. Ao tomar o livro, todo o destino da humanidade se coloca nas mãos do
Cristo entronizado; por isso é na verdade o livro celestial do destino. Ele
julgará sobre a base de seu conteúdo, por isso é o livro de juízo".2
O conteúdo deste livro selado, descrevendo os juízos de Deus
sobre um mundo hostil, como aparece pelos capítulos que seguem, coloca-se nas
mãos do Senhor ressuscitado, o Cristo todo-poderoso e omnisciente (ver Apoc.
5:6). Apocalipse 5 assegura que por meio da vitória de Cristo na terra, será
restaurado o reino de Deus (ver Apoc. 21:5).
"Todavia, um dos anciãos me disse: Não chores; eis que
o Leão da tribo de Judá, a Raiz de Davi, venceu para abrir o livro e os seus
sete selos. Então, vi, no meio do trono e dos quatro seres viventes e entre os
anciãos, de pé, um Cordeiro como tendo sido morto. Ele tinha sete chifres, bem
como sete olhos, que são os sete Espíritos de Deus enviados por toda a terra.
Veio, pois, e tomou o livro da mão direita daquele que estava sentado no
trono" (Apoc. 5:5-7).
Um dos santos glorificados no céu explica que as promessas
de Deus a Israel encontraram seu cumprimento no Senhor ressuscitado, e se
refere a três profecias essencialmente messiânicas e as combina em uma proclamação
de cumprimento: Géneses 49:9, 10; Isaías 11:1-10 e 53:7. "Em nenhum outro
lugar no Novo Testamento estão agrupados os termos reais mais significativos em