terça-feira, 29 de abril de 2014

O Fogo Divino e Sua Falsificação

Apocalipse 13:13 afirma que o falso profeta “fez grandes sinais, de maneira que até fogo fazia descer do céu à terra, à vista dos homens”. O que significa isso?

O fogo é um símbolo interessante no livro do Apocalipse. Na maioria das vezes é um símbolo do juízo de Deus contra os ímpios (ver Apoc. 8:5, 14:10), que às vezes preserva os servos de Deus (Apoc. 11:5). Muitas vezes, é associado com a divindade. Por exemplo, João viu no santuário celestial “sete tochas de fogo”, identificadas como um símbolo do Espírito Santo (Apocalipse 4:5). O fogo também está relacionado a Cristo: “Seus olhos eram como chama de fogo” (Apocalipse 1:14, cf. Apoc. 2:18, 19:12); “Suas [pernas] como colunas de fogo” (Apoc. 10:1).

O fogo na Bíblia é um elemento teofânico (Manifestação da divindade). Muitas vezes, quando Deus se manifesta ao homem, Sua presença é comparada ou está associada com o fogo. Possivelmente o exemplo mais importante no Antigo Testamento é a experiência dos israelitas no Monte Sinai: “Todo o Monte Sinai fumegava, porque o Senhor descera sobre ele em fogo” (Êxodo 19:18). Sua aparência abrasadora indicava Sua presença em um lugar particular enquanto mantinha-se distante e inacessível por causa da Sua santidade.

A expressão “desceu fogo do céu” também é usada em Apocalipse 20:9. Neste caso, o fogo é um instrumento do julgamento divino contra as forças do mal que tentam tomar pela força a Cidade Santa. Esta utilização é diferente da registada em Apocalipse 13:13. O falso profeta fez descer fogo do céu para enganar os habitantes da terra. O incidente de Elias no Monte Carmelo, fornece a base bíblica para este simbolismo.

Os israelitas foram adorar à Baal, e o profeta os confrontou com uma escolha: O Senhor ou Baal. Elias indicou que o verdadeiro Deus iria revelar-se fazendo descer fogo do céu (1 Reis 18:20-39). Baal era incapaz de atender a exigência. Elias orou, o fogo do Senhor caiu do céu, e o povo gritou, “O Senhor é Deus”. O milagre foi uma manifestação clara da presença do Senhor e serviu para identificar o verdadeiro Deus, defronte de um falso.

Apocalipse 13:13 descreve uma tentativa de falsificar a presença de Deus através de atividades miraculosas no sentido de persuadir os moradores da terra de que no conflito cósmico, os poderes do mal representam o verdadeiro Deus. Como resultado dessa falsa teofania, muitos adorarão ao dragão e a besta (versos 4, 12).

A maior e verdadeira teofania a ser testemunhada pela raça humana está prestes a ocorrer. Paulo se refere a ela como “a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Jesus Cristo” (Tito 2:13). Este evento sem precedentes ocorrerá na segunda vinda do Senhor.

O simbolismo de fazer descer fogo do céu, indica que o falso profeta tentará validar ou autenticar sua pretensa missão divina para o mundo através da realização de milagres. Mas me atreverei, com base nos parágrafos anteriores, a uma interpretação mais específica.

Na descrição do regresso do nosso Salvador no Novo Testamento, o fogo exerce uma importante função teofânica. Aquele que está voltando é o nosso “Deus e Salvador”. Um bom exemplo é encontrado em 2 Tessalonicenses 1:7-8: “…Quando do céu se manifestar o Senhor Jesus com os anjos do seu poder, em chama de fogo. …”. Parece-me que, para o apóstolo, o símbolo do fogo que descia do céu, aponta para o glorioso evento da segunda vinda de Cristo. Então, será transparentemente claro para a raça humana e às forças do mal que Cristo é realmente nosso verdadeiro Deus e Salvador.

Se esta proposta for aceita, podemos concluir que Apocalipse 13:13 descreve uma tentativa por parte dos poderes do mal de imitar a segunda vinda de Cristo, a fim de enganar a raça humana. “E não é de admirar”, escreveu Paulo, “pois o próprio Satanás se transforma em anjo de luz” (2 Coríntios 11:14).


Deixe-me lembrá-lo de que as forças do mal não tem poder sobre aqueles que pertencem ao Senhor. Elas foram derrotadas por Ele, e Sua vitória é a nossa vitória. Nunca serão capazes de imitar perfeitamente a vinda do Senhor. “Guerrearão contra o Cordeiro, e o Cordeiro os vencerá, porque é o Senhor dos Senhores e o Rei dos reis; vencerão também os que estão com Ele, chamados eleitos, e fiéis”. (Apoc. 17:14).

domingo, 27 de abril de 2014

Livro de Daniel - Contexto Histórico

Mapa do Mundo - Babilónia, séc. VII-V AC
O livro de Daniel começa com Nabucodonosor no trono da Babilónia. A dinastia substituíra a assíria como potência dominante na região oriental do Mediterrâneo durante o último quarto do século VII a.C., e quando Nabucodonosor derrotou os egípcios em Carquemis  em 605 a.C., já estava firmemente estabelecida. Em 604 ele sucedeu ao seu pai no trono.

Expandiu mais ainda as conquistar do pai, e conforme o relato do livro de Reis, em 587-586 finalmente subjugou Judá e saqueou Jerusalém, desterrando para a Babilónia uma grande parte da população. O livro de Daniel pressupõe que tenha havido uma invasão anterior de Judá quando alguns cativos foram levados, inclusive Daniel.

Depois da morte de Nabucodonosor em 562, seu filho e netos revelaram-se incapazes e, em 556, uma revolução por fim colocou no trono alguém que não pertencia à família real, chamado Nabonedo. Seu filho era Belsazar que, segundo parece, reinava na Babilónia como preposto pelo pai quando o império caiu sob os persas do rei Ciro, em 539. Depois disso, o Próximo Oriente foi governado durante dois séculos por uma sucessão de soberanos persas. Destes Dario I foi historicamente o mais conhecido. Logo após, em fins do século IV, veio a derrota dramática do Império Persa por Alexandre Magno que estabeleceu a supremacia grega sobre toda a área do império, em 331 a.C. Alguns anos depois da morte de Alexandre, o seu reino no Próximo Oriente foi dividido em dois. A dinastia ptolemaica, cujo nome se deve ao seu primeiro soberano Ptolomeu I Soter, governou a área ao redor do Egito, e a dinastia selêucida, iniciada pelo soberano Seleuco I Nicator, tendia a dominar a Síria e a Palestina. Entre as duas casas reais, às vezes havia casamentos, e outras conspirações e traição. Os ptolomeus egípcios dominaram até que, em 198 a.C., o selêucida Antíoco Magno derrotou Ptolomeu Epifânio e finalmente obteve incontestada ascendência sobre a Palestina. O acontecimento mais importante, no que dizia respeito aos judeus, ocorreu em 175 quando, depois de algumas intrigas, Antíoco IV Epifânio conseguiu o trono dos selêucidas. A pessoa, a carreira e as ambições deste soberano, muita atenção é dada no livro de Daniel.

Durante este período, as circunstâncias do povo de Deus mudaram consideravelmente. Como exilados na Babilónia sob o governo de Nabucodonosor, tiveram de enfrentar os problemas de se estabelecer numa terra estranha, dominada por uma religião pagã, e também de permanecerem fiéis ao Deus de seus pais, embora não tivessem templo nem ritual de sacrifícios. Daniel e os seus três companheiros são exemplos de como os que foram fiéis conseguiram fazer isso de modo triunfante. Depois da ascensão de Ciro, o Persa, ao trono em 539, alguns dos exilados voltaram à Palestina e, por terem aumentado em número edificaram primeiro o templo e depois os muros. Os imperadores persas eram, de modo geral, amistosos, e a comunidade que voltou desfrutava, em boa medida, de liberdade religiosa. Já sob o império grego, porém, tiveram de enfrentar uma ameaça muito mais severa do que tinham tido até então, até mesmo no exílio. Alexandre Magno tinha a ambição não somente de conquistar o mundo, como também "helenizá-lo", isto é, submeter tudo à influência do espírito grego. Colocou o processo de helenização em andamento, e os que vieram depois, conseguiram um notável sucesso.

Os costumes gregos e a maneira grega de encarar o mundo foram amplamente difundidos. Parecia que tudo quanto era grego impregnava as coisas com a sua presença e deste modo se tornou universal. A influência da cultura grega penetrou nas antigas religiões do Oriente e produziu as religiões helenísticas de mistério.

Durante muitas gerações, a nação judaica como um todo conseguiu resistir a este movimento, pois na Palestina, sob o governo ptolemaico, nenhuma pressão externa foi imposta à população para fazê-la adotar os costumes gregos. Mas dentro da próxima comunidade judaica, especialmente nos círculos intelectuais e sacerdotais, e entre aqueles que estavam envolvidos na política do poder daqueles dias, surgiu um forte partido helenizante.

Quando Antíoco Epifânio alcançou o poder na Síria e na Palestina, lançou-se numa campanha resoluta e inescrupulosa para impor o helenismo a toda a população, usando o engodo, subornos e intrigas, além de destruir impiedosamente toda a resistência aberta.

A história das suas manobras, dos seus sucessos, e dos seus fracassos final pode ser lida nos livros dos Macabeus. Até mesmo antes de se iniciar o seu reinado, o cargo de sumo-sacerdote em Jerusalém ficou vago, e recebeu suborno para nomear Jasom, um dos líderes do partido helenizante. Este passo foi seguido pelo estabelecimento de uma escola em Jerusalém para que jovens judeus pudessem ser treinados nos costumes gregos, participando de jogos gregos e adoptando modas gregas. À medida que o programa de helenização avançava, havia intrigas mais profundas, e um impostor sem escrupuloso, Menelau, suplantou Jasom nas boas graças do rei. Sob Menelau como sumo-sacerdote, houve mais contendas e intrigas, levando a massacres nas ruas, ao estabelecimento de uma guarnição síria na cidade, à fuga de refugiados e à publicação de decretos que proibiam as práticas religiosas do povo judeu. O castigo para tais infrações era a morte. Ordens foram dadas para o templo ser dedicado à adoração de Zeus do Olimpo, e no ano 168, um altar foi erigido no templo para honrar a Zeus e realizar sacrifícios a esse deus. Os deuses pagãos deviam ser honrados noutras localidades; comer alimentos imundos era compulsório. Os decretos foram executados com brutalidade. Houve muitos massacres e muitos mártires.

Entretanto dois partidos ofereceram resistência. O partido dos macabeus sob a inspiração e liderança de Matatias, um sacerdote do interior, e seus filhos, despertou a resistência armada, entrou no campo da batalha, e finalmente foi bem-sucedido. O outro partido de resistência foi o dos hasidins(1), ou santos. Tratava-se de um partido separatista cuja política era a resistência passiva e rigorosa fidelidade à lei, especialmente em certos pontos que lhes pareciam questões cruciais, tais como as leis que proibiam comer certos alimentos. Mesmo durante as lutas, os hasidins recusaram lutar no dia de sábado e eram impiedosamente trucidados. Estes dois partidos juntaram-se por algum tempo. A certa altura, por exemplo, os macabeus chegaram a suspender a observância do sábado, para assim encorajar os hasidins a vencer um dos seus escrúpulos. De modo geral, no entanto, estes últimos desejavam permanecer independentes do apoio político, somente confiando em Deus. Havia profundas diferenças entre as ideias e os pontos de vista desses dois grupos.

Este período, de 605 até 165 a.C., compreende o período histórico que é objeto imediato da detalhada exposição feita pelo autor do livro de Daniel.

Nota: 

(1) Hasidim / Chasidim (em hebraico: חסידים) é o plural de hassídico (חסיד), que significa "piedoso". O título honorífico "Hasid" era frequentemente usado como um termo de respeito excepcional no Talmude e períodos medievais. Na literatura rabínica clássica difere de "Tzadik" - "justo", de vez que denota aquele que vai além das exigências legais de observância judaica ritual e ética na vida diária. O significado literal de "Hasid" deriva-Chesed "bondade", a expressão externa do amor a Deus e as outras pessoas. Esta devoção espiritual motiva conduta piedosa além dos limites do quotidiano. A natureza devocional da sua descrição emprestou-se a alguns movimentos judaicos da história a ser conhecidos como "hassidismo". Duas delas derivadas da tradição mística judaica, a tender para a piedade ou legalismo.

quarta-feira, 16 de abril de 2014

A Organização do Apocalipse

Você já leu alguma vez o Apocalipse de ponta a ponta? Porventura já o fez muitas vezes?
Num e noutro caso, é bem provável que você tenha sida profundamente impressionado com os vívidos quadros e com as incandescentes promessas do livro: mas também é provável que finalmente tenha ficado perplexo ao pensar em como juntar todas as peças do quebra-cabeças.

À primeira vista e, para muitos leitores, mesmo à quinquagésima leitura, o Apocalipse parece ser o mais desorganizado dentro todos os livros da Bíblia. Se esta é a impressão que você tem talvez cause muita surpresa a afirmação de que, na verdade, ele é maravilhosamente organizado. De facto é possível que o Apocalipse, dentre todos os livros que têm o seu tamanho, seja, em toda a Bíblia, o mais bem organizado!

Familiarizarmo-nos com a organização básica do Apocalipse é algo que não nos tomará mais que algumas páginas, e o esforço empreendido em lê-las será plenamente compensador. Em menos de quinze minutos, poderemos perceber facilmente a inteligência da estrutura simétrica que estabelece ordem na aparente confusão. Nesse processo de análise, obteremos provavelmente a mais útil de todas as possíveis chaves, capazes de desvendar o significado do livro. Como prémio adicional, começaremos também a encontrar a resposta à questão frequentemente repetida: "Quanto do livro de Apocalipse ainda está por se cumprir?".

Tendo em mente tantas recompensas possíveis, dediquemos alguns momentos da nossa atenção à forma como está organizado o Apocalipse.

Profetas-poetas. Com bastante frequência, os profetas do Antigo Testamento foram também poetas. É claro que escreveram na sua própria forma de fazer poesia, não naquela que hoje conhecemos e usamos. Eles fizeram uso de paralelismos e contrastes, acrósticos, quiasmas e trocadilhos sérios. Por vezes chegaram ao ponto desejado através do uso de um número preciso de palavras. Em Daniel 9:24, por exemplo, é possível observar como três frases de duas palavras são conectadas de modo significativo a três frases de três palavras. Constatamos que uma certa familiaridade com a estrutura literária pode auxiliar-nos definitivamente na compreensão de uma passagem difícil.

Não deveria surpreender-nos o facto de que os profetas fossem poetas. A composição da poesia exige mais esforço que a prosa e, corretamente elaborada, torna-a mais atrativa que esta. Os profetas, impressionados com a importância das mensagens a eles confiadas, trabalham arduamente para as expressar bem. Além disso, Deus - que os inspirou com as mensagens também os ajudou a comunicá-las. Não se esqueça, por outro lado, que por ocasião do Pentecoste Deus concedeu a João o dom de línguas. Veja Atos 1:12-14; 2:1-4. Não admira, pois que, ele conseguisse expressar-se bem!

O Apocalipse não é poesia no sentido em que o são, por exemplo, os "Meus Oito Anos", de Casimiro de Abreu, ou "Navio Negreiro" de Castro Alves. Mas sim, no sentido em que constituem poesia e discurso de Lincoln em Gettysburg, a locução "Eu Tenho um Sonho", de Martin Luther King ou a "Oração aos Moços", de Rui Barbosa. É maestria literária. É a eloquência emoldurada por um formato. É a inspiração expressa com ordem e elegância.

Números como tema. Qualquer pessoa que leia o Apocalipse, mesmo pela primeira vez, perceberá a frequência do números "sete". Existem sete igrejas, sete anjos, sete selos, sete trombetas, sete pragas e muitos outros "sete", incluindo alguns que não estão enumerados, mas ocultos. Você e sua família podem ocupar-se na elaboração de uma lista própria. Sugiro que comecem compilando os exemplos mais óbvios e depois avancem para os que se encontram disfarçados.

Os números três, quatro e doze também desempenham um papel artístico no Apocalipse. Os selos e trombetas encontram-se divididos em grupos de três e quatro. Veja os capítulos 6 a 11. Três multiplicado por quatro resulta nas doze portas da Nova Jerusalém. Veja o capítulo 21. Doze tribos vezes 12.000 compõem os 144.000 no capítulo 7.

À medida que avançarmos, examinaremos a disposição artística interna de passagens e hinos individuais, bem como a adequação dos símbolos dramáticos utilizadas aqui. Entretanto, é possível que a mais persuasiva evidência da qualidade literária do Apocalipse seja a sua organização geral na forma de um quiasma.

Vou deixar algumas imagens ilustrativas da beleza do Apocalipse:
Clicando sobre a imagem amplia.
José Carlos Costa, pastor

sexta-feira, 11 de abril de 2014

A Bíblia Revelação do seu Autor

"Porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo."  (II Pedro 1 : 21)

Deus nos fala através da Bíblia, de diferentes maneiras:
Primeiro, ela é a revelação do próprio Deus, uma colecção de relatos pelos quais Ele Se revela a nós, assim como Se revelou ao Seu povo, através dos séculos. E, em detalhes, ela traz a maior de todas as revelações: Jesus

Segundo, a Bíblia é uma revelação para os dias atuais. Ela diz que "homens falaram da parte de Deus movidos pelo Espírito Santo" (verso 21). A fonte da revelação é Deus. Esse fato faz com que os escritos da Bíblia sejam relevantes para qualquer época, inclusive a nossa.
O apóstolo Paulo afirmou: "Ora, àquele que é poderoso para vos confirmar segundo o meu evangelho e a pregação de Jesus Cristo, conforme a revelação do mistério que desde tempos eternos esteve oculto," (Romanos 16: 25)

Terceiro, a Bíblia comunica verdade e convicção a cada um de nós pessoalmente. Algumas vezes, isso é mais direto, induzindo o nosso pensamento à medida que lemos. O mesmo Espírito de Deus que inspirou os escritores, frequentemente revela a mensagens vivas de Deus a nós.
"Para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos dê em seu conhecimento o espírito de sabedoria e de revelação;" (Efésios 1: 17)

Quarto, as mensagens da Bíblia têm aplicação universal. A Palavra de Deus é para todos. "Toda Escritura é inspirada por Deus" (II Tim. 3:16), afirmou Paulo e, através dela, podemos ouvir o que Deus espera do mundo e de cada pessoa.

"Quando lerdes, podeis compreender o meu discernimento no mistério de Cristo" (Efésios 3:4). Deus Se revela a nós por pelo menos quatro meios diferentes: Natureza, Jesus, Seu Espírito, Sua Palavra (incluindo a palavra profética: II Pedro 1:19), Jesus chega até nós diretamente por meio do Espírito Santo.

Bíblia Como Revelação de Deus

É interessante a descrição que Amós fez do seu chamado para servir ao Senhor. Deus revelou lições, circunstâncias históricas e mensagens proféticas com o objetivo de advertir, ganhar e salvar pessoas. Nos escritos do profeta Zacarias, há uma grande ênfase na obra e propósitos de nosso Senhor (Jesus Cristo). Zacarias usa muitos símbolos para ilustrar a obra de Cristo ao salvar a humanidade. O objetivo final de Deus é a restauração da Terra ao estado de pureza original. A verdade (a Palavra na teoria) e a convicção (a Palavra aceita e aplicada) se tornam realidades diárias quando permitimos ao Espírito Santo incorporar o conhecimento divino aos nossos pensamentos.
"E, quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, e da justiça e do juízo."  (João 16 : 8)


Vejamos um exemplo de como aplicar uma mensagem viva. Em Zacarias 1:18-21, vemos quatro chifres (opressores ou assaltantes) perturbando o povo de Deus. Cristo é mostrado como um Ferreiro ou Carpinteiro que vai ao encontro do inimigo e o vence (corta os chifres, ou acaba com a sua força), para defender e salvar o remanescente. É curioso notar que o Messias veio depois como um Carpinteiro para construir caracteres. Esse é o tipo de revelação que torna a Palavra viva e fortifica a fé do fiel.

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Apocalipse Escrito em Quiasma

O quiasma é uma lista dupla de itens correlacionados, em que a ordem da segunda lista se encontra em oposição - ou antítese - à ordem da primeira lista. É algo parecido com a divisão dos pares em algumas danças antigas, ou grandes marchas, com os homens e mulheres partindo, inicialmente, em direcções opostas. Tais quiasmas, aplicados ao entretenimento, ainda hoje são divertidos. Nos tempos bíblicos, os quiasmas literários eram muitos populares, sendo intensamente admirados.

Se dividirmos o Apocalipse ao final do capítulo 14, formando duas metades não perfeitamente iguais, e então repartirmos cada metade em várias divisões, constataremos que as divisões de cada metade poder ser arranjadas em pares, os quais - a exemplo dos pares homem/mulher das danças antigas ou grandes marchas - relacionam-se uns com os outros, mas continuam sendo diferentes, uma vez que se deslocam em direcções diferentes.
 
A forma mais fácil de nos familiarizarmos com o quiasma do Apocalipse, é começar a introdução ao livro (ou prólogo), e com a sua conclusão (ou epílogo). Comparando ambos entre si, você pode facilmente constatar a existência de várias frases e sentenças admiravelmente semelhantes em cada uma dessas partes.

As semelhanças não são, contudo, cegamente precisas. Por exemplo, existe no epílogo uma advertência que não é encontrada no prólogo; a promessa da breve volta de Cristo é encontrada duas vezes no epílogo, e só uma vez no prólogo. Estamos tratando de similaridades literárias, não similaridades mecânicas. Os grandes escritores seguem um método, mas jamais permitem que o método se torne mais importante que as suas mensagens.

Muitos comentadores observaram a estreita relação que existe entre a primeira divisão após o prólogo e a última divisão antes do epílogo. A primeira divisão contém as cartas às sete igrejas (1:10 a 3:22) e a última divisão descer a Nova Jerusalém (21:9 a 22:9). Examinaremos rapidamente cada uma.

Na primeira divisão verá a igreja de Deus, representada por sete cidades simbólicas, severamente tentada e perseguida. Na última divisão, poderá observar a igreja de Deus  agregada novamente numa só cidade, a gloriosa Nova Jerusalém. Na primeira divisão, a igreja encontra-se em luta contra o pecado, na Terra que hoje conhecemos. Na última divisão, ela vive em paz e perfeita bondade, junto com Deus no lar eterno, a futura Terra renovada. Também aqui, tal qual vimos no prólogo e no epílogo, existem frases e sentenças extremamente semelhantes, nas duas divisões.

Dentre outras expressões similares, podemos mencionar as referências à árvore da vida, a uma porta aberta (e a portões que nunca se fecham), bom como à Novo Jerusalém que desce dos Céus.

Um lembrete ou observação: não se aborreça porque as nossas divisões não correspondem aos capítulos. No Apocalipse, os capítulos não foram determinados por João. Eles não existiam na sua presente forma, até mais de mil anos após a morte do autor. O arranjo do Apocalipse em capítulos embora útil em determinadas circunstâncias, não é inspirado.
Nota: A divisão em capítulos e versículos foi organizada para a leitura em comum, ou seja, o/a que dirige a leitura chama a atenção para uma determinada leitura em concreto citando o livro, capítulo e versículo. Esta organização é muito útil, no entanto, não era assim no princípio, nada no texto foi alterado, isso é o realmente importante.

Avançando para a divisão que se segue à das sete igrejas, chegamos aos sete selos (4:1 a 8:1). Retrocedendo a partir da divisão que focaliza a Nova Jerusalém, encontramos aquela que apresenta o Milénio e os eventos relacionados com este (19:11 a 21:8). Dedique especial atenção ao texto do capítulo 6:9 e 10, nos sete selos. Aqui pode verificar que as almas dos mártires cristãos clamando a Deus que julgue os seus inimigos. Durante o milénio, os mártires, agora ressuscitados são postos sobre tronos e designados por Deus (20:4) a julgarem os seus inimigos! Essas duas divisões começam com uma referência aos céus sendo abertos. Em ambas, aparece destacadamente um cavaleiro sobre um cavalo branco. Finalmente, nas duas partes pode ler-se de reis, oficiais militares e pessoas de todas as classes que se põem a clamar, pedindo a morte, ou morrem efetivamente por ocasião da segunda vinda.     

Deslocando-nos ainda mais de ambas as extremidades, em direção ao centro de livro, encontramos aquele par que provavelmente é o quiasma de maior notabilidade. As sete trombetas (8:2 a 11:18) e as sete últimas pragas (15:1 e 16:21) são, em vários sentidos, muitos diferentes. Diferem especialmente na intensidade, pois as pragas são muito piores que as trombetas. Todavia, se verificarmos com mais atenção a ambas: percebemos que cinco das seis primeiras trombetas e cinco das seis primeiras pragas afectam essencialmente os mesmos objectos, e na mesma ordem: terra, mar, rios, corpos celestes e o rio Eufrates! As sete trombetas representam severos juízos, enviados para advertir os maus a que modifiquem o seu procedimento. As sete últimas pragas representam juízos extremamente severos, enviados para punir os maus depois que estes se recusaram a mudar os seus caminhos de impiedade.

As sete trombetas e as sete últimas pragas formam pares com "seções" intituladas "O Grande Conflito" e "A Queda de Babilónia", respectivamente. Há uma razão para isso. É fascinante observar que, imediatamente após lermos sobre as sete trombetas, encontramos o texto que focaliza uma mulher vestida de branco, uma genuína mãe, cujos filhos guardam os mandamentos de Deus. Por outro lado, imediatamente depois de lermos sobre as sete últimas pragas, o texto que assoma diante de nossos olhos, fala sobre uma mulher vestida de púrpura, uma prostituta cujas filhas são também prostitutas. Ambas as mulheres passam algum tempo no deserto. Ambas têm de relacionar-se com uma besta que apresenta sete cabeças e dez chifres. Nessas duas divisões - como em outras partes do Apocalipse - ouvimos o místico clamor: "Caiu, caiu a grande Babilónia!"

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Uma Parte do Apocalipse Está no Futuro

Bem o esboço-quiasma mostra que virtualmente toda a segunda metade ainda pertence ao futuro. É certo que a descida da Nova Jerusalém ainda não ocorreu. Certamente o milénio continua a ser aguardado. Não temos dúvida de que as sete últimas pragas ainda são futuras. A queda da última Babilónia espiritual certamente ainda é futura, também. Vemos, pois, que a segunda metade do Apocalipse, neste momento, pertence virtualmente ao futuro.

Que dizer, entretanto da primeira metade? Quando as sete igrejas foram escritas, os cristãos encontravam-se espalhados por muitas cidades. Ainda hoje os cristãos continuam espalhados. Muitos comentadores estão de acordo em que as cartas às sete igrejas se relacionam com a experiência da igreja no seu conjunto, ao longo de toda a era cristã. As cenas do grande conflito, apresentadas nos capítulos 12 a 14, começam com o nascimento de Cristo (12:1, 2 e 5), prosseguem durante o longo período de perseguição (12:6, 13 a 16; 13:5 a 8) que Daniel predisse nos capítulos 7 e 8, e finalizam com a segunda vinda (14:14 a 20). Logo, as cenas do grande conflito que encerram a primeira metade do Apocalipse, dão cobertura há história da igreja cristã. Os sete selos e as sete trombetas são descrições paralelas das sete igrejas e das cenas do grande conflito, exactamente do modo como, em Daniel, as visões dos capítulos 2, 7 e 8 são paralelas entre si.

Podemos constatar, portanto que o quiasma que estrutura o Apocalipse, divide as profecias do livro em dois grupos principais: aqueles que tratam quase exclusivamente os eventos dos últimos dias (a segunda metade do livro) e aquelas que se relacionam com a experiência do povo de Deus durante a era cristã (a primeira metade do livro). A primeira metade escatológica. "Escatológica" provém do termo grego eschaton, que significa "fim". É um termo usado frequentemente, tanto por leigos como por eruditos. O seu sentido geral é "aquilo que tem a ver com o fim do mundo".

Nem tudo aquilo que tem a ver com a porção histórica sucedeu, pelo simples fato de que nem toda a história da igreja cristã já se concretizou!


O sétimo selo, a sétima trombeta e as cenas finais da divisão do grande conflito, ainda aguardam seu cumprimento. Já vimos que a segunda metade do Apocalipse é escatológica.